Capítulo 01
SEIS ANOS DEPOIS
No centro da cidade de Maple, especificamente no NCC (Núcleo de Combate ao Crime), por dentro do escritório daquele departamento, um jovem digitava sem parar em seu computador, arquivando uma série de crimes registrados e que ainda estavam em processo naquela unidade.
“— A taxa de criminalidade cresceu mais de sessenta por cento no último ano…” — eram palavras emitidas de uma reportagem, que passava na TV da sala ao lado.
“— Especialistas dizem que esse fator se deve à política liberal implementada pelo governador Dom Cernuno, que facilita a compra direta de armas de fogo para toda a população.”
O jovem estava com seus olhos claros vidrados na tela de seu computador, ainda digitando rapidamente, arquivando todos os casos criminais restantes na plataforma online do NCC. Era nítido que o seu maior desejo naquele momento, era de terminar todo aquele serviço, o mais rápido possível.
Ele tinha um grande cabelo de fios pretos, bagunçados e com longas pontas. Além de um corpo magro, que portava um tipo de roupa social e simples.
— SLEZZY! — gritou o Tenente daquela unidade. Era de altura mediana. Seus cabelos pretos e caídos camuflavam certa parte de seu rosto. Ele aparentava ser muito novo para o tal cargo policial tão elevado. — Você vai quebrar os dedos… se continuar nesse ritmo!
O jovem, envergonhado, diminuiu o ritmo no qual digitalizava os arquivos.
Em seguida, o Tenente se pronunciou a todos:
— Atenção! Todos compareçam à sala de reunião, dentro de dois minutos! Nós temos assuntos para tratar com todo o escritório — concluiu sua fala, já partindo para a mesma sala logo depois, carregando consigo algumas pastas, debaixo do braço. Um homem de terno o acompanhava.
Como Slezzy havia digitalizado todos aqueles arquivos com extrema rapidez, ele já estava com todo o seu serviço diário completo; e como era apenas um recruta de investigação policial, já estaria liberado para abandonar o seu turno, logo após aquela reunião. Isso o deixou aliviado, fazendo com que desse um grande suspiro antes de se levantar.
No caminhar para a sala de reunião, o jovem ainda conseguiu ouvir as últimas falas daquela reportagem.
“— Alguns internautas e conspiracionistas, estão relacionando tal explosão da taxa criminal com algo sobrenatural, baseado em depoimentos recentes e curiosos de algumas pessoas, que relataram…”
O policial que estava na porta da sala de reunião a fechou bruscamente, assim, impedindo Slezzy, que foi o último a entrar ali, de ouvir a conclusão daquela matéria.
“Algo sobrenatural? Não devem ter nada para falar…” pensou o garoto.
Na sala, o jovem conseguia visualizar todos os funcionários daquele respectivo setor, desde secretários até policiais e investigadores à paisana.
— Atenção! — O homem de terno, ainda misterioso, que havia acompanhado o Tenente, derrubou o silêncio dali. — Meu nome é Edward Darrim; e trabalho para a Segurança Governamental. Hoje, gostaria de compartilhar algumas informações com todos vocês, empregados do setor central do NCC, que estão presentes nessa sala.
Todos da sala, focaram toda sua atenção naquele homem.
— Após uma reunião particular com o comitê de segurança e o Tenente dessa unidade, Jan, decidimos que chegou a hora de implementar uma nova medida, em parceria com o NCC, perante a situação em que estamos vivendo — terminou sua fala; dando um passo para trás e fixando seu olhar no Tenente.
O Tenente Jan suspirou; e logo mais, deu um passo à frente, discursando:
— De início, gostaria de agradecer a presença de todos. Alguns investigadores estão à serviço no momento, mas depois receberão o relatório dessa reunião.
O Tenente deu uma pequena pausa, colocando as pastas que carregava sobre a mesa, retomando logo após:
— É de conhecimento de todos, o aumento expressivo na taxa criminal de nossas ruas. Sinceramente… já está ficando cansativo ouvir isso diariamente em inúmeras reportagens, então… vamos direto ao assunto.
O Tenente tomou uma postura séria, suspirou e prosseguiu:
— Diminuiremos o número de policiais nas ruas em oitenta por cento… em todas as unidades da nossa cidade…
Os funcionários, espantados, começaram a cochichar entre si.
Slezzy encarou o Tenente com olhares raivosos.
