Capítulo 59: Guerra sem palavras (4)
Os olhos de Takeshi foram cegados por uma luz intensa. O ar ficou frio no instante em que a porta se fechou atrás dele. Piscou várias vezes, tentando se acostumar, até que o brilho começou a diminuir.
Sua respiração saía em nuvens brancas. O som metálico de correntes ecoava pelo ambiente, ressoando como um aviso.
— Então é esse o homem de quem vocês tanto falam — disse uma voz grossa, porém surpreendentemente graciosa.
Takeshi ergueu o olhar.
Diante dele, uma mulher observava com os braços cruzados, seu olhar firme e curioso pousado sobre ele.
— Esse mesmo — respondeu uma voz alegre. — E adivinha? Fui eu quem o encontrei!
Lucius permanecia ao lado esquerdo dela, exibindo um sorriso satisfeito, quase orgulhoso.
A mulher, sentada diante de uma mesa pequena com seis cadeiras, mantinha uma postura elegante e fria.
As paredes metálicas do lugar refletiam a luz em tons acinzentados — placas de ferro sólidas e frias, algo que Takeshi não esperava ver ali. Seu olhar se arregalou, surpreso com o cenário hostil.
— Eu fiz como você pediu. Agora, o que vamos fazer com ele? — perguntou Marlon, acomodando-se em uma das cadeiras.
A mulher levou os dedos aos lábios, pensativa.
— Podemos fazer ele abrir a boca… do mesmo jeito que estamos fazendo com a menina. — Sua voz era calma, mas o olhar que lançou a Takeshi era tão afiado que parecia capaz de rasgar sua pele.
As pupilas de Takeshi estremeceram. Um arrepio subiu-lhe pela espinha — algo dentro de si o alertava de um perigo que nem mesmo conseguia compreender.
Ele deu um passo à frente, apoiando as mãos sobre a mesa com firmeza.
— Menina? Que pessoa é essa? — perguntou, a voz trêmula, enquanto o suor deslizava por sua bochecha.
A luz bruxuleante da sala revelou, por fim, mais detalhes da mulher: pele clara e reluzente, cabelos longos e castanhos, olhos negros e penetrantes — e o calor.
Lucius deixou escapar um riso abafado — não de humor, mas de pura satisfação.
Com um olhar calmo — mas carregado de algo sombrio — estendeu a mão até a parede à esquerda.
— Quando você chegou… duas pessoas vieram com você. — com a voz soando quase como um sussurro ameaçador.
Um sorriso discreto surgiu em seu rosto enquanto ele se aproximava lentamente. Então, pousou a mão sobre a cabeça de alguém ajoelhado diante dele.
— Ela foi a única que sobreviveu. E… lutou até o fim.
Takeshi sentiu o corpo gelar. Seus olhos se arregalaram quando viu a figura à frente — Anika.
Correntes prendiam seus braços e pernas, a boca tapada com uma fita escura. Ela tentava se mover, mas o som abafado de sua voz se perdia no ar.
“Não… não é possível” O coração de Takeshi disparou. Por um instante, esqueceu até de respirar.
Marlon cruzou as pernas, apoiando o cotovelo no braço da cadeira enquanto falava com calma:
— Sei que você está com raiva, mas ela é uma ameaça—
Antes que ele pudesse terminar, Takeshi bateu de leve na mesa, o som seco ecoando pelo ambiente.
— Ela não é uma ameaça. — Sua voz saiu firme, mas carregada de emoção. — Não estamos no mesmo grupo, é verdade, mas em nenhum momento ela tentou me matar. Ela não é uma ameaça.
Takeshi se colocou diante de Marlon, encarando-o de lado. Seus olhos tremiam, não de medo, mas de convicção.
“Eita… que clima é esse entre os dois?” pensou Lucius, lançando um olhar divertido para Anika.
Ela desviou o olhar rapidamente, enquanto tremia de leve.
— Calminha aí — disse a mulher, rindo de leve. — Não fizemos nada de ruim com ela. Você pode ver por si mesmo. Olhe, não há nenhum machucado. — Ela estendeu a mão, onde Anika estava.
Takeshi se aproximou lentamente, cada passo ecoando em meio ao silêncio. Parou diante de Anika e a observou por um longo tempo. Não havia cortes, hematomas nem qualquer sinal de ferimento — apenas o olhar perdido da garota.
Quando seus olhos se encontraram, o tremor no olhar de Anika cessou. Ela respirou fundo, como se a presença dele fosse o bastante para devolver-lhe um pouco de calma.
A mulher apoiou as mãos sob o queixo, observando-o com um olhar calculista.
— Agora sente-se. Vamos conversar um pouco.
Takeshi obedeceu, acomodando-se na cadeira ao lado de Marlon. O ambiente ficou pesado por um instante. Marlon fitou Anika e, sem entender bem o porquê, sentiu um desconforto profundo — como se algo antigo o fizesse lembrar de algo que preferia esquecer.
— Vamos fazer um acordo? — perguntou ela, com um brilho cortante nos olhos.
“Eita… a chefe, sempre indo direto ao ponto.” Lucius observava à distância, cruzando os braços. “Ele está completamente em desvantagem aqui.” Um sorriso surgiu em seu rosto. “Não tem jeito… ele vai aceitar o acordo.”
Takeshi respirou fundo. Suas mãos, pousadas sobre as pernas, apertavam o tecido da calça com força — o corpo tenso, mas o olhar decidido
—…..
