Índice de Capítulo

    Takeshi inclinou levemente a cabeça para o lado.

    Notou Sebastian com um pequeno corte na bochecha, enquanto aquele estranho objeto — uma esfera vermelha — brilhava intensamente.

    Dela emanava uma energia densa, espalhando poeira ao redor da criatura. Sons distorcidos, quase irreconhecíveis, escapavam de sua garganta.

    Lucius mantinha a mão esquerda posicionada atrás do corpo, firme e tensa.

    O braço da criatura caído no chão, tremendo de maneira irregular.

    — Funcionou… — murmurou Sebastian, os dois braços estendidos e trêmulos. — Acaba logo com isso

    A poeira girava em redemoinhos. Aos poucos, a silhueta disforme surgiu — ainda se debatendo Levemente os movimentos ficaram lentos.

    O monstro parou de se mover. A poeira se dissipou.

    — Monstros como vocês… eu odeio! — Sebastian rosnou, avançando com os olhos trêmulos de raiva.

    Num só impulso, sua mão atravessou as costas da criatura.

    — Muito bom… conseguiu — disse Lucius, retirando a mão de trás e batendo palmas em um gesto lento, mas carregado de ironia. O som seco ecoou pelo ambiente silencioso, espalhando uma estranha reverberação.

    Sebastian respirou fundo, forçando ainda mais a pressão em suas mãos.

    A criatura caiu pesadamente no chão, e de suas costas começou a se espalhar uma névoa azul-escura, densa e inquieta 

    Aquela névoa envolveu Sebastian por instantes, fazendo um frio cortante percorrer-lhe o corpo, enquanto uma estranha pressão o deixava quase sem forças. Porém, tão repentina quanto surgira, a névoa dissipou-se — e, com ela, desapareceu também aquela sensação sufocante.

    “Como isso aconteceu tão rápido? Eu nem percebi o que eles fizeram.” — Takeshi murmurou, levando a mão à boca.

    Ele se aproximou dos demais.

    — Morreu agora? — Takeshi quase quis tocar no corpo.

    — Ainda não… mesmo com isso, não é o suficiente.

    — Como assim não morreu?! E você nem ajudou muito! — Sebastian acusou, apontando o dedo para Takeshi.

    — Claro que não! Essa coisa é forte demais. Você—

    — Chega, vocês dois. Discutimos isso depois. Agora precisamos focar no presente.

    Ele avançou alguns passos, olhando para o próprio braço.

    — Vamos. É melhor chamar os outros.

    Takeshi lançou um olhar desconfiado.

    — Ninguém aqui vai me matar, certo? Você disse que faria alguma coisa.

    — Fica tranquilo. A minha parte eu vou cumprir. Quanto ao Sebastian… aí já não posso garantir.

    Sebastian se aproximou de Lucius, parando ao lado dele.

    — Certo… estou indo.

    Takeshi deu alguns passos, mantendo distância dos dois. O silêncio pairou no ar por alguns segundos, pesado e desconfortável, até que ele quebrou a pausa:

    — Aquilo… o que era exatamente?

    — Estava tão bom o silêncio até você dizer algo.

    — Cala boca merda!

    O som ainda ecoava quando Sebastian explodiu em palavras…

    — Vai ser!—

    — Parou. Parece crianças.

    Os dois ficaram se encarando mas olharam para o lado. Lucius colocou a mão na cabeça como uma decepção.

    — Aquele negócio é quando um corpo chega no limite.

    Takeshi sentiu um frio subir pelo estômago.

    — Como assim? 

    — É a consequência de forçar o corpo com poderes ou conhecimentos que ele ainda não suporta — respondeu, com um sorriso discreto no canto dos lábios. — Esse não é o estágio final.

    — Estágio final? — repetiu Takeshi, os olhos brilhando de curiosidade, enquanto seus lábios permaneciam imóveis, tensos.

    — Antes disso, existem fases que eu costumo chamar de estabilidade mental. A primeira é quando começamos a esquecer coisas simples: o que íamos dizer, o que comemos, ou até mesmo o que fizemos minutos antes. A segunda é mais delicada… nossos sentimentos se tornam confusos, distorcidos.

    — Não entendi muito bem o que quer dizer com “confusos”.

    — Imagine sentimentos reprimidos surgindo sem controle. Por exemplo… uma vontade súbita de matar.

    — Então… seria uma perda de controle? — sua garganta travou.

    — Exatamente.

    Um suor frio escorreu lentamente pelo pescoço de Takeshi.

    Lucius chegou à porta e pousou a mão na maçaneta, girando-a suavemente.

    — Posso explicar melhor depois. Fiquem aqui vocês dois. Aquela coisa ainda pode voltar por causa da tarefa.

    Ele abriu a porta, deixando escapar uma corrente de ar frio que percorreu o ambiente. Assim que atravessou a soleira e fechou a porta atrás de si, o clima mudou: o ar tornou-se quente, denso, pesado, como se algo invisível pressionasse seus corpos.

    Takeshi permaneceu imóvel, sem dizer nada. Sebastian, por sua vez, não desviava o olhar dele. Seus punhos cerravam-se instintivamente, e, de tempos em tempos, seu braço ameaçava se erguer, como se quisesse desferir um soco no rosto de Takeshi.

    — Vai ficar só encarando essa porta? — a voz ecoou com ironia.

    — Hm? — Takeshi se virou.

    — Essa cara pálida de merda… 

    — Não fala assim dela! Vai se ferrar, maldito.

    Ele avançou com passos firmes. Takeshi recuou até se encostar contra um pilar frio e áspero. Em seguida, Sebastian ergueu o braço e pressionou a mão a cima da cabeça de Takeshi, forçando-o.

    — Não pense que, só porque ele viu como amigo que eu vou tratar você da mesma forma.

