Sem pensar, Glartak se arrastou até um arbusto espinhoso e se encolheu ali, cobrindo o corpo com lama e folhas. Sua mente gritava para que não se mexesse, para que contivesse a respiração. Mas os lobos se aproximavam rápido… muito rápido.

    Então ele os viu.

    Três lobos.
    Os mesmos que vira da última vez. A pelagem negra como carvão tornava-os quase invisíveis na penumbra. Os olhos brilhavam como brasas acesas.

    Eles passaram a poucos metros de onde Glartak se escondia, indo em direção ao pântano.

    Mas então, um deles parou. Farejou o ar.

    Virou lentamente a cabeça na direção do arbusto.

    “Droga…” pensou ele, tenso como uma corda esticada.

    O lobo deu um passo. Depois outro. Avançava. A respiração quente escapava das narinas como fumaça.

    Glartak esperou até o último segundo. Quando o focinho da criatura tocou os galhos secos do arbusto, ele se ergueu com um grito gutural e lançou lama nos olhos do animal, ao mesmo tempo em que correu em disparada para a mata lateral, onde o terreno era mais irregular.

    Como Goblin Tirano, talvez conseguisse enfrentar um ou dois lobos comuns. Mas aquele com cicatrizes? Não era um lobo qualquer. Era o Alpha — e bastava olhar para ele para perceber o quão forte era.

    Os uivos explodiram atrás dele.

    Galhos cortavam sua pele, pedras machucavam seus pés, mas ele não parava. Corria como um louco, desviando de troncos, saltando buracos, sentindo a presença das feras cada vez mais próxima.

    O líder ficava mais atrás enquanto os outros dois faziam o serviço. Glartak podia ouvir a respiração pesada, os passos rápidos. Um deles tentou morder sua perna — sentiu os dentes roçarem e arranharem — mas ele chutou para trás com força, acertando a mandíbula da criatura e atordoando-a.

    Foi o suficiente para ganhar alguns segundos.

    Seu olhar varreu a escuridão da floresta até encontrar uma fenda estreita entre duas grandes rochas cobertas por musgo — o tipo de esconderijo que não chamaria atenção de imediato.

    Mas ele não caberia ali.

    Não inteiro.

    Um plano surgiu. Um que exigiria sangue. E coragem.

    Glartak pegou um galho seco e pontudo do chão enquanto corria, segurando-o como uma lança improvisada. Quando o lobo que o perseguia saltou, ele o recebeu com brutalidade. Aproveitou o impulso da criatura e cravou o galho com força, sentindo a madeira romper carne e osso com um estalo seco. O galho atravessou o pescoço do animal, que caiu arfando e se debatendo.

    Ele não esperou.

    Continuou correndo. Seu corpo maior dificultava a busca por um esconderijo.

    Com a habilidade Instinto de Emboscada ativa, avançou em direção à parte mais fechada da mata e se encolheu entre as raízes de uma árvore grossa, evitando até de respirar.

    O Alpha e o lobo restante chegaram num instante até o cadáver do companheiro. Rodearam o local algumas vezes. O Alpha uivou e olhou ameaçadoramente na direção de Glartak. Era impossível saber se ele realmente sabia onde o goblin estava ou se apenas olhou aleatoriamente.

    Como se estivesse ponderando se valia a pena continuar a perseguição, o líder soltou um uivo baixo — uma ordem — e os dois recuaram, voltando em direção ao pântano.

    Glartak esperou até não ouvir mais nada. Seus músculos tremiam. O corpo todo ardia.

    Mas estava vivo.

    E mais forte.

    Enquanto soltava um suspiro de alívio, soaram notificações do sistema:

    < Habilidade Instinto de Emboscada evoluiu para Sombra Predatória >

    Sombra Predatória: A presença se funde com o ambiente ao redor. Enquanto estiver imóvel ou em movimento lento, torna-se quase imperceptível — tanto para sentidos comuns quanto para detecção mágica fraca.
    Quando ativada, a habilidade reduz drasticamente o som dos passos e da respiração. Ideal para se esconder, perseguir ou escapar.

    No momento em que a habilidade evoluiu, ele sentiu algo diferente. O som ao seu redor ficou mais nítido. Seu corpo pareceu ficar mais leve, e até sua respiração parecia sumir no ar.

    Glartak ficou surpreso por um instante. Nunca imaginara que as habilidades pudessem evoluir, mas, pensando bem, fazia todo sentido. Se ele evoluía e ganhava novas habilidades a cada transformação, era natural que as habilidades antigas precisassem evoluir também, caso contrário perderiam a eficácia e se tornariam inúteis.

    Após verificar a notificação, seguiu em direção à velha árvore que lhe servia de abrigo, voltando cuidadosamente com sua nova habilidade ativa. Nem se preocupou em se aproximar do cadáver do lobo, receando que os outros pudessem voltar.

    Ao chegar, percebeu que seu corpo maior não passava mais entre as raízes da árvore. Precisou quebrar algumas para abrir uma passagem maior e, mesmo assim, entrou com dificuldade.

    Agora sentado e seguro, finalmente relaxou. A adrenalina se esvaiu.

    — Merda… Que idiotice. Quase morri. De agora em diante, só vou evoluir em um lugar seguro. Status!

    Nome: Glartak

    Raça: Goblin Tirano

    Habilidades:

    • Sombra Predatória (evolução de Instinto de Emboscada)
    • Arremesso Preciso
    • Domínio Cruel
    • Sangue Impiedoso
    • Regeneração Bruta

    Exp: 1834/20.000

    A primeira coisa que notou foi o salto enorme na experiência. “Bem, é de se esperar. Se eu evoluísse com poucos pontos de experiência, me tornaria forte demais rapidamente. O lobo que matei provavelmente me deu por volta de 800 pontos, o que é uma pontuação bem alta. Quanto mais forte a criatura, maior a recompensa.”

    Com isso, Glartak chegou a algumas conclusões sobre o sistema. Primeiro: o sistema não parecia ser um ser consciente, mas algo que ele havia ganhado ao reencarnar para ajudá-lo. Segundo: as habilidades podiam evoluir desde que alcançassem certos requisitos, provavelmente pré-definidos. Era possível que a experiência em combate e o estilo de vida influenciassem isso.

    — Não sei quais os requisitos são pré-determinados pelo sistema, mas no caso da minha habilidade, foi claramente a fuga dos lobos. Enquanto eu fugia e tentava me esconder, ativando o Instinto de Emboscada, ela evoluiu — murmurou para si mesmo.

    O silêncio ao redor era profundo. Apenas o som ocasional de insetos e o farfalhar leve das folhas quebravam a quietude. A dor nos músculos começava a pulsar mais forte agora que o perigo passara, e pequenas gotas de sangue escorriam por arranhões e cortes nos braços e pernas. O cheiro de terra úmida, lama e suor era forte, mas sentia um certo conforto naquele abrigo improvisado.

    Enquanto refletia sobre tudo o que havia acontecido, seus olhos lentamente se fecharam. Cansado, ferido, coberto de lama e sangue seco, ele adormeceu — não por vontade, mas por pura exaustão.

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