Capítulo 21- Presas e Garras
Glartak movia-se como um sussurro entre as folhas.
A habilidade Instinto Predatório, fazia com que seus passos se tornassem parte da floresta. Seu cheiro se misturava ao do musgo e da terra molhada, seus movimentos eram suaves como os da brisa entre os galhos. Os sons ao redor eram abafados, e sua presença praticamente se apagava da percepção de outras criaturas. Não era invisível — mas estava além da percepção comum. Um espectro, uma sombra à espreita.
Seguia o Ursarok havia horas. O monstro caminhava como um senhor da floresta, cada passo era dado com a autoridade de quem nunca precisou temer nada. E talvez fosse verdade.
Nenhuma criatura ousava cruzar seu caminho. Nenhum som de alerta, nenhum farfalhar de fuga. Só o peso surdo das pegadas do gigante e a respiração controlada de Glartak a distância.
O tempo escorria lento quando, sem aviso, o colosso parou.
Uma clareira se abriu à frente, cercada por árvores densas e altas, quase como pilares naturais guardando um altar esquecido. O chão era coberto por musgo espesso e sombras recortadas pela luz que atravessava as copas.
Então, contra toda lógica… O inimaginável aconteceu.
O Ursarok se deitou.
— É inacreditável… esse cara vai mesmo deitar aqui assim do nada? — murmurou mentalmente, se esgueirando ao redor da clareira com cautela extrema.
Examinou cada canto. Nenhum cheiro de sangue. Nenhum osso. Nenhuma marca de luta.
Nada.
“Será que essa clareira é sua casa…?” Pensou. A ideia era absurda, mas fazia sentido. Ali, o ar era denso, pesado, e o silêncio era quase sobrenatural. Como se a própria floresta tivesse decidido não perturbar aquele espaço.
Horas se passaram.
A noite se aproximava, e com ela, a fome começou a doer como faca em seu estômago.
O arrependimento veio como uma sombra atrás dele.
— Que ideia estúpida…
Mas era tarde demais para voltar.
A noite caiu como uma cortina. O céu escureceu rápido, e o som dos insetos recomeçou — como se até eles esperassem o sono do enorme urso para ousar emitir ruídos. Então, como se nada tivesse acontecido, o Ursarok se ergueu.
Farejou o ar.
Virou-se para o leste.
E continuou andando.
Glartak o seguiu, silencioso como uma maldição.
Andaram por mais alguns minutos quando um som cortou o ar: uivos.
Vários.
Por instinto Glartak se escondeu atrás de uma árvore com o tronco largo. Os uivos ecoaram pela floresta como sinos fúnebres.
O Ursarok parou.
Seus ombros se enrijeceram.
E então, rugiu — um som grave e retumbante, que vibrou através do solo e fez as folhas estremecerem.
Das sombras, surgiram sete.
Sete lobos enormes que não perdiam em tamanho com pelagem cinzenta como aço, olhos brancos como neve e presas tão longas que ultrapassavam o focinho. A pele era marcada por cicatrizes fundas. Cada criatura tinha quase dois metros e meio de altura no lombo, tão grandes quanto cavalos de guerra, mas com o corpo fino e ágil como sombras em movimento.
< Luphirans >
Descrição: Lobos gigantes e inteligentes que caçam em grupo. Cada membro da alcateia tem uma função específica, e todos se comunicam por olhares e gestos. Seus uivos servem como comandos estratégicos. São rápidos, organizados e perigosos, preferindo emboscadas e ataques coordenados.
Glartak gelou. Não eram como os lobos negros… esses eram algo acima.
“Que inferno é esse? A terra dos gigantes…?” — sussurrou mentalmente, controlando a respiração. Ficou imóvel. Se me acharem, tô morto.
Os Luphirans se espalharam, formando um semicírculo ao redor do Ursarok. Nenhum deles avançou de imediato.
Esperavam.
“Estão testando… estão coordenados.” Concluiu Glartak.
De repente, um movimento. Um dos lobos correu pela direita, tentando distrair. Outro saltou pelas costas.
E a luta começou.
O chão tremeu.
O primeiro lobo voou para o lado, atingido por uma patada brutal. O som de ossos quebrando ecoou. O segundo lobo, que vinha por cima, foi agarrado no ar com uma precisão aterradora. O Ursarok o esmagou contra o chão com força suficiente para rachar a terra.
Glartak olhava a luta ainda incrédulo.
— Ele não luta… ele executa. Disse para si mesmo, falando do urso.
Mais dois lobos avançaram pelos flancos. Um cravou os dentes na perna do urso, enquanto o outro saltou em direção à sua garganta. O Ursarok girou com violência, usando todo o peso do corpo como arma. O primeiro lobo foi lançado longe pelo impacto, enquanto o segundo recebeu uma cabeçada no peito que o lançou ao chão com um estalo seco — sua mandíbula bateu com força na terra, quebrando com o impacto.
A luta era um espetáculo de força e brutalidade.
Cada golpe do Ursarok era como um trovão.
Cada ataque dos Luphirans, como flechas de precisão.
Os corpos se moviam como sombras em guerra. A luz da lua projetava as silhuetas das criaturas sobre o chão irregular. Poeira e folhas voavam. O som das patas, dos rugidos, do choque entre presas e garras criava uma sinfonia caótica.
Glartak mal respirava.
Sua mente fervilhava.
“Se ele se machucar… se cair… posso terminar o que os lobos começarem. Ou talvez… talvez eu só precise observar. Aprender.” Pensava.
Outro lobo pulou diretamente em direção ao pescoço do Ursarok.
Erro fatal.
O gigante girou o corpo, abrindo o peito. No momento exato, com as garras abertas, aparou o lobo no ar e o partiu ao meio, sangue jorrando como fonte rubra sob a lua. As metades do corpo caíram ainda se debatendo, mas a fera já voltava sua atenção aos outros.
Dos sete, agora restavam quatro.
Ofegantes. Cautelosos. Mas ainda vivos.
E o Ursarok, coberto de sangue e com cortes profundos, ainda parecia invencível.
Glartak observava tudo com olhos arregalados.
A clareira havia se transformado em um campo de massacre.
Mas ele não se sentia assustado.
Sentia-se… vivo.
Foi quando ouviu.
Um som leve. Um arrastar irregular, como de algo pesado sendo puxado por uma corda.
Virou lentamente a cabeça e viu.
Atrás de uma raiz grossa, a menos de três metros de onde estava escondido, um dos Luphirans — o que havia recebido a cabeçada no peito e quebrado a mandíbula — tentava se mover. Seu corpo tremia a cada esforço. Uma das patas traseiras não respondia, e a mandíbula pendia solta, deformada, num ângulo impossível.
Estava tentando fugir. Mas seus olhos… seus olhos estavam alertas.
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