Capítulo 02
A fala daquele sequestrador, fez com que todos os policiais em volta, entrassem em total estado de choque. Todos encaravam aquela parte vazia, confusos.
— San… San… — Slezzy estava totalmente confuso.
— Se acalme! Ao meu ver, esse homem deve estar enfrentando sérios problemas psicológicos — respondeu Sanches, não demonstrando qualquer emoção.
O negociador que estava à frente, com auxílio de seu megafone, confrontou o sequestrador novamente, com uma voz trêmula:
— DO QUE DIABOS… VOCÊ ESTÁ FALANDO? NÃO HÁ NADA NAQUELA PARTE VAZIA… A QUAL VOCÊ APONTOU!
O sequestrador, assustado, alternava seu olhar repetidamente entre o vazio ao qual apontara e os policiais da linha de frente, que se aproximavam da entrada principal do estabelecimento, utilizando escudos.
O sequestrador voltou a berrar:
— AS CRIATURAS… ESTÃO SE APROXIMANDO! PAREM ELES… POR FAVOR! EU IMPLORO! OU… EU ATIRO NESSA DESGRAÇADA!
Aquele homem, desesperado, segurava sua pistola tremulamente.
A mulher chorava e gritava, implorando tanto pela vida de seu filho, que ainda estava em sua barriga, quanto pela própria.
Slezzy, totalmente vidrado naquela cena, decidiu encarar Sanches por um momento ao seu lado.
O Agente estava completamente concentrado, como se tentasse pensar em algum tipo de estratégia, para lidar com toda a situação, o mais rápido possível.
— Garoto, saia de perto daqui! Eu não quero que você corra o risco de ter uma morte estúpida, como uma bala perdida! — alertou Sanches, caminhando em seguida, para perto dos outros policiais que ali estavam.
Slezzy obedeceu a ordem de Sanches, sem pensar duas vezes, e partiu para trás do carro. Ele não tinha nem mesmo uma arma para agir.
O sequestrador, agora agitado e com o dobro de desespero, dominado por suas fortes emoções, ainda abraçado à mulher, alertou mais uma vez:
— É o último aviso, policiais! Livrem-se dessas aberrações agora… ou eu juro que vou colocar uma bala na cabeça dessa mulher! — Ele grudou a ponta daquela arma no crânio da vítima.
O negociador, pela última vez, perguntou desesperadamente:
— VOCÊ PRECISA ME AJUDAR! — deu uma breve pausa e retomou sua fala, ainda aos berros. — QUEM ESTÁ NAQUELE MALDITO ESPAÇO VAZIO?
Por fim, o sequestrador olhou novamente para aquele canto, gritando:
— ELES… ELES SE PARECEM COM DEMÔ…
“Bang”
O barulho de um tiro, que ecoou sobre todo o local, aparentava vir de um dos prédios próximos dali, onde se posicionava um franco-atirador.
As pessoas que moravam na região, e que assistiam àquela cena pelas janelas de suas casas, travaram-se; assim como os pedestres que se afastaram dali.
Finalmente, todo aquele drama havia chego ao fim.
Logo após a confirmação do tiro fatal, realizada pelo franco-atirador, os policias entraram no estabelecimento em rápida velocidade.
Após adentrarem o local, alguns policiais foram auxiliar a mulher gestante. Já outros, partiram para cima do corpo do sequestrador, que estava estilhaçado sobre o chão, confirmando em seguida o óbito do mesmo.
De repente, Slezzy percebeu que um carro se aproximou da extremidade da rua. Um homem saiu desesperado de dentro dali, berrando, enquanto corria em direção aos policiais, afirmando ser o marido daquela mulher.
Após a saída da gestante da farmácia, apoiada por outros policiais, a mesma berrou o nome daquele homem, que depois, teve sua entrada autorizada.
Após alguns segundos, o casal se reuniu com um abraço apertado, entre muitas lágrimas, devido à extrema situação.
O local estava rodeado de repórteres, que acompanhavam todo o caso desde o início.
Sanches retornou tranquilamente para a área onde havia estacionado seu carro, reencontrando-se com Slezzy, que estava um pouco espantado.
— Que dia, garoto! Você deve ser o meu amuleto da sorte!
— Chama isso… de sorte!?
— Eu não estava aguentando mais ficar parado… sem sentir qualquer pingo de adrenalina no meu corpo. Ao menos, tudo terminou bem!
