Índice de Capítulo

    1

    — Lila, Erek…

    Olhos com desdém e julgamento brilhavam na escuridão. Uma mesa vazia estava posta com alguns cristais luminosos que banhavam o ambiente com uma iluminação frágil e esverdeada. Lila estava sentada ao fundo com a cabeça baixa, enquanto Erek encarava a escuridão em pé ao seu lado.

    — Eles vieram ajudar! São amigos! São amigos de Lila…

    — O tema da reunião do conselho é se Mio Ayasaka é a responsável pela destruição do Templo das Almas. Os vestígios de raxy da liberação catastrófica feita há uma semana batem com os de seu corpo, pelo que foi analisado até então.

    — Não foi isso que aconteceu… vocês estão errados… Ayasaka… nos salvou!

    ————————————————————-

    — Lila! — Ayasaka agarrou no braço de Lila e a puxou rapidamente para baixo de seu corpo. — Não se mexe…!

    Aos olhos de Lila, tudo era um borrão. A lembrança do templo sendo destruído ainda estava vívida em sua mente. O corte celestial rasgando tudo ao redor, transformando o sagrado em pó. A esfera protetora, que de alguma forma surgiu próxima a Ayasaka para desviar os cortes, tinha salvado suas vidas os envolvendo em uma fina barreira de magia enquanto ela parecia absorver tudo que se direcionava contra ela.

    Mas o templo havia sido irreversivelmente destruído.

    Tudo aconteceu aos olhos de Lila, e claramente, Ayasaka era sua salvadora.

    A voz do conselho a trouxe de volta ao presente. Lila levantou a cabeça, os olhos ardendo de determinação.

    — Vocês não entendem! — ela exclamou, a voz carregada de desespero. — Ayasaka não destruiu o templo. Ela estava tentando nos proteger. Aquele corte… era uma força muito além do que qualquer um de nós poderia controlar ou prever. Sem ela, todos estaríamos mortos! Vocês entendem isso?!

    Os membros do conselho se entreolharam, céticos. Um deles, um ancião de cabelos brancos e longas orelhas, inclinou-se para frente.

    — E o que você sugere, Lila? Que ignoremos as evidências? Que aceitemos sua palavra e deixemos Ayasaka livre, apesar das provas contra ela?

    Erek apertou o punho, dando um passo à frente. — As provas podem dizer uma coisa, mas nós estávamos lá. Vimos o que aconteceu. O rastro de raxy pode ser de Ayasaka, mas isso só prova que ela usou seu poder para nos salvar, não para destruir o templo, são eventos que aconteceram um após o outro.

    — O translúcido se manifestou por três décimos de segundo naquela noite. Acreditamos fortemente que Ayasaka seja a culpada para isso.

    — O Mundo Translucido…?

    Outra voz ecoou vinda um dos anciões, interrompendo Erek que se manteve em silêncio na posição de ouvinte.

    Lila se levantou, a voz tremendo com a intensidade de sua emoção. — Por favor, vocês têm que acreditar em nós. Se não fosse por Ayasaka, o templo teria caído muito antes, e nós com ele. Ela é uma heroína, não uma vilã.

    O ancião olhou para Lila com uma expressão indecifrável. Após um momento de silêncio, ele suspirou.

    — Vamos reconsiderar os fatos. Precisamos de mais provas para tomar uma decisão justa. Até lá, Ayasaka permanecerá sob observação, mas não será punido sem uma investigação mais aprofundada.

    Lila sentiu um alívio momentâneo, mas sabia que a batalha estava longe de terminar. Eles precisariam de todas as evidências possíveis para provar a inocência de Ayasaka e revelar a verdade por trás da destruição do templo.

    2

     Cobertas grossas amarrotadas forravam uma cama de madeira onde Ayasaka se encontrava deitada com uma expressão tranquila, como se estivesse descansando o que não conseguiu a semanas. O tempo fora da pequena cabana carvada no tronco de uma grande arvore onde Ayasaka se encontrava era úmido. O cheiro de orvalho fresco inundava suas narinas dando o primeiro agrado de seu dia.

    — Bom dia, mestre — Uma voz macia ecoou ao lado de Ayasaka, bem próxima. Próxima o suficiente para que ela se mexesse e abrisse os olhos para ver do que se tratava.

    — Tuphi…?

