Índice de Capítulo

    1

    Ayasaka acomodou Kazewokiru em suas costas enquanto acompanhava Beatrice e Tuphi pelas movimentadas ruas do comércio do vilarejo. As pessoas olhavam para elas e sussurravam comentários em tom surpreso.

    — O que eles estão comentando? — Perguntou Ayasaka, com uma aparente timidez, para Tuphi

    — Sobre você. Parece que o rumor sobre a garota da profecia estar no vilarejo se espalhou de alguma forma. — Tuphi respondeu enquanto caminhava olhando para frente, sem olhar para o lado onde Ayasaka estava.

    “Tantos olhares… Tantas expectativas… Olhares de esperança…”

    Enquanto Ayasaka, Beatrice e Tuphi caminhavam em direção à central de operações, o cenário ao redor era uma verdadeira obra-prima da natureza. A rua do comércio estava repleta de tendas coloridas que vendiam uma variedade de produtos, desde alimentos frescos a roupas exóticas e artesanato local. As pessoas locais estavam ocupadas negociando, conversando e interagindo em uma atmosfera animada e alegre.

    As árvores que ladeavam as ruas exalavam um perfume suave e envolvente, criando um ambiente de tranquilidade e serenidade. Os pássaros locais cantavam melodias encantadoras, preenchendo o ar com uma trilha sonora natural.

    À medida que seguiam em frente, Ayasaka notou a arquitetura única das casas do vilarejo, construídas em harmonia com a natureza ao seu redor. Os telhados de palha e as paredes de madeira pareciam se misturar com as árvores e arbustos circundantes, criando uma sensação de que o vilarejo fazia parte da própria floresta.

    As pessoas que passavam por elas lançavam olhares curiosos e sorrisos amigáveis, cumprimentando-as com gestos de cabeça e acenos de mão. Ayasaka se sentia parte de algo especial, uma comunidade que a acolhia calorosamente.

    Conforme se aproximavam da central de operações, a atmosfera na rua se tornava mais séria e solene. Os comentários e suspiros de expectativa diminuíram, à medida que a importância da missão que Ayasaka estava prestes a desempenhar pesava sobre ela. Ela se esforçou para se concentrar, preparando-se para o que a aguardava naquele lugar crucial para o destino de Ataraxia.

    Diante delas, erguia-se uma majestosa estrutura de madeira envelhecida, com traços e marcas que testemunhavam o passar do tempo. A construção de quatro andares tinha duas imponentes torres, uma em cada extremidade. Ao se aproximar, Ayasaka notou que no topo de cada torre, um homem alto, com orelhas de lobo semelhantes às de Tuphi, porém, de pelos negros brilhantes e aparentemente macios, segurava um arco e flecha de longo alcance, cujo comprimento superava o da arma que Tuphi carregava nas costas.

    Antes que pudessem abrir as portas da central de operações, uma voz animada soou atrás delas.

    Ayasaka se virou curiosa na direção da voz. Diante dela, encontrava-se um jovem de cabelos brancos espetados, vestindo calça marrom escura levemente amarrotada e uma camisa branca. Duas espadas cruzadas nas costas formavam um “x”. O rapaz exibia um sorriso confiante e mantinha ambas as mãos atrás da cabeça, irradiando autoconfiança.

    — Bom dia, princesa. Bom dia, Beatrice. Vejo que trouxeram companhia. Alguma novidade hoje? — Cumprimentou o rapaz com um tom animado.

    Ao lado dele, uma esbelta garota de longos cabelos verdes atraía a atenção. Seus cabelos, de um verde vibrante e natural, eram iluminados pelos raios do sol que penetravam pelas árvores próximas. Ela possuía orelhas alongadas que curvavam graciosamente para baixo, semelhantes às orelhas de elfos frequentemente encontrados em lendas e contos de fantasia no mundo original de Ayasaka, suas orelhas eram como as do próprio rapaz ao seu lado. Com um óculos abaulado, seu olhar curioso e expressão intrigada denotavam sua curiosidade em relação às visitantes, enquanto seus olhos observavam atentamente, Ayasaka em especial.

    — Então a profecia realmente era verdadeira… Eu sou Haato Sannire, e essa é Meezu, minha subordinada. Eu sou o espadachim responsável pelo esquadrão de elite da linha de frente.

    — E eu sou responsável pela organização e estratégias do setor. — Meezu completou com uma pequena reverência.

    — Estamos a seu dispor, escolhida. É uma honra estar na sua presença e na de um dos quatro instrumentos celestiais, Kazewokiru — disse o garoto depois de observar o Kazewokiru nas costas de Ayasaka, ao mesmo tempo que se ajoelhava e abaixava a cabeça, fazendo uma respeitosa reverência diante de Tuphi e Ayasaka, que eram duas peças de peso na linha de frente.

    — Meu nome é Mio Ayasaka, eu vim… de uma terra distante chamada Japão — respondeu Ayasaka de maneira tímida.

    Sannire olhou para Ayasaka com admiração.

    — Qualquer soldado que se preze conhece sua trajetória, cavaleira de dragão. Fico extremamente feliz de presenciar um momento histórico como este. Vamos, vamos, entre! — Sannire levantou-se de sua reverência de forma elegante e respeitosa, sem movimentos bruscos, e abriu as portas da construção onde residia a central de operações.

    Com passos curtos e acompanhada por Beatrice e a trupe, Ayasaka entrou no pequeno prédio após Sannire abrir as barulhentas portas de madeira que fechavam o local. A garota ficou pasma diante do ambiente que adentrava.

    Era um ambiente barulhento e movimentado, onde pessoas estavam constantemente indo de uma direção a outra carregando itens como mantimentos, armaduras e até mesmo armas de todos os tipos: espadas, lanças, arcos e escudos. A variedade de raças e características únicas era impressionante, cabelos de todas as cores formavam uma visão que Ayasaka só estava acostumada a ver em animes ou jogos, algo que nunca havia despertado muito interesse em sua vida no Japão.

    — Bem-vinda à nossa central, cavaleira. É aqui que as coisas acontecem. Cuidamos de toda a região em volta de Kratkar, atendemos chamados de aldeões para ataques de corrompidos e fazemos doações para os menos afortunados com alimentos e vestimentas. A linha de frente participa de combates defensivos e de ações de caridade. Tentamos ao máximo manter a tradição de Ataraxia, cultuamos o antigo sistema de aprimoramento de nossos raxy interior e buscamos fortalecê-lo a cada missão que prestamos — disse Sannire enquanto abria caminho para as três visitantes junto de Meezu, que os acompanhavam em silêncio enquanto ele fornecia informações sobre o local.

    Ayasaka observou as costas de Meezu e ficou surpresa ao perceber que, enquanto seus cabelos balançavam, uma longa espada negra aparecia de relance, timidamente escondida atrás dos fios de cabelo dela.

    — Meezu…

    Meezu olhou na direção de Ayasaka, caminhando mais devagar para ficar ao seu lado.

    — Ah, oi! — Meezu respondeu com um sorriso amigável.

    — Essa espada sua…, é do meu tamanho. — Ayasaka comentou, observando a arma da garota.

    — Ah! Está dando para ver a minha espada?! — Meezu começou a andar em círculos, tentando olhar suas costas, fazendo Ayasaka rir.

    — É incrível! Eu nunca vi alguém esconder um espadão grosso desses tão bem dentro dos cabelos! Hum… pensando bem, onde eu morava o pessoal escondia gilete na língua, que na minha opinião é igualmente impressionante — Ayasaka elogiou e comentou pensativa olhando para o além

    Meezu corou um pouco com o elogio, sem entender a parte do gilete enquanto ria e respondeu:

    — Eu treinei muito para conseguir esconder assim, já que não consigo fazer ela desaparecer com raxy. É bom ter uma vantagem surpresa. E quem sabe, talvez um dia você também não desenvolva uma técnica peculiar como a minha?!

    — Quem sabe… — Ayasaka respondeu com um sorriso, admitindo a habilidade de Meezu. — Espera aí, dá para fazer arma desaparecer com raxy?!

    Enquanto as duas garotas conversavam, Sannire as guiou pelo movimentado ambiente da central de operações, mostrando as diferentes áreas e explicando suas funções. Era uma introdução à vida na linha de frente de Ataraxia, e Ayasaka estava curiosa para saber mais sobre esse novo mundo que estava explorando.

    — Olhem para aquela área ali, é onde treinamos nossas habilidades de combate — Sannire apontou para um campo de treinamento com guerreiros se exercitando e praticando movimentos de combate.

    Ayasaka observou e comentou de forma bem-humorada:

    — Olha só, Tuphi, um campo de treinamento! Quem sabe eu não me torno uma mestre na arte do “espadão grosso”?

    Tuphi riu com a brincadeira de Ayasaka em relação a Meezu e comentou:

    — Com o tempo e treinamento, você pode surpreender até mesmo o Sannire com suas habilidades. E olha que ele é difícil de impressionar!

    Meezu se juntou à conversa com um toque de humor:

    — Quem sabe você já até esconde uma espada gigante nos cabelos como eu! Ayasaka, a mestra das surpresas?!

    As três riram enquanto continuavam a explorar a central de operações, Ayasaka estava ansiosa para aprender mais sobre as atividades da linha de frente e o mundo mágico que estava descobrindo.

    No meio das risadas, Sannire se aproximou do grupo e falou com um sorriso amigável:

    — Parece que você já está se adaptando bem ao nosso mundo. Ayasaka, é ótimo ver que você está animada para aprender mais sobre as nossas habilidades de combate. Se tiver interesse, posso mostrar a você algumas técnicas com uma espada, além do seu Kazewokiru.

    Ayasaka ficou surpresa e sem palavras com a oferta de treinamento, enquanto Meezu e Tuphi encorajavam a ideia.

    — Seria uma ótima oportunidade para você conhecer um pouco das técnicas de combates dos Xodiks! Sabia que fomos a raça que ajudou os celestiais de Ataraxia? — Sannire explicou com uma risada amigável e orgulhosa.

    — Ela nem te deu confiança direito e você já está se vangloriando… — Tuphi abaixou a cabeça em um sinal de negação.

    Sannire riu de maneira desajeitada com a mão na nuca.

    — Desculpe…

    Com o coração cheio de curiosidade e empolgação, Ayasaka  finalmente concordou:

    — Pode ser!

    Sannire assentiu empolgado com a reação de Ayasaka e conduziu o grupo para uma das áreas de treinamentos, onde começariam a aprender um pouco mais sobre as técnicas de combate de Ataraxia.

    Na área de treinamento, Sannire providenciou espadas de madeira para Ayasaka e Meezu. Antes de começarem, ele deu algumas orientações básicas a Ayasaka, ensinando-a a segurar a espada de maneira adequada e a movimentar-se com agilidade. Ayasaka estava ansiosa para aprender, e suas mãos seguravam a espada com firmeza.

    — Prontas para começar? — Sannire perguntou.

    Ayasaka assentiu e ficou em posição de combate, olhando determinada para Meezu, que segurava sua espada de madeira com confiança e timidez.

    — Ei Meezu, pega leve comig- — A luta começou com Meezu interrompendo Ayasaka e avançando rapidamente, balançando sua espada de madeira com destreza. Ayasaka tentou defender-se, mas a força e agilidade de Meezu eram impressionantes. Em pouco tempo, Ayasaka estava recuando, tentando evitar os ataques precisos da Xodik, Meezu.

    — Você precisa ser mais ágil, Ayasaka! — Sannire gritou, observando a luta.

    — Falar é fácil Link da Shopee! — Ayasaka disse enquanto bloqueou mais um ataque pesado de Meezu.

    O impacto das duas armas de madeira colidindo ecoou por todo seu corpo como uma onda de choque aguda, fazendo com que ela tivesse a sensação de que todas as suas juntas tinham recebido uma batida ao mesmo tempo.

    — Aí aí aí… isso dói demais. — Ela fez uma careta ao olhar para Meezu sem expressão.

    Ayasaka tentou seguir o conselho de Sannire e começou a se mover mais rapidamente, esquivando-se de alguns dos ataques de Meezu. No entanto, Meezu era implacável, e seus golpes continuavam a encontrar seus alvos, forçando Ayasaka a se defender com todas as suas forças, que já não eram muitas.

    Durante a luta, Meezu deu um salto gracioso por cima de Ayasaka, enfatizando suas brancas pernas alongadas, e desferiu um golpe poderoso, fazendo a espada de madeira de Ayasaka sair voando de suas mãos. Ayasaka caiu de joelhos, ofegante e derrotada.

    — Desisto, desisto! — Ayasaka abanava as mãos em cima do rosto.

    Com as mãos no joelho, ela observava Meezu sair da posição ofensiva, sem fôlego.

    —  Mas se você quiser pisar em mim eu aceito… gosto de ser humilhada por mulheres bonitas… — Ayasaka comentou rindo e ofegante.

    Meezu, também cansada, abaixou a espada de madeira e ofereceu a mão para ajudar Ayasaka a se levantar.

    — Você foi bem, mocinha! E que conversa foi essa de pisar em voc…— Meezu foi interrompida por Ayasaka.

