Capítulo 75

O coração de Cayena disparou. Ela estava desconfiada. Ele sabia?

— Tem que ser realista para que todos acreditem.

Sinceramente, Raphael estava sentindo uma estranha sensação de derrota contra o ser fictício que só tinha um nome.

“Se ela trouxer Heimbel como diz que fará, será ideal para ela se casar comigo, não com um marido fictício.”

Mas isso só seria possível se Cayena quisesse.

— Como você disse, este negócio não é caro para Vossa Alteza?

— É por isso que tenho outro favor a pedir a você.

— O que é?

— Você pode chegar perto do templo em segredo esta noite com alguns cavaleiros de elite?

Raphael intuiu que Cayena estava tentando fazer algo arriscado.

Para evitar mal-entendidos, Cayena acrescentou: — É porque estou preocupada com a segurança por aqui. Existem algumas circunstâncias estranhas também.

Ela deliberadamente omitiu o fato de que havia uma casa contratada administrada pelo arquiduque Heinrich atrás do templo.

Os olhos de Raphael se estreitaram ligeiramente, duvidando dela.

— Então não seria melhor ter cavaleiros estacionados por aqui?

— Isso faria parecer que estou assediando o templo, o que não seria bom?

— …

Se os cavaleiros estivessem posicionados nas proximidades sem justa causa, seria inconveniente, e muitos interpretariam a ação como uma pressão sobre o templo.

— Será perigoso?

Cayena mentiu com confiança. 

— Não vai ser nem um pouco perigoso.

Afinal, todos tinham padrões de risco diferentes.

Ela sorriu.

O Grande Teatro Heinrich estava completamente lotado.

Houve muitas coisas incomuns nos círculos políticos e sociais recentemente, e as pessoas precisavam de um lugar para trocar informações secretamente.

Eles também tinham outro motivo para estar no Grande Teatro Heinrich: Yester assistia a novas peças no teatro nos primeiros e últimos dias de sua apresentação.

Hoje era a estreia de uma nova peça, e a soprano mais popular da época cantava no clímax. Os cavalheiros presentes estavam mais interessados ​​no rosto da cantora do que em sua voz, no entanto.

— Eu gostaria de ser amante dela.

O murmúrio vinha da seção VIP, onde jovens nobres de famílias prestigiosas se reuniam. Uma pequena risada se espalhou pela multidão.

— Não posso por causa da minha noiva.

Outro nobre franziu a testa e resmungou: — Se você for pego, o noivado provavelmente será rompido imediatamente. Ela tem muito orgulho.

— É por isso que você deveria ter ficado noivo de alguém de uma família mais adequada.

Outro filho nobre condenou as palavras imaturas do primeiro.

— Você tem que pensar sobre o seu futuro, meu amigo.

Nas salas de banquetes, eles eram cavalheiros respeitáveis ​​e asseados. Mas em um lugar como este, cercado por outros homens, eles falavam de coisas vulgares.

Yester Heinrich tirou uma cereja de uma taça de vinho transparente. Ele cobriu a boca, tentando engolir seu sorriso de escárnio.

— O que você acha, arquiduque?

Yester olhou em volta com seus óculos de ópera e disse: — Eu quero aquela garota.

Eles ergueram seus binóculos para ver a quem Yester se referia.

— Ah, Emma Grace. Acho que ela é a segunda filha do Visconde Grace? Essa família tem tantos filhos que não consigo me lembrar de todos eles.

— Como essa família conseguiu um ingresso VIP?

A família Grace não era rica o suficiente para conseguir um lugar VIP no Grande Teatro Heinrich.

Um cavalheiro olhou pelo vidro e disse: — A irmã mais velha é uma grande beleza. O nome dela é algo como Olivia. Ela é a mulher que se tornou a dama de companhia de Sua Alteza.

— Aposto que ela veio aqui em busca de alguém para flertar, agora que sua irmã mais velha fez sucesso. É óbvio o que as mulheres pensam. Eles só pensam em casamento.

— Então, podemos falar com ela mais tarde? A irmã mais nova também não parece ruim.

Yester caiu na gargalhada enquanto bebia álcool de um copo de vidro puro, não de um feito de prata ou porcelana. A risada foi alta o suficiente para ser ouvida nos outros assentos VIP.

— … o que há de tão engraçado, Arquiduque Heinrich?

— Ah, não é nada.

Ele riu enquanto derramava o vinho em sua taça.

— Eu estava apenas me divertindo com suas especulações.

Os cavalheiros se entreolharam com amargura e, relutantemente, começaram a rir.

Sempre foi surpreendente como os idiotas pensavam. Aquela mulher vindo aqui para encontrar alguém para casar?

“Quem é aquele com apenas casamento na cabeça?” 

Casamento e amantes.

Isso era tudo com que os cavalheiros aqui se preocupavam. Eles só tinham que receber sua herança de seus pais.

“Homens patéticos.”

Eles eram pessoas inferiores que seriam completamente incapazes se sua herança desaparecesse.

Foi por causa de Yester que Emma veio aqui com seu cabelo lindamente trançado cor de trigo.

O visconde Grace e sua esposa não sabiam como eram incomuns as dívidas de sua família. A filha, porém, parecia bastante inteligente.

Yester encontrou os olhos de Emma Grace. Emma virou a cabeça, assustada. Ela nunca se concentrou na atuação do soprano, mesmo quando a peça se aproximava do clímax.

Emma foi o espetáculo mais interessante deste teatro. Ela olhava nervosamente para Yester com uma expressão tensa.

— Arquiduque.

Então, um assistente sussurrou secretamente no ouvido de Yester.

Os cavalheiros fingiram indiferença, mas olhavam para Yester com grande curiosidade.

— Com licença por um momento.

Yester se levantou com um sorriso afável e bonito. Ele foi para uma suíte reservada exclusivamente para o proprietário do Grande Teatro Heinrich.

Heinrich sentou-se no sofá cruzando as pernas.

— A princesa está no templo de Denien?

Ela foi sequestrada há apenas alguns dias; ele pensou que ela demoraria mais para se recuperar.

Mesmo assim, ela foi visitar um templo acompanhada por apenas três cavaleiros. Ninguém poderia ter previsto tal movimento.

Era também o templo perto da casa do contrato.

“É sobre o que ela disse antes?”

A princesa falou como se soubesse a localização de um grupo secreto. Ele tinha muitos desses grupos, mas era suspeito como Cayena estava ficando naquela área precisa agora.

“Ela está me provocando?” 

Yester riu alegremente.

Realmente, a Princesa Cayena acabou se revelando bastante interessante. Seus olhos brilharam sombrios.

“Eu não seria um homem se recusasse o convite de uma linda mulher.”

No primeiro andar de uma pousada indefinida atrás do antigo templo, velas baratas iluminavam vagamente o interior enquanto o barman vendia álcool.

— Você quer que capturemos secretamente a princesa?

Já fazia muito tempo que Jedaiah começara a trabalhar como empreiteiro. Ele tinha feito todo tipo de coisas desagradáveis ​​e perigosas, mas não conseguia entender as instruções que recebera hoje.

“A princesa não está longe daqui. Não foi a grande confusão com o sequestro dela apenas três dias atrás?”

Havia apenas três cavaleiros de elite à vista, mas Jedaiah sentiu que devia haver alguns guardas secretos.

Ou talvez tenha sido apenas Jedaiah que pensou isso. Todos os outros pareciam à vontade.

— Se acendermos o incenso do sono e colocarmos os cavaleiros para dormir, é moleza?

— Fiquei curioso sobre todo aquele rebuliço em relação à beleza da princesa.

“Esses caras são loucos. Isso é uma armadilha.”

Ele pensou que Yester, aquele que lhes dera as ordens, sabia que era uma armadilha, mas estava mordendo a isca de propósito.

“Caramba.” 

Jedaiah não teve escolha a não ser seguir ordens.

Mesmo que fosse uma armadilha, as recompensas eram muito generosas. Tudo o que ele precisava fazer era sobreviver, como sempre fazia.

Nada disso importava, contanto que ele pudesse pagar pelo remédio de seu irmão mais novo.

Para os pobres, uma doença incurável era desastrosa. Jedaiah estava lutando impotente contra aquele infortúnio.

— Vamos lá.

Eles meticulosamente esconderam sua presença e se esgueiraram até o templo.

Como foram informados, havia três cavaleiros escolta junto com cinco soldados juniores.

Era um pouco demais para proteger uma única pessoa, mas o número de guardas era razoável considerando o tumulto recente.

Eles colocaram máscaras de gás e acenderam o incenso para dormir. Os soldados que guardavam o anexo desabaram. A fumaça do incenso foi empurrada para dentro também.

Foi uma batalha de paciência, e os empreiteiros eram especialistas nesse tipo de trabalho. Eles esperaram em silêncio que todos adormecessem.

A porta trancada foi aberta em um instante. Eles entraram no anexo e ficaram em frente à sala onde a princesa estava hospedada.

O grupo carregou as bestas nos braços e abriu a porta, que rangeu ruidosamente.

“… não está ninguém aqui?” 

Estava escuro lá dentro. Nem uma única vela foi acesa.

A janela parecia estar fechada. Eles usaram a luz da passagem para olhar para a cama.

Na cama, havia uma protuberância. Alguém estava deitado lá.

Whoosh-

Naquele momento, todas as velas do corredor se apagaram ao mesmo tempo.