— Eu vou considerar isso como um sim.
Lucius se aproximou lentamente e colocou algo na palma da mão dela. Tsukiko hesitou, fechando a mão em silêncio, enquanto o olhava de canto, desconfiada.
— O acordo é simples — disse Lucius, com um tom frio. — Ninguém neste lugar saberá sobre sua identidade. Em troca, você viverá aqui, protegida dos monstros.
Takeshi soltou um suspiro contido, o olhar pesado.
— E ela? — perguntou com a voz baixa — O que vai acontecer com ela?
Lucius virou-se, e um leve sorriso irônico cruzou seu rosto.
— Ela… bem — disse pausadamente, encarando Takeshi com uma expressão gélida. — Não é importante aqui. Pode morrer. Não há necessidade de mantê-la viva.
As palavras caíram como lâminas afiadas. Takeshi desviou o olhar, sentindo uma dor pulsar em sua cabeça.
“O que eu faço…? Nem faz sentido eu me preocupar com ela. Mas… por que eu me preocupei?”
Takeshi permaneceu inquieto, remexendo as pernas até não suportar mais.
— Não — Disse ele, engolindo em seco. — Não aceito isso.
A mulher franziu as sobrancelhas, avaliando-o com surpresa.
— Por quê? Por que não quer?
Os olhos de Anika tremiam; havia verdade ali.
A lembrança da conversa que teve com Takeshi crianças lhe deu coragem.
— Porque… eu não posso. Não quero que isso aconteça com ela — Sua voz saiu firme. — Se for para eu aceitar algo, vocês terão de garantir que ela permaneça viva.
—….
— Vocês não querem informações, não é? Então, se realmente querem, é melhor começarem a cooperar.
— Ah… mas sabe, nós poderíamos—
A mulher tentou responder, mas a voz lhe falhou ao ouvir as palavras de Takeshi.
— Está querendo que eu recuse esse acordo? — ele apoiou as mãos sobre a mesa, o olhar firme. — Além disso, você nem sequer explicou direito as outras partes. Nesse caso, eu posso muito bem recusar.
Lucius pousou a mão sobre o ombro da mulher, e ela estremeceu com o toque.
— Eu entendo — disse ele, com um sorriso leve —, mas não podemos permitir. Sabe… ela vai atrapalhar.
— Atrapalhar? — Takeshi franziu o cenho — Por que ela ia atrapalhar?
Lucius levou a mão à própria cabeça, fingindo refletir.
— Talvez você ainda não saiba, mas essa garota escondeu um segredo de você. — Seu sorriso se alargou, ganhando um tom quase provocador. — E quem sabe… até tenha mentido sobre quem realmente é.
— Como assim? — A tensão no ar aumentou.
Lucius inclinou o rosto, o olhar cintilando com malícia.
— É algo muito sério. Nossa chefe aqui odeia esse tipo de coisa. — Fez uma pausa, cruzando os braços. — Eu e Marlon estávamos apenas esperando o momento certo para revelar, não é, Marlon?
Marlon o encarou, visivelmente desconfiado, antes de responder em tom contido:
— Sim.
Todos olharam para Lucius.
— Aquele olhar doce dela — começou ele, com um meio sorriso — não passa de uma ilusão que ela mesma criou para enganar todos vocês. Quando encontrei o grupo, algo me chamou a atenção.
Ele desviou o olhar para a parede e coçou o cabelo, como se recordasse de um detalhe crucial.
— Você, Takeshi, estava completamente acabado. Mal conseguia ficar de pé… parecia à beira da morte. Ethan, por outro lado, não tentou lutar. Ele simplesmente aceitou o destino, dizendo que já não tinha mais vontade de viver.
Lucius então voltou-se para Anika.
— Agora, ela… foi diferente. Tentou resistir, recusou-se a cair. Não queria se levantar, mas também não queria que vocês fossem mortos.
Takeshi cerrou os punhos, a voz carregada de
impaciência:
— Diz logo.
Lucius ergueu uma das mãos, pedindo calma.
— Calma, calma… espere eu explicar. Só assim vai entender o que realmente aconteceu.
Lucius sentou-se na cadeira e passou os dedos pela bochecha.
— Ela ficou me empurrando toda vez que eu chegava perto do pescoço — disse com calma, mas o olhar era cortante.
— Talvez ela apenas tenha se sentido desconfortável com o toque — respondeu Takeshi, ainda tentando manter o tom neutro.
Desde o momento em que Takeshi havia conhecido Lucius, sentia algo diferente nele — uma presença autoritária, quase dominante.
— Negando? — Lucius ergueu o rosto, o olhar endurecendo. — Chefa, abra a mão… devagar.
A mulher engoliu em seco. O suor escorria-lhe pela têmpora, misturado à curiosidade e ao medo. Marlon fechou os olhos, como se já soubesse o que estava por vir.
A mão dela se abriu lentamente. Um feixe de luz atravessou a sala e revelou o que Lucius havia mencionado.
A mulher arregalou os olhos, em choque.
Lucius sorriu, satisfeito.
— O verdadeiro motivo — disse, pausadamente.
Ele voltou a olhar para Takeshi, atento à reação do rapaz.
— Foi porque… ela é uma inimiga do nosso grupo.
E ali estava — um colar, diferente de todos os outros do lugar.

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