    — Sim, você dormiu bastante.

    Ayasaka olhou em volta tentando se situar, elas estavam em um quarto simples e pequeno, onde a maioria dos detalhes era composto de madeira maciça esculpida direto na estrutura. Tuphi estava sentada na borda da cama, olhando-a com um sorriso.

    — Onde a gente está…? — indagou Ayasaka com a voz lenta, esfregando os olhos.

    — Lyantris. Um vilarejo Xodik, escondido nas montanhas, sofremos um ataque a uma semana, você salvou a todos e desde então estava dormindo aqui, em observação.

    Ayasaka demorou para digerir as informações que Tuphi comentou, olhando para o chão.

    — E Lila…?

    Ayasaka se lembrou vagamente do que aconteceu naquele fim de tarde.

    — Ela está bem, estamos todos bem, apenas ferimentos leves.

    Ayasaka olhou para sua mão que estava enfaixada.

    — Cadê o Sannire?

    — Com Lila e Erek.

    — E por que você está aqui?

    — Porque minha prioridade é minha mestre.

    Ayasaka sorriu com um leve suspiro, contente que Tuphi estava ao seu lado naquele momento.

    Ayasaka pulou em Tuphi que estava sentada na beirada da cama e a puxou para baixo das cobertas junto com ela. — Então me dá um abraço aqui cachorro idiota!

    — Ei?! O que é isso mestre?!

    — Isso? Isso é o amor mutuo, não estranhe!

    Conforme o resto da manhã se esvaia enquanto Ayasaka e Tuphi permaneciam tirando um último cochilo de baixo das cobertas macias, Lila, Erek e Sannire entraram no casebre batendo no pilar que dava suporte a entrada que era coberta por um pano grosso.

    — Licença.

    — Ficamos sabendo que alguém acordou — Sannire comentou com as mãos no bolso se abaixando para passar na entrada do casebre.

    — Sannire! — Ayasaka disse com empolgação e braços abertos sentada na cama conversando com Tuphi. — Lila e Erek! Que bom ver vocês!

    Lila olhou para Ayasaka com um sorriso frágil, contente em vê-la bem e falante.

    — …estamos bem, Aya. — Lila respondeu com as mãos juntas ao peito.

    Ayasaka se levantou da cama e tentou caminhar em direção a Lila com certas dificuldades. Tuphi estava ao lado dela com a mão estendida, caso ela caísse.

    — Não me ajude, eu consigo.

    — Eu sei disso.

    Mesmo com dificuldade por estar a dias sem se mexer, Ayasaka ainda fez questão de caminhar até Lila que estava na porta e a envolveu em um abraço inesperado.

    — Eu sinto muito pelo templo, por tudo. — Ayasaka disse.

    Lila não retribuiu o abraço por alguns instantes, permaneceu imóvel sem saber como reagir, enquanto o silêncio envolvia o ambiente de maneira tensa.

    — Sabe… na verdade eu estive pensando sobre isso. No começo, logo após o ataque eu te culpei muito pelo que aconteceu. Alguns dias atrás, na minha cabeça, a culpa do templo ter sido destruída era sua, pois para mim, você tinha atraído a mensageira. Ela tinha destruído o templo porque você estava lá. Você era o estopim, a culpada.

    A voz de Lila estremecia e falhava a medida em que lágrimas começavam a cair sobre suas bochechas nos ombros de Ayasaka.

    — Mas… mas… você se arriscou para me salvar. Você se arriscou para nos salvar… não tem como esses meus pensamentos fazerem sentido algum, você é uma heroina. A Mensageira da Harmonia destruiria o templo cedo ou tarde…

    Lila retribuiu o abraço, envolvendo Ayasaka em seus pequenos braços com uma certa delicadeza.

    — Quando eu era criancinha, minha mãe me contava sobre a Garota da Profecia. Sempre me disse para ter esperança, sempre me disse para olhar para a estrela mais profunda no céu escuro na noite mais sombria e sorrir com fervor, para que meus sentimentos positivos alcançasse a Garota da Profecia, que um dia chegaria em Ataraxia para proteger a todos.… era o que ela dizia.

    Ayasaka olhou Lila nos olhos e enxugou suas lágrimas.

    — Mas esse dia nunca chegou… sabe?

    Ayasaka assentiu com o rosto e um olhar atento prestando atenção no que Lila tinha a dizer.

