Capítulo 141
Cena 27. Retorno.
Rezef estava preso em uma habitação do Palácio e, fora da mesma, os cavaleiros se prostraram como postes e o olhavam. No passado, vira sangue que surgiu ao dizer ser presunçoso com a espada.
Mas ele não fez nada, estava indefeso. O sangue que fervia por um momento se tranquilizou após matar o Imperador e seu pai biológico, Leo. Um terrível sentimento vazio então se apoderou.
Que dia era hoje e quando desaparecera sua irmã? Sua memória estava confusa, então não podia pensar em nada. A textura do vestido em suas mãos, os olhos empapados em lágrimas que eram tão claros como o que acabara de ocorrer. Para onde foi Cayena?
A mansão de Raphael foi a primeira em ser investigada, mas não encontraram nada. Ou talvez, as três peças que foram plantadas não funcionavam. A informação era insignificante, já que o Imperador o privou do poder militar antes que pudesse descobrir mais.
Depois que Cayena desapareceu, se arrependeu a princípio.
“Por que nos tornamos assim?”
O que ela havia dito ficará em seu coração e, desde então, acorda toda a noite com uma culpa terrível, despertando com um pesadelo espantoso como a última luz de uma vela. Seu coração se enrijeceu e sua mente estava esgotada, fazendo com que a ira aumentasse.
“Tinhas de partir tão cruelmente?”
Ele nunca tinha cedido e nem considerado sua irmã desde o seu nascimento. Fingindo sempre ceder e escutar tudo que queria, ela no fim fez o que quis.
Em troca, poderia dar-lhe um vestido e joias, dar festas e lhe permitir brincar e comer tudo que quisesse, pois ela não tinha nada que fazer de qualquer forma.
“Por isso a fiz mais útil.”
Então Cayena disse de repente: — Deixe de pensar como se fossemos ferramentas.
“O que diabos não gostava?”
Quando enfrentava uma crise, Rezef rapidamente descobrira como superá-la. Mas agora não entendia e nem sabia nada, se tornando louco por dizer que não o gostava, mesmo que fizesse tudo por ela. Odiava pensar sobre o tema, então apenas se irritou. Estava acostumado a culpar Cayena, ela era a culpada sempre e ele a vítima.
Isso pensou, deixando o ressentimento. No fim, fez tudo errado e não deveria ser assim, já que não havia necessidade de fazer concessões e não havia razão para ser considerado. Pensou que pudesse fazer isso.
Pensou que seguiria perdoando-o, certamente acreditou que estaria a seu lado. Rezef levou a mão aos olhos e murmurou:
— Me equivoquei…
Estava equivocado, por favor, perdoe-o. Repetia as mesmas palavras, mas ninguém o escutava.
Já era tarde, queria fazer as pazes, mas não havia como voltar ao passado. Cayena se foi e provavelmente não voltará. Rezef se deu conta de que estava completamente preso em sua habitação.
Toc, toc.
Nesse momento, alguém bateu na porta e dela veio o sumo sacerdote Mieln.
Ele o olhava com ganância, fingindo ser compassivo, dizendo seu título:
— Vossa Alteza, se arrependeu?
Mesmo ante suas palavras, Rezef apenas olhava para o teto, como se tratasse Mieln como algo invisível. Mieln não se ofendeu, melhor dito, estava de bom humor.
A Princesa, que recebeu forte apoio do povo, desapareceu. Quando Rezef matou seu pai, a opinião pública não só de legitimidade, mas de simpatia, foram claras. Além disso, Yester enfrenta um julgamento divino.
“O Imperador também acaba de morrer.”
Enquanto isso, o templo ao se preparar para o julgamento tinha a maior autoridade que pôde. Mieln considerou isso uma oportunidade, já que era um sacerdote corrupto.
Desfrutou uma vida generosa ao receber enormes subornos do Marquês Evans e do Grão Duque Heinrich. Mas, devido uma série de ocorridos na capital, o Marquês Rodrick e Yester perderam poder ao mesmo tempo. Sua rota monetária foi desfeita e dessa vez tentava se aproximar de Rezef, que tinha vários pontos fracos e o tornaria um governante espantalho.
“É uma grande oportunidade para mim poder dominar o Império.”
Mieln se aproximou de Rezef.
— Em realidade, tenho uma longa sugestão para Vossa Alteza.
Acrescentou em um sussurro.