Uma figura conhecida se aproximou do carro, logo depois. Era o Tenente Jan:
— Agente Sanches! Já fazia um bom tempo que não enfrentávamos um caso de grande escala como esse!
— Concordo. Porém, tivemos total sucesso graças a Saith. O desgraçado não desperdiça uma oportunidade sequer!
— Saith? — perguntou Slezzy.
— Ah, claro! — Sanches colocou toda a parte superior de seu corpo para dentro de seu carro, para caçar alguma coisa. A seguir, retirou dali um binóculo. — Tome isso daqui! E observe aquele prédio, garoto!
Sanches entregou o binóculo para Slezzy, apontando com a outra mão, para onde o jovem deveria observar com o auxílio daquele aparelho.
Slezzy conseguiu ver a figura distorcida de Saith, pois além da camuflagem, o mesmo também estava de saída daquele local. Ele captou apenas alguns detalhes daquele homem: um cabelo levemente amarelado; e uma espécie desconhecida de rifle, que estava em suas mãos, cujo nunca havia visto antes.
— Esse é Saith! O comandante de tática terrestre… e o melhor franco-atirador das Forças Militares Armadas.
O Tenente Jan direcionou seu olhar à Sanches, lhe ordenando:
— Ei! Acho melhor retirar Slezzy, o quanto antes daqui. Não se esqueça de que podemos ter problemas com a papelada, se um simples secretário do NCC estiver em um caso dessa tamanha proporção. Além disso, amanhã, essa merda estará em todos os canais de TV, sem contar as capas de jornais. Enfim, Sanches, dê uma carona ao seu mais novo amigo!
— Sem problemas! Ei, Slezzy! Te levarei até sua casa… então, vou precisar que me guie no caminho. Infelizmente… é uma pena que não pude mostrar todo o meu potencial extraordinário, já que as Forças Armadas tomaram conta do caso. Mas de qualquer modo, fica pra próxima! — falou Sanches, sorrindo convicentemente.
— Certo… — confirmou Slezzy, com um leve tom de conforto.
Slezzy e Sanches entraram no carro e partiram daquele local, em direção a casa do agente mais novo.
No caminho, enquanto guiava a rota para sua casa, Slezzy realizava perguntas:
— Sanches… do que aquele cara estava com tanto medo?
Sanches suspirou por um momento, e logo o respondeu:
— Provavelmente, aquele homem tinha alguns distúrbios psicológicos, como eu havia dito anteriormente. Que maldito azar! Após tantos dias sem receber qualquer comunicação de uma infração, na região central da cidade, a única que me aparece é roubada por aquele maldito… sniper! — riu ironicamente, depois.
— O sequestrador… parecia estar tão crente de que havia algo ali, naquele canto vazio… como um ser sobrenatural… não! Dois seres, talvez!? Ele disse que eram “aberrações”! No plural! — Slezzy insistiu naquele assunto.
— Garoto… você não pegou a maldade mesmo.
Após um breve silêncio, Slezzy retomou a conversa, enquanto observava as paisagens urbanas que cercavam a Região Oeste da cidade.
— Eu pensava que somente o NCC combatia crimes locais. Essa tal de… Forças Militares Armadas, não cuidava apenas de ataques terroristas ou coisa do tipo?
— Hoje, existem três organizações que combatem o crime na cidade: o Núcleo de Combate ao Crime, ou NCC, que você conhece muito bem; as Forças Militares Armadas, ou FMA, que cuida de casos como terrorismo ou grandes assaltos, além de que, com as novas medidas governamentais, tem ajudado em casos de crimes locais mais pesados, como o que acabamos de presenciar essa noite.
— E qual é a terceira?
— Essa é a mais nova e também secreta, dentre as outras. Eu mesmo… nunca vi sequer um membro de tal, sem contar Edward. Talvez ele seja o representante do grupo.
— Está falando da Segurança Governamental?
— Exato. O governo já tinha seus próprios seguranças, mas agora… decidiu criar o seu próprio esquadrão particular. Aparentemente, o mesmo foi criado no início do ano… devido ao aumento do número de crimes cometidos no centro de Maple.
Slezzy começou a rir, sem parar, de repente.
— Do que você está rindo, garoto? — retrucou Sanches, confuso.
— O que diabos você ainda está fazendo no NCC, Agente Sanches? Você tem experiência o suficiente para ter um alto cargo na FMA, por exemplo, não?
— Não é tão simples assim. Você está desconsiderando toda a autoridade do Dom Cernuno sobre as tropas armadas da cidade. Além disso, mesmo que eu fosse promovido para outra instituição… quem poderia me substituir? Quem seria capaz de colocar ordem sobre o redor das ruas centrais dessa cidade?
