Glartak acordou com a claridade dos raios de sol passando por entre as árvores e iluminando seu rosto.

    Levantou-se com facilidade e notou que todas as feridas em seu corpo haviam se curado, sem deixar sequer cicatrizes.

    — Provavelmente efeito da regeneração bruta… Que habilidade maravilhosa — pensou. — Até agora eu não havia me preocupado nem pensado no que faria caso me ferisse. Meu pensamento era morrer ou matar, mas ficar incapacitado seria terrível.

    Saindo de sua “casa”, seguiu em direção ao riacho. Assim que chegou à beirada, viu seu reflexo na água e notou as mudanças que a evolução havia lhe trazido.

    Tinha agora cerca de um metro e setenta de altura, com um corpo musculoso — mas uma musculatura funcional, sem exageros — como se seu corpo tivesse passado por um intenso treinamento. Ombros e costas largas, braços fortes. Sua pele tinha agora um tom esverdeado mais escuro, quase acinzentado. Seu rosto ainda mantinha traços goblinoides — orelhas pontiagudas, mandíbula ligeiramente projetada — mas os traços se tornaram mais definidos e intimidadores. Os olhos brilhavam com uma intensidade amarela, quase âmbar, como brasas. Seus dentes estavam mais afiados, porém organizados como os de predadores. As unhas haviam se tornado garras escuras e curvas, eficazes em combate corpo a corpo.

    — Achei que, por ter ficado mais alto, pareceria mais com um humano…

    Mas o que ele via agora não era mais uma aberração monstruosa como antes. Era um guerreiro. Não belo. Não grotesco. Imponente.

    — Me sinto bem mais forte. Agora é hora de explorar mais essa floresta… Quem sabe encontrar outros da minha raça.

    Com esse pensamento, seguiu para uma área onde ainda não havia estado antes, determinado a descobrir mais sobre aquele mundo e, talvez, sobre si mesmo.

    Glartak caminhava em silêncio, atento aos sons da floresta. Agora, com seus sentidos mais aguçados, percebia detalhes que antes passavam despercebidos — o farfalhar das folhas sob os pés, o rastro de sangue seco indicando uma presa abatida, os odores misturados do mato.

    Enquanto seguia, seu estômago começou a roncar. A fome se manifestava de forma bruta. Não comia desde que teve que fugir dos lobos. Seus olhos atentos captaram um vulto se movendo entre as folhagens.

    Agachou-se instintivamente, com a habilidade já ativa, quase sem emitir som. À frente, um animal de médio porte se aproximava de uma moita com frutas vermelhas. Era uma criatura semelhante a um cervo, mas com escamas esverdeadas cobrindo parte do dorso e chifres curvados para trás. Tinha patas longas, olhos arredondados e se movia com graça.

    Enquanto o observava com curiosidade, informações sobre a criatura surgiram diante de seus olhos:

    < Verelgor >


    Descrição: Apesar de parecer pacífico, o Verelgor é territorial e pode atacar com os chifres se acuado.

    — Interessante… A primeira vez vendo um desses.

    Glartak se aproximou bem devagar e, no momento certo, quando já estava suficientemente perto, saltou das sombras.

    A criatura tentou reagir, mas foi em vão. Glartak a agarrou com as garras e, num único movimento, quebrou seu pescoço. O som seco do osso partindo ecoou entre as árvores.

    — Hah… é, eu estou bem mais forte mesmo — murmurou, ofegante.

    Agachou-se e começou a devorar o animal ali mesmo, com as mãos sujas de sangue. Carne crua, quente, com gosto ferroso.

    — O sistema também não me dá informações detalhadas sobre o que analiso. Só o nome e uma pequena descrição básica… o resto tenho que me virar — pensava enquanto comia.

    Depois de se saciar, limpou o rosto com o antebraço e seguiu em frente. Ainda havia muito a descobrir.

    Após cerca de uma hora avançando entre as árvores, Glartak começou a perceber mudanças sutis na paisagem. O chão, antes coberto por uma densa camada de folhas, agora exibia grandes trechos de terra firme e raízes expostas. A vegetação tornava-se cada vez mais escassa os arbustos sumiam, e as árvores, embora ainda gigantescas, estavam mais espaçadas, permitindo que a luz do sol tocasse o solo com mais intensidade. Rochas surgiam aos poucos pelo caminho, desde pedregulhos menores até grandes blocos cobertos de musgo. Mais adiante, uma imponente parede rochosa se erguia em meio à mata, irregular e manchada pela umidade. Cipós pendiam das árvores e se enrolavam pelas fendas da pedra como serpentes adormecidas. O ar parecia mais seco, e o som dos pássaros havia sido substituído por um silêncio curioso, quebrado apenas pelo farfalhar de folhas sob os pés de Glartak.

    Entre as raízes entrelaçadas de uma árvore gigantesca, havia uma abertura escura que parecia levar a uma caverna — ou talvez fosse o ninho de alguma fera.

    Cauteloso, Glartak escondeu-se atrás de uma saliência rochosa, respirando de forma controlada enquanto observava. Queria ver se algo sairia ou entraria ali.

    Não demorou muito até que notou movimentos e guinchos vindos da entrada da caverna. Com o olhar atento, viu cinco figuras emergindo das sombras.

    < Goblin Comun >


    Descrição: Criatura de classe inferior, fraca.

    Eram goblins.

    Pequenos, com no máximo um metro e vinte de altura, pele verde-clara e cobertos por trapos sujos, os cinco cambaleavam para fora da caverna. Seus corpos magros e frágeis tremiam de fraqueza, costelas à mostra, olhos fundos e vidrados. As unhas estavam quebradiças, os pés cobertos de feridas. Nenhum deles possuía arma ou sequer uma ferramenta rudimentar. Pareciam selvagens, como animais acuados e esfomeados.

    Eles não falaram entre si, apenas emitiam guinchos ocasionais. Farejavam o ar, procurando por qualquer coisa comestível ao redor. Um deles chegou a tentar arrancar um pedaço de casca de árvore com os dentes, outro puxava desesperadamente um pedaço de raiz do chão, como se esperasse encontrar algo por baixo.

    Glartak os seguiu em silêncio, mantendo distância. Observava atentamente. Aquele não era um grupo de guerreiros. Não tinham estrutura, não tinham propósito. Vagavam como sombras, guiados apenas pela fome.

    Então, um dos goblins desmaiou de exaustão. Os outros hesitaram. Um chegou a se aproximar e farejar o corpo do companheiro caído… mas, em vez de ajudá-lo, afastou-se, indiferente. Era cada um por si.

    — Por um instante achei que iriam comê-lo — pensou.

    Glartak sentiu um peso estranho no peito. Não era pena… Era um misto de reconhecimento e revolta. Era isso que ele teria se tornado, caso não tivesse despertado com sua consciência e força? Seriam esses os “iguais” que ele buscava?

    Deu um passo à frente, saindo das sombras. As folhas secas estalaram sob seus pés. Quatro cabeças se viraram em sua direção, com olhos arregalados e temor estampado no rosto. Nenhum fugiu. Estavam fracos demais até para isso.

    Glartak parou diante deles, imponente como uma montanha. Seu olhar firme os encarava. Por um instante, o silêncio reinou.

    — Vocês… não precisam mais viver assim.

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