Capítulo 16

— Uma queimadura?

Antes que Vera pudesse dizer qualquer outra coisa, um médico entrou em busca de uma audiência com Rezef.

Foi o mesmo médico que tratou das feridas de Cayena.

Ele estremeceu ao entrar, sentindo o estranho clima no ar.

— Vim relatar sobre os ferimentos de Sua Alteza.

Os olhos azuis frios de Rezef focaram no médico.

O médico sentiu um suor frio escorrendo pelas costas.

O olhar de Rezef era o que ele dava quando não estava de bom humor.

— Uma torta não resfriada tocou seu braço esquerdo, mas a queimadura real é mais ou menos do tamanho de um punho. Contanto que ela aplique pomada nos próximos dias, ela não terá uma cicatriz.

— Isso é.

Como o médico não conseguiu responder, Vera abriu a boca.

— Uma senhora da corte, Lydia Benzeman, deixou cair o prato de torta. Tocou seu braço e caiu no chão.

Considerando que ela havia causado danos à família imperial, Cayena estaria em seu direito de pedir a morte de Lydia.

No entanto, seria um desperdício fazer isso, pois a família Benzeman foi muito útil.

Além disso, a família Benzeman era próxima da família Evans, pois era a familia que administrava os armazéns do Império.

— Mas. Sua Alteza a perdoou, disse que ela estava bem.

Zenon tinha uma expressão incrédula no rosto quando Vera disse que a mal-humorada Cayea havia perdoado sua dama de companhia.

Realmente, a recente Princesa Cayena era muito estranha.

De qualquer forma, foi uma sorte. Zenon ficou atrás de Rezef, então ele não podia ver o rosto do príncipe.

— A família Benzeman ainda tem muita utilidade. É uma sorte que o incidente esteja sendo esquecido.

Mas Rezef pensou de forma diferente.

Ele odiava aqueles que não conheciam seu lugar. Isso o lembrou do arquiduque Heinrich.

Rezef se levantou e disse friamente: 

— Estou indo para o palácio de Cayena.

Para chegar ao palácio da princesa vindo do palácio do príncipe, era necessário percorrer um longo caminho por um corredor entre eles.

Rezef percorreu essa longa distância com suas pernas longas e uma capa esvoaçando atrás de si.

Ele não estava correndo, mas era uma caminhada muito rápida.

Seus assessores e Vera correram para segui-lo bem atrás dele.

Rezef encontrou o quarto onde as damas de companhia de Cayena estavam descansando e abriu a porta com sua própria mão.

— Sua Alteza! Eu farei! — Um de seus auxiliares, que conseguiu acompanhar seus passos, assustou se e tentou dissuadi-lo.

Rezef não respondeu, apenas abrindo a sala que era a segunda melhor do palácio depois da de Cayena.

As senhoras que estavam descansando levantaram se surpresas.

— Sua, Alteza?

Seus olhos viram o interior excessivamente colorido e os refrescos e o chá na mesa que pareciam estar além de suas possibilidades.

O queimador de incenso exalava um cheiro caro, originalmente usado por Cayena.

Era uma fragrância sofisticada importada apenas em pequenas quantidades para o Império. O cheiro era único, então Rezef o conhecia bem.

Uma mera dama da corte jamais poderia usar tal fragrância.

Elas estavam desfrutando de luxos que não poderiam desfrutar como damas de companhia.

Isso não era algo que Rezef havia permitido.

As damas de companhia ajeitaram apressadamente seus trajes e baixaram a cabeça. 

— Saudamos Sua Alteza Imperial.

Rezef não disse a elas para levantarem a cabeça. Em vez disso, ele se sentou em uma vitrine perto dele. Seus olhos percorreram as criadas.

Vera e seus ajudantes tentaram entrar na sala, mas seus pés pararam com o estranho silêncio.

— Acho que uma pessoa pode fazer julgamentos tolos, — ele começou a dizer. 

— Acho que uma pessoa também pode cometer erros.

As damas da corte trocaram olhares, sem saber do que ele estava falando.

— No entanto, detesto aqueles que não sabem o seu lugar.

Só então as damas da corte se jogaram no chão.

— Fizemos algo digno de morte, Vossa Alteza! — Com isso, Rezef caiu na gargalhada. 

— Sim! Vocês estão certas.

Seus olhos azuis brilhavam de forma assassina. 

— Você deveria estar morta pelos seus pecados.

Rezef cruzou a sala em grandes passadas e rudemente agarrou uma senhora da corte.

Foi Lydia.