“Hum… você gosta mesmo de se gabar…”
— Como esse homem foi eleito… para o cargo de governador da cidade? — O jovem mudou o assunto repentinamente, com um tom de indignação.
— Vá por mim, não tente entender a política dessa cidade, jovem — respondeu Sanches, finalizando a conversa.
Eles entraram em uma área consideravelmente longe do centro da cidade, onde havia muitos prédios e alguns estabelecimentos comerciais ainda abertos. Depois, estacionaram na beirada de uma grande rua, nem um pouco movimentada, ao lado da entrada de um simples condomínio, composto por pequenos prédios.
— É um ótimo apartamento, garoto! A sua família vive aí?
— Sim. Mas apenas o meu irmão e minha companheira! Já minha mãe… preferiu levar a vida na Região Norte, com seu único filho biológico.
— Ah! Entendi…
— Então… me diga, Sanches, por que optou por essa vida policial? — perguntou Slezzy, nitidamente curioso, após segurar a maçaneta interna da porta do carro; e se preparar para sair.
— É simples, garoto. Eu sou o melhor no que faço! Agora desça do meu carro!
Slezzy saiu do carro imediatamente após aquela ordem. Sanches ainda forçou o barulho do motor, provocando o jovem.
— Até outro dia. Provavelmente, eu não voltarei tão cedo a exercer sobre as ruas de Maple, pelo NCC.
— Então, use o tempo que lhe resta para cuidar de sua família! — disse Sanches, acelerando seu carro e partindo dali logo depois, em questão de segundos.
Slezzy suspirou. Logo, andou pela calçada, até adentrar o seu condomínio.
Chegando na porta de seu prédio, que não era um dos mais distantes em relação àquela entrada, ele a abriu, partindo para as escadas em seguida.
Ao chegar no terceiro andar do apartamento, Slezzy caminhou até a última porta de um corredor lateral às escadas, e a destrancou.
Ao entrar ali, o jovem notou que quase todas as luzes estavam apagadas. Havia brinquedos largados pelo chão. Ele conferiu os primeiros cômodos, mas estava tudo quieto.
Ao abrir a porta do quarto de seu irmãozinho, ele encheu-se de paz quando o viu dormindo tranquilamente. Curiosamente, mesmo não compartilhando do mesmo sangue, o garoto tinha uma aparência semelhante à sua; tanto seu rosto, como seus cabelos de pontas pretas.
Slezzy caminhou até a beirada da cama e o cobriu com uma manta esverdeada. Depois, retornou, fechando a porta daquele quarto; partindo para outro cômodo.
Enquanto caminhava em direção ao seu próprio quarto, ele foi surpreendido com o abrir da porta daquele mesmo cômodo.
Dali, surgiu quem ele procurava:
— Querido!? — falou Emmeline, com um tom repleto de alegria.
Logo depois, a garota correu em direção ao jovem, o abraçando em seguida, ao longo de vários segundos.
Ela agarrava as costas de Slezzy com muita força.
— Eles me ligaram mais cedo… do seu trabalho…, dizendo que você havia sido escalado para algum tipo de operação nas ruas. Então… mais tarde… eu liguei a TV e vi aquilo… — Ela choramingava em meio a suas palavras.
— Emmy, eu estou aqui! Fique tranquila! — Slezzy tentava acalmar e confortar aquela garota, ainda surpreso com sua tamanha preocupação.
Ainda abraçados, Slezzy notou que a garota se acalmava lentamente.
Os cabelos grandes e pretos da garota, acompanhados de alguns fios arroxeados, caíam sobre os braços de seu companheiro.
— Me escute, Emmy… estou realmente muito cansado. Nós podemos falar sobre isso… amanhã de manhã? Antes do trabalho!
Emmeline confirmou àquela pergunta, acenando sua cabeça de forma positiva. Seu tom de pele estava mais branco do que o normal.
— Eu não quis mostrar aquilo que estava passando na TV para Rainn… então, disse a ele que você teve que ficar até mais tarde no escritório! — Sua voz ainda refletia certa tristeza.
— Ei! Apenas… relaxe, Emmy.
As palavras de Sanches passaram a rodear a mente do jovem:
“Então… pense bem no que realmente deseja.”
Regras dos Comentários:
Para receber notificações por e-mail quando seu comentário for respondido, ative o sininho ao lado do botão de Publicar Comentário.