Índice de Capítulo

    Cayena tirou o elixir de seu bolso e o deixou sobre a mesa de cabeceira, mas não o deu diretamente ao Imperador e se sentou em uma cadeira junto a ele. Era como estar ao lado de alguém que dormia. Ela passou o dedo pela boca da garrafa e sorriu.

    — Pai.

    Enquanto olhava seu pai doente, disse o que queria: — Por que fez isso?

    Era uma pergunta tranquila, nem apaixonada, nem escura.

    — Sabe o que fez?

    Cayena reuniu toda a informação, olhando para o passado pelo diário de sua mãe.

    Rezef nasceu da relação entre sua mãe e Leo Kedrey e fora descoberto pelo Imperador Esteban, que a matou dando-o algo com nozes, sua alergia. Logo, exilou Rezef, produto da infidelidade. Entretanto, dado que eram sangue da Imperatriz, era óbvio que tampouco quisera ver seu rosto. Cayena deve ter sido ignorada pela mesma razão.

    — De alguma forma, não teve uma boa relação com o Duque Kedrey,

    Algo estranho começou a encaixar. Quando voltou ali, fez algo que satisfez o Imperador e rapidamente aliviou sua mente de criança.

    Em comparação, Rezef foi constantemente posto a prova. Antes de saber a verdade, pensara que era algo típico de um governante que mantém seu filho sob controle.

    — Por que o fez? Sequer pôde odiar Rezef comodamente?

    Cayena não era alguém carinhosa por natureza, sua gentileza provinha da aprendizagem de sua vida anterior. Mas isso não significava que não pudesse sentir as emoções do mesmo quando ela nascera: nunca havia sentido uma ira, fraqueza e culpa tão intensas.

    — O garoto já não pode ser perdoado.

    Está apontando isso? O Imperador seguiu sem dizer nada. Cayena distorceu o rosto enquanto o olhava.

    — Então, por que o criou e não o matou?

    Rezef não era seu filho, mas segue sendo seu irmão mais novo. Curiosamente, o garoto agora também era irmão de Raphael.

    — O que devo fazer com Rezef?

    Agora só restara trabalho para terminar. Ela teve êxito no trono por um tempo, recuperou a situação, deu a coroa a Ethel e viveu o resto de sua vida.

    Mas…

    — Preferiria fugir.

    Seja fugir por falhar, se fosse sequestrada por Henberton Gillian e vivesse igual, morresse ou ser usada por Yester e morresse, simplesmente morreria. Estava colapsando e alegre. Um riso foi audível.

    O Imperador Esteban estava satisfeito mesmo quando morresse. Veria a caída de Rezef. Cayena olhou o Imperador, que já tinha os olhos apagados.

    — Realmente devo ser uma vilã.

    Não tinha intenção alguma de salvar o Imperador, então esperou que morresse. O elixir cura todas as feridas e doenças quando usado em vivos, mas se o usa em alguém recém morto, lhe dará vida para que possa viver um pouco mais, apenas na mesma condição em que estava a ponto de morrer.¹ Ela verteu o elixir nos lábios do Imperador já morto.

    — Agora tem que entregar o Império.

    Ela não disse onde iria se dirigir a coroa que foi tirada do Imperador Esteban. Havia algo que ainda não pôde resolver para decidir isso. E se tivesse um pouco de compaixão em seu coração para perdoa-lo?

    Ela pensou que ainda era um Príncipe tonto. O grande poder o levou a vitória, mas em assuntos pessoais, se sentia completamente derrotado.

    Se levantou de seu assento após ver o Imperador respirar selvagemente.

    Bam!

    A porta do dormitório se abriu e Cayena disse:

    — Sua Majestade vive!

    Os serventes se agitaram com tal frase. O Imperador não está morto! Todos a olharam com caras assustadas e ela ordenou friamente:

    — Castiguem todos que se atreveram a forjar a morte do mesmo e me incriminar!

    O comandante Zed, que a havia seguido como seu assistente, gritou em voz alta:

    — Todos à prisão!

    Com a notícia de que o Imperador havia morrido, buscaram o Palácio e se confundiram quando houve tal evento alarmante.

    — Reúnam todos os nobres maiores como presidentes de assembleia.

    Cayena fazia uma reunião de emergência, comparando o desenho da colher de prata que havia sido consagrada no templo no salão de convenções e a colher de prata falsa que matou o Imperador.

    — Essa é a diferença do desenho!

    Se houvesse algum problema com a colher de prata consagrada no templo, os sacerdotes se irritariam e comparariam seu desenho com o da colher falsa.

    — Deveria ter uma gravação na parte detrás da joia, mas não há rastro algum nesta colher de prata!

    O subordinado de Rezef não entendeu o fato de que as letras foram gravadas na parte interior das joias da colher de prata que Cayena havia pedido e a situação se tornou ainda mais grave quando foi revelada a situação de que alguém tentou incriminar a Princesa.

    As serventes diretas que haviam sido presas em seus respectivos dormitórios foram soltos e visitaram Cayena. Ela lhes disse:

    — Todos que sabiam da falsificação dessa colher de prata, Julia, é o momento de derrubar o Marquês Rodrick.

    — Sim, Vossa Alteza!

    — Vera e Susan, ajudem a Julia.

    — Faremos o que indica.

    As engrenagens dos planos de Cayena se moveram com força e se encaixaram sem nenhum desvio, mas a própria Cayena não entendia o motivo delas se moverem. Acabava de implementar seu plano, como uma marionete controlada por alguém.

    Olivia se aproximou.

    — Duque Kedrey está aqui.

    Cayena, que era como uma boia sendo levada pelas ondas, viu um homem se aproximar dela. Ele visitou o Palácio como se houvesse lido sua mente, ainda que não tivesse em contato como um forte aliado, Cayena fracamente pronunciou o nome:

    — Raphael…

    O rosto de Raphael se distorceu dolorosamente no momento que viu a expressão dela. Era a primeira vez que a via parecer tão completamente perdida. Ele se aproximou dela e a abraçou, sem prestar atenção em seu entorno. Havia algo que sempre quis dizer a Cayena, Raphael finalmente pronunciou:

    — Fuja daqui.

    — …

    — A esconderei, me encargarei daqui e arrumarei tudo isso… Fuja daqui.

    Parecia que alguma parte de seu coração tinha se quebrado e dizia que jogasse tudo e fugisse, parecia assustador. Todo mundo diz que a vingança é passageira, e fazia sentido. Depois da vingança, Cayena se tornará Imperatriz, mas o mais importante, a satisfação emocional, já haveria ocorrido.

    — O que vai fazer?

    — Estou bem.

    A mão de Cayena lhe deu tapinhas nas costas.

    — Eu também estou bem, não se preocupe demais.

    Entretanto, Raphael pensava que ela não estava em boas condições. Estava nervoso ao pensar que não havia muito tempo para ela. Em comparação a mesma, a batalha pelo trono não lhe era tão importante. Foi assim que ele se derrubou e tentou levar adiante tudo que ocorria aqui.

    — Alteza.

    Zed, comandante de armas, olhou seriamente e se aproximou a eles com a cabeça inclinada.

    — Confinei o Principe Rezef em seu dormitório.

    Fora ele quem clamou que o envenenamento fora obra de Cayena e, com os resultados anulados, era natural questioná-lo.

    — Não é algo que deva ser questionado.

    O envenenamento não era algo importante, pois havia algo mais que interrogar Rezef de acordo com o informe do gerente. Cayena assentiu.

    — O interrogarei eu mesma.

    — Lhe acompanharei.

    Raphael estava bastante ansioso por Cayena estar deprimida e pálida. Ela apertou sua mão com força.

    — Está bem….Isso também é algo que irmãos devem conversar.

    Não queria metê-lo em uma história familiar confusa, mesmo que seja metade de um participante que participa da mesma… Era algo que não deveria enfrentar.

    Além disso, Cayena não tinha intenção de revelar as origens de Rezef, contrária a ideia do chefe Laden. Todas as circunstâncias estavam a seu favor. Para que não tivesse de causar tal confusão, o que era uma declaração estúpida, chegou a sua última simpatia com Rezef.

    — Voltarei logo.

    Os dois cavaleiros que estavam parados próximos a atmosfera incomum sussurravam. Cayena se dirigiu ao Palácio, com Olivia a seguindo. Olivia perguntou:

    — Irá destronar Sua Alteza?

    — Isso não será suficiente.