— A nova medida consiste em priorizar as vidas policiais. Sendo assim, a partir de hoje, os que se afastarem das ruas, ficarão apenas de prontidão em sua unidade, prontos para qualquer ação após denúncias ou comandos de nossos superiores. — O Tenente percebeu que muitos o encaravam com certa indignação; porém, apenas ignorou aquilo e prosseguiu. — O governo chegou à conclusão de que não estamos tendo nenhuma grande melhoria com o…
— VOCÊS ESTÃO LOUCOS!? — confrontou Slezzy, dando um passo adiante, interrompendo a fala do Tenente, com um tom de braveza e insatisfação. Passados alguns segundos, o jovem havia ganho todos os olhares da sala para si.
Fora dali; um investigador que acabara de voltar de seus serviços das ruas, ouvia levemente a discussão que vinha da tal sala de reunião. Ele já estava naquela instituição há um bom tempo. Era alto; possuía um cabelo longo e cacheado, embaraçado devido a preguiça de se arrumar, mas que ainda assim tinha um bonito brilho dourado quando iluminado pela luz solar. Diferente de Slezzy, seus olhos eram castanhos.
Na sala de reunião, um Sargento chamava a atenção do “jovem rebelde”:
— Você é apenas um secretário desse departamento, moleque! Você ficou louco a ponto de questionar decisões governamentais e dos seus superiores!? Tem noção de quantas vidas policiais são perdidas diariamente nesta cidade? Do quanto esses agentes colocam a própria vida em risco!? Da possibilidade desses homens nunca mais voltarem para o aconchego de suas famílias, no final do dia?
O Tenente, pensando em sua próxima atitude após o acontecido, estava com sua visão focada em Slezzy.
— Não sei o motivo de ainda chamarem os secretários para essas reuniões, hoje em dia… — comentou Edward, tossindo em seguida.
O Sargento retomou sua fala:
— Aproveite sua estadia, ainda como secretário garoto, pois com essa postura… você não vai durar muito lá fo…
A porta da sala se abriu lentamente. Um homem alto havia a empurrado. Era o investigador que acabara de chegar ao departamento. E por mais que houvesse presente naquela sala, alguns de seus superiores, devido ao grande respeito que aparentemente todos tinham por ele, ninguém questionou sua entrada.
O Tenente o recebeu:
— Investigador Sanches… que bom que está aqui! Porém, é uma pena que tenha chegado em uma péssima hora da reunião. Digamos que… estamos enfrentando certas… contestações por parte de um dos recrutas.
O investigador respondeu com um tom calmo e desafiador:
— Na verdade… eu ouvi uma boa parte desde o momento em que cheguei neste andar. Vocês precisam recobrir essa sala… com alguns amortecedores de som! — riu ironicamente em seguida. Sua voz era grave e persuasiva. — Vejo que temos um prodígio nesta sala… qual é seu nome rapaz?
Todos ali estavam tensos com tal situação.
Com todos os olhares voltados para Slezzy novamente, o mesmo respondeu firmemente ao Investigador:
— Meu nome é Slezzy Kaliman; e estou nesta instituição a apenas alguns meses. Ainda me encontro como recruta, trabalhando no sistema digital do NCC. E não voltarei com a minha palavra atrás… ao se tratar dessa nova ordem tão covarde!
Aquilo incendiou os olhares da maioria dos superiores presentes ali. Eles nunca aceitariam tal atitude, vinda de apenas um recruta inexperiente.
— Faremos o seguinte… — falou Sanches, sem medo de ser interrompido pelos outros superiores. — Que tal… depois da nossa pausa para o almoço… você me acompanhar em meus serviços… fora do departamento?
Todos ficaram surpresos com tal atitude. O Tenente Jan expressou um pequeno sorriso; pois sabia que aquilo, poderia fazer com que o jovem Slezzy mudasse de ideia, já que o mesmo nunca havia tido uma chance parecida: presenciar de fato, uma operação policial.
Slezzy se congelou por um momento. Aquela oportunidade seria a maior chance de finalmente provar seu valor para o NCC; e talvez, até conseguir uma promoção para atuar sob as ruas da cidade.
Um barulho alarmante ecoou sobre todo o prédio, anunciando o horário de pausa para o almoço, de todos os funcionários da instituição.
— Ok. Continuaremos nosso tópico após o intervalo! Porém, é uma pena que não teremos a ilustre presença do nosso mais novo “mini-sanches” — Jan pausou sua fala por um momento, devido a leves risadas que vinham dos fundos da sala. — De qualquer maneira, fiquem cientes da mais nova medida, que entrará em vigor a partir da semana que vem. Dispensados!
