Capítulo 24- O Caminho Escolhido
Glartak ficou imóvel por longos segundos, absorvendo a visão da interface diante de seus olhos. O sistema havia lhe dado duas opções de evolução. Dois caminhos totalmente diferentes.
O sistema o guiava de forma direta e impessoal, revelando recompensas com base em suas ações e vitórias. Mas nunca lhe dera opções — exceto na primeira vez — e ele estava inconsciente disso. Era como se algo tivesse mudado. Ou talvez ele tivesse mudado. Talvez agora fosse forte o suficiente para escolher seu próprio caminho.
Respirou fundo, tentando dissipar o cansaço que ainda o envolvia como uma névoa densa. Passou os olhos pelas descrições mais uma vez. Leu cada palavra com calma, buscando entender o verdadeiro uso de cada habilidade antes de fazer sua escolha.
Goblin Soberano
Força física aprimorada.
Habilidade de comando.
Instinto tático aguçado.
Controle absoluto do corpo.
A princípio, parecia uma boa escolha. Especialmente para alguém que, até agora, havia vencido com astúcia, força e instinto de sobrevivência. O “Comando Absoluto” prometia poder sobre outros monstros, uma habilidade que poderia consolidar sua autoridade. Mas havia um detalhe incômodo ali.
— Já consegui a lealdade de Primal sem isso… — refletiu em voz baixa. — E sinceramente… prefiro que me sigam porque acreditam em mim. Não por medo. Não por obediência cega. Quero personalidades ao meu lado, não crentes.
Esse tipo de domínio não lhe parecia sólido. Não era real. Se tudo dependesse de uma habilidade que forçava lealdade, bastava essa habilidade falhar ou acabar… e tudo desmoronaria. Além disso, o “Domínio Corporal” o intrigava, mas também o deixava hesitante.
— Parece útil… mas, pra isso funcionar de verdade, eu teria que conhecer alguma técnica de luta. Treinar. Praticar. E aqui, nesse inferno, esse é um luxo que eu não tenho. — Apertou o punho com frustração. — Eu nem sei como meu próprio corpo funciona completamente, quanto mais como usá-lo em estilos complexos.
Voltou os olhos para a outra opção.
Goblin Monarca
Poder mágico.
Aura de comando.
Magia Bruta.
— Magia… — sussurrou, quase como se estivesse dizendo algo proibido.
Era isso que realmente chamava sua atenção. Até agora, havia enfrentado desafios usando apenas o que lhe estava disponível. Mas sempre que cruzava com algo forte demais, tinha que se esconder. Sua força e habilidade tinham um limite.
A ideia de finalmente ter acesso à magia era tentadora.
— Não sei como os magos canalizam sua mana para conjurar e lançar magia, mas creio que deva exigir um intenso treinamento e prática até alcançar um nível que possa controlar com facilidade. A “Magia Bruta” que o sistema oferece é diferente. Um poder moldado por ele, que cresceria com seu uso e criatividade. Além do mais, já vinha com um hack: eu não vou precisar sentir a mana ou canalizá-la — só vou precisar de pontos.
— Não sei qual é a minha afinidade. Não sei o que o sistema vai me dar. Mas… é uma aposta que eu estou disposto a fazer.
— Mesmo se não for a melhor magia… eu posso aprender a usá-la de formas criativas. Adaptar. Moldar. Criar técnicas próprias.
O sorriso surgiu, sutil.
— E se existe algo que eu sempre fiz desde que cheguei aqui… foi adaptar.
Era um risco, sim. A magia poderia ser inútil ou talvez muito perigosa. Mas era uma ferramenta nova, uma arma que poderia expandir seus horizontes muito além da força.
A Aura Soberana também tinha valor. Não era controle forçado. Era presença. Um respeito silencioso que se impunha apenas por estar vivo enquanto tantos caíam ao seu redor. Talvez essa habilidade pudesse ajudá-lo a ganhar lealdade.
E o Corpo do Monarca… bom, resistência e força extra nunca seriam dispensáveis. Ser mais forte era sempre bem-vindo. Sem contar que posso ser algum tipo de mago lutador, vou poder tanto usar magia quanto ter força física e resistência para lutar.
Passou a mão pelo rosto suado, cansado, o sangue seco do Ursarok ainda manchando suas unhas e antebraços. O silêncio da caverna era acolhedor, mas também esmagador.
— Um líder físico… ou um monarca arcano? Mago arcano me parece ser a melhor escolha. Além da magia, há também aprimoramento corporal — murmurou.
O peso da decisão quase parecia tangível.
Ele se levantou da pedra, andando em círculos breves. Tentava manter o corpo em movimento para afastar o torpor que o espreitava desde a batalha. Sua mente voltava às memórias recentes — a luta, o rugido, o blefe final do Ursarok. O monstro não fora vencido com força bruta, mas com observação, paciência e frieza. Qualidades que, talvez, combinassem mais com o caminho mágico do que com o físico.
Finalmente, parou de andar. Fechou os olhos. Inspirou fundo. Visualizou tudo o que já havia enfrentado. Tudo o que ainda precisava enfrentar. Os monstros. A selva. O desconhecido.
E então falou, firme, como se desse uma ordem a si mesmo:
— Eu escolho o caminho que me dá mais possibilidades.
Abriu a interface do sistema com um movimento decidido dos dedos.
< Escolher evolução: Goblin Monarca >
Um brilho intenso explodiu na tela, cegando por um instante sua visão. A interface tremeluziu em tons de dourado e púrpura, como se estivesse queimando cada linha de código em sua alma. Então o mundo tremeu. A caverna ao seu redor ondulou como se estivesse viva — paredes se expandindo e contraindo em ritmo, como o batimento de um coração.
A dor veio como um trovão interno, brutal e inesperado. Foi como se cada fibra de seu corpo fosse arrancada e costurada de novo com fios de puro poder. Seus músculos se contraíram, rasgando-se e se regenerando em um ciclo agonizante. Ossos estalaram como madeira seca ao fogo. Seus olhos ardiam, como se chamas líquidas queimassem por trás das pálpebras.
Ele caiu de joelhos, o corpo tremendo como uma folha no vendaval. A respiração vinha em arfadas curtas e pesadas. Mas ele não gritou. Não porque a dor fosse pequena, mas porque havia algo mais. Algo sublime. A dor era pura, quase sagrada — uma agonia dourada que trazia consigo a certeza de transformação. Seu corpo estava sendo reescrito. Cada célula, cada osso, cada gota de sangue agora sabia: ele não era mais o mesmo.
No silêncio abafado da caverna, envolto por ecos de sua própria ascensão, ele havia dado o primeiro passo rumo ao poder absoluto.
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