Índice de Capítulo

    Pode entender qual era o plano: obrigar que Jedair atuasse suspeitamente e se revelasse ao mundo, assim matando-o e tirando o corpo, fingindo sua morte.

    Não importa quão difícil fosse…

    Suspirou em silêncio.

    — Seu irmão será enviado ao Palácio?

    — Sim…?

    — É duro demais por sua doença, enquanto você lida com tudo. Mas ainda necessito, então preciso de um refém.

    Pensava receber o irmão mais novo de Jedair como um oficial da corte no Palácio.

    — Não se preocupe, lhe darei uma posição em que rara vez trabalhei, cuido de meu pessoal.

    Jedair mordeu os lábios, fingia estar calmo, mas seu coração era bastante ansioso. Ainda que escondera seu irmão mais novo de Yester, não fora feito de forma perfeita e, infelizmente, ele poderia piorar.

    Entretanto, Cayena declarou que curaria seu irmão e o levaria ao Palácio, onde a influência de Yester não funcionaria. Como se fosse um refém, mas ainda cuidando-o. 

    De fato, não entendia. O que queria dizer que a família imperial cuidaria de um contratista insignificante, que não tem dinheiro? Era tão importante?

    O nariz de Jedair se contraiu e agarrou as rédeas com mais força.

    Para ser sincero, estava agradecido. Queria agradecer apesar de todos seus interesses.

    — Obrigado.

    Se dirigia a Cayena, que olhava distantemente pela janela.

    — Agradecer por tomar um refém, é estranho.

    “Oh, isso é porque…”

    Devido a aparência da Princesa, as pessoas se reúnem constantemente ao seu redor. Aqueles que acreditaram nela e a seguiram foram particularmente ressaltados e conhecidos. Jedair não se atrevia a imaginar como seria um país governado por uma pessoa assim, pois nunca houvera tal governante.

    As opiniões podem mudar no futuro, mas agora decidira fazer o melhor, tinham assuntos urgentes a que atender.

    — Tenho algo a dizer.

    — O quê?

    — Ontem, saindo do encontro com Heinrich, vi pessoas estranhas. — ¹

    Jedair tinha uma extraordinária capacidade de detectar crises. Recordou a estranha gente que viu na pequena vila próxima ao Palácio junto ao Duque Heinrich. Eram bastante incomuns, dado que a Princesa era uma maga, não podia detectar imediatamente o que pensava?

    Ele relatou o que tinha visto.

    — Um grupo de pessoas de túnicas negras?

    Lamentavelmente, Cayena não os conhecia. Franziu um pouco o cenho e recordou o que leu na novela.

     Um grupo de pessoas com túnicas negras. 

    Não havia informações precisas sobre os mafiosos que matariam o Grão Duque. Ainda assim, era estranho não haverem informações sobre pessoas tão incomuns. Enquanto tratava de seguir adiante sem se incomodar com isso, a expressão de Jedair a incomodava.

    “O futuro mudou?”

    Se falasse com Bayel, poderia confirmá-lo logo. Havia comprovado o interior da carruagem, entretanto, o mago arrogante não apareceria a não ser que quisesse.

    Jedair falou:

    — Quase chegamos.

    A carruagem chegava a seu destino, Cayena colocou o capuz.

    O povoado do leste da capital de Eldigm, comumente chamado bairros pobres. Hoje, era instalado um refeitório beneficente, o único em toda a capital. O povo da periferia apenas viu como era feita uma tenda de origem desconhecida.

    Entre eles, havia um homem de cabelo desarrumado e com barba. Seu nome era Valdemar e uma vez fora um doutor que fazia parte da corte da Imperatriz até sua morte.

    Valdemar olhou por cima dos cavalos e carruagens, lhe era obvio o olhar de tal gente sobre os pobres, tratando-os como ratos sujos que devoram a cidade. Mas instalar um refeitório beneficente aos pobres?

    “É ideia da Princesa Cayena.”

    Custava crer que uma mulher da realeza, conhecida por seu comportamento desde jovem, alimentasse os pobres. Ainda mais doloroso era custar de estômago vazio.

    Os habitantes da região se mostravam receosos ante a notícia da repartição de comida, mas se reuniram próximos ao local que foram avisados no dia anterior. Mas quanto mais se aproximavam, mais o cheiro se intensificava.

    — Ponham-se em fila aqui!

    Os cavaleiros os controlavam para não se precipitarem de forma imprudente.