Todos saíram lentamente da sala; restando apenas Slezzy, Sanches e o Tenente.
— Sanches… espero que saiba o que está fazendo. Não quero que um secretário do NCC vire apenas uma estatística no jornal! — alertou Jan, virando as costas para os outros dois; e partindo rumo a outra sala daquele mesmo andar.
— Venha comigo, garoto! É hora de dar uma volta! — convidou Sanches.
— Não vamos almoçar… aqui no departamento?
— Definitivamente, não…! Já estou completamente enjoado da comida daqui. Além disso, deveremos comemorar a sua rebeldia, não acha? — concluiu Sanches, partindo rumo as escadas do prédio. Slezzy o seguiu.
No caminho, os dois se debatiam:
— Ei! Agente Sanches, você acha que… há algum perigo de me demitirem da instituição, após esse ocorrido?
— Eu tenho a total certeza disso! — afirmou com um tom sarcástico. — Então, acho melhor… você se concentrar após a nossa saída do prédio, para que seja capaz de provar sua arrogância daqui em diante. Caso contrário, correrá um grande risco de nunca mais voltar para cá.
Após descer as escadas; e chegar ao térreo, seguiram para fora do prédio.
Sanches caminhou até a frente de um carro estiloso; e logo destravou as portas do mesmo, com um controle que tinha em sua mão.
— Você deve estar brincando, né? Esse é o seu carro? Esse Mustang… de pintura escura? — perguntou Slezzy, totalmente surpreso e empolgado.
— Esse é o preço de ser o melhor Agente que atua nas ruas dessa cidade, garoto! — respondeu Sanches, gargalhando em seguida. — Antes de entrar, fique ciente de que, caso estrague qualquer coisinha dentro dessa gracinha… tenho certeza de que vai precisar trabalhar por mais alguns longos anos, naquele escritório!
Slezzy riu de nervoso. Aquele era o melhor dia de sua vida; o sonho de atuar nas ruas da cidade pelo NCC, finalmente estava se tornando real.
A dupla entrou no carro; e a seguir, partiu dali.
Sanches esbanjava o rugido do motor potente de seu carro, pelas ruas da cidade.
Após alguns minutos de trajeto, enquanto observava o enorme trânsito presente no centro de Maple, Slezzy questionou o motorista:
— Agente San…
— Por favor, não. Pare de me chamar assim! A partir do momento que estamos nessas ruas, me chame apenas de Sanches! Considere-se como meu novo parceiro, por mais que seja… temporário — concluiu com um leve sorriso.
— Ok, Sanches. Por que… você me ajudou naquela situação, na sala de reunião?
Sanches se manteve em silêncio durante algum tempo, antes de respondê-lo:
— Ouça… filho a maioria dos policiais estão começando a criar um medo dentro de si… devido ao aumento da criminalidade na cidade. Particularmente, eu não confiaria em um agente que não está totalmente preparado para seu trabalho.
Slezzy encarava o Agente ao seu lado, atentamente.
— Precisamos de agentes nas ruas, com o mesmo tipo de energia que você tem! Eu não estava brincando quando o chamei de “prodígio”… naquela sala, apesar de ser conhecido por essa personalidade sarcástica. No final, o que importa é que… você está realmente disposto a entrar em ação… e isso está claro.
Eles pararam em frente a uma lanchonete, que ficava consideravelmente longe da base da NCC, na Região Leste da cidade.
Ao descerem do carro, enfrentaram de cara, olhares estranhos e malvados, de pessoas misteriosas ao longo de toda a rua. Logo depois, caminharam até aquele estabelecimento.
Sanches entrou e caminhou até uma das mesas mais distantes do balcão principal da lanchonete penumbrosa. Slezzy o acompanhou e sentou-se ali.
Era possível ver o lado de fora através de uma vidraça adjacente à mesa.
— Peça o que quiser, garoto! Pode ser mesmo… a sua última refeição!
— Que honra! Mas… acho que vou querer o mesmo prato que o seu!
— Você vai se arrepender! — riu em seguida.
— Han?
Uma garçonete se aproximou da mesa, de repente. Seus cabelos loiros estavam presos por um elástico fino. Ela vestia uma blusa branca, acompanhada de uma gravata borboleta. Além disso, possuía a mesma afeição jovem de Slezzy.
— Ei! Valentina! Quanto tempo, não? — indagou o agente mais velho.
