Capítulo 31

Raphael ergueu as mãos na frente dele e silenciosamente olhou para eles. Ele era como um estudioso que estava enfrentando um problema profundo.

Ele olhou para as mãos, sem perceber que o chá fortemente preparado em sua mesa estava esfriando. Ele estava tão concentrado que nem percebeu Jeremy olhando para ele estranhamente de lado.

Foi exatamente isso que o afetou.

Ele passou por um evento de mudança de vida hoje e estava profundamente perturbado.

— O contato não foi desagradável.

Para Raphael, essa declaração teve grandes implicações.

Foi a primeira vez que ele sentiu algo assim, e a pessoa que o fez se sentir assim foi a princesa Cayena.

“Estou melhor agora?”

Será que ele não sentia mais repulsa por tocar nas pessoas? Ele experimentou imediatamente.

— Jeremy.

Jeremy, que estava olhando para o comportamento incomum de Raphael com olhos suspeitos, foi pego de surpresa.

— S-sim! Vá em frente.

Raphael estendeu a mão para Jeremy.

Jeremy tentou por um momento interpretar o que aquela mão significava.

Hm. Ele não tinha ideia.

Ele desistiu de fazer uma interpretação e perguntou: — … o que você quer que eu lhe dê?

— Segure minha mão.

Jeremy ficou desconcertado.

No estudo, os dois estavam sozinhos. O comportamento estranho de seu mestre e seu pedido peculiar…

Jeremy estendeu cuidadosamente as mãos. Os dois homens deram as mãos. Qualquer pessoa que visse a cena acharia estranho.

— …

Raphael sentiu como se urticárias estivessem explodindo por todo o seu corpo.

Ele tirou a mão como se não pudesse segurar.

Jeremy, que se sentiu de alguma forma maltratado, amargamente tirou sua mão.

Foi a primeira vez que Raphael pediu a ele para segurar sua mão desde que se tornou seu assistente.

“Por que ele de repente fez isso…?”

Muitas vezes seu mestre agia por capricho. Definitivamente era porque ele tinha um lado estranho.

“Aconteceu alguma coisa com Sua Alteza?”

Jeremy tinha ouvido falar que Raphael escoltou a Princesa Cayena.

Jeremy se virou para Raphael, se perguntando se ele veria alguma atmosfera rosa e florida ao seu redor, mas seu mestre estava tão seco como de costume. Não havia nenhuma doce emoção no primeiro amor de cachorro de um menino.

Cabelo preto, olhos vermelhos e um rosto perfeitamente polido e prático. Uma boca sem o traço de um sorriso. Parecia um deserto extremamente seco.

Baston insistiu repetidamente que havia algo entre Raphael e Cayena.

Jeremy balançou a cabeça.

— Não pode ser.

Rafael está apaixonado? Ele não conseguia nem imaginar.

— Jeremy.

Então, Raphael chamou ele.

— Sim, senhor.

Ele não pediria um abraço dessa vez, certo? Jeremy esperou em silêncio pelas próximas palavras de Raphael.

— Você sabe alguma coisa sobre Henverton Gillian?

— Henverton Gillian?

Claro que ele sabia. Henverton Gillian era filho de um dos vassalos de Kedrey e o próximo sucessor do viscondado de Gillian.

— Sim. Ele é o filho mais velho do Visconde Gillian. Ouvi dizer que ele está tendo aulas de preparação para a sucessão atualmente.

— Ele é solteiro?

— Ele é. Ele tinha uma noiva, mas eles se separaram há cerca de dois meses. Isso foi provavelmente depois que ele dançou com Sua Alteza Cayena no salão de banquetes… — Jeremy disse. Então, ele franziu a testa.

“Também ouvi dizer que o herdeiro Gillian agiu de maneira descortês com Sua Alteza hoje.”

Ele nunca olhou bem para a família Gillian em primeiro lugar.

O visconde Gillian era conhecido por ser desavergonhado, com mais de cinco amantes.

E seu filho, Henverton, era conhecido por se misturar com más companhias.

— Descubra mais sobre aquele homem.

Foi inesperado, mas Jeremy logo respondeu, baixando a cabeça.

— Vou atender a sua ordem.

Era natural que Raphael precisasse saber sobre Henverton Gillian, o sucessor do vassalo do ducado.

Claro, Raphael nunca ordenou que ele investigasse alguém sem motivo.

“O que diabos Henverton Gillian fez?”

Raphael não conseguia esquecer a expressão de medo que Cayena fez hoje.

Ele também se lembrou da expressão tranquila que ela fez depois de vê-lo.

— …

Algo dentro de seu corpo estava coçando.

Cayena estava muito cansada depois de ficar muito tempo fora de casa. Até choveu, então seu corpo ficou mais exausto.

— Vou preparar um banho.

Vera percebeu seu cansaço e saiu para tirar a água do banho e pegar os produtos.

Cayena encostou-se no sofá e tocou a testa.

Uma memória afiada relacionada a Gillian surgiu.

“Não vamos pensar em coisas inúteis.”

Era melhor esquecer as lembranças ruins.

De qualquer forma, ela pretendia nunca se envolver com ele nesta vida. Ela criaria e se casaria com uma ilusão, então deixaria para trás sua posição como a principal vilã do mundo.

A família do visconde Gillian teve uma grande influência no império porque produziu cavalos de guerra. Ela não poderia tocar em Gillian se ela quisesse a cooperação de Raphael.

Mas se fosse preciso, poderia derrubá-lo.

No curto período em que Cayena viveu como viscondessa Gillian, ela descobriu vários problemas com a família.

“Não quero aumentar o tempo que passo no palácio fazendo uma coisa dessas, no entanto.”

Ela só queria viver o resto de sua vida tranquilamente no campo, onde o cenário era calmo e o nascer e o pôr do sol eram lindos.

Ela tinha passado por muitas coisas.

Em um quarto vazio, Cayena olhou por cima da tapeçaria na parede e disse com a voz um pouco embargada: — Por que você não para agora, Rezef?

Depois que Cayena desmaiou após comer um biscoito de nozes, Rezef foi condenado a ficar em liberdade condicional indefinidamente e foi trancado em seu quarto.

Cavaleiros foram posicionados da sala de estar para o corredor para impedi-lo de sair.

Ele lembrou dos olhos do imperador, que olhou para ele e o achou patético.

— Algum dia, vou matar todos eles! 

— Sua Alteza! Dizendo esse tipo de coisa…! — Rezef não conseguiu superar sua raiva. Ele começou a gritar e destruir a sala.

— Ahh! — Um após o outro, os servos caíam ao serem atingidos pelos objetos que ele atirava.

Rezef não se importou nem um pouco. Eles eram dispensáveis, de qualquer maneira. Apenas aqueles com sangue nobre poderiam ser tratados como humanos.

Foi isso que o imperador lhe ensinou.

— S, Vossa Alteza! Por favor, se recomponha! — Com vários graus de ferimentos, os servos feridos continuaram a sair do quarto de Rezef. No entanto, um novo servo era empurrado para substituí-los a cada vez, porque o quarto do príncipe não podia ser deixado sem vigilância.

As pessoas ao redor deles até disseram aos servos para deixarem um testamento, por precaução.

— Se Sua Majestade ficar sabendo disso, as coisas só vão piorar.

Foi a primeira vez que Zenon viu o príncipe enlouquecer assim. Do jeito que estava, a possibilidade de que o príncipe que ele apoiava fosse deposto pelo imperador não podia ser ignorada. Era algo que nunca deveria acontecer.

— Cale-se! — Rezef era agressivo e violento. Parecia não haver nada que pudesse detê-lo.

“Ele está agindo como uma espécie de mendigo patético…”

Zenon saiu para convocar os nobres.

Rezef mal se acalmou depois que tudo ficou bagunçado. Os servos que prendiam a respiração começaram a limpar a sala.

“O que diabos deu errado?”

Ele deveria ter assassinado o imperador Esteban antes, mesmo que não fosse razoável?

Ele não tinha um pingo de afeto por seu pai. Por isso não hesitou em pensar em algo tão cruel e de sangue frio.

Pouco depois, porém, sua liberdade condicional por tempo indeterminado foi reduzida para dez dias.

— Dizem que Sua Alteza está ajoelhada no meio do castelo para fazer uma petição ao imperador, — disse Zenon, que tinha acesso aos aposentos de Rezef.

Ele também disse que logo depois, a autoridade sobre os assuntos internos foi temporariamente transferida para Cayena.

Como se tudo tivesse sido arranjado, tudo estava progredindo em ordem.

Sua posição estava diminuindo.

— O Imperador…! — As forças que ele acumulou não eram uma ilusão.

Ainda assim, o imperador tratou Rezef como se ele não tivesse poder. Se ele fosse realmente seu filho, ele não faria isso. Ele o estava tratando como o produto de um ato desonesto, mas não foi o próprio imperador quem cometeu o erro?

Os olhos do imperador estavam sempre frios.

Ele o desprezou. Rezef não conseguia entender quando era apenas uma criança. Ele não tinha intenção de ser compreensivo agora.

“Nem preciso esperar. Eu mesmo assumirei o trono.”

Um dia se passou enquanto ele estava trancado no quarto.

Ele ouviu a notícia de que sua irmã veio visitá-lo.

“Sim claro. Cayena não pode ficar sem mim.”

Agora, ela diria que ter poder sobre os assuntos internos é demais.

Ela seria a vela que queimaria para iluminar Rezef.

No entanto, Cayena não desistiu de sua autoridade. Foi estranho. Ela nunca teria feito isso, não é?