Quando o guerreiro orc terminou sua matança, começou a pegar os coelhos um por um, despreocupadamente, e foi embora, afundando-se na floresta. Seu coração batia em um ritmo acelerado. Ele permaneceu escondido por mais alguns minutos até reunir coragem para sair de seu esconderijo.

    “Preciso ficar mais forte… Do jeito que estou, acho que nem conseguiria feri-lo”, pensou. “Esse foi apenas um orc, mas pode haver um clã ou uma tribo por perto.”

    Com esses pensamentos, afastou-se rapidamente dali, em busca de outro local onde pudesse encontrar uma presa. Arriscou-se um pouco mais, adentrando a floresta. O chão começou a se tornar mais úmido e, embora ainda houvesse muitas árvores gigantescas, a vegetação rasteira era menos densa. Depois de algum tempo andando, chegou a uma espécie de pântano, com um cheiro terrível, parecido com o de um chiqueiro. Aproximou-se com cautela e o que viu o fez arregalar os olhos: era a mesma fera que ele havia enfrentado antes de evoluir.

    < Javali do Pântano >

    Era maior que ele. Enfrentá-lo de frente seria pedir para morrer. Depois de algum tempo pensando, ainda escondido, decidiu cavar um buraco distante dali, com estacas fincadas no fundo, cobrindo-o com folhas. A tarefa se mostrou extremamente árdua para ele sozinho, mas não havia outra escolha: ou fazia isso, ou viveria escondido para sempre. Desde que perdera sua fonte fácil de comida por causa do orc, precisava se arriscar.

    Após cerca de duas horas de escavação ininterrupta, o buraco estava pronto. Era grande e fundo o suficiente para que metade do corpo do javali pudesse cair dentro. “Espero que, ao cair, as estacas façam o resto do trabalho”, pensou. Depois de cobri-lo com folhas e galhos, foi recebido por uma velha conhecida: a fome.

    Agora surgia outro problema: como atrair o javali?

    Esperou escondido por um tempo, mas nenhum deles passou por ali. Tomado pela loucura da fome, restava apenas uma opção.

    — Vou me fazer de isca — murmurou para si mesmo.

    Voltou ao território dos javalis. Havia dois por ali. Fugir de um já seria difícil, imagine de dois. Escondeu-se entre os arbustos, esperando pacientemente. Após alguns minutos, um deles se afastou. Lian permaneceu oculto por mais um tempo, atento a qualquer movimento. Nenhum outro apareceu.

    Então, posicionou-se a cerca de cem metros do javali restante e gritou.

    A criatura o encarou por alguns segundos. Sentiu seu coração congelar.

    Em seguida, o javali disparou em sua direção.

    Se virou e correu com tudo o que tinha, sentindo o chão estremecer sob seus pés a cada passo da fera. O plano era simples: levá-lo até o buraco que cavara na clareira, coberto com galhos e folhas. Se tudo desse certo, ele cairia — preso ou, ao menos, vulnerável.

    O problema era o tempo.

    O javali estava cada vez mais próximo. Com as pernas curtas de goblin, ele não conseguia manter muita distância. Podia ouvir a respiração pesada do monstro, quase sentir o bafo quente em sua nuca.

    Foi então que pisou em falso numa raiz enterrada sob as folhas.

    Tropeçou. O mundo girou. Caiu de lado, rolando pelo chão com o coração aos pulos.

    Ouviu o estalo dos cascos rasgando a terra — o javali não parou.

    Instintivamente, rolou para o lado no último segundo. A fera passou a centímetros dele, urrando de raiva.

    Cambaleante, com o joelho ralado e as mãos sujas de terra, levantou-se. Não havia tempo para dor. Correu como nunca havia corrido antes, com o monstro logo atrás.

    O buraco estava a poucos metros. Precisava funcionar.

    Assim que pulou por cima dele, jogando-se para o lado, ouviu o estalo da armadilha se desfazendo sob o peso do javali. Um som seco de madeira quebrando, galhos despedaçados — e então, um baque surdo.

    Silêncio.

    Aproximou-se da beirada do buraco, ofegante, o corpo inteiro tremendo. Lá estava ele: o javali se debatia entre os galhos partidos, ferido, mas ainda vivo. Os olhos cheios de fúria o encaravam, com metade do corpo preso na cova.

    Mas dessa vez, era ele quem caçava.

    O javali sangrava muito — as estacas haviam perfurado sua pele em vários pontos. Ele se debatia intensamente tentando se libertar, e quanto mais se movia, mais sangrava.

    Sem perder tempo, começou a juntar pedras. De uma distância segura, começou a lançá-las na cabeça da fera.

    “Eu é que não vou me aproximar dele”, pensou.

    Já sangrando bastante, após umas nove pedradas, o javali soltou seu último suspiro. Então caiu sentado, exausto. Desde que chegara àquele mundo, aquele fora seu maior desafio.

    — Quase morri de verdade agora — disse, tentando recuperar o fôlego.

    — Status

    Nome: Aguardando

    Raça: Goblin Caçador

    Habilidades:

    Instinto de Emboscada: Dificulta ser detectado antes do ataque

    Arremesso Preciso: Aumenta a precisão com projéteis ou objetos

    Exp: 488/1000

    Soltou um suspiro de alívio. A experiência do javali lhe rendeu os mesmos 273 pontos que ele havia estimado, somados à experiência acumulada ao matar coelhos selvagens por alguns dias. Sua barra de experiência estava quase na metade. “O risco compensou o retorno”, pensou.

    Foi até o javali morto e comeu até se sentir saciado. Como a luz do sol já desaparecia entre as árvores, retornou para seu abrigo improvisado.

    Já sentado em seu local de descanso, começou a refletir sobre o dia.

    “Tenho que ser mais cuidadoso e esperto… Apesar de parecer uma floresta tranquila, aquele orc me mostrou que estou completamente enganado. Ele poderia me matar com apenas um golpe. Quanto ao javali, sobrou uma boa quantidade de carne… Torço para que alguma criatura termine de comer o cadáver à noite, assim talvez eu possa reutilizar o buraco para caçar outro.”

    Pensamentos fervilhavam em sua mente. O desejo de se tornar mais forte aumentava. E então, como se lembrasse de algo importante, ele disse para si mesmo, com os olhos brilhando de determinação:

    — Meu nome agora é Glartak!

    Ele se lembrava de um jogo que jogara quando criança, cujo personagem principal se chamava Glartak. Ele era um camponês que se tornara rei e ficou conhecido como Glartak, o Senhor das Terras do Norte.

    “Espero ser conhecido com um título também, algum dia.”

    No momento em que disse isso, ouviu a voz do sistema:

    < Nome adicionado: Glartak >

    Mais uma vez tentou interagir com o sistema. Conversou, fez perguntas, tentou acessar outras opções, como uma loja, mas nada funcionou. Concluiu que, por mais que parecesse um jogo de RPG da Terra, ali o sistema servia mais como uma bússola: para visualizar seus status, acompanhar sua evolução e ver descrições básicas dos inimigos.

    “Quem sabe, no futuro, o sistema ainda me surpreenda…”, pensou, antes de cair no sono.

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