— Sanches, não te avisaram que o Corvo estava de olho nesse canto da cidade? — disse a garota, com um tom de insegurança.
Sanches pôs seus cotovelos sobre a mesa, de forma que suas mãos apoiassem sua cabeça. Logo depois, a respondeu com baixa entonação:
— Estou bem ciente disso, Valentina. Aliás, esse menino bem aqui… — Sanches apontou para ele. — É o motivo da minha vinda! Então… por favor, traga o mesmo de sempre! Mas dessa vez, duas porções.
A garçonete anotou aquele pedido e caminhou até os fundos da lanchonete.
— Quem é “O Corvo”, Sanches?
— Ele é o atual chefe da Asa Negra, uma das maiores máfias da cidade há alguns anos. Você não deve ter acesso ao seu nome na base de dados do NCC, já que a maioria dos crimes de seu bando, são cometidos pelos seus capangas. Assim, ele sempre saiu… e sairá, ileso.
Slezzy se travou; e logo depois, olhou pelo vidro ao lado. Várias pessoas, que estavam encostadas em murais ou carros, os observavam.
— Se fosse qualquer outro agente aqui; já teriam ateado fogo no carro e criado uma zona de guerra dentro dessa lanchonete — A fala de Sanches provocou medo em Slezzy. — Mas, você tem sorte de ter ao seu lado… o melhor agente dessa cidade! Além disso, não acho que o Corvo esteja investindo suas fichas nessa área.
— Você gosta de se gabar, não!? — replicou.
Após alguns minutos, a garçonete trouxe duas porções de um prato incomum à mesa: eram apenas pedaços de um peixe cru, tostados levemente, com um molho vermelho por cima.
— É isso… que você come no seu almoço!?
— Depois de anos andando por essas ruas… você consegue ter a habilidade de renovar seu paladar, vá por mim! — respondeu Sanches, ajeitando seus talheres.
Ao terminar da refeição, eles se levantaram; e prepararam-se para sair daquela lanchonete.
Porém, quando caminhavam em direção a saída do estabelecimento, uma velha, que tinha uma aparência redonda e cabelos esbranquiçados, falou, quase berrando, dos fundos do restaurante:
— Não me diga… que vai pendurar a conta pela quarta vez, Sanches!?
— Ah! Relaxa… Velinha! Eu já disse que ainda acertarei tudo! — respondeu o agente, com uma face carismática.
Em seguida, eles saíram dali.
Certos olhares da rua ainda se direcionavam à dupla, que rapidamente entrou no carro e partiu daquele lugar.
No caminho, o jovem confrontou o agente, mais uma vez:
— Sanches, por que você está pendurando conta… em uma lanchonete de fim de rua?
— Garoto… você ainda não reconheceu a maldade desta cidade. Sabe… pode parecer uma coisa boba, mas no futuro, caso você não morra hoje; talvez eu possa lhe contar.
Eles seguiram rumo ao centro, novamente. Durante todo o trajeto, aproveitaram para conversar sobre os mais diversos e paralelos assuntos.
*
Após exatos dez minutos, Sanches chegou ao seu destino: um local próximo à praça central da cidade. Ele estacionou seu carro em um dos cantos daquela rua movimentada; em seguida, alertou:
— Chegamos! Aqui, ficaremos o resto da tarde; apenas esperando o tocar desse rádio! Ah, não espere muita coisa; já faz quase uma semana que não recebo sequer uma notificação…
— O que? — replicou Slezzy, quase gritando, tomado pela notícia chocante.
Sanches riu da reação do jovem; depois, reiniciou a conversa:
— Agora é a minha vez de perguntar, garoto! De onde você veio? Qual o motivo de estar tão vidrado assim… para sair às ruas, mesmo com estes índices absurdos de criminalidade?
— Sanches, pode parecer loucura, mas… eu não lembro da minha vida passada e anterior… aos doze anos de idade.
— O quê? Fizeram uma… lavagem cerebral em você? — alfinetou o agente, dando sua clássica risada sarcástica, logo depois.
— Sinceramente!? Não sei. Isso ainda é um grande mistério. Mas sobre o papo de trabalhar nas ruas… eu quero me provar útil para o NCC! Estou cansado de ficar apenas nos bastidores… arquivando crimes no mesmo momento em que os outros policiais arriscam suas vidas, pelo resto da população. No entanto, o que realmente importa para mim… é acabar com todos os criminosos de Maple! Para que algum dia, minha família possa andar tranquilamente pelos cantos de toda a cidade!
