Capítulo 04
Slezzy se chocou. Sua mente não pensava em outra coisa, a não ser em todas as palavras que haviam lhe marcado anteriormente:
“Alguns internautas e conspiracionistas, estão relacionando tal explosão da taxa criminal com algo sobrenatural…”
“Eles…! Eles se parecem com demo…”
“Eles afirmaram ter recebido uma visita de criaturas sobrenaturais, que se apresentavam e os ofereciam uma espécie de contrato…”
— O que será que vai acontecer desta vez?
— Do que você está falando?
As duas criaturas se rebatiam.
A voz de Hiram era calma e convincente, enquanto a de seu irmão, era muito mais grave, chegando a ser explosiva em seus momentos de raiva.
Os Irmãos Sam conversavam normalmente na frente de Slezzy, que estava em total estado de congelamento. Ele tentava correr, mas seu corpo não o obedecia de maneira alguma.
Ambos os irmãos tinham cabelos longos, porém, o que os diferenciavam era a intensidade das ondas de seus fios. Haram tinha curvas mais suaves e fios de tom cinza; enquanto Hiram possuía ondas mais rebeldes e adeptas a um tipo de estilo bagunçado, além da cor de seus fios combinarem com todo o resto de seu traje.
— Sinceramente, já estou cheio dessa cidade! Será que não vamos durar um ano ao menos, com uma só pessoa?
— Um ano? Você teria paciência para tudo isso? — Os dois irmãos riram entre si. — Ei, garoto? Você virou uma estátua?
— O que… vocês… — Slezzy não conseguia nem mesmo terminar a sua fala, naquele momento.
— Ah! Eu sei que é muito para “digerir”. Além do mais, peço desculpas, pois ainda não estamos acostumados com essa coisa de “apresentação”.
— Ainda temos que ler aqueles livros… que o Lorde sugeriu!
— Ei, cale a boca! Haram! Não chegamos nem a oferecer o contrato e você já está abrindo a merda do bico!
— Han? Contrato? … O que… vocês querem? — indagou Slezzy, finalmente terminando sua primeira frase, aliviando quase todo aquele choque repentino.
— Ah, claro! Eu acho que reiniciar nossa apresentação seria uma ótima ideia, meu jovem… então, espero que nos compreenda! — disse a criatura; respirando profundamente para retomar a conversa em seguida. — Nós somos… os Irmãos Sam! Eu sou Hiram Sam, já esse ao meu lado, é meu irmão, Haram Sam!
— Vocês… são… demônios?
— Ah, pode-se dizer que sim, visto a definição atual dessa palavra… — afirmou o outro irmão, que prosseguiu. — Enfim, nós viemos a sua presença… para lhe oferecer um contrato que poderá mudar sua vida! Basta assinar essa folha negra, em qualquer lugar, seja na frente ou atrás, utilizando do seu próprio sangue, e você terá acesso ao mais sobrenatural de todos os segredos da humanidade! Além de grandes poderes a partir de futuros contratos.
O demônio estendeu seu braço, oferecendo ao jovem a tal folha negra.
Slezzy pegou aquele pedaço de papel da mão da criatura, e o observou durante alguns segundos. Era apenas uma página simples. Havia um título e um longo texto logo abaixo. Todas as letras eram esbranquiçadas e marcadas por uma fonte diferenciada. Além disso, não havia nenhum local apropriado para uma assinatura, como um contrato tradicional.
— Então, já podemos fechar o acordo? — indagou o demônio com um grande sorriso.
— Eu não entendi… absolutamente nada… e você quer que eu assine isso?
Inesperadamente, entre os demônios, o garoto avistou uma senhora de idade, que acabava de adentrar aquele beco; carregando sacolas de compras em suas mãos. Ela andava lentamente em sua direção.
— Vocês… vão assustar aquela velha! — sussurrou o jovem.
Os demônios, de costas para aquela senhora de idade, que se aproximava a cada passada, não se moveram; e continuaram encarando o rosto apavorado de Slezzy.
