Capítulo 74
A expressão de Cayena endureceu por um instante, mas ela se recuperou habilmente. Ela dissipou sua magia, deixando os objetos caírem, e abriu a porta.
— Eu saúdo Sua Alteza, a Princesa. Eu sou Jeremy, ajudante de Sua Excelência, Duque Kedrey.
Era uma pessoa que ela não esperava ver neste lugar. E se Jeremy estava aqui, havia uma grande chance de Raphael ter vindo também.
Cayena o cumprimentou de volta.
— É um prazer, Sir Jeremy.
— Meu mestre está visitando o templo e queria dizer olá a Vossa Alteza, pois você chegou primeiro.
Por que Raphael iria a um templo conhecido por ajudar em partos?
“Mas vê-lo…”
Ele era alguém que não perdia um minuto depois de tomar uma decisão. Ele provavelmente tinha viajado para cá assim que soube que Cayena estava indo.
— Ainda não é hora do jantar, mas você daria à família Kedrey a honra de servir Vossa Alteza?
Vendo como o ajudante de Raphael veio com uma desculpa respeitável para se encontrarem, Raphael parecia estar determinado, se não totalmente preparado.
— Tudo bem.
— Então, quando Vossa Alteza estiver pronta…
— Eu vou agora.
Jeremy estava um pouco confuso. A roupa de Cayena não era de forma alguma apropriada para se encontrar com alguém importante.
“Ela deixou suas damas de companhia para trás?
Seu cabelo também não estava completamente seco.
Se cem senhoras no império fossem convidadas a se encontrar com Raphael na mesma roupa que Cayena, todas as cem ficariam pálidas. Claro, Cayena era bonita o suficiente para deixar um homem tonto sem se vestir.
Assim que ela saiu pela porta, viu Raphael de costas para o meio do jardim.
Honestamente, ela se sentiu um pouco desconfortável – mas ao mesmo tempo, ela sentiu uma sensação de estabilidade. Cayena reconheceu.
Ela estava feliz em ver Raphael, e ela estava feliz por ele ter vindo para vê-la. Ela pensou que não deveria se sentir assim, mas não conseguiu evitar.
— Mestre.
Raphael se virou com o chamado de Jeremy. Ele parecia tão gentil quanto um dos nobres que frequentavam salões literários.
Raphael caminhou até Cayena. Suavemente, ele beijou as costas da mão dela. Ele abriu os lábios e, com calma e ousadia, cumprimentou-a.
— Eu saúdo Sua Alteza, Princesa Cayena.
O rosto de Cayena ficou inexplicavelmente emaciado em um dia. Seus acompanhantes não pareciam perceber ainda, mas Raphael poderia dizer com um olhar.
Quando ele disse a ela sobre o falecimento de sua babá ontem, Cayena fingiu estar bem, mas ela estava claramente diferente do normal. Além disso, seu primeiro ato depois de ouvir a notícia foi visitar este templo.
A localização do templo não era muito boa. Atrás dela havia uma favela e a segurança nas proximidades era considerada ruim.
“Há algo importante sobre este templo?”
Fosse o que fosse, os sentimentos de Raphael diziam a ele que Cayena estava tramando algo.
Cayena piscou, surpresa. Então, ela conseguiu sorrir e abriu a boca para responder.
— Muito bem, duque Kedrey. Eu não pensei… que nos encontraríamos em um lugar como este.
Raphael olhou ao redor do templo novamente. Qualquer um podia ver em seu rosto que ele não estava aqui pelo templo.
— Sim. Ouvi dizer que este lugar é milagroso, por isso visitei aqui por curiosidade.
Se isso era milagroso ou não, não era da preocupação de Raphael, no entanto.
Com uma expressão um pouco intrigada, Cayena perguntou: — Você sabe que tipo de lugar é este templo?
Ele assentiu.
— Sim. Ouvi dizer que este templo ajuda você a fazer bebês.
— Cof! — Jeremy, que tinha ficado ao lado de Raphael, engasgou com as palavras francamente faladas por Raphael. Era muito fácil entender mal o que ele queria dizer.
— É famoso por isso, sim, mas também é conhecido por ajudar a arranjar casamentos.
Os olhos de Raphael se estreitaram instantaneamente com a menção de casamento. Ele sentiu os olhares atentos das escoltas e abriu a boca.
— Entendo. O templo me permitiu pegar emprestada sua sala de jantar. Se você estiver pronta, podemos ir agora.
Raphael suavemente segurou a mão de Cayena, parecendo para todos os efeitos como um homem apaixonado por ela.
A mão de Cayena estremeceu. Raphael sorriu um pouco com o pequeno movimento rebelde e gentilmente escoltou Cayena para dentro do templo.
— A parte de sua comitiva foi preparada em outro lugar.
Cayena assentiu e ordenou que seus acompanhantes se afastassem para comer e descansar, avisando que não deveriam segui-la até a sala de jantar. Seus olhos brilharam quando partiram, seguindo seus comandos.
“Eles vão querer informar Rezef rapidamente.”
Ela sabia desde o início que os cavaleiros que a acompanhavam eram o povo de Rezef.
Assim que Cayena e Raphael entraram na sala de jantar, os servos de Raphael abriram as tampas dos pratos.
Cayena se sentou na cadeira que Raphael puxou para ela e olhou para a mesa. Ela queria perguntar algo a ele antes de começarem a comer.
— Por que você veio aqui? Haverá rumores incômodos sobre você.
Foi uma pergunta natural. Encontrar-se assim em segredo não era sábio, especialmente porque eles não estavam noivos.
— Está bem. Achei que você teria uma razão mais plausível dessa forma, —Raphael disse casualmente.
— … o que você quer dizer?
— Eu não acho que Vossa Alteza veio aqui para orar, não realmente. Qualquer pessoa perspicaz vai pensar que você veio para outra coisa.
Cayena ouviu em silêncio suas palavras.
— Se eu também estiver aqui, vai parecer que você estava tendo um encontro comigo.
Em outras palavras, ele veio dar a ela um álibi.
Raphael viu Cayena ficar imóvel. Ele acrescentou: — E também acho que é hora de ouvir os detalhes dos planos de Vossa Alteza de fazer um marido.
Raphael poderia dizer que Cayena já tinha muitos fardos. Ele não pretendia ser tão cruel a ponto de acrescentar isso confessando seus sentimentos a ela.
Foi por isso que ele inventou outra desculpa, o marido falso.
Cayena baixou o olhar. Ela não precisava mais desse plano.
Ela pretendia correr para algo que pode ser impossível, como uma mariposa tola alcançando uma chama. Ela enfrentaria seu destino de frente em vez de fugir. Ela não seria mais uma boneca tola; ela se tornaria uma pessoa tola em vez disso.
No entanto, ela não podia simplesmente dizer isso. Com um sorriso amargo, ela disse: — Existem muitos reinos além das fronteiras do ducado ocidental. Adjacente ao ducado Kedrey, está Heimbel, a cidade sem rei.
Heimbel era originalmente uma parte do reino Madrena, que operava sob um sistema feudal. Mas depois que o reino caiu, ficou incerto a qual nação Heimbel pertencia.
A cidade fazia fronteira em ambos os lados do império Eldaim e do país de Urlyung. Os dois grandes poderes estavam se olhando, vendo qual deles o reivindicaria primeiro.
— O senhor de Heimbel deve achar difícil lutar contra os bárbaros. Quanto tempo pode durar uma cidade sem um rei?
Na verdade, era admirável quanto tempo a cidade durou. Lorde Heimbel iria querer vendê-lo enquanto ainda era lucrativo. Além disso, ele deve ter testemunhado como Raphael passou pela fronteira oeste imediatamente antes de se tornar o duque.
— Você acha que Heimbel quer ser assimilado ao meu território?
— Claro…
— Mas Urlyung também cobiça essa cidade. É uma fatia apetitosa de torta.
A cidade era o centro do comércio entre os continentes oriental e ocidental. Além disso, era amplamente povoado e possuía um excelente comércio de construção naval.
— Se você comprar a cidade, mesmo a um preço razoável, você falirá.
Cayena, é claro, não pretendia comprá-lo por um preço justo.
— A cidade entrará nas suas fronteiras se eles quiserem viver.
— …
Cayena estava dizendo que ela poderia fazer Lorde Heimbel curvar-se.
— Você não tem que duvidar. Apenas aceite como vier. Este será o meu presente para você.
Quanta riqueza e poder entrariam nas mãos do Ducado Kedrey se eles conseguissem adquirir Heimbel de graça?
O ducado cumpriu um papel vital na defesa da fronteira ocidental. Se engolissem Heimbel, estariam bem na fronteira de Urlyung.
“Nesse caso, o príncipe Rezef não deveria ser contra eu me casar com Cayena.”
Seria um grande benefício para a família imperial se eles estivessem ligados aos Kedreys, que tinham muita influência.
Ou seja, se tudo estivesse normal.
“Mas o Príncipe Rezef que eu vi e…”
Raphael franziu a testa ligeiramente.
Os olhos de Rezef não olhavam para Cayena apenas como algo a ser usado.
— Se Vossa Alteza finge se casar com o herdeiro aparente do reino Madrena, será difícil para sua família interferir.
— Claro, vou precisar da cooperação de Vossa Excelência para isso. Você precisará reconhecê-lo como um parente da realeza Madrena e conceder algumas coisas para mim e para o imperador.
— Lorde Heimbel permitiria isso?
Cayena apenas riu em resposta. Lorde Heimbel teria que permitir isso, se quisesse viver.
“As pessoas devem viver com integridade. Se não, eles deveriam pelo menos ter cuidado.”
Infelizmente para Lorde Heimbel, embora fosse prudente, Cayena conhecia seu ponto fraco do romance.
“Ele enviou crianças aos bárbaros como tributo. Em troca, eles roubariam um pouco de comida, mas não invadiriam a cidade.”
No entanto, as abduções seriam descobertas algum dia.
“A cabeça dele deve ser decepada depois que o ducado Kedrey conquistar Heimbel.”
Cayena umedeceu os lábios com o vinho de uma taça de prata.
Raphael perguntou de repente: — Então, você pensou em um nome para o seu marido falso?
“O nome do marido?”
Ela fez uma pausa, sem esperar a pergunta. O marido não existiria de qualquer maneira, então ela não pensou em nomeá-lo.
Cayena falou um nome que me veio à mente.
— … e Bayel.
— … parece o nome de uma pessoa real.
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