Índice de Capítulo

    1

    Ayasaka estava sentada na cama, observando a muda de roupa que Tuphi lhe entregou. Era um manto azul escuro de tecido bordado de maneira semelhante ao que ela vestia, mas com detalhes amarelos abstratos. A única diferença era o tamanho, que era um pouco menor, e o tecido era uma seda altamente maleável. Ayasaka abraçou o manto, sentindo o tecido liso contra seu rosto e apreciando o aroma das flores de cerejeira que emanava da peça.

    Além do manto, havia um yukata, semelhante a um kimono de banho, na cor lilás com estampas florais em toda a lateral. Ayasaka estava encantada ao observar a peça.

    Com empolgação, Ayasaka olhou para a porta da sala de banho, usando o yukata, enquanto amarrava seus curtos cabelos pretos e removia completamente sua extensa franja.

    Ela então despia-se, expondo seu corpo esbelto de colegial à luz pálida da sala envolta em uma leve névoa devido à água aquecida da enorme banheira oval no centro do cômodo.

    Ayasaka suspirou de alívio ao afundar na banheira aquecida, com a água atingindo a altura de seus ombros. Ela apreciou a sensação de relaxamento que a banheira proporcionava, lembrando-se de toda a aventura que sua vida se tornara devido a uma simples melodia.

    2

    No entanto, sua paz logo foi perturbada quando a porta se abriu inesperadamente, e Ayasaka virou a cabeça para ver duas figuras distorcidas pelo vapor. Uma silhueta alta e outra mais baixa se aproximavam lentamente da banheira.

    Era Beatrice e Tuphi, ambas usando roupões brancos. Ayasaka deu um pequeno salto na banheira devido ao susto, escorregando e se afogando sem querer. Ela voltou para a superfície instantes depois, respirando ofegante com os cabelos molhados.

    Tuphi perguntou preocupada enquanto dava risada:

    — Você está bem?

    Ayasaka, com as bochechas coradas e os olhos totalmente amarelos de constrangimento, exclamou enquanto batia as mãos na água, fazendo uma lambança:

    — Você tá quase sem roupa na minha frente. Como eu vou me sentir bem?

    Ela afundou a cabeça na água na tentativa de se esconder, fazendo com que seu coque se desfizesse à medida que ela desaparecia na água quente.

    Mesmo que a cultura japonesa fosse aberta em relação a banhos grupais, Ayasaka sempre foi filha única e tinha fobia e timidez em relação a situações como essa.

    Beatrice riu da reação de Ayasaka e comentou:

    — Você é extremamente fofa para ser a chave de uma profecia sabia gatinha?

    Beatrice começou a despir-se, revelando seu corpo sinuoso e belo, enquanto seus cabelos loiros deslizavam sobre sua macia e sedosa pele branca.

    Já nua, ela se acomodou na frente de Ayasaka na banheira com graça e confiança, espalhando uma aura de sedução discreta.

    Tuphi seguiu o exemplo e se acomodou ao lado de Beatrice, movendo sua cauda cinza com destreza e graça sob a água. Seus movimentos circulares geravam ondas que atingiam as laterais da banheira, criando um cenário relaxante e hipnotizante à medida que as ondulações se espalhavam em um ciclo constante.

    Ayasaka estava com uma vermelhidão evidente em seu rosto enquanto as duas mulheres a encaravam sem pudores.

    — Vocês podem, por favor, parar de se comportar como se isso fosse uma web-novel fetichista?!

    3

    Ayasaka, que havia perdido o fôlego devido a ficar submersa por alguns minutos, subiu à superfície rapidamente, sugando todo o ar possível que seus pequenos pulmões conseguiam, e depois mergulhou novamente.

     O silêncio tomou conta do quarto preenchido pela neblina na água. A única coisa que se podia ouvir era o barulho da cauda de Tuphi remexendo-se levemente na água turva, enquanto Tuphi e Beatrice observavam Ayasaka e riam em silêncio.

    — Qual foi a das encaradas?! — Ayasaka exclamou jogando água em Tuphi com os pés, que se protegeu com a cauda molhada.

    — Eu vi seus peitos. — disse Tuphi com um olhar travesso, olhando para os pequenos seios de Ayasaka, que quebrou o silêncio do ambiente.

    Ayasaka que soltou todo o ar que estava prendendo quase realmente se afogando, subiu à superfície rapidamente e tossiu desesperadamente, ficando completamente vermelha.

    — Cachorro abusado! — exclamou Ayasaka após recuperar o fôlego, com uma expressão de brava e envergonhada, jogando água no rosto de Tuphi.

    — Eu sou uma Lobian! — respondeu Tuphi fazendo uma carinha de criança mimada e batendo suas mãos na água.

    As duas, começaram uma guerra infantil na banheira e água voava para todos os lados no chão em volta.

    Até que, sem querer, Tuphi bateu sua cauda molhada no rosto de Beatrice, inexpressiva.

    — Ops… he…he..

    Beatrice suspirou de olhos fechados enquanto a pequena toalha molhada com água quente que estava em cima de sua cabeça deslizou dramaticamente e se afundou dentro da banheira aquecida.

    — Tuphi, amanhã você acompanhará Ayasaka e a apresentará ao nosso vilarejo. — disse Beatrice, interrompendo a guerra mortal das duas e mudando bruscamente o assunto enquanto olhava para cima e se acomodava na banheira quente, ignorando o que Tuphi acabou de fazer.

