Capítulo 17
Cayena voltou-se para os criados, que estavam parados, calados.
Friamente, ela perguntou: — Por que você está apenas parado aí olhando?
Embora ela não tenha levantado a voz, eles ouviram o poder por trás de suas palavras e se ajoelharam.
— Pedimos desculpas, Alteza! — Eles a tinham visto com raiva e tendo ataques antes, mas esta foi a primeira vez que ela os criticou com tanta frieza.
Eles se ajoelharam no chão e pediram perdão. Eles sentiram como se tivessem que fazer isso. Até Rezef ficou lá, parecendo atordoado.
— Limpe a área.
Só então os criados começaram a limpar os quartos. Cayena estalou a língua com a disciplina frouxa.
— Vera.
Cayena olhou significativamente para Vera, como se estivesse dizendo a ela para tirar as outras damas de companhia de lá.
Vera entendeu imediatamente e rapidamente entrou na sala para conduzir as senhoras.
— Se eu soubesse que você faria isso, teria despedido Lydia imediatamente, — disse Cayena. Ela arregaçou a manga e afrouxou a gaze do braço esquerdo, revelando a ferida vermelha. — Ninguém gostaria de entrar no palácio se o punirmos severamente por algo que nem mesmo deixa uma cicatriz.
Rezef segurou cuidadosamente o braço pálido de Cayena e olhou para a queimadura vermelha brilhante.
Não foi tão ruim quanto ele pensava, mas ele ainda estava com raiva. Como essa mulher ousa desafiar a autoridade da família imperial?
— Ferir o corpo da família imperial é lèse-majesté, irmã.1
Ele pensava que se Cayena desejasse, ele iria caçar Lydia e cortar sua garganta.
Mas Cayena apenas lançou lhe um olhar severo. — Foi apenas um acidente.
— Ainda. Deve ser muito doloroso.
Com suas palavras, Cayena riu com desdém. — Se não doesse, não teria deixado uma marca. Mas eu só preciso aplicar a pomada por alguns dias.
Em troca, Rezef persuadiu: — Por que você não a manda para a lavanderia?
Mandar uma nobre protegida para a lavanderia seria um castigo muito severo. E um inferno, mesmo para plebeus.
Cayena franziu as sobrancelhas. — Agradeço sua preocupação, mas você está sendo muito assustador.
Rezef piscou lentamente com o comentário dela, então sorriu como se tivesse desistido.
— Eu assustei você?
— Não nem um pouco.
Rezef riu de sua resposta. Cayena balançou a cabeça.
— Você já se acalmou?
— … sim.
— Vamos tomar um chá quente juntos.
Cayena segurou sua mão e puxou-o levemente.
Era como uma vaga lembrança de infância de quando exploraram o palácio juntos.
Rezef respondeu ao toque suavemente, como uma pena. Levou apenas um momento para ele ser levado por ela.
Ele pode ter tido babás, damas da corte e auxiliares que cuidavam dele, mas era diferente quando era Cayena.
Para começar, ela foi a primeira pessoa a repreendê-lo assim. A sensação de ser repreendido foi bastante estranha.
— Por favor, dê isso para mim.
Rezef pegou a gaze da mão de Cayena e a enrolou com cuidado em seu braço.
Não era incomum se machucar durante o treinamento. Como tal, Rezef se tornou hábil em curar ferimentos.
Cayena o observou enquanto ele cuidadosamente envolvia a gaze sobre sua queimadura.
Ela podia ver que ele tinha se acalmado.
Quando ele se enfurecia, as pessoas ao seu redor ficavam sempre agitadas e puniam seu alvo por perturbá-lo.
Ninguém tentou guiar Rezef para o caminho certo.
Foi por isso que Rezef estava impaciente e facilmente irritado. Era porque ele sempre fazia o que queria, sem receber punição ou oposição.
Depois de receber o reconhecimento do imperador, seu comportamento só piorou.
