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    Marlon remexia dentro de uma caixa de ferro — curiosamente, uma antiga caixa de brinquedos estampada com pequenos ursos sorridentes.

    Suas mãos se moviam com rapidez, produzindo um som abafado de patos de borracha sendo empurrados para o lado.

    De repente, ele parou. Segurou algo e o ergueu diante da luz.

    — Isso aqui serve para você?

    Era uma máscara de cervo, com listras brancas e pretas que davam um ar estranho e quase ritualístico ao objeto.

    Não havia abertura para a boca — apenas dois buracos estreitos, feitos para os olhos.

    Takeshi segurou a máscara nas mãos, virando-a algumas vezes, observando cada detalhe. Com um gesto rápido, soprou e limpou a poeira acumulada próximo aos chifres.

    Então, sem hesitar, colocou-a no rosto.

    Sua respiração tornou-se pesada, abafada. Os fios de cabelo caíram sobre a testa, balançando com o leve movimento de ar — o suficiente para dar-lhe o semblante de um louco.

    Por um breve instante, os olhos de Takeshi brilharam em um vermelho intenso.

    Marlon, que observava a cena, levou instintivamente a mão até a cintura, mas recuou, preferindo não fazer nada por enquanto.

    — Tá bom… mas fica meio abafado — disse Takeshi, a voz soando fraca e distorcida sob a máscara.

    Takeshi coçou o pescoço, sentindo uma leve irritação.

    — Tá dando uma coceira leve… Nós já vamos sair?

    Marlon o observou por alguns segundos, o olhar fixo e silencioso. Algo em seus olhos pareceu estremecer antes que ele desviasse o rosto para o lado.

    — Claro… não saia de perto de mim. Mas antes, deixa eu ver uma coisa.

    Ele segurou as mãos de Takeshi, examinando as marcas deixadas pelas algemas nos pulsos de Takeshi.

    — I-isso tá tranquilo. Nem dor eu sinto — respondeu Takeshi, a voz firme, como se quisesse afastar qualquer preocupação.

    A expressão de Marlon suavizou, acreditando nas palavras dele — mesmo que, no fundo, uma parte ainda duvidasse.

    — Então, vamos indo.

    Marlon saiu da cabana acompanhado de Takeshi.

    Ao colocar os pés do lado de fora, Takeshi observou melhor o local. A cabana era sustentada por estruturas de ferro enferrujadas e cordas grossas que a mantinham firme, como se pudesse desabar a qualquer momento. A aparência lembrava um pequeno circo abandonado, desgastado pelo tempo.

    Foi então que ele descobriu onde estava — um lugar conhecido como “Liberdade Eterna”.

    Todos ali usavam o mesmo colar que pendia em seu pescoço, um símbolo de pertencimento e, ao mesmo tempo, de vigilância. O acessório servia para identificar aliados, algo necessário depois que o grupo sofreu com traidores.

    Para obter um colar desses, era preciso a aprovação de pessoas específicas. Takeshi sabia apenas de dois nomes: Marlon e Lucius.

    Ele lembrava-se do que Marlon havia lhe contado na noite anterior — algumas informações sobre aquele lugar.

    Os sons de passos ecoavam pelo corredor, misturados a vozes e ao tilintar de metais se chocando. As luzes azuis, intensas no alto, banhavam o ambiente com um brilho quase etéreo, fazendo o chão reluzir como se fosse feito de vidro refletindo um céu estrelado.

    Homens e mulheres passavam carregando caixas de diferentes tamanhos, alguns rindo, outros conversando animadamente. A energia no ar era viva, contagiante.

    Um leve aroma doce misturava-se ao cheiro metálico predominante, criando uma combinação estranhamente agradável que preenchia o ambiente.

    — O lugar não é tão grande assim, vai ser difícil você se perder aqui.

    Os dois seguiram em frente, caminhando com cuidado para não esbarrar em ninguém. O ambiente era movimentado — pessoas carregavam equipamentos, cestos com alimentos e pilhas de materiais variados.

    — Cada um ajuda de algum jeito por aqui — explicou Marlon, observando a movimentação ao redor.

    Takeshi olhava atentamente para tudo, notando algumas cabanas montadas e uma área mais aberta que lembrava um pequeno vale de alimentação.

    — E você? O que faz aqui exatamente?

    Marlon retirou do bolso uma moeda de ouro com o símbolo de um dragão gravado.

    — Cuidar das pessoas e procurar informações sobre outros grupos.

    Takeshi sentiu um arrepio percorrer a espinha.

    — Grupos? Quer dizer que existem mais além deste?

    Um homem passou e acenou para Marlon, que retribuiu o gesto com naturalidade. Pouco depois, eles pararam diante de uma grande parede coberta por um pano enorme — devia ter uns oito metros de altura.

    — Sim — respondeu Marlon, pousando a mão sobre o tecido. — Existem outros grupos… mas cada um tem seus próprios objetivos.

    Ele puxou o pano, que deslizou e caiu no chão, levantando uma nuvem de poeira que os fez tossir e fechar os olhos por um instante.

    — Cof, cof! — Takeshi tentou afastar o ar com as mãos.

    Quando a poeira finalmente se dissipou, ambos abriram os olhos.

    E então, os olhos de Takeshi se arregalaram diante do que viu.

    — Todos querem usar isso para algo maior.

