Capítulo 07

Os olhos de Vera se arregalaram.

Esta foi a primeira vez que Cayena mostrou uma resposta tão morna a Raphael Kedrey.

Era um segredo aberto que o relacionamento entre o imperador e o duque Kedrey era ruim, e embora o motivo disso fosse desconhecido, o imperador estava frustrado com a fascinação de Cayena por Rafael…

“Se Lorde Kedrey se tornar genro do imperador, pode haver problemas com a estrutura de poder.”

Foi uma declaração bastante simples, mas era um problema que Cayena nunca parecia considerar antes.

Vera voltou a encher o chá em silêncio e olhou para a face serena de Cayena.

Cayena escondeu um sorriso calmo atrás de sua xícara de chá. Este assunto não iria apenas aos ouvidos de Rezef. Suas observações certamente seriam transmitidas ao imperador também.

— Tenho sido obstinada e indigna até agora, pois não tinha entendido a vontade do imperador.

O desejo de Cayena por Raphael era proporcional à angústia que ela causou ao seu redor. Ela se forçou a entrar em sua casa e o convocou ao palácio. Bem, na verdade, o Imperador tinha convocado Raphael ao palácio a pedido de Cayena todas às vezes.

Claro, isso não era necessariamente para Cayena, mas sim para humilhar a família Kedrey quebrando o espírito de seu próximo lorde.

— Ele deve ter ouvido seus pedidos porque suas ações foram apropriadas o suficiente. — Cayena concordou interiormente com as palavras de Vera, mas exteriormente, ela franziu a testa.

— Como princesa imperial, como poderia não saber que minha conduta foi inadequada? Agora, pelo menos, devo compensar o que fiz.

— O que você pretende fazer?

— Em primeiro lugar, terei que remendar o vestido para a cerimônia da maioridade.

Vera inclinou a cabeça enquanto a declaração parecia totalmente sem relação com a discussão.

— Abra o camarim.

Logo haveria um banquete para a cerimônia de maioridade de Cayena. O vestido que ela iria usar já havia sido preparado há muito tempo, mas Cayena queria rever o conceito para aproveitar o incidente.

— Você prefere algo com uma linha dorsal profunda para mostrar seus ombros? — Perguntou Vera.

Vendo o vestido, Cayena balançou a cabeça. 

— Não, isso é muito exagerado.

Ela tinha uma imagem em sua cabeça.

— Uma marionete deve se parecer mais com uma marionete.

Cayena queria um vestido com enfeites de renda extravagantes, do tipo que iria vestir suas bonecas. Ela precisava parecer que se importava muito com a beleza.

Cayena olhou seu reflexo no espelho e acenou com a cabeça.

— Como sempre, ninguém será mais bonito do que sua Alteza Imperial no banquete! — As pessoas ao redor de Cayena estavam ocupadas bajulando sua aparência, mas Vera pensou consigo mesma enquanto ajudava Cayena a mudar: “Todos estão felizes que Sua Alteza se comportou bem, mas nunca foi tão fácil.”

A aura e a imagem de Cayena mudaram completamente. Recentemente, Cayena vinha agindo de forma muito suave e agora todos queriam ficar ao seu lado.

Sua brandura e inação pareciam que ela estava concedendo a iniciativa ao oponente, mas era mais como dar a uma criança um lanche que desapareceria rapidamente.

Depois que ela bebeu o veneno, até sua fala ficou mais refinada.

A própria Vera parecia ser a única que notara a mudança. Ela observou Cayena em silêncio e incessantemente.

Cayena sabia muito bem que Vera estava agitada.

“Vera é leal, mas ambiciosa.”

Nenhuma das damas da corte em seu palácio valia a pena usar, exceto Vera. Cayena pretendia acalmá-la, então ela permitiu que Vera a observasse como ela desejasse.

Cayena experimentou o vestido final. Era o vestido que Cayena preparou com o maior cuidado para a cerimônia da maioridade.

Cayena adorava rosas, por isso gostava de usar vestidos bordados com rosas. O mesmo acontecia com este vestido.

— Meu Deus, você parece uma boneca! — Suas damas de companhia fizeram barulho, como sempre faziam. Esse era o tipo de elogio que Cayena mais gostava.

Vera mordeu o interior da boca para conter a risada.

A patroa já não gostava desse tipo de elogio.

Como esperado, Cayena sorriu calmamente, sem parecer orgulhosa ou presunçosa.

— Ela realmente mudou.

Vera se perguntou o que essa mudança significava. Ela queria descobrir as verdadeiras intenções de Cayena.

“Cayena poderia ser um bom mestre para ela?”

