Capítulo 108
Início do volume 4. Rede de tubulação.
Cayena estava a ponto de voltar ao Palácio, mas deixou de caminhar com indiferença e olhou ao seu redor. Tinha a ideia ridícula de que Raphael pudesse estar aqui.
— O que foi, vossa Alteza? — Annie, que me seguia, perguntou de forma curiosa.
— … não é nada.
Annie renunciou sua pergunta, é claro que Raphael não estava aqui. Cayena riu vazio ao estar surpresa com suas próprias ações. Só queria que ele estivesse aqui agora, então poderia encontrá-lo.
— Sou uma boba.
Ela balançou a cabeça e perguntou pela atividade recente de Raphael, que era silenciosa demais.
— Ouviu algo sobre o Duque de Kedrey? — Annie respondeu de forma imediata.
— Me pediu que, se algo sucedesse, lhe informasse de imediato, mas ainda não há notícias.
Os Heinrich parecem estar calados enquanto observam o templo.
Todas as forças continham a respiração antes da cerimônia de maioridade da Princesa. Mas o maluco Heinrich não ficou quieto mesmo com todos os olhares sobre ele.
— Raphael plantou três atos no Grão Ducado.
Nestes dias, o estado de ânimo de Rezef é tão incômodo que lhe foi difícil chamar Raphael de visita ao palácio. Isso se deve a que Rezef atacou todos que parecessem ter uma pequena possibilidade de casar com Cayena. Sequer foi engraçado, não era uma joia para ser guardada em um cofre e ser retirada apenas em caso de roubo. Entretanto, Rezef passou por alto completamente o livre arbítrio de Cayena.
Era um costume.
Um hábito vicioso de considerar as pessoas como objetos que ele não duvidaria em se desfazer caso se tornasse inútil ou incômodo para ele.
— O que acontecerá caso continue me irritando assim?
— …
— Disse que não queria que me casasse, então vai me matar?
“Tenho de proteger o Barão Elivan de qualquer forma.”
Não posso deixá-los ir em vão com a babá. Ela se culpou ainda mais. Elivan era a família de Barões de menor status, mas ainda era uma família histórica que manteve sua reputação por tempo suficiente para se tornar uma das mais prestigiosas do Império. Também era uma família que sabia que havia sido mestre do Imperador durante gerações e tinha o poder de ter os intelectuais.
— E agora que o Barão Elivan decidiu me seguir, homens poderosos me apoiarão.
Cayena ia lhes mostrar qual a melhor opção. Era uma sorte que Rezef e Heinrich fossem um desastre. De fato, não era uma pessoa com muita integridade comparada a eles, não era uma pessoa justa. Entretanto, decidiu se converter em uma vilã ao lado da justiça. Estava disposta a tomar o controle do submundo e usar alguém para ganhar o jogo.
Caminhava por uma rua tranquila quando viu à distância pessoas vestidas de preto. Eram pessoas do Marquês Evans.
— Estão apressando demais o funeral.”
Ela pensou.
Apesar de que visitara o cemitério, sequer cumprimentou a família Evans, que souberam deste acontecido e montaram uma história de fundo. Enquanto Julia fosse sua dama de companhia e o Marquês Evans seguisse como um destacado aristocrata, tinha de fazê-lo. Finalmente se dirigiu ao grupo Evans.
Já tinham coberto o caixão de Zenon com terra. Cayena ficou ao fundo e esperou enquanto Annie se aproximava e perguntava pelo paradeiro de Julia e do Marquês. Os olhos de todos olhavam rapidamente para onde se encontrava Cayena. Talvez por ter coberto o rosto com um véu, seus olhares não ficaram muito tempo. Depois de um tempo, Annie inclinou a cabeça, se aproximou de Cayena e disse:
— Estão no salão agora mesmo, vamos lá.
Cayena se dirigiu ao prédio alugado pelo Marquês para que somente seus parentes consanguíneos pudessem usar. O Marquês Rodrick e Julia foram vistos fora do prédio.
Mas o ambiente era um pouco estranho, então ela deixou de olhar naquela direção. Julia soltou a mão que o Marquês Rodrick segurava.
— Não quero ir!
Neste movimento brusco, vira o rosto de Julia enquanto seu cabelo balançava. Suas bochechas estavam manchadas de sangue, um arranhão feito por este homem.
A expressão de Cayena congelou.
— Como me diz para entrar no Palácio quando meu rosto ainda está assim?
— Foi feito por Zenon, e o entenderão.