    A primeira pessoa na fila era Valdemar, pois era o único em saber provar o caldo e saber se havia algo estranho no interior.

    Recebeu uma generosa quantidade de guiso na vasilha que trouxera. Era espesso e os ingredientes eram bons. Entretanto, havia muitos ingredientes secos em cima da sopa.

    Valdemar provou o caldo, bebendo e tentando encontrar alguma coisa errada.

    — Está bem…

    Ante suas palavras, as pessoas que haviam recebido o provaram e mostraram deleite em seus olhos, só então se dando conta de que a comida era boa.

    Os cavaleiros até mesmo protegeram os fracos, caso alguém tentasse roubar dos outros. Graças a isto, tanto as mulheres, quanto as crianças puderam comer adequadamente sua comida.

    Os que não tinham vasilhas, receberam caldo em uma vasilha de madeira preparada no Palácio e se mobilizaram a manter limpa a região e não deixar as vasilhas de madeira jogadas. Enquanto observava todos e cada um de seus atos, de repente se deu conta de algo, uma ideia cruzou sua mente.

    “Não se trata apenas de distribuir comida, mas do primeiro passo para reformar o povoado do leste.”

    Para criar consciência aos socialmente fracos de modo a perceberem que, quando recebem algo, devem pagar o preço: manter a limpeza. Qual o significado disto tudo?

    — Se trata da formação de reabilitação para que os pobres voltem a sociedade.

    Valdemar apertou as mãos olhando ao redor de forma ansiosa. O sabia, se estava dirigindo a outra tenda para um propósito diferente ao do refeitório.

    “Um centro médico…”

    Na mesma foram colocadas macas e remédios. Valdemar se apressou, os médicos não o deixaram se aproximar dos remédios.

    — Se precisar de tratamento, vá ali.

    Conseguiu se acalmar e retroceder, em contrapartida, lhes aconselhou:

    — Os remédios são muito poucos, logo se acabarão.

    Os doutores olharam-no com surpresa, seu tom e comportamento não são comuns.

    — Seria preferível tapar o teto para poder cobrir a luz, de modo que não passe, a tenda deve estar fechada por todos os lados.

    Só disse isso e caminhou.

    — Organizem-no desta forma!

    — Não há espaço suficiente aqui?

    Logo o conselho do mesmo fora tomado em conta, mas com a quantidade de pessoas foi difícil de atende-lo de imediato.

    — Ei! Por aqui! Atendam minha esposa, que foi atropelada por uma carruagem!

    Um homem gritava correndo com sua esposa nas costas, Valdemar se aproximou dele e se limpou com água fria, depois derramou desinfetante em suas mãos que encontrara próximo da tenda.

    — Escute, o que está fazendo?!

    Os doutores gritaram com rostos distorcidos.

    — Sou doutor. Não há falta de gente de todas as formas? Estou seguro de não incomodar.

    Enquanto vacilavam, Valdemar correu até a paciente e analisou seu estado.

    — Escute!

    — É uma quebra nas costelas², se a deixarem assim, morrerá. Há de abrir seu peito agora mesmo, o que esperam?

    Assustados pelo grito, os doutores moveram-se. Como disse, haviam de deter a hemorragia imediatamente, o doutor mais experiente apareceu:

    — O que estão fazendo? Tragam as ferramentas cirúrgicas!

    — Se não deterem o vaso sanguíneo imediatamente, certamente morrerá.

    Quando o doutor confundido não reagiu, o marido da paciente se deitou no chão e suplicou:

    — Oh, por favor! Faço qualquer coisa desde que a salvem!

    — Sinto muito.

    Valdemar respondeu:

    — Aqui temos cavalos e tanta gente que pode montá-los, qual o problema?

    — O que precisam?

    Os olhares giraram rapidamente até a voz, pertencente a uma mulher coberta com uma capa. Os doutores também estavam desconcertados. Ela os mostrou um emblema que pertencia a alguém da corte e junto a ela havia um homem com roupa de cavaleiro imperial.

    Cayena disse:

    — Pode salvar essa paciente?

    — Tudo que necessitam são ferramentas cirúrgicas, sangue para transfusão e assistentes

    — Bem, os conseguirei imediatamente.

    Uma centelha de esperança surgiu sobre o povoado leste.

    Passaram três dias desde a construção do refeitório, Valdemar ajudou os doutores a cuidar da paciente e descobriu que esses médicos vinham da parte do Duque Kedrey.

    — Se o Duque Kedrey, um neutro, se uniu a Princesa em tal obra de caridade, significa que a Princesa agora é neutra?

    O que aconteceria com seu irmão, o Príncipe Rezef e ao exército? Era a autoridade do Príncipe herdeiro de liderar os soldados privados do Imperador. Se é assim, significa que agora a Princesa possui um poder equivalente a este?

    “O que tenho a ver com isto.”

    Já não era alguém do Palácio, então deixou ir esses pensamentos,

    Nesse momento, a mulher encapuzada se destacou entre os oficiais.

    Era uma pessoa da corte? Era obvio que possui suficiente autoridade.

    Deve ser a dama principal da Princesa.

    Foi inesperado que tal pessoa aparecesse assim no primeiro dia, ainda mais nos bairros periféricos até hoje. Seguiu observando-a e finalmente foi atrás dela.

    Cayena se girou a ele.

    — O que foi?

    — Escutei que enviou um paciente com rompimento de costela ao hospital, queria agradecer.

    — É trabalhoso salvar pessoas, mas por suposto deveria fazê-lo.

    Via aos pobres como seres humanos, não como um rato sujo que devora a cidade.

    — Ontem no hospital o elogiaram, realizou uma operação limpa, quase sem infecções em um ambiente precário e até mesmo se ofereceu como recruta?

    — É um elogio excessivo, há muitos médicos como eu.

    — Uma frase típica de humildade.

    Valdemar se sentiu um pouco envergonhado e sorriu.

    — Me chamo Valdemar.

    Então Cayena respondeu:

    — Pode me chamar de Medea.

    Valdemar inclinou a cabeça e retornou com o pessoal médico. 

    Jedair perguntou:

    — Quem é Medea?

    — O nome de uma bruxa da mitologia estrangeira.

    Ainda que o país estrangeiro esteja em um diferente nível, não importava, pois não havia um significado incorreto.

    — A bruxa que traiu seu pai e logo foi traída por seu marido, terminando por matar o próprio filho e concretizar sua vingança.

    Jedair tinha a expressão de quem ouvia algo inecessário.

    — Não assistirá ao banquete de hoje?

    — É o último dia, de qualquer forma. Que sentido teria ir ali.

    O baile imperial terminava hoje.

    — Melhor dito, o que acha deste homem?

    Cayena apontava para Valdemar e Jedair se deu conta de que ela o olhava como se fosse um doutor clandestino.

    — Se for um médico clandestino, sempre haverá falta. Então não há melhor modo de fazê-lo, mas por que o faria?

    — É algo natural para as pessoas que passaram por momentos difíceis e tem de ocultar sua identidade para viver, então usarão máscaras para se misturar aos demais. Ainda que possa estar errada.

    Jedair pensou que a Princesa era realmente assustadora, sua forma de pensar dava mais medo que a magia. 

    Se fosse um aliado, seria tranquilizador, mas e se fosse um inimigo? Se fosse assim, a melhor opção era se render imediatamente. Cayena  recorreu pessoalmente os bairros periféricos e encontrou uma grande árvore em que crianças subiam.

    — Gostaria de colocar um balanço aqui.

    — Se disser aos cavaleiros, todas as árvores  das redondezas terão um balanço.

    — É uma boa ideia.

    Ela disse isso e se afastou.

    Bam!

    Bateu contra uma criança que corria e caiu para trás. Seu capuz caiu e a fina tela translúcida presa a sua orelha também se desprendeu.

    Todos ficaram sem ar ante a presença de uma beleza nunca antes vista em lugar algum. Até mesmo a criança caída a olhou assombrada.

    Quando viram ela cair, os cavaleiros do exército central se surpreenderam e tentaram chama-la.

    — Vossa Alte-

    — Shh.

    Rapidamente se calaram. Para não criar uma confusão, Cayena limpou seu vestido e se levantou, mas Valdemar rapidamente a reconheceu e gritou em seu coração.

    “Ah, é a Princesa, verdade?”

    Cayena falou:

    — Vamos.

     E se girou para ir.

    — Coloque um balanço nesta árvore. — Jedair riu.

    — Farei o que pede.

    ¹ Jedair só diz que viu algo estranho, mas fica meio perdido.

    ² Resolvi trocar a parte do corpo, pois braço ficaria sem sentido com a parte que ele diz que precisa abrir sua barriga.

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