    — Esse dia nunca chegou, você nunca apareceu para nos ajudar, até quando mais precisamos. Eu já te culpei por muito, inclusive por não estar lá quando minha mãe faleceu, tempos depois da queda das Divindades e o surgimento de sua profecia… você não tinha nada a ver com isso. A Profecia surgiu em um momento que todos viram necessidade de se agarrar a menor fonte de conforto e esperança em meio a tempos sombrios… nada além disso… na época eu não consegui entender isso. Minha mãe me falava da profecia, para me manter confortável e segura, e eu não entendia isso.

    — Eu sinto muito.

    — Nossa linhagem é conhecida por ser protetores do Templo das Almas, e por gerações fizemos isso com sucesso. O Templo das Almas sempre foi guardado pelas diretrizes e seus guardiões, assim como eu e Erek.

     — Vocês são chamadas de Diretrizes? — Tuphi perguntou.

        Lila acenou positivamente com a cabeça e continuou. — A chegada do Vazio Corruptor após a queda das Sete Divindades levou a vida da minha mãe sem me dar tempo de entender como funcionava o mundo, sabe? Em volta do Templo das Almas, existia uma antiga barreira criada por Pryia, para manter corrupção longe do templo. Essa barreira iria enfraquecer naturalmente com o tempo e um dia se desfazer, até ter de ser reposta por Laud em pessoa, ou Zytlhon, que são as Divindades que cuidam dos Sens.

        Lila se sentou ao pé da cama desarrumada de Ayasaka.

        — Mas esse dia nunca chegou. A barreira teve sua deterioração acelerada com a aura de Avidus. Um dos Quatro Maiores, algum tempo depois a morte de minha mãe, sempre nos visitava para manter a barreira ativa e o templo protegido. Seu nome era Yult… ele sempre fez com que eu não me sentisse sozinha. Yult e Ruby sempre visitavam o vilarejo após a queda das Divindades, e nos diziam que tudo ficaria bem… eu sempre o respondia que a culpa era sua. A culpa na minha visão era toda da Garota da Profecia que nunca apareceu. E ele só me respondia com um sorriso e um “Será?” enquanto olhava para os céus azuis,

        Lila olhou para todos que a observavam.

        — A última frase que escutei de Yult, foi essa:

        “Quando a morte chegar, tenha certeza que ela te encontre viva, tá bom?”

        — E essa frase me incomoda desde então.

    Ayasaka sentiu o peso das palavras de Lila sobre seus ombros, um fardo que ela nunca imaginaria carregar em Tokyo. O peso de outras vidas, outras pessoas, outro mundo, agora estava em suas costas.

    — Você não está sozinha, Lila. — Ayasaka falou com suavidade, tentando confortá-la. — Eu estou aqui agora, sei que cheguei atrasada para a festa e que mesmo que o destino não tenha sido como esperávamos, estou aqui agora. Eu vou proteger vocês, juro que vou dar meu sangue por isso.

    Ela tentou fazer uma brincadeira para aliviar a tensão.

    — Além disso, acho que você me deve uma estrela bem bonita para sorrir com fervor novamente, não é? — Ayasaka comentou.

    Ayasaka sorriu, vendo um leve brilho de esperança nos olhos de Lila.

    — Uma estrela bem bonita? Hum, acho que consigo providenciar isso. Mas não será tão fácil, vai ter que ser a mais brilhante de todas!

    A troca de sorrisos entre elas trouxe um breve momento de leveza no ambiente tenso.

    — Obrigada, Ayasaka. — Lila murmurou, sentindo um peso sendo aliviado de seus ombros.

    Ayasaka assentiu com um gesto suave da cabeça, compreendendo a profundidade das emoções de Lila.

    — Estamos juntas nisso, Lila. E não importa o que aconteça, vamos enfrentar os desafios lado a lado. Eu estou aqui agora

    O olhar de determinação nos olhos de Ayasaka era evidente, refletindo sua firme determinação em apoiar Lila e enfrentar os obstáculos que estavam por vir.

    — Erek, Tuphi, Sannire. Vocês também fazem parte disso. — Ayasaka acrescentou, dirigindo-se aos outros presentes no quarto.

     — Tenho algo para te dar — Lila comentou timidamente.

     — Ah, para mim?

     — Sim.

