Slezzy caminhava em direção à uma construção abandonada e bem antiga, ainda portando a túnica negra que os Irmãos Sam o deram no dia de sua visita à Ruína de Maple; no final das contas, ele havia gostado daquele traje.

    Era um outro dia, numa manhã ensolarada.

    O jovem estava bem distante, não só de sua casa, mas do centro da cidade; num lugar na Região Oeste da cidade, que não havia nem mesmo moradores por perto.

    O trio adentrou o local.

    Era uma fábrica abandonada de cinco andares. Alguns dos tijolos das paredes estavam a mostra, mas a maioria ainda revestido pelo concreto velho e desbotado.

    Grande parte do chão do primeiro andar era recoberto por grama e musgos; havia poças de água esparramadas por ali.

    Slezzy caminhou até o centro do primeiro andar e colocou sua mochila próxima a uma parede de concreto.

    — Vocês têm certeza de que ninguém vai poder escutar qualquer coisa… que for emitida daqui?

    — Relaxe. Conhecemos essa cidade de cabo a rabo. Esse é o melhor lugar em que poderíamos lhe treinar, segundo as condições que você impôs — respondeu Haram.

    — Certo. Então vamos começar!?

    — Claro; mas… eu gostaria de reforçar mais uma vez, Slezzy… — dizia a outra criatura. — Ao tentar controlar o Arché Superior, somente com a assinatura do Contrato Preambular, você pode vir a sofrer grandes danos, tanto físicos… quanto psicológicos.

    — Então, quer que eu ceda mais tempo de vida em troca dos seus poderes!?

    — Claro! É para isso… que estamos aqui, não é?

    Slezzy riu após aquela fala e o respondeu:

    — Hiram… Sei que preciso treinar esses poderes para estar à altura de enfrentar todos os criminosos também mentoreados, mas mesmo assim, não vou sacrificar tão facilmente os meus preciosos anos de vida!

    — Hum! Aposto que essa opinião não será a mesma quando chegar a hora do seu primeiro combate… contra qualquer um deles. Acredite, pois já presenciamos todo aquele lado — Hiram sorriu.

    — Tá falando dos outros nove nomes que estavam traçados no meu contrato?

    — Não foram necessariamente todos esses nomes que já estiveram do lado dos criminosos…

    Slezzy ficou pensativo por um momento, antes de persistir naquele assunto:

    — Vocês disseram… no dia em que se apresentaram a mim, que são um dos mais novos demônios dentre os outros… e que também não ficaram com uma única pessoa por mais de um ano. Então… se nove pessoas assinaram aquele contrato; considerando o intervalo de transição entre uma assinatura e outra, eu diria que… vocês têm cerca de dez anos de existência!?

    — Ao que parece, você não perde suas memórias facilmente… — falou Hiram.

    — Na verdade, é apenas matemática básica — concluiu o garoto. Sem demora, ele desviou-se completamente daquele assunto. — Ontem… quando o Tenente se referiu àquele objeto cinzento… por que vocês…

    — Nunca te contamos sobre os objetos místicos? — replicou Haram.

    — Han!? Acho que não! — respondeu. — Vocês não deveriam ter falado sobre tudo… no dia que assinei aquele contrato?

    — Teoricamente, não temos esse dever…, mas enfim… os objetos místicos são os mais raros de nosso mundo. Há pouco tempo eram dados como lenda, e até hoje, alguns ainda negam a possibilidade de tal existência. E… Se caso for verdade o que aquele Tenente disse… talvez… o que Corvo carregava consigo… fosse um desses objetos. E a partir de agora, vocês, militares, correm um grande perigo.

    Slezzy se chocou. Hiram continuou:

    — Do jeito que o Tenente descreveu o objeto, desde sua matéria cinzenta até uma figura de lua… O que o Corvo possui agora… é um dos objetos místicos mais fortes… e dos poucos que sobraram aqui na terra: o Medalhão Lunar.

    — Chega de papo, Hiram! Vamos treinar! Quanto mais rápido… Slezzy dominar a manipulação do Arché Superior, mais diversão teremos! — propôs Haram.

    Slezzy saía daquele estado de choque aos poucos, até que finalmente se libertou; começando a se concentrar, colocando sua mão direita em uma certa posição, de modo que tentasse “sugar” a atmosfera, enquanto escutava as palavras de Hiram:

    — O Arché é a origem de todas as coisas. Ele está presente em tudo que existe. Por outro lado, o Arché Superior, apesar de se originar dessa mesma matéria, é capaz de conjurar qualquer coisa, de maneira mágica. Porém, apenas com auxílio da Gankkai ativada, você poderá conjurá-lo.

    Slezzy visualizou os primeiros traços no ar, que literalmente entravam em seus dedos; era algo fascinante. Seu braço estava arrepiado; e sua pele parecia estar mais escura, como se estivesse sendo dominada aos poucos por um sombreado.

    — Como você tem apenas a posse do Contrato Preambular, as chances de que domine o Arché Superior nas primeiras tentativas são… extremamente baixas.

    Slezzy não suportou aquela força sobre o seu braço e de repente caiu para trás, sobre uma poça d’água, se apoiando no chão apenas com o outro braço.

