Índice de Capítulo

    1

                O café da manhã era farto em cima da mesa posta por empregados que aguardavam pacientemente no canto da parede perto da porta de entrada da sala de refeições.

                Sucos, doces e lanches estavam dispostos sobre uma toalha de seda de cores claras. A mesa era grande, e Ayasaka junto de Tuphi e a trupe estavam desfrutando do café da manhã colorido naquela primeira manhã relaxante em Uevyat.

                — Isso aqui está muito bom!

                    Tuphi, com um pão doce mordido na mão ofereceu para Ayasaka que estava pensativa.

                    — Ei… o que foi?

                Ayasaka que estava distraída olhando para o vazio retornou o olhar para Tuphi com um sorriso.

                — Nada, está tudo bem.

                Tuphi, de braços cruzados com um bico irritado em sua boca, retrucou:

                — Está tudo bem nada! O que você tem?!

                Ayasaka se sentou na mesa e suspirou.

                — Você não vai se sentar para comer não? Comer de pé faz mal.

                Tuphi suspirou e se sentou ao lado de Ayasaka.

                Beatrice estendeu o braço e serviu um suco que Ayasaka não conhecia em sua caneca.

                — Esse suco faz cara ruim ir embora.

                Ayasaka encarou a caneca que Beatrice deixou em sua frente e deu uma leve risada enquanto mantinha os braços cruzados.

                — Obrigada, Beatrice.

                — Vamos, vamos. Beba.

                Ayasaka bebeu o suco da caneca e expressou um sorriso singelo no rosto ao olhar para as garotas que a encaravam ansiosas.

                — Obrigada gente, sério.

                — Mas estava bom o suco? Eu quero também! — Tuphi avançou em Ayasaka na intenção de pegar sua caneca.

                — Ei! Você tem a própria caneca! Por que tem que beber na minha?!

                — Porque é tipo um beijo! Deixa eu te beijar!

                    — Sai daqui velho!

                Enquanto Ayasaka mantinha a mão no rosto de Tuphi para afastar ela de sua caneca, a figura etérea de Agnus entrou na sala com um sorriso no rosto ao dar de cara com a cena de Tuphi quase subindo em cima da mesa para pegar a caneca de Ayasaka.

                — Bom dia! …parece que estão animadas, não é mesmo?

                — Ah! — Tuphi foi empurrada para o chão por Ayasaka em uma atitude desesperada ao ver o anfitrião entrar na sala repentinamente.

                — Bom dia. — Beatrice e Sannire responderam enquanto Ayasaka olhava para Tuphi que aparentava estar desmaiada no chão.

                    — …elas estão bem?

                — Ignore. — Beatrice e Sannire responderam ao mesmo tempo com um sorriso no rosto.

    2

                — Então você quer que a gente recupere um colar? — Ayasaka respondeu com os braços cruzados. — Isso era a ajuda que você queria?

                — Precisamente.

                — Não é como se você não conseguisse isso sozinho, não é mesmo?

                — E colocar a Tuphi e Ayasaka juntas para isso… — Beatrice completou, pensativa.

                — Eu acho que vai ser uma boa oportunidade para as duas ficarem mais próximas — Agnus respondeu enquanto olhava para as garotas.

                — Está tudo bem, Sannire, Beatrice. Afinal, a gente quer fazer isso também, né Tuphi?

                Tuphi olhou para Ayasaka em silêncio.

                — Sim, sim.

                — Vai ser uma aventura legal no fim das contas, acho que temos tempo para uma parada pequena por aqui no mais de tudo. — Ayasaka concluiu.

                — Bom, acho que está tudo certo em relação a isso, não?

    3

                Agnus observou a trupe sair da sala de refeições um a um até que chegou a vez de Ayasaka passar pela porta.

                — Posso falar com você mocinha? — Agnus chamou atenção de Ayasaka.

                — Ahn? Claro.

                — Você está bem? — Agnus olhou nos olhos de Ayasaka com suas pupilas esotéricos.

                Ayasaka desviou o olhar, incomodada com algo que estampava sua expressão.

                — Estou bem sim.

                — Okay… agora pode ser sincera? Vamos começar com… dormiu bem?

                A pergunta de Agnus encheu os olhos de Ayasaka de incerteza instantaneamente. Ela tentou não olhar em seus olhos, mas foi inevitável a sua atenção repentina a ele.

                — Parece que não.

                Agnus cruzou a perna esquerda por cima da direita com um suspiro.

                — Beatrice….? Sannire…? — Agnus disse o nome dos dois para ver se Ayasaka mudava sua expressão, e nada aconteceu até ele citar outro nome.

                —…Tuphi…?

                Ayasaka virou o rosto.

                — Então parece que o problema está aqui.

                Ayasaka olhou na direção de Agnus, balançando a cabeça em negação.

                — Não… não é isso. O problema está aqui dentro — Ayasaka disse com a mão no peito. — Eu não consigo entender. Tive inúmeros sonhos, sonhos macabros, sombrios… são sonhos que mostram apenas fatalidades que me esperam. Sonhos que mostram um lado que eu não conhecia meu… eu matei a Tuphi.

                Agnus olhou na direção do teto da casa, intrigado e pensativo, respeitando o momento.

                — Um lado… sombrio?
                Ayasaka balançou a cabeça positivamente enquanto lágrimas escorriam de seu rosto.

                Agnus suspirou.

                — Você sabe o que é a profecia, correto?

                Ayasaka olhou na direção de Agnus enquanto criava fôlego para responder.

                — Salvar Ataraxia?