    Se ela o desejasse, ele poderia ser executado de imediato. Olivia olhou seu perfil, sentindo profunda angústia ou agonia, diferentemente de Cayena.

    — Me disse que é uma relação que deve ser rompida.

    Cayena havia o dito a ela. Sim, até então, não podia imaginar nenhuma dessas histórias secretas. Não tinha nenhum desejo de perdoar Rezef, entretanto, uma esquina de seu coração dizia que ele ainda era seu irmão mais novo de todas as formas e também uma vítima.

    Um leve suspiro surgiu, estava tonta.

    Ela se agarrou à razão pela qual falhara. Poderia ser uma estupidez, poderia ser em vão, mas era certo que Rezef lamentava sequer dar tal oportunidade.

    A porta do dormitório custodiada por cavaleiros se abriu e, no interior, Rezef olhava Cayena, recebendo a luz do sol proveniente da janela. Ele disse:

    — Não o fiz.

    Seus olhos azuis, pouco mais escuros e pigmentados que os de Cayena, rodaram como se logo surgissem lágrimas.

    — Pode falar com o Marquês Evans, ele o fez.

    Parecia ter feito um plano de respaldo em preparação a uma situação desconhecida. Cayena o escutou em silêncio, com ele passo a passo se aproximando dela.

    — Há evidências de que o Marquês Evans te abandonou para tentar se aliar ao Grão Duque Heinrich. Lembra do cortesão anteriormente usado pela Marquesa Dottie?

    — Emil Habron…

    — Assim é. Foram as três peças do Grão Duque. Desde a competição de caça, temos feito parte do jogo com as obras mestras de Yester.

    Estendeu o braço vendado, que havia machucado na competição.

    — Fui estúpido, lamento seguir as pessoas malvadas que sussurravam a mim. Sendo assim, Sra. Elivan… Por isso não posso.

    Era tão fofo e patético que seu coração se surpreendeu quando viu a tristeza em seu rosto natural, amável e gentil. Se saísse uma palavra de culpa em direção a ele, a pessoa que o culpava teria dúvidas e se tornaria o vilão.

    — Olivia, pode sair um momento?

    Cayena disse a ela, que estava atrás de si. Olivia alternou o olhar entre ambos e saiu em silêncio. A porta do dormitório se fechou, deixando apenas Rezef e Cayena.

    — Sejamos honestos.

    — Do que fala, irmã?

    — Rezef, perdeste.

    O olhar de Rezef mudou.

    — Irmã, não tens a intenção de me perdoar…

    — Rezef.

    — Realmente não necessito tudo. Já não me interessa ser Imperador, só precisa   ficar comigo.

    Esse era o mais próximo da verdade que ele jamais dissera.

    — De verdade pensa isso?

    Rezef se aproximou dela, se ajoelhou, tomou seus dedos entre suas mãos e a beijou cuidadosa e educadamente.

    — Sim, Vossa Majestade.

    Parecia completamente submisso. Entretanto, aos olhos de Cayena eram possíveis ver pistas de que não era a verdade. Ela também se ajoelhou em frente a ele e o olhou, fazendo-o estremecer. Então, como se vomitasse algo quente que suportara até então, disse:

    — Rezef, meu irmão.

    — …

    Como se sentisse algo, Rezef calou seus lábios sussurrantes.

    — Como chegamos a ser assim?

    Desde o dia em que acordou após ter bebido veneno, ela nunca tinha derramado uma lágrima em sua vida. As lágrimas só se derramavam em casos fisiológicos inevitáveis ou quando necessário atuar. Além disso, seus olhos eram tão secos que nunca chorou. Pela primeira vez desde seu renascimento, ela e Rezef começaram a chorar por serem pobres.²

    Os olhos dele tremeram, secando as lágrimas da bochecha dela.

    — Não chore, irmã. Está tudo bem, tudo bem.

    Sua voz era suave e calma. Ele abraçou os ombros de sua irmã e a fez inclinar em seus braços. Repentinamente, abraçou-a pela cintura e a ergueu, voltando-a em direção a porta do dormitório.

    — Eh! Alteza…

    Jamil agarrou Olivia e apertou a lâmina com força pelo seu pescoço. O sangue fluindo de sua garganta. Outros assistentes ocultos também apontaram com suas armas em direção a Cayena. Estava destinado a ser assim desde o princípio, Rezef pensou que ela havia caído em sua armadilha por conta própria.