À medida que as vozes se distanciavam, não se podia mais escutar a conversa, portanto Cayena pediu a Annie que se afastasse por um momento, ia se mudar a um lugar menos visível a eles. Usando mana, torceu o espaço e as transferiu para a parte traseira do edifício.
Em um instante, a paisagem mudou e a voz do Marquês Rodrick estava mais audível.
— Não é natural que um homem que deixou de consumir ópio¹ se suicide e seja capaz de machucar o rosto de sua irmã?
Julia arregalou os olhos com incredulidade diante das terríveis palavras em tom carinhoso de seu irmão. Com um olhar suave, ele prosseguiu:
— Agora a Sra. Dottie está no Palácio tentando reduzir a influência de nossa família. Não há tempo para que perca aqui.
Seguia insistindo que ela voltasse ao Palácio imediatamente e enfrentasse a Sra. Dottie.
Julia se sentia miserável, como se fosse apenas uma ferramenta. Era terrível e, ao mesmo tempo, deu medo da morte de Zenon, mas Rodrick seguia a persuadindo de que Dottie não deveria ter tal influência.
— Sei que meu cunhado foi assassinado. — Os olhos do homem mudaram repentinamente com suas palavras.
— … o que quer dizer? — Ele a culpou por pensar muito.
— Julia, isso não foi um acidente, é difícil não pensar que seja estranho.
Ela sabia que isso só poderia resultar de um assassinato. Mordeu os lábios diante da óbvia verdade de seu irmão.
— Irmão, posso simplesmente não voltar ao Palácio?
O Marquês simplesmente sorriu diante de seu pedido sério, um sorriso assustadoramente frio.
— Então quer ser deserdada?
— O quê…?
— Se não gostar, não precisa voltar ao Palácio… — Seu tom era muito amigável, mas sua fala não. — Oh, o Conde Hugren segue solteiro a bastante tempo, se, se tornar sua esposa estaria ajudando a família.
O rosto dela empalideceu, O Conde Hugren é um ancião de setenta anos. Além disso, há rumores de que ele é um pervertido a muito tempo. Não esperava que seu irmão dissesse que a venderia a um ancião, portanto começou a chorar assustada.
Marquês Rodrick, seu irmão, um homem amigável. Ainda que se deu conta de que a considerava como uma ferramenta, não achava que chegaria a esse ponto. Mas não era assim. Neste momento Julia se deu conta de que não valia nada.
— Julia, pode voltar ao Palácio em que costumava cantar e limpar, alguém se encarregará de tudo.
O Marquês sorriu, tratando de agarrá-la, mas ela se afastava com um semblante perdido. Neste momento, Cayena se desfez de sua magia.
— Ugh!
Ele sentiu que algo repentinamente agarrava seu pé e o lançava ao chão. O que poderia ser? Ele estava confuso pela situação e pela dor.
— Oh, meu Deus.
Neste momento, se pôde escutar a voz estranha de uma mulher no seu ouvido. Ao levantar a cabeça, viu a mulher com véu negro, então franziu o cenho.
— És grosseiro em um mau momento, Marquês. Oh, certo, sou Cayena Hill.
— Vossa Alteza Real…?
Tentou se levantar e seu rosto se pôs vermelho de vergonha por estar jogado em frente a Princesa. Mas ela o tinha feito tropeçar e caiu magicamente de novo, evitando que se levantasse.
— Ahhh!
Cayena fingiu preocupação ao se aproximar.
— Oh! Está bem?
— Sim, estou bem… aqui vamos.
Estava insuportavelmente envergonhado e irritado. Por que tinha caído? Cayena olhou para o chão preocupadamente.
— Oh, meu Deus! O caminho está assim tão mal? Não creio que haja problemas sobre cair a menos que a parte inferior de seu corpo seja fraca…
O Marquês Rodrick tremeu quando inclinou a cabeça de forma estranha. Partes inferiores pobres? Não havia tal desgraça.
— Bem, Vossa Alteza, não é assim…
Cayena sorriu e olhou para Julia sem sequer pensar em escutar.
— Não esperava vê-la, Julia.
Julia arregalou os olhos.
— Saúdo Vossa Alteza… — Quando pôs seus joelhos ao chão e fez uma saudação, Cayena a levantou.
— Voltemos. — Julia levantou o rosto, Cayena tinha um sorriso suave. — Volte comigo.
Ela apenas a fitou sem compreender. A Princesa disse ao Marquês que investigaria o ocorrido.