                — É isso, mas não é isso… Você sabe ao menos, que a profecia é uma canção?

                — Uma canção…? Não. Não sabia.

                — Pois é, pois é! — Agnus respondeu empolgado. —  A profecia é uma canção passada pelas gerações de Xodiks. Sempre foi uma pequena apresentação, que inclusive, com o passar do tempo foi adaptada pelos bardos.

                Ayasaka estava pensativa, digerindo a informação, Agnus concluiu:

                — …mas você sabe o que a Canção da Profecia tem de mais peculiar…?

                 Agnus se levantou e começou a observar uns quadros da sala, em silêncio.

                Ayasaka interrompeu sua curiosidade com uma pergunta:

                — O que a canção tem de peculiar?

                — A Canção da Profecia é uma música cantada solo. Isso te soa familiar?

                Ayasaka arregalou os olhos enquanto mantinha a sua vista fixada no chão. Um arrepio percorreu por sua espinha enquanto sua visão ficava cada vez mais embaçada. Seu choro ecoava baixo pelo quarto.

    4

               — Cantada solo… — Ayasaka repetiu a informação, sua voz entrecortada pelas lágrimas. — Como uma solitária melodia em meio à escuridão…

               Agnus virou-se para Ayasaka, compreendendo a profundidade de suas emoções.

               — Essa canção… ela é uma jornada solitária, não é? — Ayasaka indagou, mesmo que mais para si mesma do que para Agnus.

               — A Canção da Profecia é uma trilha que apenas o profeta pode trilhar. Uma jornada que transcende os laços pessoais. Às vezes, a profecia pesa não apenas nos ombros, mas também no coração — explicou Agnus, sua voz carregada de sabedoria.

               A nevoa dos sentimentos nublava os olhos de Ayasaka, e ela continuou a falar, desabafando sua alma atormentada.

               — E nessa canção, eu vejo sombras, morte, e um lado meu que desconheço. Sinto a dor daqueles que amo… daqueles que não sei se poderei proteger. É um fardo, uma carga que parece aumentar a cada nota dessa melodia sombria.

               Agnus permaneceu em silêncio por um momento, respeitando a dor que transbordava de Ayasaka.

               — Ayasaka, ser a profeta não significa que você precise suportar tudo sozinha. Há força nas conexões que você construiu, nas amizades que floresceram. A jornada pode ser solitária, mas isso não significa que você esteja verdadeiramente sozinha.

               Ao ouvir as palavras reconfortantes de Agnus, Ayasaka levantou o olhar, encontrando nos olhos dele uma mistura de compreensão e compaixão.

               — Você tem uma escolha, Ayasaka. Você pode deixar que essa canção a afogue na escuridão, ou pode encontrar luz nas conexões que formou. Cada profeta molda sua jornada de maneira única. Não deixe que a profecia a defina; defina-a você mesma.

               A tristeza nos olhos de Ayasaka começou a ceder espaço para uma determinação renovada. As lágrimas, agora, eram como a chuva que prepara o solo para o renascimento.

               — Eu… eu quero encontrar a luz, Agnus. Quero trilhar meu próprio caminho, não importa o quão sombrio ele possa parecer.

               Agnus sorriu, reconhecendo a coragem que brotava nas palavras de Ayasaka.

               — Então, que sua jornada seja guiada pela sua vontade, e não pelas sombras do destino. Estamos aqui para apoiá-la, Ayasaka.

               A troca de olhares entre eles transmitiu um entendimento mútuo, e Ayasaka, finalmente, sentiu um vislumbre de esperança rompendo as nuvens sombrias que obscureciam seu coração

                Agnus colocou uma mão gentil sobre o ombro de Ayasaka, transmitindo conforto.

               — Ayasaka, eu também já estive à beira da escuridão. Havia momentos em que as sombras ameaçavam consumir minha alma. Mas percebi que, se eu caísse, muitos ao meu redor também estariam envolvidos pela escuridão. Essa é a carga daqueles que carregam a luz; ela os mantém fortes, mas também os desafia.

               Ayasaka olhou para Agnus, intrigada pelas revelações do anfitrião.

               — Você… conhece a escuridão?

               — Sim, Ayasaka. Sou conhecido pela luz que irradio, mas para alcançar essa luz, precisei enfrentar as sombras. A jornada de um guia não é isenta de desafios. A luz que brilha forte é aquela que resistiu à escuridão.

               Agnus afastou-se um pouco, olhando para a paisagem fora da janela.

               — Se eu tivesse cedido à escuridão, muitos que dependiam da minha orientação também teriam sucumbido. Às vezes, a luz que carregamos não é apenas para nós mesmos, mas para aqueles que buscam direção na escuridão.

               A intensidade do olhar de Agnus aumentou enquanto ele se voltava novamente para Ayasaka.

               — Portanto, Ayasaka, seja forte. Encontre a luz em seu próprio coração, e ela iluminará o caminho não apenas para você, mas para todos aqueles que compartilham deste destino entrelaçado.

               As palavras de Agnus ecoaram no silêncio, como uma promessa de orientação e apoio. Ayasaka sentiu uma nova determinação se erguendo dentro dela, alimentada pela compreensão de que, mesmo nas sombras, ela poderia encontrar sua própria luz.

               — Obrigada, Agnus. Vou trilhar esse caminho, enfrentar as sombras e encontrar a minha luz.

               Agnus sorriu, um sorriso de encorajamento.

               — Conte sempre conosco, Ayasaka. Sua jornada é também a nossa, e juntos enfrentaremos o que quer que o destino nos reserve.

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