Slezzy se chocou. Sua mente não pensava em outra coisa, a não ser em todas as palavras que haviam lhe marcado anteriormente:

    Alguns internautas e conspiracionistas, estão relacionando tal explosão da taxa criminal com algo sobrenatural…”

    “Eles…! Eles se parecem com demo…”

       “Eles afirmaram ter recebido uma visita de criaturas sobrenaturais, que se apresentavam e os ofereciam uma espécie de contrato…”

    — O que será que vai acontecer desta vez?

    — Do que você está falando?

    As duas criaturas se rebatiam.

    A voz de Hiram era calma e convincente, enquanto a de seu irmão, era muito mais grave, chegando a ser explosiva em seus momentos de raiva.

    Os Irmãos Sam conversavam normalmente na frente de Slezzy, que estava em total estado de congelamento. Ele tentava correr, mas seu corpo não o obedecia de maneira alguma.

    Ambos os irmãos tinham cabelos longos, porém, o que os diferenciavam era a intensidade das ondas de seus fios. Haram tinha curvas mais suaves e fios de tom cinza; enquanto Hiram possuía ondas mais rebeldes e adeptas a um tipo de estilo bagunçado, além da cor de seus fios combinarem com todo o resto de seu traje.

    — Sinceramente, já estou cheio dessa cidade! Será que não vamos durar um ano ao menos, com uma só pessoa?

    — Um ano? Você teria paciência para tudo isso? — Os dois irmãos riram entre si. — Ei, garoto? Você virou uma estátua?

    — O que… vocês… — Slezzy não conseguia nem mesmo terminar a sua fala, naquele momento.

    — Ah! Eu sei que é muito para “digerir”. Além do mais, peço desculpas, pois ainda não estamos acostumados com essa coisa de “apresentação”.

    — Ainda temos que ler aqueles livros… que o Lorde sugeriu!

    — Ei, cale a boca! Haram! Não chegamos nem a oferecer o contrato e você já está abrindo a merda do bico!

    — Han? Contrato? … O que… vocês querem? — indagou Slezzy, finalmente terminando sua primeira frase, aliviando quase todo aquele choque repentino.

    — Ah, claro! Eu acho que reiniciar nossa apresentação seria uma ótima ideia, meu jovem… então, espero que nos compreenda! — disse a criatura; respirando profundamente para retomar a conversa em seguida. — Nós somos… os Irmãos Sam! Eu sou Hiram Sam, já esse ao meu lado, é meu irmão, Haram Sam!

    — Vocês… são… demônios?

    — Ah, pode-se dizer que sim, visto a definição atual dessa palavra… — afirmou o outro irmão, que prosseguiu. — Enfim, nós viemos a sua presença… para lhe oferecer um contrato que poderá mudar sua vida! Basta assinar essa folha negra, em qualquer lugar, seja na frente ou atrás, utilizando do seu próprio sangue, e você terá acesso ao mais sobrenatural de todos os segredos da humanidade! Além de grandes poderes a partir de futuros contratos.

    O demônio estendeu seu braço, oferecendo ao jovem a tal folha negra.

    Slezzy pegou aquele pedaço de papel da mão da criatura, e o observou durante alguns segundos. Era apenas uma página simples. Havia um título e um longo texto logo abaixo. Todas as letras eram esbranquiçadas e marcadas por uma fonte diferenciada. Além disso, não havia nenhum local apropriado para uma assinatura, como um contrato tradicional.

    — Então, já podemos fechar o acordo? — indagou o demônio com um grande sorriso.

    — Eu não entendi… absolutamente nada… e você quer que eu assine isso?

    Inesperadamente, entre os demônios, o garoto avistou uma senhora de idade, que acabava de adentrar aquele beco; carregando sacolas de compras em suas mãos. Ela andava lentamente em sua direção.

    — Vocês… vão assustar aquela velha! — sussurrou o jovem.

    Os demônios, de costas para aquela senhora de idade, que se aproximava a cada passada, não se moveram; e continuaram encarando o rosto apavorado de Slezzy.

    A senhora se aproximou do garoto e os demônios.

    Enquanto andava, ela olhava continuamente para baixo; quando simplesmente, atravessou o corpo de uma das criaturas, seguindo tranquilamente o seu trajeto.

    “O que?” Slezzy, observando tudo aquilo, ficou completamente espantando.

    — Bom dia, Slezzy! Por acaso, você está falando com fantasmas? — provocou a senhora, rindo em seguida. — Diga a Emmeline… que eu mandei um abraço!

    Slezzy, ainda perplexo, começou a compreender os demônios a partir daquele momento. Logo, ele disfarçou-se para a senhora, simpaticamente:

    — Claro, Ana! Tenha uma boa tarde!

    Após a idosa se distanciar, os demônios retomaram:

    — Por que você se estressou tanto, Slezzy Kaliman?

    — Espera… como eu consigo ver vocês… e aquela senhora não?

    — Apenas os que possuem a posse de algum contrato ou são tocados por algum demônio, são capazes de nos enxergar a partir de tal ato.

    Slezzy criou certa coragem:

    — Aliás, como você pode saber o meu nome completo?

    — Uma ótima pergunta! Mas, aposto que você quer respondê-la, Haram!

    As criaturas se encararam por um instante, e logo, a criatura de cabelos brancos discursou, fixando seu olhar em Slezzy:

    — Nós, demônios, não escolhemos simplesmente qualquer um por aí… para que assine o nosso contrato, por essas ruas. Primeiro, analisamos as pessoas por nossa conta, determinando o melhor candidato que se encaixaria em nossos rigorosos critérios. Em seguida, o abordamos!

    — “Nós”? Quantos de vocês existem?

    — Talvez… uma centena… ou mais; atualmente, somos um dos mais novos. Esse é o motivo para ainda enfrentarmos alguns probleminhas com todo esse lance de “apresentação” — concluiu Hiram, dando uma leve risada.

    — Então, eu fui simplesmente selecionado!?

    — Exatamente! …bem naquela noite… durante o caso do sequestro!

    — O que!? — Slezzy tomou mais um choque.

    — Devo confessar que não vi motivos para oferecer nosso contrato a você. Mas, Hiram insistiu.

    — Hum! Tenho certeza de que o garoto vai me agradecer, mais tarde!

    Slezzy, assustado, recuou para trás em dois passos, enquanto alternava seu olhar de um demônio para o outro:

    — Ei! Vocês vão me obrigar a assinar isso, por acaso?

    — O que? Não é assim que as coisas funcionam! É claro que… você pode seguir a sua vida, sabendo de toda a verdade que se esconde nessa cidade, carregando toda essa pressão mental até os seus últimos dias. Sabendo que ninguém, nunca acreditaria em qualquer palavra sobre a nossa existência. Ou então, você pode assinar e obter as grandes recompensas oferecidas pelo nosso mundo.

    — Recompensas?

    — Eu estou falando de algo mágico, Slezzy! Poderes!

    — Han?

    Hiram suspirou. Mas, logo prosseguiu com a conversa:

    — O contrato negro com letras brancas… ao qual você tem posse no momento, é chamado de Contrato Preambular. Caso você trace a sua assinatura em qualquer parte do mesmo, a partir de então, você estabeleceria um vínculo até o último dia de sua vida, conosco; podendo usufruir de outros contratos que lhe forneceríamos, dando-lhe mais poderes, em troca de anos do restante de sua vida.

    — Outros contratos? Anos de vida?

    — É bem simples. Após assinar o Contrato Preambular, além do fato de que teríamos que lhe acompanhar pelo resto de sua vida; você poderia também, a qualquer instante, nos solicitar um de nossos outros contratos, que lhe cederiam mais poderes, mas, você teria que oferecer alguns dos anos de vida que lhe restam.

    — O que você está fazendo, Hiram? — confrontou o outro demônio. — Já parou pra pensar, que está ensinando tudo sobre o nosso mundo para esse mero humano?

    — Qual o problema!? Vamos matar a curiosidade desse jovem! Ao menos… ele foi o único que não surtou até agora, entre todas as nossas outras tentativas!

    Haram cobriu seu rosto com a mão direita, enquanto seu irmão prosseguia:

    — Existe algo presente em todo o universo, jovem. Algo que deu origem a todas as coisas que nele existe; desde o mundo dos humanos até os do…, como você nomeia, demônios. Os Filósofos estudavam esse tipo de matéria, energia ou coisa misteriosa, há séculos atrás.  Eles a nomearam como “Arché”.

    — Quer dizer que, o tal “Arché” é a fonte dos poderes do Mundo dos Demônios?

    — O Arché? Não em sua forma primordial! Mas, quando elevado a sua forma espiritual, sim! Quem sabe, eu lhe explique profundamente após a sua assinatura!

    Slezzy, ainda atordoado com todas aquelas ideias, abaixou sua cabeça e passou a observar o chão.

    Em seguida, Haram o confrontou, com resquícios de raiva em sua fala:

    — Certo, garoto… já se convenceu?

    Slezzy ergueu sua cabeça lentamente, respondendo o demônio:

    — Você acha mesmo que vou assinar isso? — Aquela fala causou certa aflição nas criaturas. Slezzy dizia com um certo tom de deboche. — Eu não tenho nenhum motivo para fazer isso! Diferente de todos os outros dessa cidade, não estou fadado a sede de poder. Então, vocês vieram atrás do cara errado!

    Haram encarou seu irmão de relance, logo depois:

    — Que perca de tempo…

    — Eu não tenho a mesma certeza que você — respondeu Hiram.

    Um breve silêncio tomou o local; mas aquilo não impediu que Slezzy, sedento por respostas, realizasse mais algumas de suas curiosas perguntas:

    — Hiram, todos os demônios andam em duplas?

    — Não — respondeu, desanimado. — É uma condição rara. Todos os outros demônios andam sozinhos.

    — Agora tudo está começando a fazer sentido… — comentou Slezzy. — Todo aquele papo de “aumento das taxas criminais” …Vocês causaram aquilo!

    Haram respondeu àquela acusação, rapidamente:

    — De fato, nós tivemos influência sobre isso. Porém, a maior parcela de culpa é daqueles que não administraram seus contratos e poderes da melhor maneira.

    — Slezzy, mesmo lhe julgando como um forte candidato, de grande potencial, que se combinaria perfeitamente com os nossos poderes; todavia, infelizmente, teremos que abandoná-lo. Pois, não temos mais tempo a perder! — disse Hiram, se virando de costas para o jovem.

    — “Nossos poderes”!? Os demônios têm poderes distintos… uns dos outros?

    Haram, completamente irritado, afirmou:

    — Teremos o maior prazer em responder essa e muito mais perguntas… no dia em que decidir assinar o contrato!

    Em seguida, em um piscar de olhos do jovem, Haram desapareceu de repente, em meio à uma chama momentânea, acompanhada de um barulho peculiar, semelhante ao estouro problematizado de um balão cheio de gás hélio.

    Antes que Hiram conjurasse a mesma magia, que encantara Slezzy, concluiu:

    — Caso outra pessoa assine o nosso contrato, qualquer outra assinatura nesse que você possui, não será mais válida. Então, sugiro que pense bem, e rápido!

    Logo mais, Hiram também “evaporou”, utilizando daquela mesma magia.

    Para o jovem, ainda parado no meio do beco escuro, só lhe restava esperanças de que tudo aquilo fosse apenas uma alucinação; mesmo que a sua consciência não estivesse muito abalada.

    Após alguns segundos, ele sacou aquele contrato tentador.

    Estava bem diante de seus olhos: algo que supostamente, poderia lhe conceder poderes sobrenaturais.

    “Eu poderia… talvez… finalmente mudar essa cidade…?

    Dessa vez, com mais calma e atenção, o jovem decifrou todo o contrato; letra por letra.

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