Há dois dias caminhando Glartak seguiu em silêncio absoluto, absorvendo cada som da floresta, cada mudança de vento, cada batida de asa no céu acima. Desde que deixara a caverna onde treinou incansavelmente, avançava em ritmo constante, atento ao caminho. Havia seguido o urso por dias, provavelmente quilômetros a dentro na floresta, e agora percebia o quanto aquilo o afastara de seu território.

    Seus pés tocaram com leveza o chão coberto de folhas secas e galhos retorcidos. O som era quase inexistente. Passo no Vácuo já não era uma habilidade — era uma extensão de sua vontade. Seu domínio sobre a gravidade crescia, e o esforço contínuo havia feito seu corpo se adaptar com espantosa eficácia.

    No final da tarde do segundo dia, o céu tingido de laranja e vermelho, ele finalmente avistou — do alto de uma elevação rochosa — a entrada da caverna. O cheiro da terra e o som do vento ao redor trouxeram um sentimento inesperado: familiaridade.

    Glartak desceu calmamente pela encosta. Seus olhos dourados vasculharam a entrada com atenção. Estava pronto para encontrar os sobreviventes, ver como estavam. Mas, antes que pudesse cruzar a última fileira de arbustos, duas presenças surgiram com brutalidade.

    Dois goblins avançaram.

    Um ele reconheceu imediatamente: Primal. Seu primeiro subordinado, a quem havia enviado para ajudar outros dois goblins a evoluir. Mas agora parecia diferente — mais esperto, mais vivo.

    O outro era novo: uma goblin fêmea. Olhos vermelhos como brasas, cabelos trançados com alguns ossos que pareciam ser para decora-lo. Seu corpo era pequeno cerca de um metro e sessenta, mas sua aura era feroz. E ela vinha com tudo, como se estivesse diante de uma ameaça ao seu território.

    Glartak sorriu levemente.

    — “Bom… eu podia me identificar, mas quero ver o quanto eles são fortes.”

    Ambos atacaram sem hesitar.

    A goblin fêmea veio pela lateral, um golpe rápido com uma adaga curta, mirando o flanco de Glartak. Ele deu um passo para trás e girou o corpo, desviando com naturalidade. Seus movimentos eram leves, quase instintivos, como se enxergasse os ataques antes mesmo de serem feitos. Por um breve momento, seus olhos se fixaram na arma da goblin — “uma adaga? De onde será que ela conseguiu isso?” Pensou.

    Primal vinha de frente, com garras abertas e olhos fixos no inimigo. O impacto entre os dois foi mais pesado. Glartak bloqueou o ataque com o antebraço, sentindo a força do adversário. Primal tinha melhorado, sem dúvida. A pressão de seus golpes era intensa, rápida, mas faltava precisão. Faltava controle.

    Glartak se moveu entre os dois como uma sombra, desviando dos ataques, estudando-os. A goblin era rápida e agressiva, mas não possuía nenhuma técnica real. Apenas força e ímpeto, sem habilidades. Já Primal era um guerreiro nato, mas mesmo com sua evolução, ainda estava abaixo.

    Depois de trocar mais alguns golpes, Glartak decidiu acabar com aquilo.

    Glartak pisou com força no chão — o som seco ecoou como um trovão abafado.
    No mesmo instante, o ar pareceu prender a respiração. Uma onda invisível se expandiu sob seus pés, e o chão tremeu sutilmente. O Campo de Gravidade foi ativado.

    A pressão caiu como um martelo dos céus.

    Dentro de um raio de dois metros, o mundo se tornou mais pesado. O solo rangeu sob o peso repentino, pequenas pedras racharam, e a vegetação ao redor se curvou, esmagada por uma força que não podia ser vista, apenas sentida. Era como se o próprio espaço estivesse tentando colapsar.

    A goblin fêmea cambaleou. Seus joelhos cederam quase no mesmo instante, como se o peso do céu tivesse caído sobre seus ombros. A adaga caiu de sua mão, cravando-se no chão.Primal grunhiu alto. Suas veias saltaram sob a pele, os músculos vibrando sob o esforço de permanecer em pé. Gotas pesadas de suor escorriam por seu rosto, os dentes cerrados numa expressão de pura resistência. A gravidade os puxava para baixo com brutalidade, como se quisesse enterrá-los vivos.

    E então, tão rápido quanto viera, o efeito cessou. O peso desapareceu como se nunca tivesse existido. O corpo de Glartak não aguentava sustentar mais de três segundos da magia ainda, era uma média de 3 pontos de magia por segundo — mas era o suficiente.

    Os dois caíram de joelhos, arfando, dominados pelo súbito alívio da pressão. Glartak os observava em silêncio, um leve sorriso no rosto.

    “Realmente, dessa vez o sistema sorriu pra mim.” pensou.

    Foi então que quebrou o silêncio:

    — Você cresceu, Primal.

    A voz cortou o ar como uma lâmina afiada. Primal ergueu o rosto, ainda ofegante. Os olhos se arregalaram ao reconhecer a figura à sua frente. Não havia como confundir.

    — MEU REI… — disse ele, como se as palavras tivessem brotado da alma.

    Com esforço, ajoelhou-se, curvando a cabeça em respeito absoluto. O corpo ainda tremia pelo esforço recente, mas um esboço de sorriso apareceu em seus lábios. Era alívio, alegria, devoção.

    A goblin fêmea, ainda ajoelhada, levantou os olhos, encarando o monstro diante dela. Um arrepio percorreu sua espinha. Algo dentro dela se agitou — instinto, talvez. Um reconhecimento silencioso de algo maior. O coração bateu mais rápido. Ela sentiu a respiração acelerar.

    Levantou-se com dificuldade, o corpo ainda doendo. Deu alguns passos cambaleantes até ele. Seus olhos vermelhos brilharam ao encará-lo de perto. E então, com uma reverência contida mas carregada de emoção, ajoelhou-se também.

    — Meu rei.

    < Goblin Matriarca >

    A Goblin Matriarca é a líder natural de pequenos grupos ou clãs de goblins. Sua presença impõe respeito, e sua inteligência supera a média até mesmo de criaturas humanóides comuns. Ela é extremamente leal ao seu criador/lorde/chefe e passa essa lealdade para suas crias. Possui domínio sobre estratégias rudimentares de combate, organização social e comunicação verbal mais fluida.

    Foi nesse instante que o som familiar do sistema soou em sua mente:

    < Você conquistou um subordinado. Deseja nomeá-lo? >

    Glartak olhou para ela por alguns segundos. Ajoelhada, selvagem, poderosa. Ela passava espírito de liderança, de força contida em forma feminina.

    “Agora sim. As coisas estão começando a mudar. Com ela poderemos aumentar nossos números, que sabe. Vou perguntar a ela mais tarde se possui alguma habilidade especial. Vou perguntar a Primal também” pensou.

    Seus olhos dourados faiscaram.

    — Sim… — disse, quase para si mesmo. — Vou nomeá-la.

    Mas o nome ainda não vinha. Glartak não queria dar a ela um nome qualquer.

    O silêncio caiu por alguns segundos. Os ventos pareciam respeitar aquele momento.

    — Seu nome será Shivana.

    < Subordinado nomeado: Shivana >

    — Como desejar meu senhor. Respondeu ela com um sorriso.

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