     Lila alcançou uma pequena bolsa em sua cintura, de onde ela tirou um saquinho de pano que cabia na palma de sua pequena mão. — Tome… é um doce, um remédio… que eu fiz.

     Curiosa, Ayasaka pegou o pequenino saco e desembalou com cuidado na frente de Lila e companhia.

     Ayasaka abriu um pequeno doce de farinha que estava embalado em uma folha de azulada de árvore.

    — Que fofo…

     Ao mordiscar o pequeno doce, uma energia revigorante atingiu o corpo de Ayasaka pegando-a de surpresa. O doce em si não tinha nada relevante em relação a seu sabor que era levemente sem gosto e textura farinhosa, pelo contrário, a única coisa que levou Ayasaka a apreciar a iguaria diante de grandes mordidas foi a sensação de alivio de fadiga imediata que ela sentiu.

                — O que achou?

                — Magicamente… bom?

                Lila sorriu ao som de pequenas palmas de contentamento em resposta a reação contente de Ayasaka.

                — Não é como se eu me sentisse cem porcento, mas ao menos uns quarenta porcento talvez dê para falar…?

                Ayasaka notou que Sannire a observava com um olhar preocupado, e o chamou com o olhar.

                — O que foi, Sannire?

                — Com licença.

                Sannire puxou Ayasaka pelo braço para um canto mais reservado, longe de todos.

                — Chame o seu dragão assim que possível. Não estamos seguros.

                Ayasaka, surpresa com o comentário em imediato, questionou. — Por quê?

                — Apenas faça, explico quando conseguirmos ter tempo, precisamos de uma vantagem bélica.

                Ayasaka com um olhar de preocupação assentiu com a cabeça, Sannire respondeu com um pequeno aperto em seu ombro.

                — Vai dar certo Cavaleira.

                — Vou leva-los para conhecer a vila, que tal? — Lila mesmo que tímida, propôs-se.

                Ayasaka olhou para Tuphi e Sannire com um sorriso escondido e olhos brilhantes.

                — Poxa gente… é a Lila. Vamos…?

                Sannire e Tuphi se olharam como se pensassem em algum jeito de negar o pedido de Ayasaka, até que Sannire suspirou e deu de ombros.

                — Com a condição que eu lhe disse.

                — Mestre… — Tuphi levou ambas a mãos ao peito.

                — Tá. Já entendi. Já entendi. — Ayasaka olhou para o chão com uma expressão descontente em seu rosto enquanto todos a observavam dentro do pequeno casebre onde ela acordara.

                Sem entender, Lila questiona com uma expressão preocupada. — Está tudo bem?

                Quase que de imediato, Ayasaka mudou sua expressão facial.

                — Está tudo bem Lila, está tudo bem sim. — Ayasaka abraçou forte a pequena Xodik que olhava preocupada para ela. — O doce estava muito gostoso, obrigada.

    2

    Ao se dirigir para a entrada com Kazewokiru em suas costas, o vento matinal junto das brisas leves com cheiro de madeira molhada acariciou seu rosto de maneira amena enquanto seus olhos se adaptavam à luz da manhã que batia no topo daquela montanha. Ao redor, incontáveis cachoeiras cercavam a pequena vila onde eles se encontravam, cachoeiras de pedras esbranquiçadas e lisas que sofreram com a ação e desgaste do tempo. Era uma vila pequena, algumas pessoas com orelhas alongadas andavam pelas ruas de pedras, se importando com suas próprias vidas e preocupações.

    — Que lugar bonito —

    — Bem-vindos a Meridiana, um dos últimos suspiros de Pryia — Lila comentou.

    — É lindo — Ayasaka disse, impressionada com a beleza do lugar. Toda a compostura da natureza junto da magia oculta das pequenas tendas feitas de madeira e pedaços de folhas, com um ar vindo diretamente de um livro de fantasia medieval, a encantava a ponto de tirar seu fôlego e abrir um sorriso inocente em seu rosto.

    — Lila

    — Sim?

    — Quer ver algo legal? — Ayasaka olhou para trás na direção de Lila com um sorriso e os olhos fechados.

    — Si-

    Um barulho estonteante interrompeu Lila enquanto ela respondia Ayasaka. O barulho fazia companhia a uma enorme corrente de ar que fez não só Lila, mas todos que estavam presentes ali colocarem os braços na frente do rosto para se protegerem em um movimento instintivo.