    — Nada nada nada! Era brincadeirinha! Piadas! — Ayasaka levantou rapidamente as mãos balançando a cabeça.

    Ayasaka aceitou a mão de Meezu e se levantou, agradecida pela oportunidade de aprender um pouco com a Xodik linda que exalava uma humildade sem iguais.

    Sannire surgiu entre as duas garotas com risadas altas e aplaudindo.

    — É Meezu parece que terei de te demitir! Hahaha! — Sannire comentou.

    Tuphi e Beatrice estavam aplaudindo com olhares engraçados no fundo do campo.

    — C-como assim!? — Meezu levou as mãos na frente do rosto com uma expressão assustada.

    — Brincadeira, brincadeira!

    Sannire, Ayasaka e Meezu se reuniram com as garotas que esperavam na ponta do campo novamente, e resumiram seu caminho pela central.

    — Vocês fazem caridade né? — perguntou Ayasaka de forma tímida e intrigada, tentando puxar assunto diante do silêncio do grupo.

    — Sim, nós fazemos caridade. A linha de frente é uma instituição beneficente. Ela foi formada após a queda da família celestial, depois de presenciarmos o ódio da personificação da maldade e da trapaça.

    “De novo essa tal de personificação da trapaça… Será que é o que vejo em meus sonhos?”

    — Certo… entendi — Ayasaka respondeu ao garoto com uma pequena indagação, pois queria perguntar sobre a personificação do mal, mas desistiu por ser muito tímida.

    — Algum relatório sobre a situação, princesa? — completou Sannire, dirigindo seus olhares a Tuphi, mudando bruscamente sua expressão facial para um tom mais sério.

    — Sem alterações. Conversei com os espíritos inferiores e tenho poucas informações sobre a movimentação — Tuphi respondeu a ele com um olhar sério enquanto eles continuavam a andar pelo salão principal.

    — Entendido. Perfeito. Obrigado pela informação, princesa — Sannire completou com uma pequena reverência.

    — Movimentação? — Ayasaka perguntou timidamente, curiosa sobre o assunto.

    — Sim, de desconhecidos. Eles geralmente andam em grupos, seres criados após a queda da família celestial, raças que têm seus raxy interiores compostos de escuridão, que nunca foram catalogadas. A maioria dos indivíduos caracterizados como desconhecidos tem poderes nunca vistos e andam por Ataraxia saqueando e ateando fogo em vilarejos da resistência, espalhando morte e desespero, em nome da personificação da maldade, em uma forma estranha de homenagear quem eles chamam de “O Vazio Corruptor.”

    “O Vazio Corruptor? Esse é o nome da personificação do mal, provavelmente…”

    Beatrice se aproximou de uma parede de madeira com algumas folhas de informações afixadas a ela enquanto os três conversavam.

    — É para isso que viemos aqui, vamos checar as anotações — Tuphi e Ayasaka direcionaram o olhar para Beatrice ao mesmo tempo, aproximando-se dela, que observava as folhas de um tipo de papiro acinzentado, com alguns textos, ilegíveis para Ayasaka naquele momento.

    — Isso são informações sobre serviços e relatos de aparições estranhas disponíveis feito por indivíduos residentes do vilarejo. A linha de frente investiga as aparições e se voluntaria em missões beneficentes ou de risco. Basicamente mantemos a paz aqui em Kratkar — disse Beatrice enquanto observava o mural.

    — Até que comecemos o treinamento da mestre, uma ação beneficente será interessante para calibrar a vibração de seu Raxy… Vamos ver… essa deve bastar — Tuphi puxou um papel do topo do mural enquanto ficava na ponta dos pés para alcança-lo. — É uma missão de reconhecimento, parece que há muitos boatos de crianças que viram um animal desconhecido com uma silhueta semelhante à de um coelho amedrontador próximo ao bosque…

    — Um coelho? Coelhos são fofos, não amedrontadores… — Respondeu Ayasaka a Tuphi, com um olhar confuso.

    — Não quando estão saturados de escuridão.

    — Como assim?

    — Animais também possuem raxy. Uma versão mais simplificada do que se encontra nas quatro raças, porém possuem. Raxy de animais podem ser afetados pela vibração carregada de Raxy de desconhecidos a sua volta, fazendo com que o animal sofra distúrbios e até mesmo às vezes desenvolva habilidades inexplicáveis

    Ayasaka encarou Tuphi com o papel na mão, olhou para Beatrice, logo em seguida voltando seu olhar a Tuphi.

