A cena que Glartak contemplou foi de corpos de goblins espalhados por todos os cantos, alguns empalados em estacas improvisadas, outros decapitados. O chão era um campo de carnificina — sangue, vísceras, membros mutilados. Um pequeno goblin, ainda respirando, estava pendurado por uma corda, sendo queimado vivo por uma tocha cravada em seu peito. Seus gritos morriam entre gargalhadas humanas.

    — Filhos da puta… — sussurrou Glartak, os olhos tremendo de ódio.

    Cinco aventureiros estavam ali. Um deles, vestido com uma túnica vermelha, conjurava feitiços de fogo com um sorriso satisfeito. Outro, um brutamontes com armadura de ferro e uma clava enorme, esmagava o crânio de um goblin que implorava por sua vida com os olhos; seu corpo tremia com tanto medo que parecia vibrar — e ele escolhia ignorar.

    — Esses vermes nem sentem dor como a gente — disse o guerreiro, rindo.

    — Melhor assim. Quando não gritam, perco a graça — respondeu a arqueira, cravando flechas em dois pequenos goblins acuados na entrada da caverna. Eles ainda estavam vivos, tentando rastejar.

    Glartak fechou os olhos por um instante. Então se virou para Primal.

    — Mate-os.

    Primal soltou um rugido gutural que reverberou pela floresta. Os aventureiros se viraram, surpresos, mas já era tarde.

    O Executor se lançou com uma velocidade tremenda. Em segundos, atravessou a garganta de uma freira que estava um pouco mais atrás do grupo com suas garras afiadas. Não houve tempo para defesa, nem para grito. O sangue jorrou como uma fonte viva, tingindo o rosto de Primal com um banho rubro. O corpo da mulher caiu no chão sem vida, ainda com os olhos arregalados, como se sua mente recusasse aceitar o fim.

    A arqueira tentou correr, e a expressão de prazer sadíco transformando-se em pânico. Mas Glartak já estava sobre ela. Num movimento rápido, ele quebrou seu arco com um golpe certeiro. A mulher tentou recuar, mas Glartak a segurou pelo pescoço. Ela chutava, arranhava, berrava como os goblins que caçava até minutos atrás. Mas os dedos do Goblin Tirano eram como garras de ferro. Sem dizer uma palavra, ele a lançou contra uma pedra com força descomunal. O estalo da coluna se partindo ecoou como um trovão abafado. Ela caiu morta, os olhos vazios sem vida fitando o nada.

    O mago, tomado por um terror descontrolado, ergueu as mãos e conjurou uma esfera flamejante. A energia brilhou quente e viva, iluminando seu rosto deformado pelo medo. Mas antes que pudesse sequer lança-lo, Primal já estava sobre ele. Suas garras perfuraram o peito do homem, atravessando carne e ossos. O mago gritou, cuspindo sangue, enquanto era erguido no ar como um boneco de trapo. Primal o lançou longe, e seu corpo chocou-se contra as raízes de uma árvore, onde ficou pendurado, sem vida.

    O brutamontes rugiu. O grito de raiva era quase animal, misto de desespero e ódio. Avançou como um touro enfurecido em direção a Glartak. A clava de ferro maciço que ele carregava parecia mais um pedaço de rocha arrancada do chão, e cada passo fazia o chão vibrar sob suas botas.

    Glartak não recuou. Seu olhar estava fixo. Os segundos pareceram se estender como horas. Quando a clava desceu em um arco em sua direção, Glartak girou o corpo. O vento cortou seu rosto, e o golpe explodiu contra o solo com uma força aterradora, lançando estilhaços de pedra para todos os lados.

    O goblin contra-atacou por puro instinto. Rasgou a lateral do guerreiro com suas garras, mas a armadura espessa apenas faiscou sob o impacto. O brutamontes deu uma gargalhada áspera e desferiu um soco com a mão livre, acertando Glartak no estômago. O impacto foi devastador. Glartak foi lançado para trás pela pura força bruta. O ar escapou dos seus pulmões por alguns segundos. O gosto metálico do sangue preencheu sua boca, e ele rolou pelo chão, sentindo a dor irradiar em ondas pelo seu corpo.