    — Esse é Fos, meu dragão, Lila — Ayasaka comentou enquanto um grande dragão, do tamanho das pequenas tendas, fechava suas asas atrás dela de maneira imponente.

    O dragão olhava em volta com desconfiança para todos que estavam ali presentes. Seus movimentos eram fluidos, lembrando os movimentos de uma grande cobra. Cada passo dele fazia o chão tremer levemente, e sua respiração pesada se misturava com o som das cachoeiras ao redor.

    — Ele é… incrível — Lila murmurou, ainda com os olhos arregalados, tentando absorver a visão majestosa do dragão.

    As pessoas ao redor, com expressões de espanto e medo, começaram a se afastar lentamente, formando um círculo ao redor de Ayasaka e Fos. Alguns murmuravam entre si, enquanto outros apenas observavam em silêncio, incapazes de desviar o olhar.

    — Não se preocupem — Ayasaka disse, tentando tranquilizar a todos. — Fos é amigável, ele só é um pouco protetor.

    O dragão baixou a cabeça, aproximando-se de Ayasaka, que acariciou suavemente suas escamas brilhantes. A tensão no ar começou a diminuir, e alguns dos habitantes da vila, vendo a interação entre Ayasaka e Fos, começaram a relaxar um pouco.

    — Ele é realmente magnífico — disse Sannire, admirando o dragão com um misto de respeito e fascínio.

    — E muito fiel — Ayasaka acrescentou, olhando para Fos com carinho. — Tenho a sensação de que ele estará comigo nos meus momentos mais difíceis… só ele, e eu.

    Ayasaka encostou a testa na testa de Fos e fechou os olhos.

    Lila, ainda surpresa, deu um passo à frente e estendeu a mão hesitante para tocar o dragão. Fos observou-a por um momento antes de inclinar a cabeça, permitindo que Lila acariciasse suas escamas.

    — Obrigada por me mostrar isso… — Lila disse, finalmente sorrindo. — Ele é realmente incrível.

    O dragão soltou um ronronar baixo, quase como se estivesse apreciando a atenção, e todos ao redor começaram a se acalmar, sentindo que talvez aquele ser majestoso não fosse uma ameaça, mas sim um guardião poderoso e leal.

    Vendo a coragem de Lila, algumas crianças que estavam observando de longe começaram a se aproximar, suas pequenas faces cheias de curiosidade e fascínio. Uma menina com cabelos cacheados e olhos brilhantes foi a primeira a dar um passo à frente, seguida por seus amigos.

    — Ele é um dragão de verdade? — a menina perguntou, sua voz cheia de maravilha.

    Ayasaka sorriu e se ajoelhou para ficar na altura das crianças.

    — Sim, ele é um dragão de verdade. Este é Fos, meu companheiro fiel — Ayasaka disse, gesticulando para o dragão.

    As crianças se entreolharam com olhos arregalados, excitadas. Com a coragem recém-descoberta, começaram a se aproximar ainda mais, suas mãos pequenas estendidas na direção de Fos.

    — Ele é amigável? — um menino perguntou, com um toque de hesitação em sua voz.

    — Muito amigável — Ayasaka garantiu. — Fos gosta de crianças. Ele protege quem eu protejo.

    O dragão, percebendo a aproximação das crianças, baixou a cabeça ainda mais, permitindo que elas acariciassem suas escamas. Seus olhos, antes cheios de desconfiança, agora pareciam mais suaves e gentis.

    Uma das crianças, um garoto com um sorriso travesso, corajosamente subiu nas costas de Fos, rindo enquanto segurava uma das grandes escamas do dragão.

    — Ei, cuidado aí — Ayasaka disse rindo. — Fos é forte, mas vamos tratá-lo com gentileza, ok?

    Os outros seguiram o exemplo, rindo e brincando ao redor do dragão, que parecia aceitar a atenção com um paciente ronronar. A vila, que antes estava cheia de tensão e medo, agora estava repleta de risos e sussurros de admiração.

    — Vocês são muito corajosos — Ayasaka comentou, olhando para as crianças. — Sabem, coragem é uma das coisas mais importantes que vocês podem ter. Ela nos ajuda a enfrentar nossos medos e a proteger aqueles que amamos.