    — Eu posso continuar a escrever pela tarde toda? Sinto que posso absorver mais conhecimento…

    Ayasaka estava se virando em direção à porta quando Sannire colocou a mão no ombro esquerdo dela e, com uma risada gentil, disse:

    — Fique tranquila. De qualquer forma, precisaremos que se familiarize com tudo nesse mundo e desperte seu real potencial em combinação com Kazewokiru, pois nós ainda precisaremos de sua liderança em nossa revolução, cavaleira.

    — Eu e meu espadão gigante vamos te proteger, Aya! — Meezu comentou com uma risada meiga.

    — Ninguém aqui tinha me chamado de Aya ainda… assim fica difícil de negar. Mas sinceramente, eu e nada vai ser a mesma coisa negão.

    Todos deram descontraídas risadas com a situação que Ayasaka proporcionou.

    Ayasaka, devido a sua fobia social e sua condição especial que não tinha aparecido nos últimos dias, encolheu-se mais ainda, pensando que eram risadas de deboche.

    — Iremos agora?… — Perguntou Ayasaka olhando para o lado em um tom levemente abafado.

    — Antes terei de checar algumas coisas lá em cima, princesa. Pode me acompanhar? — Perguntou Sannire olhando para Tuphi. — Meezu, dá uma volta com a Cavaleira, peço por gentileza que tenham um ótimo tempo juntas.

    — Claro.

    Tuphi e Sannire subiram até o último andar da construção, onde ficava o arsenal de armas e lâminas. Sannire passou o dedo sobre o corte de uma das lâminas, fazendo com que seu sangue cobrisse uma certa extensão do fio dela. Com uma voz sem emoções, perguntou a Tuphi:

    — O que você acha? Provavelmente não nos resta muito tempo

    — Eu sei disso. Mas ela não está pronta. Precisaremos cruzar a fronteira do território dos Xodiks para iniciar seu treinamento como cavaleira de dragão. Eles são os únicos com esse conhecimento antigo e sabem da capacidade real de Kazewokiru…

    Sannire balançava a cabeça em sinal de negação enquanto via seu sangue escorrendo pelo afiado fio da lâmina de um metal avermelhado à sua frente, observando seu reflexo com um olhar opaco iluminado por fracas luzes amarelas que refletiam em seu rosto pálido.

    — Não temos tempo. Não temos tempo… — disse Sannire com um murmúrio sem luz — Avidus irá fazer um movimento provavelmente em breve, e não estaremos preparados. Precisamos que ela desperte seu potencial em breve, para nosso destino ser menos incerto. A linha de frente é pequena, não sei se aguentaremos qualquer ataque…

    — Está tudo bem, você está dando o seu melhor, Haato — disse Tuphi com uma voz acolhedora, abraçando o garoto de orelhas ligeiramente grandes e pontiagudas. O garoto fechou os olhos que lacrimejavam em resposta à atitude repentina de Tuphi e aceitou o abraço da menina lobo de longos cabelos cinzas. Ela tinha uma expressão carinhosa aflorada em seu rosto naquele instante.

    Tuphi com um suspiro, continuou:

     — Em nome de todo o povo de Libidine e a esperança que descendentes de meu povo depositam em mim, eu deposito toda a minha fé e confiança na descendente dos Celestes. Tenho certeza de que ela é a chave para salvar Ataraxia. O raxy dela é incrivelmente forte, confuso, mas tem uma presença angelical. Eu sinto luz vindo dela, sinto paz, sinto esperança.

    — Se ela tem a sua confiança e esperança, tem a minha também. Daremos um jeito para treiná-la, mesmo que não possuamos completo conhecimento sobre cavaleiros de dragões, podemos ensiná-la o básico

    — Vamos voltar agora, está bem?

    Ao voltar para o salão inferior, Tuphi avistou Ayasaka observando a correria do dia a dia da linha de frente, sentada em uma mesa redonda, junto de Beatrice e Meezu, no canto do prédio, longe de toda a aglomeração.

    — Voltamos. — Disse Tuphi de forma doce quando chegou perto de Ayasaka.

    — O que aconteceu? — Ayasaka logo viu o dedo de Sannire enrolado em um pano amarrotado.

    — Ah, isto? Não foi nada demais, um corte bobo quando peguei uma espada no último andar, não se preocupe— disse Sannire com uma voz confiante e um sorriso estampado no rosto, observado por Tuphi, que lançou um olhar meio de lado para o garoto.

    — Fazendo merda de novo né — Meezu comentou, e todas riram de Sannire que ficou constrangido.

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