    Tuphi, que parecia um pimentão, mudou rapidamente sua expressão facial olhando Ayasaka com um sorriso perverso. Ela continuou balançando sua cauda de maneira empolgada e deixando a água muito agitada. Logo em seguida, seu olhar se voltou para Beatrice, enquanto ela se acalmava, e respondeu:

    — Pode deixar.

    A barriga de Ayasaka inesperadamente roncou alto, atraindo os olhares de Beatrice e Tuphi, e fazendo com que ela ficasse ainda mais envergonhada.

    — Você está com fome?

    — N-não…, estou bem.

    Ayasaka olhou timidamente com o canto dos olhos para Beatrice, que se levantou e pegou uma toalha, enrolando-se.

    — Foi um ótimo lazer, mas vou me trocar e preparar algo bem gostoso para comermos, está bem? — disse ela, saindo da sala. — Ninguém salva o mundo de barriga vazia.

                    Tuphi vibrava de alegria, de uma maneira bem infantil, o que Ayasaka já estava se acostumando.

    4

    Tuphi olhou para Ayasaka com seriedade, esperando uma resposta. Beatrice havia saído do ambiente, mudando o clima na sala.

    — Você sabe o que te espera, não é mesmo? — disse Tuphi

    Ayasaka, sem entender, franziu a testa e olhou para Tuphi com uma expressão de dúvida, o que levou a um breve silêncio.

    — O quê? O que você quer dizer? — perguntou Ayasaka, finalmente quebrando o silêncio

    Tuphi olhou nos olhos de Ayasaka com seriedade, enquanto seus olhos heterocromáticos pareciam brilhar com uma mistura de tristeza e determinação.

    — Perdas, mortes — começou ela.

    Como se o olhar assustado de Ayasaka sem reação não fosse o suficiente, Tuphi continuou, compartilhando a gravidade da situação que se desenhava:

    — Você é a escolhida para a guerra que está prestes a surgir contra a escuridão que dominou Ataraxia. Foram quinhentos anos de uma sangrenta batalha, algo que nosso povo nunca havia visto antes. Nunca tivemos que participar de batalhas; éramos um povo gentil e pacífico, resolvendo nossas diferenças com palavras. Tivemos que nos adaptar a esse ambiente caótico, forçados a matar para proteger nossos entes queridos, lutando para sobreviver.

    Ayasaka ouvia com atenção, absorvendo cada palavra.

    — Eu sei que aqui, dentro de nosso vilarejo de Ataraxia, parece um lugar tranquilo. Mas isso é só porque conseguimos manter nossa antiga filosofia Ataraxiana diante desse presente inesperado que o destino nos reservou.

    Tuphi continuou compartilhando a situação atual de seu povo:

    — Nós somos a minoria que ainda respeita os antigos princípios deste mundo, onde tudo era baseado na igualdade e gentileza. Nós somos a “resistência” dessa triste história, e você é a nossa esperança para conseguirmos libertar nossa querida terra desse destino cruel que a aguarda.

    Ayasaka engoliu em seco, sentindo o peso da responsabilidade.

    — Você é a esperança para trazer o amor de volta e restaurar a chama Ataraxiana em milhares de pessoas de diferentes raças espalhadas por este reino que já se perderam diante da escuridão

    Tuphi concluiu suas palavras com uma seriedade que deixou Ayasaka sem reação.

    — Estou aqui para lhe servir durante esta jornada, mas garanto que não será um caminho fácil

    Tuphi se levantou e começou a se secar, vestindo seu roupão, com um olhar, pela primeira vez, sem brilho.

    Ayasaka ficou sozinha na sala, observando o vapor que saía da água e murmurou:

    — Eu não sou capaz, o que uma garota de dezesseis anos antissocial com problemas de se socializar teria de tão especial a ponto de salvar uma nação? Isso é uma loucura

    Ela indagava friamente para as paredes do cômodo, completando sua frase brevemente, com uma risada sádica:

    — Isso é realmente uma loucura, como o dragão gigantesco que fala comigo por telepatia e a garota com orelhas de lobo, sem deixar de fora o violão completamente maluco que simplesmente me trouxe para outro mundo. É uma bela loucura, e eu vou dançar de acordo com o ritmo pelo menos

    Ayasaka terminou sua frase, se levantou ainda com seu sorriso sádico, secou seu corpo de uma maneira hipnotizante para qualquer garoto que visse aquela cena, e depois vestiu sua muda de roupas que ela havia deixado no canto do cômodo para que o vapor não as alcançasse. Em seguida, ela saiu da sala de banho e deu de cara com Beatrice, que havia subido para avisá-la de que o jantar estava pronto.

    Ayasaka foi para seu quarto, com pensamentos turbulentos. Ao fechar a porta atrás de si, Ayasaka se deitou em sua cama e olhou para o teto, refletindo sobre as palavras de Tuphi e a responsabilidade que agora recaía sobre seus ombros.

    Era uma realidade que ela não podia mais ignorar, e seu coração estava cheio de incertezas e medos. Mesmo assim, ela sabia que não havia como voltar atrás. Ayasaka estava prestes a embarcar em uma jornada que mudaria sua vida e o destino de Ataraxia para sempre.

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