    Os olhos das crianças brilhavam com entusiasmo e respeito, enquanto Ayasaka compartilhava essas palavras no meio das crianças. Fos, deitado pacificamente, parecia quase sorrir, entendendo a importância daquele momento.

    — Agora, todos digam “olá” para Fos — Ayasaka incentivou.

    — Olá, Fos! — as crianças gritaram em uníssono, rindo e acenando para o dragão.

    Ayasaka, sentindo a alegria e a curiosidade das crianças ao redor, se sentou no chão com as pernas cruzadas, convidando as crianças a se juntarem a ela. Elas se agruparam em um círculo apertado, os olhos brilhando de expectativa com Fos ao fundo.

    — Vocês sabiam que não é só Fos que é especial? — Ayasaka começou pegando o violão que estava pendurado em suas costas. — Este aqui também é mágico. Seu nome é Kazewokiru.

    As crianças olharam com fascinação para o violão, suas mãos curiosas se estendendo para tocar as cordas.

    — Mágico? Como assim? — perguntou a menina de cabelos cacheados.

    Ayasaka sorriu e dedilhou algumas notas suaves nas cordas, o som enchendo o ar com uma melodia encantadora que transformou levemente o ambiente, fazendo com que flores nascessem em volta da pequena roda, surpreendendo as crianças que agradeciam com um sorriso e uma empolgação alegre.

    — Kazewokiru significa “Cortador de Vento” — explicou Ayasaka. — Ele tem o poder de transformar minhas emoções em visões. Quando estou feliz, a música se torna alegre e o lugar mágico que ele nos mostra é algo relacionado a alegria. Quando estou triste, ela pode soar melancólica. E quando eu preciso de força, ele me dá coragem!

    Sannire riu de braços cruzados observando a rodinha ao fundo. — Resumiu bem.

    Os olhos das crianças se arregalaram ainda mais. Um menino loiro perguntou:

    — Ele pode tocar sozinho?

    Ayasaka riu suavemente e balançou a cabeça.

    — Não exatamente sozinho, mas ele pode amplificar meus sentimentos. Vou mostrar para vocês.

    Ela começou a tocar uma melodia alegre e animada, que fez as crianças baterem palmas e balançarem a cabeça ao ritmo. A música parecia ganhar vida própria, dançando no ar como uma brisa suave.

    — Uau! — exclamou a menina de cabelos cacheados. — Parece mágica mesmo!

    — Posso tentar? — perguntou um garoto com olhos curiosos.

     Ayasaka tocou na ponta do nariz do garoto com um sorriso gentil.

     — Apenas quando você crescer e conquistar a coragem de um bravo Cavaleiro de Dragão!

     Ayasaka colocou Kazewokiru em cima de suas pernas e suspirou de maneira contente.

    — Lembrem-se a verdadeira mágica vem de dentro de vocês. Kazewokiru só amplifica isso. A coragem, a alegria e a esperança que vocês sentem, tudo isso pode criar algo lindo.

    As crianças assentiram, fascinadas pela explicação. Ayasaka continuou a tocar, enquanto as crianças se acomodavam mais confortavelmente ao redor dela, algumas até se deitando na grama, ouvindo com atenção.

    — Querem saber de uma história? — Ayasaka perguntou, olhando para os pequenos rostos ao seu redor. Eles assentiram entusiasticamente, e ela começou a contar uma história sobre aventuras e magia, usando Kazewokiru para dar vida às suas palavras com a música.

    A vila de Meridiana, que antes estava em um silêncio tenso, agora estava cheia de risos, música e a mágica da esperança. Ayasaka, com seu violão mágico e seu dragão leal, trouxe uma nova luz ao lugar, e as crianças, com sua curiosidade e coragem, absorveram cada momento como se fosse um sonho tornado realidade.

    Aquela cena épica, de um dragão majestoso cercado por crianças sorridentes e Ayasaka sentada no meio com um sorriso usando de Kazewokiru para criar cenários felizes direto de sua mente, trouxe um novo sopro de esperança e alegria para a vila de Meridiana, algo que eles não viam em anos desde o último Cavaleiro de Dragão que os visitaram.

    O medo foi substituído por uma sensação de união e coragem, e todos sabiam que, com Ayasaka e Fos ao seu lado, estariam prontos para enfrentar todas as questões que envolvessem o Templo e Yuna.

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