Houve muitos casos em que famílias inteiras morreram por sustentar a pessoa errada na família imperial. Vera precisava ser cautelosa.

Vera viu que, apesar das condições contra ele, Rezef se tornaria imperador um dia. Foi um julgamento muito preciso.

E agora, a visão brilhante de Vera estava reavaliando rapidamente Cayena.

— O bordado de rosas não é excessivo e está muito bem incorporado.

— Vamos manter este como está.

— Vou mandar o resto para o alfaiate, Vossa Alteza.

Cayena assentiu. Então, ela se olhou no espelho e ergueu a mão. Era como se houvesse cordas amarradas a seus membros, manipulando-a.

Esse olhar combinava com ela.

“Toda a minha vida fui controlada por alguém.”

Ela não tinha percebido que ela era a marionete de alguém, pendurada nas linhas dos fantoches. Ela não sabia de quem era o poder que segurava nas mãos.

Certa vez, pensei que estava me movendo por vontade própria.

Mas ela havia aprendido muito para continuar vivendo sob essa ilusão. Cayena não tinha intenção de cometer o mesmo erro novamente.

“Eu viverei como eu mesma quiser.”

Ela deixou cair o braço, como se a corda tivesse sido cortada.

— Eu preciso trocar de roupa.

Cayena tirou o vestido e colocou suas roupas do dia a dia.

— Onde está Rezef? — Ela perguntou.

— Ele ainda está fora, Sua Alteza.

Rezef ficou muito ocupado recentemente, pois estava no meio de uma luta pelo poder com o filho do arquiduque Heinrich pela posição de príncipe herdeiro.

“Rezef, você achou que aumentar meu valor contribuiria para seu próprio poder?!”

Embora Rezef eventualmente se tornasse o tirano de um imperador, ele ainda tinha apenas 18 anos agora. Ele era uma criança.

Por outro lado, Cayena vestia apenas a pele de uma jovem, ela já tinha vivido duas vidas. Cayena havia experimentado coisas horríveis em suas vidas, então para ela, Rezef era como uma criança.

“Ele está esquecendo o fato de que existem outros que podem me emprestar sua força neste momento. Que tolice.”

Cayena se dirigiu a Vera. 

— Eu devo ir ver o Imperador.

O Imperador do Império Eldaim, Esteban Hill, deitou-se em sua cama e bebeu remédios. Então, ele olhou para sua filha, Cayena, com olhos sem vida.

— Pensar que você viria me procurar primeiro assim… deve ser algo especial.

Com suas palavras, Cayena agarrou a barra do vestido. Fazendo uma reverência, ela disse.

— Por favor, perdoe-me por meu desrespeito, Vossa Majestade.

— O suficiente.

O imperador não se comoveu com tais palavras. Sua voz estava fria, sabendo que seu tom feriria o orgulho de Cayena.

Sua filha era uma idiota. Ele estava pensando em quando ela voltaria a si quando falasse novamente.

— Embora seja tarde, por favor, olhe gentilmente para sua filha, que agora está tentando cumprir seu dever como filha obediente.

Suas palavras eram doces como mel. Não era o tipo de palavra que Cayena costumava dizer.

As sobrancelhas do imperador ergueram-se maravilhadas. Cayena aproximou-se dele.

— Devo ter causado preocupação a você ultimamente, — disse ela.

Realmente não importava se o imperador estava ou não preocupado. O importante é que Cayena demonstrou que pensava nele e no seu bem-estar..

— Vim cumprimentá-lo para que não se preocupe. Estou quase totalmente recuperada.

Cayena pegou o prato com o bule e as xícaras que um atendente trazia para o imperador. Ela o ajudou a beber o chá com uma colher de prata, suas ações tão naturais quanto a água corrente.

“Os rumores eram verdadeiros?”

Disseram-lhe que a atitude de Cayena mudou consideravelmente depois do envenenamento. Eles disseram que havia misericórdia e generosidade em suas palavras e ações agora.

Ele não conseguia se lembrar de quando sua filha era gentil, exceto quando ela era muito jovem.

Em algum momento, o relacionamento entre pai e filha se quebrou. Cayena sentia-se pouco à vontade perto do Imperador, e o Imperador começou a sentir desprezo por ela.

Mas agora, Cayena não parecia nem um pouco desconfortável enquanto se sentava na cadeira ao lado dele e cuidava dele.

— De quem é esse enredo?

O imperador viveu como governante durante toda a vida. Esse tipo de incidente nunca aconteceu por conta própria.

Ele começou a se perguntar se o processo de encontrar o culpado, bem como as consequências do incidente, foram todos inventados.