— …
— É sobre a sucessão do trono.
Mesmo depois de dizer isso, Rezef seguia sem olhá-lo. Mieln entendeu que o mesmo estava muito irritado com a situação.
— Dado que a Princesa desapareceu e Sua Majestade também faleceu, por que não estabelecer o próximo Imperador e estabilizar o Império?
Entretanto, Cathrin ainda estava na fila para se tornar Imperatriz e Ethel ainda não se tornou oficialmente Príncipe, sendo Rezef o único sucessor ao trono, apenas tendo de deter a Princesa. Mieln lamentou pela ganancia em seus olhos.
— Não é possível que uma pessoa preciosa fique presa em um local afastado como esse? Posso arrumar os desagradáveis rumores do mundo, apenas…
Os rumores do mundo social só podem ser detidos pelo poder do templo, mas em troca, Rezef tinha algo a fazer.
— Por favor, aceite ser testemunha dos fatos que Sir. Yester argumentar no santo julgamento de amanhã.
Só então a cabeça de Rezef se dirigiu a ele. O que Yester dizia, era que Cayena era uma maga. Rezef também a viu usar magia em frente a ele, desaparecendo sem deixar rastros. O sumo sacerdote falou astutamente:
— Não é fácil? Só tens de dizer que a Princesa é um demônio. Com apenas uma palavra, Vossa Alteza pode ser o amo do Império.
— …
Rezef se inclinou, arrumando o olhar e se levantando do assento. Diferente de antes, mostrava uma expressão lúcida, dizendo ao sumo sacerdote:
— Estarei no julgamento divino.
Um sorriso de triunfo surgiu da boca de Mieln.
O santo julgamento foi celebrado no templo. De qualquer forma, o juizado contra nobres era como jogar cartas. Era um julgamento no qual o culpado e inocente já haviam sido decididos. Dado que Yester era um perdedor na luta pela coroa, foi condenado e era esperada sua execução.
Os nobres, que diziam estar na corte, estiveram ali como jurados. Entre eles, estava Julia, recém convertida na proprietária da família Evans. Julia cumprimentou primeiro a Raphael, educadamente.
— Saúdo o Duque Kedrey.
— Saúdo a Marquesa Evans.
Raphael se aproximou.
— A acompanharei até a sala do tribunal.
A sucessão de Julia como Marquesa foi, de fato, mais descuidada para se adaptar a sua força. Portanto, era uma na qual os parentes consanguíneos podiam questionar suas habilidades pessoais e tentar utilizá-las. Raphael queria demonstrar uma relação estreita com ela e, certamente, Julia estava emocionada pelo fato de que o homem mais bonito do Império a acompanhasse.
— Oh, obrigada Duque…
Nestes dias, somente lidara com homens feios, velhos e resmungões dia e noite, seus olhos estavam cansados.
— Está pronta, verdade?
Os bons sentimentos se foram voando com suas palavras e uma sensação de tensão a envolveu.
— Por suposto…
Ela assumiu o papel de derrubar o sumo sacerdote Mieln no santo julgamento de hoje. Pretendiam dar entradas aos nobres que assistiam como jurados.
Logo, o local de júri estava cheio e Raphael olhou para cima para ver o sumo sacerdote sentado na posição mais alta.
“Escolheu apoiar Rezef? De verdade ele estava disposto a dizer que sua irmã era um demônio e ficar com a coroa?”
Nesse momento, parecia haver um pouco de alvoroço, a porta se abriu e Yester apareceu. Ele foi preso e guiado por um paladino a se sentar em meio ao local, uma prova que começou com o estigma de ser completamente pecador.
— Sir. Yester Heinrich. É correto que tratou com o diabo e guiou monstros com uma magia especial?
— …
Com a pergunta, Yester não respondeu, com a cabeça inclinada. De qualquer forma, não era necessária resposta. O sumo sacerdote prosseguiu.
— De quem é o poder que fez com que os terrenos de caça afundassem repentinamente?
Então, os olhos de Yester pareciam arregalados em pura loucura.
— Cayena! Peguem esse demônio agora mesmo! Agora mesmo!
O júri tremeu de assombro diante do grito frenético e ele seguiu gritando, como se fosse sair correndo a qualquer momento e tratasse de fazer algo.
— Ela é o diabo! O vi com meus próprios olhos! O vi claramente!