A senhora se aproximou do garoto e os demônios.
Enquanto andava, ela olhava continuamente para baixo; quando simplesmente, atravessou o corpo de uma das criaturas, seguindo tranquilamente o seu trajeto.
“O que?” Slezzy, observando tudo aquilo, ficou completamente espantando.
— Bom dia, Slezzy! Por acaso, você está falando com fantasmas? — provocou a senhora, rindo em seguida. — Diga a Emmeline… que eu mandei um abraço!
Slezzy, ainda perplexo, começou a compreender os demônios a partir daquele momento. Logo, ele disfarçou-se para a senhora, simpaticamente:
— Claro, Ana! Tenha uma boa tarde!
Após a idosa se distanciar, os demônios retomaram:
— Por que você se estressou tanto, Slezzy Kaliman?
— Espera… como eu consigo ver vocês… e aquela senhora não?
— Apenas os que possuem a posse de algum contrato ou são tocados por algum demônio, são capazes de nos enxergar a partir de tal ato.
Slezzy criou certa coragem:
— Aliás, como você pode saber o meu nome completo?
— Uma ótima pergunta! Mas, aposto que você quer respondê-la, Haram!
As criaturas se encararam por um instante, e logo, a criatura de cabelos brancos discursou, fixando seu olhar em Slezzy:
— Nós, demônios, não escolhemos simplesmente qualquer um por aí… para que assine o nosso contrato, por essas ruas. Primeiro, analisamos as pessoas por nossa conta, determinando o melhor candidato que se encaixaria em nossos rigorosos critérios. Em seguida, o abordamos!
— “Nós”? Quantos de vocês existem?
— Talvez… uma centena… ou mais; atualmente, somos um dos mais novos. Esse é o motivo para ainda enfrentarmos alguns probleminhas com todo esse lance de “apresentação” — concluiu Hiram, dando uma leve risada.
— Então, eu fui simplesmente selecionado!?
— Exatamente! …bem naquela noite… durante o caso do sequestro!
— O que!? — Slezzy tomou mais um choque.
— Devo confessar que não vi motivos para oferecer nosso contrato a você. Mas, Hiram insistiu.
— Hum! Tenho certeza de que o garoto vai me agradecer, mais tarde!
Slezzy, assustado, recuou para trás em dois passos, enquanto alternava seu olhar de um demônio para o outro:
— Ei! Vocês vão me obrigar a assinar isso, por acaso?
— O que? Não é assim que as coisas funcionam! É claro que… você pode seguir a sua vida, sabendo de toda a verdade que se esconde nessa cidade, carregando toda essa pressão mental até os seus últimos dias. Sabendo que ninguém, nunca acreditaria em qualquer palavra sobre a nossa existência. Ou então, você pode assinar e obter as grandes recompensas oferecidas pelo nosso mundo.
— Recompensas?
— Eu estou falando de algo mágico, Slezzy! Poderes!
— Han?
Hiram suspirou. Mas, logo prosseguiu com a conversa:
— O contrato negro com letras brancas… ao qual você tem posse no momento, é chamado de Contrato Preambular. Caso você trace a sua assinatura em qualquer parte do mesmo, a partir de então, você estabeleceria um vínculo até o último dia de sua vida, conosco; podendo usufruir de outros contratos que lhe forneceríamos, dando-lhe mais poderes, em troca de anos do restante de sua vida.
— Outros contratos? Anos de vida?
— É bem simples. Após assinar o Contrato Preambular, além do fato de que teríamos que lhe acompanhar pelo resto de sua vida; você poderia também, a qualquer instante, nos solicitar um de nossos outros contratos, que lhe cederiam mais poderes, mas, você teria que oferecer alguns dos anos de vida que lhe restam.
— O que você está fazendo, Hiram? — confrontou o outro demônio. — Já parou pra pensar, que está ensinando tudo sobre o nosso mundo para esse mero humano?
— Qual o problema!? Vamos matar a curiosidade desse jovem! Ao menos… ele foi o único que não surtou até agora, entre todas as nossas outras tentativas!
Haram cobriu seu rosto com a mão direita, enquanto seu irmão prosseguia:
— Existe algo presente em todo o universo, jovem. Algo que deu origem a todas as coisas que nele existe; desde o mundo dos humanos até os do…, como você nomeia, demônios. Os Filósofos estudavam esse tipo de matéria, energia ou coisa misteriosa, há séculos atrás. Eles a nomearam como “Arché”.
— Quer dizer que, o tal “Arché” é a fonte dos poderes do Mundo dos Demônios?
— O Arché? Não em sua forma primordial! Mas, quando elevado a sua forma espiritual, sim! Quem sabe, eu lhe explique profundamente após a sua assinatura!
Slezzy, ainda atordoado com todas aquelas ideias, abaixou sua cabeça e passou a observar o chão.
Em seguida, Haram o confrontou, com resquícios de raiva em sua fala:
— Certo, garoto… já se convenceu?
Slezzy ergueu sua cabeça lentamente, respondendo o demônio:
— Você acha mesmo que vou assinar isso? — Aquela fala causou certa aflição nas criaturas. Slezzy dizia com um certo tom de deboche. — Eu não tenho nenhum motivo para fazer isso! Diferente de todos os outros dessa cidade, não estou fadado a sede de poder. Então, vocês vieram atrás do cara errado!
Haram encarou seu irmão de relance, logo depois:
— Que perca de tempo…
— Eu não tenho a mesma certeza que você — respondeu Hiram.
Um breve silêncio tomou o local; mas aquilo não impediu que Slezzy, sedento por respostas, realizasse mais algumas de suas curiosas perguntas:
— Hiram, todos os demônios andam em duplas?
— Não — respondeu, desanimado. — É uma condição rara. Todos os outros demônios andam sozinhos.
— Agora tudo está começando a fazer sentido… — comentou Slezzy. — Todo aquele papo de “aumento das taxas criminais” …Vocês causaram aquilo!
Haram respondeu àquela acusação, rapidamente:
— De fato, nós tivemos influência sobre isso. Porém, a maior parcela de culpa é daqueles que não administraram seus contratos e poderes da melhor maneira.
— Slezzy, mesmo lhe julgando como um forte candidato, de grande potencial, que se combinaria perfeitamente com os nossos poderes; todavia, infelizmente, teremos que abandoná-lo. Pois, não temos mais tempo a perder! — disse Hiram, se virando de costas para o jovem.
— “Nossos poderes”!? Os demônios têm poderes distintos… uns dos outros?
Haram, completamente irritado, afirmou:
— Teremos o maior prazer em responder essa e muito mais perguntas… no dia em que decidir assinar o contrato!
Em seguida, em um piscar de olhos do jovem, Haram desapareceu de repente, em meio à uma chama momentânea, acompanhada de um barulho peculiar, semelhante ao estouro problematizado de um balão cheio de gás hélio.
Antes que Hiram conjurasse a mesma magia, que encantara Slezzy, concluiu:
— Caso outra pessoa assine o nosso contrato, qualquer outra assinatura nesse que você possui, não será mais válida. Então, sugiro que pense bem, e rápido!
Logo mais, Hiram também “evaporou”, utilizando daquela mesma magia.
Para o jovem, ainda parado no meio do beco escuro, só lhe restava esperanças de que tudo aquilo fosse apenas uma alucinação; mesmo que a sua consciência não estivesse muito abalada.
Após alguns segundos, ele sacou aquele contrato tentador.
Estava bem diante de seus olhos: algo que supostamente, poderia lhe conceder poderes sobrenaturais.
“Eu poderia… talvez… finalmente mudar essa cidade…?”
Dessa vez, com mais calma e atenção, o jovem decifrou todo o contrato; letra por letra.

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