    O golpe veio rápido: a perna esquerda de Sebastian acertou o abdômen de Takeshi, que estremeceu, soltando saliva ao perder o ar e cambaleando.

    — Aqui, você não passa de um rato — disse, com o olhar impiedoso. — Eu não sou seu amigo, nem seu aliado. Você ainda respira apenas porque Lucius tem um plano em mente. Mas, depois… você vai morrer.

    Takeshi se esforçou, apoiando-se com dificuldade até conseguir ficar de pé. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios ao perceber que sua visão voltara ao normal; a penalidade havia finalmente chegado ao fim.

    — O que foi? — disse com um sorriso irônico. — Meu soco não bastou? Então aqui—

    Em um movimento rápido, desferiu um chute certeiro na região sensível de Sebastian. O impacto fez o rapaz estremecer por inteiro, contorcendo-se de dor antes de despencar no chão.

    — Aaaaaah!

    Takeshi o encarou com firmeza, a expressão séria agora tomando o lugar da zombaria.

    — Não sou nenhum rato aqui — declarou com a voz fria. — Que fique bem claro: se quiser me matar, venha. Eu também estou ansioso para socar a sua cara.

    E, sem hesitar, acertou outro chute na mesma região, arrancando mais um grito agonizante de Sebastian.

    “Isso é satisfatório de ver.”

    Takeshi exibiu um sorriso de canto e soltou uma breve risada. Em seguida, caminhou até o corpo da criatura.

    “Essas penalidades por usar poder ou ter conhecimento… são perigosas. Principalmente porque não consigo me lembrar de certas coisas… será que isso já aconteceu comigo?”

    A simples possibilidade fez seu estômago revirar, trazendo uma sensação de enjoo.

    “Aquele lugar onde encontrei aqueles dois seres estranhos… era o meu subconsciente. Mas, então… aquele outro espaço, onde estava aquela coisa que parecia a própria morte…”

    Seus pensamentos vagavam, dispersos, enquanto Sebastian se levantava com esforço, a dor estampada em cada movimento.

    “A única explicação para isso é…” O olhar de Takeshi se estreitou, a sobrancelha arqueando, como se tivesse descoberto algo óbvio demais para ter passado despercebido. 

    “Aquele lugar também era o meu subconsciente. Como não percebi isso antes? Agora tudo faz sentido… mas por que aquela criatura estava lá.”

    Takeshi chegou àquela conclusão a partir de uma única informação. Quando o ser da lamparina mencionou o vazio, parecia estar insinuando que, na verdade, aquilo representava o subconsciente de Takeshi.

    “Por que ele simplesmente não disse subconsciente? E como eles estavam lá?”

    Cada pensamento fazia sua cabeça latejar.

    “Foi difícil refletir sobre isso, por causa da tarefa… e daqueles momentos.”

    Antes que pudesse aprofundar suas deduções, Takeshi sentiu um toque pesado no pé.

    “Sebastian… de novo você.”

    Ele girou o corpo de imediato, pronto para desferir outro chute. Mas, no instante seguinte, seus olhos se arregalaram.

    — O quê…?

    A mão deformada da criatura estava cravada em seu tornozelo, apertando-o com força desumana. Sebastian, por sua vez, permanecia distante, apenas observando.

    “Desgraçado… nem me avisou!”

    Num movimento brutal, a mão monstruosa o ergueu e o lançou contra a porta. O impacto reverberou pelo ambiente. As rachaduras se alargaram, e por um instante pareceu que a própria porta cederia diante da violência.

    Sebastian deu um passo para o lado, sentindo as pernas tremerem.

    — Cadê ele? Até agora nada, Lucius… desse jeito a gente vai acabar morrendo.

    Com a respiração acelerada, ele retirou outra esfera marcada pelos mesmos símbolos estranhos.

    — Acorda aí, cara pálido.

    A energia percorreu o corpo de Takeshi como uma tortura suave, obrigando-o a abrir os olhos e se erguer, ainda cambaleante.

    — Eu tô cansado de tanto soco… — murmurou, a voz rouca, mas firme.

    — Acorda logo, vai. Preciso que pelo menos você sirva de escudo.

    Takeshi lançou um olhar torto para ele.

    — Tá… mas me ajuda aqui. E não pense que somos algo — sua expressão se fechou. — Ainda quero chutar você por causa daquilo.

    Erguendo-se devagar, Takeshi posicionou-se ao lado dele.

    — Ok, ok… mas me explica uma coisa: por que essa criatura ainda está de pé? — perguntou em tom pausado.

    — A tarefa mudou. Mesmo derrotando, agora existe um número específico antes de eles não retornarem mais. Basta conferir as novas informações no sistema.

    — Nova tarefa?

    — Sim. Você não viu no seu sistema?

    — Agora faz sentido…

    Takeshi suspirou, resmungando por dentro: 

    “Aquele maldito sistema nem sequer me avisou.”

    Ele se apoiou com dificuldade, forçando a perna contra o chão para não desabar sob o peso da tortura.

    — Eu recomendo que não corra nesse estado — disse com firmeza. — E também não me atrapalhe. Só precisamos esperar Lucius aparecer.

    A cabeça da criatura começou a girar de forma antinatural, enquanto os braços se erguiam para o alto. O que estava preso ao pilar se desprendeu lentamente.

    Sebastian engoliu em seco.

    — Essa coisa, mesmo sem poderes, possui uma força absurda…

    — Você fala muito sobre essa criatura. Me diga, como soube de tanto?

    Sebastian soltou um suspiro pesado; o olhar vacilou e caiu.

    — Eu… descobri porque vi com meus próprios olhos esse negócio.

    Takeshi então balançou a cabeça, respirando fundo.

    “Bem… eu espero que a gente consiga sair dessa.”

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