— Hmm, silêncio…
O sumo sacerdote fez um gesto sutil, sem intenção de pará-lo. Yester se girou ao júri, com uma venda no pescoço, e disse:
— Vocês, que sequer puderam fazer nada, esqueceram do ocorrido na competição de caça? Não sabem que a Princesa pode surgir aqui e destruir e amassar tudo?
As expressões de todos se tornaram incômodas com essas severas palavras.
Tac! Tac!
O sumo sacerdote golpeou a mesa pedindo silêncio.
— Não posso ignorar completamente as palavras do Grão Duque, então trouxe uma testemunha do ocorrido momento.
Quando fez um sinal, a porta do outro lado que aparecera Yester se abriu e dali saiu Rezef.
— Testemunha Rezef Hill, jura por deus que dirá a verdade sem mentir.
Terminado seu juramento, parou no estrado de testemunhas. O sumo sacerdote, com um rosto cheio de antecipação, falou:
— Vossa Alteza, o Príncipe, dirá, como Lorde Heinrich, que Sua Alteza é realmente uma feiticeira?
Os olhos de todos se dirigiram a Rezef.
— Minha irmã…
Toda a intuição era de que, com suas palavras, a situação se reverteria. Julia mordeu os lábios com força e recolheu os papéis que Raphael lhe entregara sobre a corrupção de Mieln. Pouco depois de um momento de silêncio, Rezef voltou a falar:
— A Princesa Cayena Hill não é uma feiticeira.
Suas palavras sacudiram a audiência e Mieln deu um pulo de seu assento.
“É diferente ao prometido!”
Recordando a conversa anterior, resultava que o Príncipe apenas assistiria como testemunha e deveria dizer que a Princesa Cayena é uma feiticeira.
“Essa criança estúpida que é o Príncipe sequer pode diferenciar o céu e terra!”
Seus dentes rangiam. O que diabos ele estava obtendo disto? Não era pisar o Imperador com seus próprios pés? Não pensou que estava falando isso apenas para proteger Cayena, porque sabia bem como o mesmo a tratara.
“Está desesperado sem saber o rumo que avançará?”
As coisas iam mal.
— Está falando bobagens, Príncipe Rezef!
Yester, tremendo de ira, agarrou Rezef e grunhiu como se o fosse golpear. De fato, a pessoa que estava mais ressentida por suas palavras nesse momento, em lugar de ser o sumo sacerdote, era Yester. O olhar de Rezef se dirigiu a ele com indiferença, como se dissesse — O que faço? — .
— A Princesa é uma maga! Desapareceu de seu dormitório com o poder da magia e se atreve a mentir?!
— Minha irmã desapareceu por ser levada por estranhos que apareceram de repente. Provavelmente enviados de Sua Majestade, o Imperador…
Rezef mentia sem mudar um músculo. O sumo sacerdote Mieln, que pensou ser impossível fazer tal coisa, golpeou a bíblia e chamou a atenção.
Bam! Bam!
— Todos! Silêncio!
Logo, olhando através de Rezef, disse:
— Testemunha, Príncipe Rezef, realmente jura por deus que não há mentiras nas palavras de Vossa Alteza?
Então Rezef, sem se preocupar pelas ameaças, disse:
— Não acabo de jurar?
— Isso…
Mieln estava à borda da ira e loucura, mas não podia deixar-se levar agora, por sentir que se afastaria. Yester gritou:
— Príncipe, não me disseste que Medea, do mercado negro, era a Princesa?
No fim do dia, o interior do mercado foi novamente sacudido, por também conhecerem Madame Medea da Casa Escura.
— A Princesa desapareceu e também o fez Medea, a vi destruir minha mansão e lutar contra magos!
Então Raphael levantou a mão, seu rosto inexpressivo, mas com ira oculta. O sacerdote de alto rango suava pela situação e lhe deu vez a Raphael.
— Fez um plano em contra de Sua Alteza, Yester.
A cabeça do homem se girou a ele.
— Tenho provas de que a pólvora na mansão Zodiac e a no seu armazém são as mesmas.
— Isso…
A incredulidade apareceu nos olhares do povo, a opinião pública parecia a ponto de cair. O sumo sacerdote intuiu que todos os seus planos seriam distorcidos se prosseguia e nesse momento, deveria golpear um jogador.
— Não há outro problema!
Ao ouvir seu grito, os olhos voltaram a ele. Mieln, com uma voz pretendida como solene, disse:
— O santo julgamento de hoje se fechará aqui e ocorrerá novamente uma próxima vez.
