Primal começou a convulsionar, perdendo a consciência. Ele estava evoluindo novamente.

    “Aquele monstro era forte… provavelmente deu experiência suficiente para que ele pudesse passar por outra evolução”, pensou Glartak.

    O corpo de Primal passou por mais uma transformação brutal. Os músculos, já desenvolvidos pela forma de Goblin Lutador, tornaram-se ainda mais densos e definidos, adquirindo um aspecto quase esculpido. A pele, antes azulada, escureceu para um tom cinzento quase metálico, marcada por veias salientes. Seus olhos, antes amarelados, agora carregavam um misto de vermelho, frios e ameaçadores. As mãos se alongaram, e as garras ficaram mais espessas, curvas como lâminas prontas para decepar. Os ombros e as costas se alargaram, conferindo-lhe uma postura imponente. Ossos grossos despontavam em partes do corpo como se fossem armaduras naturais, e sua mandíbula projetava-se ligeiramente, com presas visíveis mesmo com a boca fechada.

    Então a evolução terminou.

    < Goblin Executor >

    Descrição: Um goblin de elite voltado para combate direto e execuções. Forte, ágil e temido entre os seus. Costuma liderar punições e garantir a disciplina da horda. Força física aprimorada, reflexos letais, presença intimidadora e altamente inteligente e leal.

    Primal se levantou após a conclusão da evolução. Ainda com a respiração pesada pela transformação, caminhou até Glartak e ajoelhou-se como da última vez.

    — Às suas ordens, meu rei.

    Glartak estreitou os olhos, surpreso com a clareza da fala.

    — Então agora você consegue me entender?

    Primal ergueu o olhar. Sua expressão era de respeito absoluto, quase devocional.

    — Sim. Tudo está mais claro agora. Minha mente… não é mais um campo de instintos. É como se eu tivesse despertado.

    Glartak cruzou os braços, avaliando a nova postura do goblin.

    — Você ficou mais inteligente?

    — Sim, meu rei. E tudo isso por sua causa. — Primal abaixou a cabeça em reverência. — Eu existia apenas para sobreviver. Agora, eu vivo por um propósito. Você me deu isso. Mudou minha história. E eu o servirei até o fim. Com o corpo, alma… e sangue se necessário.

    O silêncio que se seguiu foi pesado. Glartak observava aquele que já fora só mais um goblin entre muitos. Agora, forte e inteligente.

    — Primal — disse o Goblin Tirano. — Quero saber sobre a caverna de onde vocês saíram. Me leve até lá. Quero ver com meus próprios olhos a condição em que vivem.

    Primal assentiu.

    — Sim, eu posso guiá-lo até lá. Mas… — ele hesitou — não espere algo digno, meu rei. É um túmulo onde a vida ainda respira por teimosia.

    — É um buraco miserável. Um abrigo cheio de goblins famintos. Não há ordem. Não há liderança. Apenas sobrevivência e escuridão. E cada dia lá dentro é uma batalha silenciosa contra o próprio fim.

    Glartak não respondeu de imediato. Seus olhos se voltaram em direção de onde haviam vindo. Depois, voltaram-se aos três goblins que ainda devoravam os restos. Mastigavam com pressa e desespero, como se cada pedaço fosse o último.

    — Eu irei mudar essa realidade, Primal. O mundo parece não querer que nós, goblins, sejamos mais do que monstros guiados pelo instinto — fracos, à mercê do destino. Mas não mais. Nós iremos crescer, iremos evoluir, sairemos do fundo da cadeia alimentar e subiremos ao topo.

    Glartak olhou para Primal e, naquele momento, algo em seu olhar fez o peito do Goblin Executor apertar. Mesmo com sua nova força, ele sentiu uma presença terrível que emanava daquele olhar.

    — Para isso, Primal, vou precisar da sua ajuda. Você será meu braço direito. Eu vou mudar o destino dos goblins. Vou construir um reino onde todos — e eu digo todos — irão nos temer. Ainda somos fracos, ganhamos controle sobre nossos pensamentos e alguma força, mas isso não é nada… ainda não. Há criaturas muito mais fortes e inteligentes por aí.

    Nesse momento, Glartak lembrou-se do Orc Guerreiro e do Lobo Alpha. E continuou:

    — Precisamos de força, de mais como nós.

    — Como quiser, meu rei.

    Em algum lugar distante dali, um grupo de aventureiros adentrava a floresta com a missão de “limpar” a região de criaturas indesejadas.

    Na frente do grupo, um homem vestia uma túnica vermelha, com o capuz cobrindo o rosto e ocultando suas feições. Ao seu lado, caminhava um brutamontes envergando uma armadura de ferro que tilintava a cada passo; ele carregava uma clava tão grande quanto ele. Mais atrás, uma mulher de aparência atraente exibia um sorriso sádico. Sua roupa justa revelava suas curvas e deixava claro que ela se aproveitava disso — um arco pendia nas costas e uma aljava repleta de flechas balançava em seu quadril.

    Outra mulher seguia o grupo em silêncio. Vestia roupas brancas, simples e recatadas, quase como uma freira. Seus olhos analisavam tudo ao redor, mas ela não dizia uma palavra. Por fim, havia um jovem, claramente novato, que caminhava animado, os olhos brilhando de empolgação enquanto absorvia cada detalhe da floresta. Tudo indicava que era sua primeira expedição.

    Eles andavam pela floresta com tranquilidade, como se estivessem no quintal de casa.

    — Ei! Vamos logo! — gritou o jovem, com entusiasmo infantil.

    — Tsc… novatos — resmungou a arqueira, revirando os olhos com desprezo.

    Sem dizer mais nada, o grupo continuou avançando, floresta adentro…

    Glartak, Primal e os três goblins passaram a noite perto de onde estavam. Encontraram uma velha árvore com enormes raízes expostas e se espremeram por baixo dela. Para os três goblins, era tranquilo entrar pelo tamanho, mas para o Goblin Tirano e Primal era desconfortável — não havia outra opção.

    Com o amanhecer, partiram sem demora em direção à caverna. Os três goblins, apesar de não demonstrarem inteligência, pareciam obedecer a ordens básicas. Glartak não sabia se era por medo, instinto ou algum outro motivo, mas não se importava — desde que o seguissem.

    Caminharam por quase duas horas, até que a vegetação começou a mudar. Tornava-se mais escassa, com árvores espaçadas e rochas surgindo aos poucos pelo caminho — sinal de que estavam chegando.

    Avançaram mais um trecho até que, do alto de uma rocha coberta por musgo, Glartak teve uma visão clara da entrada da caverna.

    Mas, ao contrário do que vira da primeira vez, a cena diante de seus olhos o encheu de fúria.

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