— Julia é minha dama de companhia, posso leva-la comigo? Ultimamente estive ocupada.
O Marquês Rodrick estava bastante satisfeito por esperar que voltasse ao Palácio, então agradeceu Cayena por ajuda-lo assim.
— Certamente, me agrada ver que a cuida pessoalmente. Por favor, cuide de Julia, Vossa Majestade.
Cayena sorriu roboticamente sem responder tais palavras.
— Então me despeço.
Segurou a mão de Julia e a levou.
— …
Julia se limitou a olhar suas mãos. Annie encontrou Cayena e Julia, as conduzindo em silêncio a carruagem. Quando estavam suficientemente longe, Cayena disse:
— Não tens motivo para me ajudar a organizar a cerimônia de maioridade, mesmo se voltar ao Palácio, descanse.
— O quê…?
— Significa que está de férias até que sua bochecha melhore.
Julia sabia que não podia fazê-lo. Seguramente o Marquês a pressionaria para manter a Sra. Dottie afastada. Era frustrante para ela, era como se uma pedra caísse sobre seu peito e a afundasse. Disse entre soluços:
— O que devo fazer no futuro…?
Não quis pedir uma resposta definitiva, só disse algo porque pensou que morreria de tristeza agora.
Zenon foi assassinado de uma forma terrível. O Marquês Rodrick lidou com sua morte como suicídio, sem muita investigação. Ela tinha medo da irracionalidade, temia o fato terrível de poder ser objeto de tal violência em qualquer momento que não fosse mais necessária.
— O que acontecerá se não me caso em um lugar adequado a mim?
Não seria enviada ao Conde Hugren?
— O que queres fazer?
— Não sei…
Julia não sabia como pensar por si mesma. Até mesmo agora, só poderia dizer como escolher bons vestidos, bonitas joias, sapatos e chapéus da moda. Mas, o que realmente queria fazer? Como se protegeria? Não sabia nada sobre isso. Ao se dar conta de que a beleza não a protege, se assustou com a realidade repentina que tinha que enfrentar. Vagamente se deu conta de que tudo que sabia estava próximo a uma ilusão dada por alguém, mas nada era claramente visível.
— Pense nisso. Não é que não saiba pensar, apenas não lhe ensinaram a fazê-lo.
“Sério?”
Julia pensou desesperada.
Chegaram a carruagem, a porta se fechou quando ambas subiram, os cascos soaram e a carruagem se moveu. Julia separou lentamente os lábios.
— … Quero ser a Marquesa Evans.
Queria estar em uma posição na qual já não se sentisse ameaçada. Mas Marquesa, isso é ridículo. Não é essa uma verdadeira fantasia? Mas tão pronto como pronunciou, se deu conta.
“Por que não posso ser Marquesa?”
Seu cunhado tratava as pessoas como ferramentas, distribuía drogas e abusava de seus parentes consanguíneos. O que quer dizer com que não podes fazer melhor que estas pessoas?
Seus olhos mudaram, suas lágrimas pararam antes que se desse conta, falou com um tom decidido.
— Serei a Marquesa Evans.
Julian estava desesperada ao se dar conta de que apenas Cayena pudesse lhe ajudar.
— Me ensine, Vossa Alteza. Farei qualquer coisa.
O Marquês Evans estava corrompido, mas Julia era a única que ainda não se manchara com corrupção. Era o único meio de controlar a família Evans.
Cayena não pôde evitar lhe tomar a mão.
— Seja valente.
Foi o conselho mais importante que pôde dar-lhe: manter a mente firme. Não pode compensar o mundo em que foi criada com soluções ordinárias.
— No futuro, deve ser mais poderosa que o Marquês Rodrick, não uma pessoa que o agrada com tudo e seu valor para ele é apenas de uma boneca ou ferramenta.
— Oh…
Alguém pareceu golpear sua cabeça com um martelo, ela se deu conta de quanto valia.
— Pense fiel e constantemente com sua sabedoria. Só ocorre quando aponta o que teu oponente ainda não o fez.
Sentiu arrepios na coluna, como se tivesse vislumbrado o mesmo mundo que a Princesa. De repente, uma mente fraca se despertou.
“Não posso, não poderei fazê-lo. Não está mal viver assim…”
Julia mordeu a língua, o sabor do sangue permaneceu em sua boca.
— Controle-se.
Tinha medo de ter de pensar por si mesma e encontrar a resposta certa, mas tinha de superá-lo.
— O terei em mente.
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