Seguindo suas instruções, os paladinos levaram Yester arrastado. Rezef também era um criminoso, portanto foi levado para fora sob vigilância. A situação parecia melhor, então, quando se preparavam para sair, Julia se ergueu de seu assento.
— O julgamento não deve terminar assim.
— …?
Saiu do júri e deu um passo adiante em vergonha. Em sua mão, um monte de documentos que organizara durante a noite.
“Como o faria a Princesa Cayena.”
Julia pensou, fechando e abrindo lentamente os olhos. Se fosse Cayena, com que tipo de voz captaria a atenção do povo e como os persuadiria? Uma voz desconhecida, tranquila e firme fluiu, como se de outra pessoa.
— Estou solicitando um novo julgamento.
Se aproximou da mesa onde os sacerdotes se sentavam em fila e distribuiu os papeis, distribuindo também ao júri.
— Não é suficiente que tenha malgasto grandes sumas de dinheiro durante a última década, então peço a prisão do sumo sacerdote Mieln e dos chefes do templo que constantemente receberam solicitações fraudulentas e subornos de várias famílias em templos que deveriam ser intactos de assuntos políticos.
— É ridículo!
O sumo sacerdote leu rapidamente os documentos que detalhavam o que havia feito no templo e refutou:
— De onde tira a incriminação, Marquesa Evans?
— Ainda que seja vergonhoso, — Julia enfrentou seu olhar cético, — a família Evans subornou constantemente o sumo sacerdote e chefe do templo, realizando vários pedidos. Os livros de contabilidade e os funcionários em que Rodrick e Zenon subornaram para doações já estão seguros na família.
Os sacerdotes e líderes que não sabiam que sairiam do trabalho que seria um golpe direto para a própria família prestaram atenção.
— Acham que deixarei passar tal vergonha?!
De qualquer forma, o oponente é apenas uma Marquesa fraca e de família recente, com uma base de apoio arriscada. A posição de Evans não é a mesma que fora devido a Rodrick e Zenon. O sumo sacerdote ordenou:
— Paladinos! Protejam o templo agora mesmo!
Os mesmos, envergonhados pela situação inesperada, se moveram rapidamente com suas ordens, bloqueando Julia em frente a ele. Julia estremeceu com a presença de tais homens armados próximos.
Entretanto, foi Raphael quem planejara tudo e, não era o Duque Kedrey quem tinha o exército mais poderoso do Império? Raphael fez um sinal e Baston, ao vê-lo, abriu a porta do templo.
— Cavaleiros de Kedrey, defendam o Império!
— Aceitamos as ordens!
Os cavaleiros que esperavam no exterior entraram na corte e seguraram os paladinos e outros sacerdotes. O sumo sacerdote arregalou os olhos e gritou:
— Duque Kedrey!
Se não fosse para liderar uma guerra contra o templo, esse ato seria bastante arriscado. Mas Raphael não tinha o mais mínimo medo.
— Por favor, aceite o julgamento, sumo sacerdote Mieln. Acho que pode armar uma confusão após ocultar a verdade.
Raphael deu um passo adiante e colocou Julia atrás de si. Olhava com desprezo aos paladinos que sequer estavam envergonhado e tentou ameaçá-los imediatamente como o faziam com mulheres:
— Tentar desfazer a situação pela força sem pretender ver um documento que demonstre com exatidão as provas, não é suficientemente suspeito?
— Isso não é nada! Está tentando perseguir o templo que adora aos deuses, não é? Julia Evans deve ter feito algo como isso com um significado a mais!
— Em minha opinião, parece uma valente guerreira que tenta fazer realidade a justiça, mesmo com o risco de sofrer golpes de sua família.
O sumo sacerdote queria gritar que só se tratava de servos. O Marquês Evans e o Grão Duque Heinrich foram as únicas famílias que cometeram corrupção. Imediatamente olhou ao redor em busca de um nobre que simpatizasse com ele.
Entretanto, a composição do júri era estranha, os nobres comumente vistos não estavam ali. Só então sua coluna esfriou e suou frio, entendendo claramente. Era um roteiro escrito desde o princípio, o júri impediu que os nobres ao lado do duque participassem.
Raphael também olhou uma vez ao redor e disse:
— Está pronto para falar agora?
Parecia um juiz pronto para dar uma sentença de morte.
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