Estava quase anoitecendo; e ainda se ouviam tiros de dentro daquele clube.

    Cada um dos garotos revezava as armas disponíveis, utilizando desde pistolas comuns até armas pesadas.

    — CESSAR FOGO! — ordenou Saith.

    Os tiros foram interrompidos logo após o pedido do atirador. O grupo estava um pouco ofegante.

    — Vocês estão oficialmente dispensados!

    Os garotos largaram aquelas armas e partiram para fora do clube improvisado. As camisas brancas de todos ali, estavam suadas e desgastadas.

    Em seguida, Saith apagou todas as luzes daquela área.

    Após uma pequena caminhada até o prédio da FMA, os garotos subiram até o décimo oitavo andar, com auxílio do elevador.

    Chegando lá, caminharam pelo escritório, em direção ao vestiário. Os garotos perceberam que a maioria das luzes daquele andar já estavam apagadas, e que também não havia nenhum outro funcionário trabalhando ali.

    Ao adentrar o vestiário, um tipo de ventilador gigante, que não haviam visto da primeira vez, refrescou todo o lugar.

    — Eles têm tecnologia para isso? — Slezzy se impressionou.

    — Me sinto como se estivesse em um banho, mas… sem nenhuma água caindo sobre o meu corpo! — comentou Clay, de olhos fechados e aliviado.

    Eles se trocaram nas cabines reservadas, e também recolheram seus pertences. Também guardaram aquelas roupas brancas em seus armários, respectivamente.

    Depois, todos abandonaram o lugar, tornando a pegar o elevador.

    Ao chegar no térreo, o grupo se separou. Clay, Kine e Jean, partiram em direção a saída do prédio, enquanto Slezzy ficou na recepção.

    — Até amanhã, velhote! — gritou Jean, já a alguns metros de distância.

    Slezzy conversava com Emmeline, em uma ligação telefônica, com seu celular.

    De repente, o jovem ouviu as portas de um dos elevadores se abrindo. Ele se virou e encarou as pessoas que saíam dali.

    Eram dois agentes aos quais já havia visto mais cedo, naquele mesmo lugar: Uma menina que possuía cabelos pretos e esverdeados, além do menino cujo Roy o havia apresentado, Lierond Shane.

    Eles saíram do elevador e caminharam até a recepção.

    — Boa noite, Laura! Nós estamos de saída! — avisou a garota, sorrindo para a recepcionista e encarando Slezzy posteriormente.

    Após Slezzy finalizar a ligação; apanhou suas coisas e partiu para fora do prédio, também se despedindo de Laura.

    Durante sua caminhada rumo a saída da área militar, Slezzy observava ao seu redor. Havia apenas alguns soldados em volta, além de algumas luzes que vinham de postes, em meio à escuridão dos céus. Estava um pouco frio.

    De repente, o garoto foi confrontado por uma voz feminina:

    — Ei, menino! Você não é aquele cara… que todos aqueles fofoqueiros do NCC comentaram a respeito… nos últimos dias?

    Slezzy se virou lentamente.

    Aquela garota, ao lado do icônico garoto Shane, o encarava, frente a frente.

    — Ah, é claro! Eu nem me apresentei! — A garota estendeu o seu braço direito, cumprimentando Slezzy em seguida — Meu nome é Helena! Helena Beny! Você pode chamar esse pestinha aqui… de Shane!

    Helena era da mesma altura que Shane; e ambos eram aparentemente um pouco mais velhos do que Kine e Jean.

    A garota tinha um cabelo de tom preto, mas que recebia destaque pelos fios esverdeados, cujo Slezzy já havia reparado mais cedo. Utilizava um tipo de óculos especial, além de levar consigo uma mochila nas costas. Ela vestia o mesmo tipo de roupas pretas que Shane, que agora estava facilmente visível.

    Ao contrário de Helena, Shane era bastante reservado. Em meio as suas roupas especiais, o garoto carregava um tipo de bainha de cor de bronze, que guardava uma espada, suspensa ao seu cinto. Também em sua cintura, havia uma arma de gancho. Seu cabelo; além de volumoso, possuía uma franja de pequeno corte, além de todos os seus fios serem radicalmente escuros.

    Era difícil perceber, mas Helena carregava em seu pescoço, uma corrente de ouro. Além disso, a garota também portava o mesmo tipo de bainha, ocupada por uma espada, suspensa ao seu cinto. Porém, de cor preta.

    — É um prazer, Helena! Meu nome é…

    — Slezzy Kaliman! — afirmou Helena, imperativa.

    — O que? Como você sabe?

    — Digamos que… o Capitão Roy deixa os próprios documentos… facilmente acessíveis — respondeu ela, abrindo um pequeno sorriso em seguida.

    — Podemos continuar andando, Helena? — Shane disse aquilo com um tom de total desinteresse naquela conversa. Em seguida, começou a dar pequenos passos em direção àquele portão.