— Eu nunca ouvi falar de um membro da família Imperial sendo queimado por uma empregada doméstica. O que você acha?

Lydia ficou pálida.

— Sua Alteza, por favor, me perdoe! — Em seu medo, ela até começou a chorar.

— Foi um erro, Vossa Alteza! A princesa também disse que está tudo bem, e…! — Mas ela não deveria ter dito isso.

— Ahhhh! — Rezef apertou o braço de Lydia, como se fosse quebrá-lo. 

— Eu tenho que cortar seu braço para você ver a gravidade do seu erro? Quanto devo cortar para você?

Shiiiing.

Ele puxou uma espada de seu lado.

As damas da corte soltaram um grito curto. Alguém não deveria parar com isso? Mas ninguém se apresentou.

— Sua Alteza.

Zenon avançou entre os assessores para dissuadi-lo. Mas testemunhando a expressão de Rezef, ele estalou a língua e recuou.

Nesse estado, Rezef não poderia ser dissuadido por ninguém. Nesse ritmo, não seria surpreendente se isso se tornasse um grande incidente.

— Rezef. — Então, uma voz clara rompeu o ar sinistro.

Cayena veio pessoalmente depois de ouvir o tumulto. Rezef parou sua mão, que estava prestes a balançar a espada.

— Pare com isso.

Com as palavras dela, Rezef afrouxou o controle sobre Lydia, como se ele nunca tivesse a intenção de machucá-la em primeiro lugar. Ele baixou a espada.

Quando Lydia, solta de sua mão, caiu no chão, todos pararam de respirar. Houve um silêncio abafado.

“… o que acabou de acontecer?”

Cayena acalmou Rezef, que estava furioso, com apenas uma palavra!

Cayena passou pelos auxiliares indefesos e entrou na sala. A espada estava apontando para o chão, mas Rezef ainda tinha uma aparência de loucura.

Lydia parecia ter puxado completamente o gatilho de Rezef.

“Saiba seu lugar.”

Foi assim que o imperador Esteban criou Rezef.

Parecia que Rezef, que estava desequilibrado, não entendia exatamente por que estava com tanta raiva.

Cayena se aproximou de Rezef, que ainda segurava sua espada como se quisesse cortar algo.

As pessoas pensaram que aquela figura era assassina. Mas não foi isso que Cayena viu. Ele estava nervoso.

Cayena soube da situação que Rezef havia vivido através do romance. Portanto, embora Rezef fosse considerado um vilão imperdoável, ela podia entender por que ele havia se tornado assim. Se ele não fosse constantemente reconhecido como um príncipe, ele poderia ser dispensado imediatamente. O próprio imperador havia dito isso a ele.

Em vez de desfrutar de sua posição como príncipe, ele foi privado de muitas coisas. Para começar, ele foi privado de uma família.

— Você não tem família. Você só tem identidade e autonomia quando é um príncipe.

Rezef foi completamente jogado fora no lugar mais esplêndido e belo do Império.

— Lembre se de que sempre posso jogar fora a bagagem. Se você não provar seu valor, sua existência será apagada do mundo.

Para ele, conquistar o trono era uma questão direta de sobrevivência. Ele não tinha família e todas as pessoas ao seu redor pertenciam ao Imperador. Eles ignoraram Rezef, um filho ilegítimo.

Então a primeira coisa que ele fez foi purgá-los.

Foi o que aconteceu quando ele tinha apenas oito anos. Era uma parte de seu passado que Cayena não conhecia.

Mas ele ainda era seu irmão mais novo.

Cayena estava diante dele, sentindo algum senso de responsabilidade. Ela pegou a espada da mão de Rezef e a estendeu para Zenon, que estava por perto.

Zenon olhou para ela com olhos perplexos e recebeu a espada dela. As damas de companhia tremiam e ela podia ouvir os soluços sem fôlego de Lydia.

Foi um ato lamentável.

Cayena olhou para Rezef com olhos que pareciam normais, como se nada fosse diferente do normal. Ele precisava de alguém para guiá-lo.

Ela o repreendeu com uma voz severa. 

— E se você se machucar ficando com tanta raiva? Você caçará com frequência quando a temporada social começar.

Rezef gradualmente começou a voltar aos seus sentidos.

As damas e auxiliares da corte, sem saber dessa mudança, simplesmente olharam para Cayena severidade.

“Sua Alteza Imperial estava louca?”

Eles engoliram seco, sentindo a boca ficar seca. Eles estavam com medo do que Rezef, que estava completamente zangado, faria.