Não foi difícil para Cayena pensar em como ele devia se sentir solitário.
Ela ergueu o braço livre e começou a acariciar a cabeça de Rezef.
— …
As mãos de Rezef vacilaram por um momento, então continuou a envolver a gaze.
Estranhamente, ele se sentiu como se tivesse sido elogiado.
Ele negociou acordos comerciais com outros reinos para a família Hill e levou a riqueza de nobres poderosos para os cofres do estado. Tudo isso era esperado dele, e não havia ninguém para elogiá-lo.
Então ele não podia acreditar que estava sendo elogiado por simplesmente embrulhar uma bandagem.
Rezef achou ridículo que Cayena estivesse tentando agir como uma irmã. Mas… ele gostou.
— Você está muito ocupado? Acho que seria bom ir ao jardim e beber chá.
Ele sorriu gentilmente, seu coração de repente parecia caridoso.
— Vou fazer o que você diz, Cayena.
Rezef tirou a capa e colocou-a sobre os ombros de Cayena. Ela estava usando apenas um vestido fino.
Cayena envolveu-se na capa e deu um pequeno suspiro.
Se ela tivesse vindo mais tarde, o braço de Lydia realmente teria sido cortado. Não houve misericórdia na crueldade de Rezef.
Ela falou com Annie, a empregada que estava esperando por ela.
— Prepare chá e refrescos na mesa do jardim dos fundos.
— Sim, Vossa Majestade.
Rezef se sentiu despreocupado, como se tivesse esquecido completamente que Lydia o tinha chateado.
Com ternura, ele acompanhou Cayena, colocando a mão em suas costas.
Os guardas e auxiliares recuaram e se separaram, deixando um caminho aberto. Eles pareciam confusos, como se pensassem que tudo o que havia acontecido era apenas um sonho.
Era natural. Foi a primeira vez que testemunharam o efeito que as palavras e ações de Cayena tiveram sobre Rezef.
Zenon Evans, em particular, tinha uma cara sombria devido a esta descoberta.
Mesmo que Rezef fosse um bastardo rude, ele ainda era mais fácil de controlar do que Heinrich.
Em vez disso, Zenon ficou feliz por Rezef ser tão indisciplinado, pois aumentou sua posição como assessor.
Mas Cayena de repente teve uma influência estranha sobre Rezef.
“Vou ter que ficar de olho nela.”
Zenon observou a princesa com olhos penetrantes.
Apesar de todos os olhos sobre ela, Cayena foi embora calmamente, com Rezef ainda atuando como sua escolta.
“De qualquer forma, os boatos sobre o incidente de hoje se espalharão. Vai ser vantajoso de muitas maneiras.”
Cayena era uma princesa sem poder real.
Além de ter uma personalidade ruim, ela era alguém que poderia facilmente ser excluída da família imperial. Era óbvio que ela não teria desfrutado do luxo que tinha sem sua beleza excepcional.
No entanto, a mesma Cayena acalmou a raiva de Rezef como se ela tivesse se tornado uma treinadora de feras.
Ficou claro que tipo de ondulações esse incidente teria.
“Até o imperador deixa Rezef que é como um cavalo selvagem sozinho.”
Mas era Rezef o único cavalo selvagem aqui? Cayena era quase igual. Nesse aspecto, os dois eram de fato irmão e irmã.
“Estou feliz por pelo menos ter recuperado o juízo”, pensou Cayena.
O Palácio Imperial era um viveiro de poder e mais tarde se tornaria uma arma para Rezef.
Em sua primeira vida, Rezef matou inúmeras pessoas inocentes, incluindo Olivia, com esse poder. Ele também causou sua própria morte.
Agora, Cayena poderia evitar essa tragédia.
Na verdade, na primeira vida, Cayena nunca pensou que o império terminaria assim porque ela havia sido morta por Gillian antes de Rezef ser morto por Raphael.
Ela não tinha nenhum apego especial à família.
Embora ela sentisse pena de Rezef, eles não eram muito íntimos como irmãos. Afinal, ela havia sido usada e abandonada por ele.
“Ainda…”
Ela sentiu alguma responsabilidade porque ele ainda era seu irmão mais novo.
“Decidi agir mais como uma princesa adequada até sair daqui.”
Uma de suas funções não seria cuidar de seu irmão mais novo rebelde?
Sentada à mesa do jardim, Cayena finalmente pôde examinar detalhadamente o rosto de Rezef.
— Parece que você ficou um pouco mais magro nos últimos dias.
A estrutura óssea de Rezef parecia um pouco mais proeminente.
Era claro para seus olhos que ele havia pulado refeições porque estava ocupado com o trabalho recentemente.
Então ela preparou uma torta de maçã com bastante canela, o tempero que ele gostava. Se ela não tivesse lido o romance, ela não saberia que ele tinha essa preferência.
— Não estou com muito apetite.
Quando Rezef disse isso, ele se lembrou da torta de maçã em seu escritório.
Ele chamou um assessor.
— Traga a torta de maçã que minha irmã mais velha fez aqui.
— Como você manda.
Cayena bebeu um gole do chá que acabara de chegar e perguntou: — A torta estava do seu gosto?
— Extremamente.
Rezef tinha um sorriso gentil, relaxado e agradavelmente refrescante como a brisa da primavera.
Com seu rosto bonito, ele ficava bonito como uma foto quando sorria assim.
Um prato com a torta de maçã que Cayena fez foi logo colocado na mesa.
— Não pule muito as refeições, mesmo que você não tenha apetite. É especialmente importante, já que você também treina com a espada.
— Sim, irmã.
Rezef respondeu exatamente assim, mas por dentro ele se sentia estranho. Estranhamente, ela parecia conhecê-lo bem.
Ela era alguém que tinha pouco interesse nos outros. Era incomum para ela saber que Rezef logo teria muitos eventos de caça por causa da temporada que se aproximava e que ele constantemente treinava com sua espada.
Mas agora, ela parecia conhecê-lo bem. Ela até fez uma torta que combinava perfeitamente com o gosto dele.
Pela primeira vez em sua vida, parecia que havia um lugar neste planeta para ele apenas respirar.
“Não esperava que Cayena algum dia pudesse me fazer sentir assim.”
Seus talentos nunca haviam se destacado antes.
“É assim que se sente ao encontrar uma joia?”
Seu cabelo cor de limão brilhava como uma joia neste momento, e seus cílios longos e brilhantes eram como uma obra de arte.
Sua pele impecável e estrutura óssea perfeita costumavam fazer com que ela parecesse uma boneca.
Mas agora, ele sentia uma vivacidade distinta nela.
Era tão diferente de antes, como se Deus tivesse trazido à vida a boneca chamada Cayena.
“Ela sempre foi tão bonita?”
Rezef de repente se viu esperando coisas de Cayena, que sempre se sentiu como uma “outra” para ele.
Ele nunca sentiu essa satisfação quando encheu as mãos de um tesouro ou quando feriu Heinrich, a quem ele odiava.
— Minha irmã é realmente uma pessoa bonita.
Ele disse isso com renovado apreço.
Cayena largou a xícara de chá e arregalou os olhos. Ela olhou para ele. Seus olhos se curvaram em um sorriso gentil.
— Você não tem que dizer isso. Ainda vou fazer outra torta de maçã para você da próxima vez.
Ela descartou as palavras dele como uma piada. Rezef caiu na gargalhada.
“Minha boneca.”
Não. Não era mais apropriado chamá-la de boneca.
Rezef encontrou uma nova palavra que combinava muito bem com ela.
“Minha paz.”
Minha terna e bela paz.
- Lèse-majesté é um termo que se refere a um crime ou a uma ofensa contra um governante ou um Estado.[↩]
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