    — Espere um pouco! — Helena o parou, posicionando seu braço direito sobre o peitoral do garoto, de maneira que o impedisse continuar caminhando.

    — Primeiro… preciso saber o… nome daquele menino loiro! — confessou ela, envergonhada.

    — Como você é descarada… — provocou Shane.

    Helena começou a desferir uma série de xingamentos verbais contra Shane, de repente, mas logo foi interrompida por Slezzy:

    — O nome dele é Jean…! Jean Trindade!

    — Pronto. Agora… podemos ir, garotinha apaixonada? — provocou Shane, mais uma vez.

    Helena estava tímida.

    — Me responda uma coisa, menina… como pode saber o meu nome, mas não o de Jean? Já que você conseguiu acesso a esses documentos do Capitão Roy.

    — Curiosamente, apenas o seu formulário estava jogado na mesa do Capitão quando eu a chequei.

    Helena e Shane começaram a andar em direção a saída.

    — Esperem um pouco! — Slezzy estendeu seu braço. — Já que eu te ajudei… você poderia responder algumas questões! Justo, não?

    — Lá vamos nós… — comentou Shane olhando para cima desta vez.

    Helena se virou e encarou o jovem:

    — Do que você está falando?

    — Bom… Esse é o meu primeiro dia aqui na corporação… e ainda tenho algumas dúvidas.

    — Claro! Tive uma ideia! — afirmou Helena, apontando o dedo indicador para cima. — Considerando que você seja uma pessoa muito legal… Vou lhe responder apenas três perguntas.!

    — Ah! Agora você virou uma gênia da lâmpada!? — falou Shane.

    — Cale a boca! — retrucou Helena.

    Slezzy se sentiu confortável perante aqueles dois, e a respondeu:

    — Por que a FMA trabalha… com crianças? Em uma área militar?

    Helena riu um pouco e o respondeu:

    — Você nunca viu nenhuma criança entrando por aqueles portões, antes de vir para o seu treinamento?

    — Já tinha visto algumas vezes, mas eu pensava que era por causa de alguma escola militar ou algo do gênero.

    — Pode parecer realmente estranho, eu entendo. A mídia está caindo em cima disso desde os últimos dias, já que o treinamento militar infantil ficou mais conhecido, depois do episódio da morte do Barão… — A garota encostou seu braço sobre o ombro de Shane e prosseguiu com sua fala. — Talvez você não saiba, mas… desde que a criminalidade nesta cidade aumentou consideravelmente nos últimos anos, muitas crianças ficaram órfãs por consequência disso. A partir daí… se criou a nossa querida Ordem Azul, um programa radical não tão mais secreto hoje em dia, com o propósito de treinarem crianças desamparadas, órfãs e sem nenhuma perspectiva de vida ou futuro.

    — Vocês também vieram da Ordem Azul?

    — Exato. Inclusive, esse programa foi aprovado por decreto governamental a mais de uma década, porém… nada foi divulgado. É como se fosse uma escola, mas voltada para a área militar. Sua didática é meritocrática: caso um aluno venha a ter grande visibilidade e destaque ao decorrer dos anos, o mesmo poderá avançar direto para os treinamentos da FMA, não importando a sua idade!

    Slezzy se chocou um pouco mediante todas aquelas informações.

    — Por isso, você não deve subestimar qualquer criança ou adolescente… nos seus próximos dias aqui… — afirmou Shane.

    Slezzy fixou seus olhos no garoto que, por sua vez, continuou sua fala:

    — Como você pôde notar, todos os militares da FMA se respeitam e encaram uns aos outros da mesma forma, sem relevar idade e tamanho. Pois se uma pessoa está aqui, é porque ela merece e alguém reconheceu seu potencial. Além de que nós, recrutas, somos a última esperança.

    Slezzy relembrou naquele instante, do momento que havia se reunido com Jan e Sanches, quando recebera o convite para aquele treinamento.

    — Você… tem razão… — falou Slezzy, de forma pensativa.

    — Infelizmente… a mídia discorda de tudo isso — desabafou Helena, com uma expressão de tristeza desta vez. — Eles ainda não reconheceram toda a estrutura por trás disso; os números de órfãos retirados das ruas, as grandes oportunidades. Hoje, um militar da FMA que seja menor de idade, só pode atuar por fora dessa área, com a aprovação do General Santos. E ainda assim, com os rostos cobertos. Sem contar com toda a segurança, moradia e até alimentação, que nos sãos garantidos diariamente.

    Helena retomou seus passos em direção ao portão.

    — Ei! Ainda tenho direito a mais uma pergunta, não?

    Helena e Shane tornaram a caminhar para a saída, ignorando por um tempo o garoto.

    — VOU FICAR TE DEVENDO ESSA! — gritou Helena, longe e de costas para o garoto, despedindo-se com um aceno de sua mão direita. — Veja pelo lado bom! Você terá bastante tempo para pensar!

    Slezzy sorriu. Em seguida, caminhou na mesma direção; finalmente concluindo o primeiro dia daquele treinamento.

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