    Haram riu daquela queda; enquanto Hiram assumiu, com uma postura séria, sua fala:

    — É fato… que o Arché originado do ar ou dos gases que preenchem a atmosfera é o mais fácil de ser controlado. Porém, você também pode se aproveitar da nossa especialização! Algo que pode variar de demônio para demônio.

    — O que você quer dizer com isso? — perguntou Slezzy, se levantando do chão de concreto enquanto passava a mão sobre sua túnica molhada.

    Hiram assumiu sua forma física, pegando um pedaço de terra que estava entre alguns entulhos abandonados naquele arredor.

    — Por exemplo, os demônios que possuem a especialidade do elemento da terra, terão mais facilidade para manipular o Arché originado desse mesmo componente do que quaisquer outros, como água e fogo. E da mesma forma, também os seus mentoreados.

    — Então, você está dizendo que existem diferentes tipos de Arché Superior?

    — Não é exatamente isso, garoto — respondeu o demônio, esmagando o pedaço de terra em sua mão, fazendo com que um tipo de energia se dissipasse dali.

    — Uau! — Slezzy ficou surpreso. — Então esse… é o Arché Superior?

    — Quase isso! — Hiram sorriu. — Já que não possuo essa tal especialidade, não consigo dominar completamente o mesmo elemento. Mas, observe…

    Hiram posicionou sua mão, debaixo de um raio solar, de forma semelhante ao que Slezzy havia feito a segundos atrás. Logo, conjurou uma energia alaranjada e reluzente, como se estivesse literalmente sugando a atmosfera. Em seguida, a arremessou para uma coluna de concreto perto dali, despedaçando-a e fazendo com que quase toda a estrutura do prédio se estremecesse por alguns segundos.

    — Que merda… foi essa? — falou Slezzy, extremamente empolgado.

    — Este… É O NOSSO PODER! Slezzy Kaliman! — gritou Hiram, animado.

    A partir daquele momento, animado, Slezzy passou a tentar conjurar aquele poder, da mesma forma que seu demônio, sem parar sequer uma vez.

    Energias alaranjadas rodeavam o seu braço a cada tentativa.

    — Mais uma vez! — gritava Hiram a cada falha de Slezzy.

    Em dado momento, Slezzy retirou sua túnica apara facilitar a sua movimentação. Seu corpo se feria a cada queda, mas o garoto simplesmente ignorava.

    *

       Depois de longas horas, aquela conjuração passou a ganhar pigmentações sobre as mãos de Slezzy. O barulho de tal já era significativo; mesmo assim, ele falhava miseravelmente em todas as finalizações do mesmo poder.

    Enquanto o jovem não desistia de conjurar o Arché Superior, os demônios o enchiam com provocações:

    — Então… é assim que você quer combater todos aqueles criminosos?

    — Tenho certeza que você não duraria por um minuto se quer em um combate de verdade!

    — Estou com dó de você! Com esses poderes, até mesmo uma criança poderia derrotá-lo!

    Em dado minuto, Slezzy não suportou mais todo o cansaço. Ele capotou em sua própria perna, caindo para frente, batendo seu rosto com uma poça d’água.

    Os demônios se aproximaram, preocupados.

    — Ele está bem! — afirmou Hiram, enquanto checava as veias do pescoço do garoto, assumindo sua forma física e encostando-o com seus dedos.

    Passado um tempo; Slezzy acordou lentamente, colocando a mão em sua cabeça.

    — O que… aconteceu? — perguntou, resmungando por causa de suas dores.

    — Pelo visto, você excedeu os limites do seu corpo — comentou Haram.

    — Escute, Slezzy. Você ainda pode optar pelo caminho mais rápido… e com a menor taxa de dor possível! — falou Hiram com um tom meigo e convincente, passando a mão sobre o chão, apresentando-lhe cinco contratos.

    Slezzy se levantou, colocando-se de pé, firmemente.

    Ele desabotoou sua camisa social, e balançou sua cabeça de modo que grande parte daquela água saísse dos fios de seu cabelo.

    As feridas ao longo todo o seu corpo era facilmente notável.

    Ele ignorou completamente a proposta Hiram; deu longos passos para longe da dupla de criaturas, com uma certa velocidade; e depois realizou mais uma tentativa de conjurar o Arché Superior em suas mãos.

    Daquela vez, os raios de luz alaranjados surgiram com solidez ao redor de seu braço. Slezzy finalmente conseguiu manipular aquele poder, durante segundos consideráveis.

    O jovem ria enquanto dominava toda aquela manipulação em sua mão.

    Os Irmãos Sam o observaram com um grande sorriso, impressionados.

    Por fim, antes que pudesse perder o controle, Slezzy conjurou todo aquele poder na direção de uma parede de concreto perto dali; não causando um grande estrago como Hiram anteriormente, mas abrindo um buraco médio em sua superfície.

    O jovem olhou para as suas mãos, extremamente feridas, e logo as fechou, rindo, muito animado com tal conquista.

    Hiram se aproximou, assumiu sua forma física e tocou-lhe:

    — MAIS UMA VEZ, GAROTO!

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota