Naquele instante, Glartak entendeu: não era o mais forte que sobrevivia. Era aquele que despertava para algo além de ser apenas um monstro.

    Glartak deu um passo à frente. O goblin cambaleou por um instante… e então, sem aviso, ajoelhou-se diante dele.

    Levantou a cabeça, com os olhos fixos naquele que lhe havia dado uma nova chance — agora, não mais com medo ou fome.

    Respeito. Submissão. Reconhecimento.

    A voz saiu arranhada, gutural, forçada, como se a garganta ainda não soubesse formar palavras. Mas era clara o suficiente.

    — R…ei…

    Glartak congelou, surpreso. Não era apenas evolução. Era entendimento.

    Não se tratava apenas de uma mudança externa. Era o instinto dividindo espaço com a inteligência.

    Um sorriso lento se formou em seus lábios.

    — Heh… então você entendeu.

    < Goblin Lutador >

    Descrição: Goblin que superou os instintos selvagens. É uma criatura de embate, moldada pela dor e pela sobrevivência. Capaz de ler padrões simples de movimento, aplicar força precisa e suportar ferimentos que matariam goblins comuns. Ainda limitado intelectualmente.

    < Você conquistou um subordinado. Gostaria de nomeá-lo? >

    Ele olhou para a notificação, surpreso, mas rapidamente respondeu:

    — Sim. Seu nome será Primal, porque foi o primeiro.

    < Subordinado nomeado: Primal >

    Rapidamente, Glartak chamou seu status, curioso por possíveis mudanças.

    Nome: Glartak

    Raça: Goblin Tirano

    Habilidades:

    Instinto de Emboscada evoluiu para → Sombra Predatória

    Arremesso Preciso

    Domínio Cruel

    Sangue Impiedoso

    Regeneração Bruta

    Subordinados: 1

    Exp: 2164/20.000

    Sua experiência aumentou em 330 pontos, provavelmente devido ao Verelgor que havia matado anteriormente e ainda havia o ganho de um subordinado. Foi tudo muito rápido para digerir.

    “Não achei que daria certo. Não tão rápido assim.”

    Glartak observava o pequeno goblin ajoelhado diante dele. O olhar, antes selvagem, agora continha respeito e obediência.

    Algo começou a mudar dentro dele. Um calor estranho se espalhou por seu peito. A sensação de conquista preencheu o vazio que antes dominava.

    Sem perceber, fechou os olhos. Lembranças que ele havia enterrado no fundo da mente começaram a surgir como um filme.


    [Flashback]

    O som do relógio do hospital ecoava pelos corredores silenciosos. Ele estava ali, sentado numa cadeira dura, com a cabeça entre as mãos e o coração quebrado. A mulher que ele amava havia ido embora com outro. Seu melhor amigo — não, seu único amigo — havia sido o traidor.

    Traição. Frieza. Vazio. Esses foram os sentimentos que tomou para si naquele momento.

    Depois disso, vieram os dias intermináveis. Comida congelada. Noites solitárias. O brilho do celular sendo a única luz no quarto escuro. O mundo seguia em frente enquanto ele afundava, esquecido. Ninguém ligava. Nenhum amigo. Nenhum chamado. Ninguém.

    E ainda assim, ele vivia. Sobrevivia. Respirava por hábito, não por vontade.

    “Eu era só um pobre coitado… deixei que a atitude dos outros influenciasse meu futuro… e no fim, morri sozinho.”


    [De volta ao presente]

    Os olhos de Glartak se abriram. Agora ele tinha um objetivo. Olhou novamente para o goblin ajoelhado e apertou os punhos.

    — Chega — murmurou, a voz grave como um trovão abafado.

    — Eu não vou deixar que vocês continuem vivendo dessa forma — disse ele, encarando a floresta densa à sua frente. — Fracos, como eu já fui… como lixo.

    Ergueu-se, imponente, como se um novo ser tivesse nascido dentro dele.

    — Eu vou criar um reino. Um exército.
    — E qualquer um que ficar no meu caminho… será meu inimigo.

    Lançou o olhar para os outros quatro goblins, ainda lambendo os dedos sujos de sangue.

    — Vocês são monstros. Mas agem como vermes. Tenho que ensinar vocês a caçar. Ensinar a matar. Ensinar a querer mais do que carne. A evoluir.

    O céu começava a escurecer. A luz do sol já desaparecia entre as árvores.

    — Se eu conseguir fazer todos vocês evoluírem…

    Enquanto pensava, ouviu o som de galhos quebrando.

    Passos pesados, firmes. Algo se aproximava.

    Glartak se virou rapidamente, os olhos atentos. Os galhos estalaram de novo, mais próximos.

    Não se moveu.

    Os goblins recuaram um passo, mas Glartak já não sentia medo — sentia expectativa.

    Os arbustos se abriram com um baque. A criatura surgiu.

    Não era um Verelgor.

    Era baixa, cerca de um metro e cinquenta, musculosa, com garras como lâminas curvas. A pele negra como carvão era coberta por placas endurecidas nas costas e ombros, semelhantes à carapaça de um inseto. Os olhos, pequenos e fundos, brilhavam em vermelho. O mais surpreendente: andava sobre duas pernas, com a postura curvada para frente.

    < Kranghul >

    Descrição: Criatura de força bruta, especializada em combate corpo a corpo. Possui garras afiadas como lâminas e uma pele coberta por placas endurecidas que funcionam como defesa natural.

    Glartak relaxou e murmurou baixo:

    — Talvez forte demais para eles… mas perfeito.

    O Kranghul rosnou de volta, farejando o ar. Reconheceu os restos do Verelgor no chão. Deu dois passos à frente, abriu a boca cheia de dentes e soltou um som agudo, quase um guincho.

    Os goblins recuaram ainda mais.

    O que havia evoluído — Primal — levantou-se. Mas não recuou.

    Glartak percebeu.

    — Você sentiu, não foi? Não tem mais volta.

    O Kranghul avançou um passo.

    Glartak se moveu rapidamente.

    Saltou para o lado, agarrou um galho grosso como um braço no chão, levantando-o como se fosse um bastão. O Kranghul não percebeu — ainda estava focado nos goblins menores. Com fome.

    Glartak rugiu:

    — Vão! Ataquem!

    Os quatro hesitaram.

    O Kranghul atacou.

    Rápido.

    Alcançou o goblin mais próximo com a garra direita, rasgando-lhe o peito. Sangue jorrou. Grito. O corpo caiu mole, tremendo.

    Glartak não interferiu. Apenas observava.

    — Morram, se forem fracos.

    Primal saltou. Agiu por instinto, cravando os dentes na lateral do monstro, agarrando-se às placas. O Kranghul se debateu, girando o corpo, tentando se livrar dele.

    O segundo goblin, motivado ou tomado de puro desespero, atacou também. Usou as mãos, as unhas, os dentes. Riscou a pele grossa do monstro com tudo o que tinha. Um ataque desesperado.

    Glartak então se moveu.

    Aproveitou a distração.

    Deu a volta com o bastão improvisado por trás da criatura e bateu com toda a força no joelho do Kranghul.

    Crac.

    O som foi seco. O monstro guinchou.

    Caiu de lado. Os goblins se jogaram sobre ele como animais famintos.

    Glartak se afastou, observando enquanto os pequenos arrancavam nacos da carne viva, cravando dentes e garras, ignorando os gritos da criatura. Primal chegou até o pescoço, mordendo fundo. Quando o Kranghul soltou o último suspiro, ele ainda continuava mordendo.

    Silêncio.

    O corpo caiu, morto.

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