    Mas ele não era frágil. Não mais.

    Com um grunhido de raiva, Glartak se ergueu. Cuspiu o sangue e ignorando a dor. Correndo em ziguezague, com movimentos imprevisíveis desviando de golpes pesados.

    Glartak esperou. Paciente. Em um balançar da clava, atingiu uma pedra ao lado e a reduziu a pó, desequilibrando o brutamontes. Aproveitando da oportunidade, ele se lançou. Subiu pelas costas como um animal selvagem, cravando as garras no vão entre o peitoral e o ombro. O guerreiro gritou, tentando alcançá-lo. Mas Glartak já não estava ali. Deslizou por suas costas, cortando entre as placas da armadura.

    Num ato desesperado, o brutamontes girou o corpo. A clava o acertou de raspão, e Glartak foi arremessado contra uma parede rochosa. A dor explodiu em seu ombro. Algo quebrou. Mas os olhos dele… ainda brilhavam.

    Num estalo de pura raiva, Glartak atacou novamente. Agora mais baixo. Mais rápido. Suas garras agarraram a perna do guerreiro, desequilibrando-o. O brutamontes caiu de joelhos com um estalo seco.

    Glartak novamente escalou suas costas. Com um urro, cravou os dedos por entre o elmo e a gola. Sentiu a carne. Sentiu o osso. O guerreiro se ergueu num último impulso de sobrevida. Mas Glartak puxou sua cabeça para trás e, com um estalo seco, quebrou-lhe o pescoço com brutalidade. O corpo tombou pesado. A clava escorregou da mão.

    Glartak ficou de pé sobre o cadáver. Arfava. O rosto sujo de sangue e terra. O lugar silencioso.

    O último dos aventureiros, um jovem de aparência nervosa, caiu de joelhos.

    — P-p-por favor! Eu não queria… Eu só vim pela recompensa! Eles disseram que era só limpar monstros, eu juro!

    Glartak levantou-se e aproximou-se lentamente, seus olhos ainda queimando em fúria contida. Primal preparava-se para matá-lo, mas Glartak ergueu uma mão.

    — Não. Vamos mantê-lo vivo. Vamos extrair tudo que ele sabe.

    O garoto, que soluçava achando que estava em um pesadelo, ficou surpreso ao descobrir que realmente estava em um. O que ele pensava ser um monstro irracional falou, e ele entendeu perfeitamente.

    — Como você pode falar? Disse horrorizado o garoto.

    — Sou eu quem faço as perguntas aqui. Primal…

    Glartak respondeu e apontou para Primal que lentamente foi se aproximando do garoto.

    Eu falo! Eu conto tudo! — disse rapidamente quando notou que o monstro o entendia e não parecia que estava com paciência. Ao mesmo tempo acendendo uma chama de esperança de talvez sair vivo daquela situação.

    Glartak olhou para ele com um olhar sinistro e uma aura tão assassina que o fez molhar as calças.

    — O que vocês vieram procurar aqui?

    — Viemos por uma missão que foi solicitada à guilda — disse hesitante — um pedido por goblins.

    — O que você não está me falando? — Glartak disse, chegando mais perto.

    O jovem soltou um suspiro, pensando que, se contasse a verdade, talvez pudesse ir embora, e disse:

    — Vocês são apenas prêmios para os nobres do reino, enquanto para todo o resto vocês não passam de monstros. As guildas pagam por cabeças de goblins, por escravos vivos. Magos compram os seus para experiências… — ele tremia, sujando-se de medo. — Há caravanas que levam goblins capturados para as arenas, onde são mortos por entretenimento. Vocês… vocês são nada.

    Glartak se ajoelhou diante dele e sussurrou, sua voz como uma lâmina gelada:

    — E agora… nós sabemos disso.

    O jovem desmaiou. Primal o pegou pelo colarinho e o arrastou de volta à caverna.

    Glartak olhou uma última vez para o campo de corpos destroçados de seus semelhantes e ali, no silêncio pesado da floresta, fez um juramento:

    — Vocês nos tratam como monstros e ditam nosso destino, mas vou tomar a caneta de vocês e reescrever a história de como ascendemos ao topo.

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