— Família?
— Bom… não lembro de minha vida passada; então não sei se meus verdadeiros pais ainda estão por aí… isso se ainda estiverem vivos…
Sanches encarou o jovem, com um olhar sério, a partir daquele momento.
— Mas isso não faz muita diferença, já que hoje em dia, posso contar com o apoio da minha companheira, Emmeline, além do meu irmão mais novo, Rainn! — falou Slezzy, com grande convicção.
— Um irmão mais novo? E uma namorada? Você considerou isso ao entrar para o NCC!? E ainda quer ir para as ruas… correr mais riscos?
— Na verdade, ele é apenas um irmão de consideração. Nós fomos criados no mesmo lar; e com a mesma mãe, Diana. E ao contrário do que você pensa, o nosso vínculo… não me reprime. Na verdade, é o que mais me fortalece!
Um breve silêncio dominou o interior do carro.
— São ótimos sonhos, garoto. Eu acabei de me sentir em um conto de fadas!
— Han!? Do que está falando? — perguntou Slezzy, rindo de nervoso mais uma vez, naquele mesmo dia.
— Está na sua frente, garoto! Basta enxergar! Sabe… eu te conheço a menos de um dia, e já sei que você é um homem de grande personalidade! Porém, não posso deixar que você ache que tudo isso… será tão simples como pensa.
Sanches abriu a janela lateral do carro, acendeu um cigarro e continuou:
— Desde os últimos cinco anos, nenhum policial do NCC se aposentou. Todos os dias são marcados por mais uma morte, no mínimo. Maple não é mais a mesma. O crime está crescendo de fora para dentro, e em questão de meses, os criminosos estarão atacando o centro de tudo; e o pior é que todo esse processo… pode ficar ainda mais rápido com todas as decisões atuais do nosso governo. Então… pense bem no que realmente deseja.
Slezzy encarou o agente, sensatamente. Logo depois, refletiu.
*
O dia chegava ao fim; o expediente do Agente Sanches terminava, e nenhuma notificação havia chegado ao rádio daquele carro.
Slezzy, chateado por pensar que não presenciaria nenhuma ação naquela noite, encarava o rádio, esperançosamente.
— É, garoto, parece que hoje não é o seu dia de sorte…
Sanches foi interrompido pelo apitar repentino e inquietante daquele aparelho, seguido do alerta de uma voz feminina, que vinha do mesmo:
“— Atenção! Para todas as unidades do setor central do NCC, repito! Para todas as unidades! Se movam imediatamente para a rua Dominic! Recebemos denúncias de um possível sequestro!”
— É melhor você colocar o cinto, jovem! — disse Sanches, ligando o motor de seu carro, forçando alguns rugidos.
Eles partiram em alta velocidade.
Passados alguns minutos, a dupla chegou àquele destino. Lá, já haviam viaturas, negociadores e flanco atiradores posicionados no topo de prédios próximos.
O centro das atenções era uma loja farmacêutica. Havia somente um homem de máscara branca, que recobria quase todo seu rosto, exceto a parte de seus olhos. Ele abraçava uma mulher gestante, por trás, usando-a como um escudo; enquanto apontava uma arma em sua cabeça.
Ao observar aquela situação, Sanches saiu de seu carro e caminhou em rápidos passos, até uma área próxima de todo o drama.
Slezzy não hesitou; e também saiu daquele carro, perseguindo Sanches, depois. Ignorando o frio rigoroso, que com a noite, chegava àquela região.
O jovem alcançou-o e o indagou, em sussurro:
— Qual o protocolo para esse tipo de situação, Sanches?
— Não nos resta muitas opções, a não ser observar. Quem comanda esse tipo de caso, geralmente são os negociadores e psicólogos, que têm como maior objetivo o resgate da vítima, e não a neutralização do alvo.
Um negociador, que estava alguns metros à frente da dupla, anunciou de fora do estabelecimento, através de um megafone, para o sequestrador, calmamente:
— Nós estamos dispostos a ouvir qualquer pedido; em troca da entrega em total segurança dessa mulher! Por favor! Vamos conversar!
O sequestrador, com olhos avermelhados e repletos de medo, apontou a arma para um local da loja que estava completamente vazio. A seguir, gritou de forma ensurdecedora, lacrimejando.
— EU FAÇO QUALQUER COISA! EU JURO! MAS POR FAVOR… TIREM ESSAS CRIATURAS HORRIPILANTES… DE PERTO DE MIM!
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