Capítulo 55: O preço da escolha
Takeshi inclinou levemente a cabeça para o lado.
Notou Sebastian com um pequeno corte na bochecha, enquanto aquele estranho objeto — uma esfera vermelha — brilhava intensamente.
Dela emanava uma energia densa, espalhando poeira ao redor da criatura. Sons distorcidos, quase irreconhecíveis, escapavam de sua garganta.
Lucius mantinha a mão esquerda posicionada atrás do corpo, firme e tensa.
O braço da criatura caído no chão, tremendo de maneira irregular.
— Funcionou… — murmurou Sebastian, os dois braços estendidos e trêmulos. — Acaba logo com isso
A poeira girava em redemoinhos. Aos poucos, a silhueta disforme surgiu — ainda se debatendo Levemente os movimentos ficaram lentos.
O monstro parou de se mover. A poeira se dissipou.
— Monstros como vocês… eu odeio! — Sebastian rosnou, avançando com os olhos trêmulos de raiva.
Num só impulso, sua mão atravessou as costas da criatura.
— Muito bom… conseguiu — disse Lucius, retirando a mão de trás e batendo palmas em um gesto lento, mas carregado de ironia. O som seco ecoou pelo ambiente silencioso, espalhando uma estranha reverberação.
Sebastian respirou fundo, forçando ainda mais a pressão em suas mãos.
A criatura caiu pesadamente no chão, e de suas costas começou a se espalhar uma névoa azul-escura, densa e inquieta
Aquela névoa envolveu Sebastian por instantes, fazendo um frio cortante percorrer-lhe o corpo, enquanto uma estranha pressão o deixava quase sem forças. Porém, tão repentina quanto surgira, a névoa dissipou-se — e, com ela, desapareceu também aquela sensação sufocante.
“Como isso aconteceu tão rápido? Eu nem percebi o que eles fizeram.” — Takeshi murmurou, levando a mão à boca.
Ele se aproximou dos demais.
— Morreu agora? — Takeshi quase quis tocar no corpo.
— Ainda não… mesmo com isso, não é o suficiente.
— Como assim não morreu?! E você nem ajudou muito! — Sebastian acusou, apontando o dedo para Takeshi.
— Claro que não! Essa coisa é forte demais. Você—
— Chega, vocês dois. Discutimos isso depois. Agora precisamos focar no presente.
Ele avançou alguns passos, olhando para o próprio braço.
— Vamos. É melhor chamar os outros.
Takeshi lançou um olhar desconfiado.
— Ninguém aqui vai me matar, certo? Você disse que faria alguma coisa.
— Fica tranquilo. A minha parte eu vou cumprir. Quanto ao Sebastian… aí já não posso garantir.
Sebastian se aproximou de Lucius, parando ao lado dele.
— Certo… estou indo.
Takeshi deu alguns passos, mantendo distância dos dois. O silêncio pairou no ar por alguns segundos, pesado e desconfortável, até que ele quebrou a pausa:
— Aquilo… o que era exatamente?
— Estava tão bom o silêncio até você dizer algo.
— Cala boca merda!
O som ainda ecoava quando Sebastian explodiu em palavras…
— Vai ser!—
— Parou. Parece crianças.
Os dois ficaram se encarando mas olharam para o lado. Lucius colocou a mão na cabeça como uma decepção.
— Aquele negócio é quando um corpo chega no limite.
Takeshi sentiu um frio subir pelo estômago.
— Como assim?
— É a consequência de forçar o corpo com poderes ou conhecimentos que ele ainda não suporta — respondeu, com um sorriso discreto no canto dos lábios. — Esse não é o estágio final.
— Estágio final? — repetiu Takeshi, os olhos brilhando de curiosidade, enquanto seus lábios permaneciam imóveis, tensos.
— Antes disso, existem fases que eu costumo chamar de estabilidade mental. A primeira é quando começamos a esquecer coisas simples: o que íamos dizer, o que comemos, ou até mesmo o que fizemos minutos antes. A segunda é mais delicada… nossos sentimentos se tornam confusos, distorcidos.
— Não entendi muito bem o que quer dizer com “confusos”.
— Imagine sentimentos reprimidos surgindo sem controle. Por exemplo… uma vontade súbita de matar.
— Então… seria uma perda de controle? — sua garganta travou.
— Exatamente.
Um suor frio escorreu lentamente pelo pescoço de Takeshi.
Lucius chegou à porta e pousou a mão na maçaneta, girando-a suavemente.
— Posso explicar melhor depois. Fiquem aqui vocês dois. Aquela coisa ainda pode voltar por causa da tarefa.
Ele abriu a porta, deixando escapar uma corrente de ar frio que percorreu o ambiente. Assim que atravessou a soleira e fechou a porta atrás de si, o clima mudou: o ar tornou-se quente, denso, pesado, como se algo invisível pressionasse seus corpos.
Takeshi permaneceu imóvel, sem dizer nada. Sebastian, por sua vez, não desviava o olhar dele. Seus punhos cerravam-se instintivamente, e, de tempos em tempos, seu braço ameaçava se erguer, como se quisesse desferir um soco no rosto de Takeshi.
— Vai ficar só encarando essa porta? — a voz ecoou com ironia.
— Hm? — Takeshi se virou.
— Essa cara pálida de merda…
— Não fala assim dela! Vai se ferrar, maldito.
Ele avançou com passos firmes. Takeshi recuou até se encostar contra um pilar frio e áspero. Em seguida, Sebastian ergueu o braço e pressionou a mão a cima da cabeça de Takeshi, forçando-o.
— Não pense que, só porque ele viu como amigo que eu vou tratar você da mesma forma.
O golpe veio rápido: a perna esquerda de Sebastian acertou o abdômen de Takeshi, que estremeceu, soltando saliva ao perder o ar e cambaleando.
— Aqui, você não passa de um rato — disse, com o olhar impiedoso. — Eu não sou seu amigo, nem seu aliado. Você ainda respira apenas porque Lucius tem um plano em mente. Mas, depois… você vai morrer.
Takeshi se esforçou, apoiando-se com dificuldade até conseguir ficar de pé. Um suspiro de alívio escapou de seus lábios ao perceber que sua visão voltara ao normal; a penalidade havia finalmente chegado ao fim.
— O que foi? — disse com um sorriso irônico. — Meu soco não bastou? Então aqui—
Em um movimento rápido, desferiu um chute certeiro na região sensível de Sebastian. O impacto fez o rapaz estremecer por inteiro, contorcendo-se de dor antes de despencar no chão.
— Aaaaaah!
Takeshi o encarou com firmeza, a expressão séria agora tomando o lugar da zombaria.
— Não sou nenhum rato aqui — declarou com a voz fria. — Que fique bem claro: se quiser me matar, venha. Eu também estou ansioso para socar a sua cara.
E, sem hesitar, acertou outro chute na mesma região, arrancando mais um grito agonizante de Sebastian.
“Isso é satisfatório de ver.”
Takeshi exibiu um sorriso de canto e soltou uma breve risada. Em seguida, caminhou até o corpo da criatura.
“Essas penalidades por usar poder ou ter conhecimento… são perigosas. Principalmente porque não consigo me lembrar de certas coisas… será que isso já aconteceu comigo?”
A simples possibilidade fez seu estômago revirar, trazendo uma sensação de enjoo.
“Aquele lugar onde encontrei aqueles dois seres estranhos… era o meu subconsciente. Mas, então… aquele outro espaço, onde estava aquela coisa que parecia a própria morte…”
Seus pensamentos vagavam, dispersos, enquanto Sebastian se levantava com esforço, a dor estampada em cada movimento.
“A única explicação para isso é…” O olhar de Takeshi se estreitou, a sobrancelha arqueando, como se tivesse descoberto algo óbvio demais para ter passado despercebido.
“Aquele lugar também era o meu subconsciente. Como não percebi isso antes? Agora tudo faz sentido… mas por que aquela criatura estava lá.”
Takeshi chegou àquela conclusão a partir de uma única informação. Quando o ser da lamparina mencionou o vazio, parecia estar insinuando que, na verdade, aquilo representava o subconsciente de Takeshi.
“Por que ele simplesmente não disse subconsciente? E como eles estavam lá?”
Cada pensamento fazia sua cabeça latejar.
“Foi difícil refletir sobre isso, por causa da tarefa… e daqueles momentos.”
Antes que pudesse aprofundar suas deduções, Takeshi sentiu um toque pesado no pé.
“Sebastian… de novo você.”
Ele girou o corpo de imediato, pronto para desferir outro chute. Mas, no instante seguinte, seus olhos se arregalaram.
— O quê…?
A mão deformada da criatura estava cravada em seu tornozelo, apertando-o com força desumana. Sebastian, por sua vez, permanecia distante, apenas observando.
“Desgraçado… nem me avisou!”
Num movimento brutal, a mão monstruosa o ergueu e o lançou contra a porta. O impacto reverberou pelo ambiente. As rachaduras se alargaram, e por um instante pareceu que a própria porta cederia diante da violência.
Sebastian deu um passo para o lado, sentindo as pernas tremerem.
— Cadê ele? Até agora nada, Lucius… desse jeito a gente vai acabar morrendo.
Com a respiração acelerada, ele retirou outra esfera marcada pelos mesmos símbolos estranhos.
— Acorda aí, cara pálido.
A energia percorreu o corpo de Takeshi como uma tortura suave, obrigando-o a abrir os olhos e se erguer, ainda cambaleante.
— Eu tô cansado de tanto soco… — murmurou, a voz rouca, mas firme.
— Acorda logo, vai. Preciso que pelo menos você sirva de escudo.
Takeshi lançou um olhar torto para ele.
— Tá… mas me ajuda aqui. E não pense que somos algo — sua expressão se fechou. — Ainda quero chutar você por causa daquilo.
Erguendo-se devagar, Takeshi posicionou-se ao lado dele.
— Ok, ok… mas me explica uma coisa: por que essa criatura ainda está de pé? — perguntou em tom pausado.
— A tarefa mudou. Mesmo derrotando, agora existe um número específico antes de eles não retornarem mais. Basta conferir as novas informações no sistema.
— Nova tarefa?
— Sim. Você não viu no seu sistema?
— Agora faz sentido…
Takeshi suspirou, resmungando por dentro:
“Aquele maldito sistema nem sequer me avisou.”
Ele se apoiou com dificuldade, forçando a perna contra o chão para não desabar sob o peso da tortura.
— Eu recomendo que não corra nesse estado — disse com firmeza. — E também não me atrapalhe. Só precisamos esperar Lucius aparecer.
A cabeça da criatura começou a girar de forma antinatural, enquanto os braços se erguiam para o alto. O que estava preso ao pilar se desprendeu lentamente.
Sebastian engoliu em seco.
— Essa coisa, mesmo sem poderes, possui uma força absurda…
— Você fala muito sobre essa criatura. Me diga, como soube de tanto?
Sebastian soltou um suspiro pesado; o olhar vacilou e caiu.
— Eu… descobri porque vi com meus próprios olhos esse negócio.
Takeshi então balançou a cabeça, respirando fundo.
“Bem… eu espero que a gente consiga sair dessa.”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.