    Uma imagem começou a se formar diante deles — uma mulher envolta por um imenso manto vermelho. Manto cobria seu rosto quase por completo; apenas os lábios e parte da bochecha eram visíveis… belos e inquietantes.

    — O que é isso? — Takeshi murmurou, incapaz de desviar o olhar.

    Na mão direita da mulher, havia um crânio. Dele escorria sangue, e pelas órbitas vazias parecia jorrar algo que misturava dor e reverência.

    — Ela é chamada de “Dama Sangrenta”

    Pequenas estrelas estavam no manto vermelho, cintilando como constelações presas em um véu carmesim.

    — Alguns querem o poder dela. Outros buscam apenas destruição. Nós, da Liberdade Eterna… queremos impedir que ela venha a este mundo.

    A mulher caminhava sobre um rio vermelho, e na superfície espelhada daquele sangue podiam ser vistas inúmeras pessoas mortas.

    Acima, no céu da imagem, uma lua falsa brilhava — um olho aberto vertendo lágrimas carmesim.

    “Aquela lua…!”Takeshi levando a mão à cabeça.

    Um calafrio percorreu seu corpo.

    — Como descobriram sobre ela? — perguntou, com a voz firme, mas tomada por inquietação.

    Marlon se aproximou da parede de vidro que refletia uma luz intensa, semelhante ao brilho sagrado de uma catedral gótica.

    — Tudo começou com boatos — respondeu, passando a mão pela superfície luminosa. — Depois, encontramos neste lugar alguns papéis que falavam sobre ela… — ele cerrou os punhos, a voz baixando. — Mas… roubaram parte dos documentos. Agora precisamos encontrar o restante. Só assim poderemos descobrir como enfrentá-la… ou impedi-la.

    As palavras de Marlon tinham peso — ele soava como um herói prestes a enfrentar algo impossível. Takeshi, por outro lado, sentia o coração acelerar. A ideia de proteger o mundo não o atraía… mas a sede por respostas, sim.

    — Vou ajudar nisso também — disse, o olhar firme.

    Marlon virou-se para ele, surpreso.

    — Precisa fazer algum ritual para invocá-la?

    — Sim. Ela morreu, mas parece que é possível trazê-la de volta. Isso a torna uma ameaça real. E tenho a sensação de que o sistema sabia disso — quase como se tivesse nos guiado até aqui de propósito.

    Takeshi, ainda em alerta, caminhou para a direita, acompanhando o fluxo do grupo.

    — E agora? Para onde você pretende me levar? — perguntou, sem disfarçar a desconfiança.

    — Vou levá-lo até Lucius — respondeu Marlon, firme. — Você participa de uma reunião daqui em diante. Venha.

    Marlon seguiu em frente; Takeshi, depois de um último olhar para a imagem, ergueu os ombros e o acompanhou.

    “Há tantas coisas que ainda preciso descobrir… Ficar seguro por enquanto não soa tão ruim.”

    O grupo interrompeu a caminhada.

    Diante deles, uma cena perturbadora: a criatura que antes era Ethan agora estava coberta por correntes pesadas, sendo arrastada em direção a uma velha cabana envolta em névoa.

    — O que eles estão fazendo com ele?

    — Estão aprisionando. Não há como enfrentar aquilo… pelo menos, não ainda.

    Eles continuaram caminhando até finalmente chegarem ao destino.
    As pessoas desapareciam pouco a pouco à medida que se aproximavam daquele lugar. O som se dissolvia no ar.
    Diante deles havia uma pequena porta de madeira, simples e antiga, encaixada em uma estrutura igualmente feita de tábuas.

    O espaço era estreito, quase um quadrado, o que dava uma sensação de confinamento.

    — Chegamos

    “Mas que lugar estranho… Será que isso impede os outros de ouvirem?” Takeshi, desconfiado, enquanto observava ao redor. Não havia ninguém por perto — nenhum som, nenhum movimento, apenas o ar parado e silencioso.

    — Este é um lugar onde ninguém pode escutar ou entrar — explicou o outro, fitando Takeshi com seriedade. — Somente aqueles que são permitidos têm acesso aqui.

    Takeshi coçou a cabeça, um tanto sem jeito.

    “Espero que ninguém tente me matar aqui…”

    — Eu vou na frente. Eles devem deixar você entrar depois — disse Marlon, com um breve aceno.

    Takeshi apenas concordou com a cabeça, observando Marlon abrir a porta e desaparecer lá dentro.

    Por um instante, ele ficou sozinho. As pessoas mais distantes começaram a cochichar e lançar olhares curiosos em sua direção.

    “Tá bom, eu sei que tô usando uma máscara bizarra… mas falar sobre mim na minha frente? Pelo amor…”

    Ele suspirou, ajeitando a máscara no rosto, tentando parecer calmo enquanto os olhares continuavam o seguindo!

    Takeshi lançou um olhar firme para as pessoas ao redor. Todos desviaram os olhos, fingindo estar ocupados com qualquer outra coisa.

    O silêncio no ambiente era desconfortável, pesado demais para alguém que tentava parecer calmo.

    Alguns minutos se passaram até que a porta se abriu com um rangido leve.

    Marlon apareceu, apoiando a mão no batente.

    — Pode entrar.

    Marlon saiu da frente, abrindo passagem para Takeshi.

    Takeshi deu o primeiro passo, sentindo a perna tremer levemente. Um arrepio percorreu sua espinha enquanto cruzava a porta.

    “Por favor… que ninguém me mate aqui.”

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