    — Minha sábia e bonita irmã, tudo que tem de fazer é tomar uma boa decisão agora.

    Ele a abraçou e sussurrou em seu ouvido: — Me ocorreu um cenário para cobrir todos esses casos em outros lugares, então apenas precisa igualar o ritmo com um coração que me odeia tanto.

    — …

    — Porque decidi perdoá-la.

    Já tinha uma pistola em mãos, que tocava sua cabeça.

    — Ou me converterei em um protagonista de uma triste história de que estranhos invadiram e atacaram a família real.

    Cayena começou a rir com o rosto choroso, querendo rir a gargalhadas de dobrar as costas, mas era impossível dado que estava presa a Rezef, então parou de rir,

    — É apenas você, Rezef.

    Ainda que tivesse uma estreita conexão entre a triste história secreta e o Imperador tirano, também eram assuntos diferentes. Era um bobo sem paz, esse era Rezef.

    — Vamos!

    Ele gritou.

    — Não o pense, mas sim me peça perdão, assim terá de viver como minha irmã.

    — Acha que tudo que ocorreu nesse concurso de caça foi somente para Yester?

    — O quê…?

    A arma em suas mãos e seus assistentes desapareceram, aterrorizando com as palavras que ela acabara de falar.

    Bang! Bang!

    — Puaj.

    Outros, incluído Jamil, caíram ao chão por serem distraídos por uma forte comoção. Cayena escapou dos braços de Rezef movendo o espaço, deixando-o com um rosto de quem não entendia o que passava.

    Estava muito assustado.

    Assim, Cayena se aproximou de Olivia, que se surpreendeu e utilizou um lenço para parar seu sangramento.

    — Temo que haverá uma situação em que deva perdoa-lo, então está tão assustado, Rezef.

    Tirou uma gota do elixir e a entregou, dizendo:

    — A ferida desaparecerá.

    Olivia a segurou com cuidado e a bebeu, sentindo realmente o desaparecimento da dor de sua garganta. Rezef olhou a cena com uma expressão desacreditada.

    — Pensou que ficaria quieta, sabendo que matou minha babá? Tinha vontade de tomar o que mais queria.

    Falava como se estivesse entediada. 

    — Então obtive o poder da magia. Não era meu trabalho obter o trono. De fato, logo colocarão uma coroa em minha cabeça.

    A pistola das mãos de Rezef estava nas suas agora, sendo segurada fortemente.

    Clic

    A trava de segurança estava solta. Ela ergueu a arma e murmurou, olhando seu rosto.

    — Mas o que queria era a mim.

    — Irmã.

    — Não se mova.

    Enquanto ele tentava dar um passo, ela apontou em sua direção com a arma. Enquanto estava de pé, ela adotou um suave sorriso como as que anteriormente tinha.

    — Foi um bom garoto.

    Ela convocou o diário de sua mãe, que caiu ao chão. Olivia o ergueu e, como se tivesse uma intuição, ela falou:

    — Eu…

    Antes que pudesse seguir falando, Cayena a moveu para um local seguro. A porta do dormitório se abriu por si mesma e um zumbido era audível do exterior. Entretanto, nada era audível para Rezef, que apenas olhava Cayena com olhos arregalados. Suas ações eram estranhas, como alguém que pretendesse desaparecer assim.

    — Irmã, não seja boba.

    — Foi tão ruim que todas as engrenagens tiveram permissão para rodar sem mim.

    Cayena era uma pessoa que apenas tinha de ativa-las, com tudo desenhado para que os resultados que planejara acontecessem de forma natural.

    — Do que está falando?

    Rezef perguntou com amargura, ela se negou a responder e lançou a arma de Rezef ao chão. Ao ver sua ação, Rezef correu em sua direção.

    — Irmã!

    Sua mão a agarrou e puxou, não deixando que ela fosse a nenhum lugar. Cayena deu um adeus final enquanto ele a segurava:

    — Adeus, Rezef.

    E desapareceu como uma miragem.

    ¹ Nesse trecho, se refere a que o elixir não cura completamente a pessoa que morreu, mas a deixa no estado anterior a sua morte. Logo, o imperador apenas voltou ao estado agonizante em que anteriormente estava.

    Ajude-me a comprar os caps - Soy pobre

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota