Slezzy estava diante de um prédio que não pisava há semanas: o setor central do NCC.

    — “O bom filho… a casa torna” — comentou ele.

    — Mas não fica para sempre! — complementou Hiram, sorridente.

    Slezzy sorriu após a fala de seu demônio, adentrando o primeiro andar depois.

    De cara, foi confrontado por um dos porteiros. Um funcionário baixinho; que se vestia com um uniforme social bege, desabotoado devido a sua grande barriga. O canto de sua boca estava sujo com um tipo de molho, e seus dedos cobertos por farelos.

    — PARE AÍ! — berrou o funcionário, levantando-se de uma cadeira e correndo na direção de Slezzy, que já estava quase dentro do elevador — Acha mesmo que vai entrar no prédio sem se identificar?

    Slezzy não reconhecia aquele funcionário.

    — Parece que você não é bem-vindo aqui, garoto… — provocou Hiram.

    Slezzy não o respondeu, já que havia mais pessoas ao redor dali.

    “— Deixe-o passar!” — era a voz do Tenente Jan; emitida do pequeno rádio daquele funcionário, que logo se chocou.

    Slezzy confrontou o segurança com olhares intimidadores, entrando no elevador a seguir.

    Antes que Haram entrasse também, ele assumiu a sua forma física por um único segundo, sem que outra pessoa o flagrasse, sussurrando no ouvido do funcionário:

    — Por que você não vai se limpar, gorducho!?

    Haram tornou a assumir sua forma espiritual após a tal brincadeira, se juntando ao seu irmão e Slezzy no elevador.

    Antes que as portas metálicas se fechassem por completo, Slezzy percebeu que o dito funcionário, totalmente chocado, passou a tremer e choramingar.

    Slezzy chegou ao andar cujo conhecia cada canto, cada pedaço. Seu primeiro olhar foi destinado à sua antiga mesa de secretário, que estava ocupada por um novo funcionário de cabelos lisos e pretos; ele trajava óculos e um colete preto.

    À medida que Slezzy caminhava na direção da sala do Tenente, os funcionários que o reconheciam passavam a observá-lo, completamente chocados.

    Slezzy não era mais o mesmo. Sua musculatura, suas vestes e até mesmo o seu jeito de andar estavam absolutamente diferentes. Ele provocava intimidação com seu novo olhar, contra os funcionários que decidiam o observar.

    O jovem parou no meio do escritório, e encarou o jovem de cabelos lisos que ocupava sua mesa antiga mesa.

    Após instantes, aquele jovem, que digitava em um ritmo rápido no teclado daquele computador, não conseguia mais disfarçar o seu desvio de olhar e atenção, decidindo encarar Slezzy de volta.

    A maioria dos funcionários interrompeu seus afazeres para observar o momento tenso.

    — Bom trabalho! Tenho certeza de que se dará muito bem aqui! — falou Slezzy, calmamente, em alto tom, sorrindo.

    O novo funcionário reagiu com um pequeno sorriso.

    Logo depois, o jovem caminhou até porta da sala do Tenente; e sem qualquer aviso, apenas girou a maçaneta de tal, abrindo-a em seguida.

    O Tenente Jan estava sentado, com os pés sobre a mesa de madeira, lendo um jornal. Seu rosto não estava visível.

    Slezzy não contava com a presença inesperada de outra pessoa naquela sala: o pequeno menino de cabelos brancos, Yuki.

    O Tenente abaixou rapidamente o jornal que cobria seu rosto, para conferir a porta:

    — Eu sabia que você pensaria duas vezes! Seja bem-vindo… novamente, Slezzy! — disse animadamente.

    — O que ele está fazendo aqui? — indagou Slezzy, apontando para Yuki.

    O menino de roupas e cabelos, ambos esbranquiçados, que aparentemente estava muito concentrado, gritou de repente, jogando um cubo mágico tridimensional totalmente solucionado para cima:

    — ISSO! MENOS DE TRÊS SEGUNDOS!

    — Temos visita, Yuki! — falou o Tenente, com um tom enfurecido desta vez; franzindo seu olhar.

    — Oh! Quem diria! — respondeu Yuki, se virando para Slezzy. — Eu sabia que te veria de novo, Slezzy Kaliman!

    — O que? Como… todos sabem o meu nome?

    — Mistérios da vida… não é mesmo?

    Slezzy ouviu aquela fala enquanto se sentava na outra cadeira, em frente à mesa do Tenente.

    — Vamos ao que interessa! — afirmou Jan. — Presumo… que você tenha reconsiderado a minha proposta!

    — Você tem razão. Estou decidido a colaborar com o NCC, a partir de hoje! — respondeu o garoto.

    — Claro! Farei questão de cuidar de toda a documentação do seu novo cargo! E claro… com o novo salário nos próximos meses!

    — Isso é o de menos agora… — refutou Slezzy com olhares raivosos, colocando suas mãos sobre a mesa, atraindo a atenção de Yuki. — Quando começamos?

    — Ah… na verdade… ainda falta uma hora para o início do meu expediente — respondeu o Tenente. — Mas fique tranquilo! Hoje, trabalharemos apenas em torno do centro da cidade.

    — Não… — disse Slezzy, recebendo olhares confusos do Tenente. — Eu não voltei ao NCC para lidar com uma taxa mínima de casos, na parte central. Mas… muito pelo contrário. Eu quero combater todos os criminosos, nas quatro regiões exteriores ao centro!

    — O que? — retrucou o Tenente, surpreso.

    — Preciso que você monte uma equipe de última hora, com os melhores agentes disponíveis. Nós vamos à caça de todos os bandidos e mafiosos. Não vai ser difícil encontrá-los, com os constantes assaltos e furtos nas áreas mais pobres da cidade.

    — É uma ótima ideia, garoto! — afirmou Tenente, sorrindo. — Mas não temos recursos para arcar com isso. E mesmo que tivéssemos, por mais que os soldados mais velhos e experientes estejam retornando aos poucos após o grande assalto, como ficaria a estrutura de divisão policial em torno da parte central da cidade?

    — É bem simples, na verdade… — falou Yuki, atraindo os olhares dos outros dois agentes desta vez. — Basta dividir os policiais disponíveis de acordo com sua idade e experiência de trabalho. Quanto mais perto do centro, coloque os menos experientes e recrutas; já que dificilmente receberemos outro ataque daquele tipo nos próximos dias. Quanto mais distante, coloque os velhos e mais experientes, que estão acostumados com todo tipo de situação. No final, reúna os melhores voluntários para essa operação que Slezzy está sugerindo.

    Slezzy sorriu perante a ideia do menino.

    O Tenente ficou pensativo, se levantando e jogando aquele jornal no lixo.

    — Vocês estão dispensados — afirmou o superior. — Preciso fazer uma ligação.

    Slezzy e Yuki se levantaram de suas cadeiras após tal ordem, saindo da sala em seguida.

    Quando Slezzy fechou a porta da sala, Yuki o surpreendeu, confrontando-o:

    — Que processo rápido! Ir de um secretário comum com um trabalho de meio período, para um dos policias mais priorizados do momento! Tudo isso em apenas algumas semanas!?

    Slezzy sorriu e o respondeu:

    — Talvez… esse só seja o meu momento! Mas… e quanto a você? Como chegou ao ponto de comandar todo o setor de inteligência e dar ordens para soldados com o dobro da sua idade? Com apenas… o que… dez anos?

    — Talvez, a anos atrás o meu momento já tivesse chegado! — retrucou o garoto com um sorriso. — Ah… E pra sua informação… tenho treze anos!

    Yuki caminhou para fora dali, na direção do elevador, enquanto resolvia o “cubo mágico” outra vez.

    — Interessante… — comentou Hiram, observando o pequeno garoto.

    *

       Depois de aproximadamente quarenta minutos, o Tenente abriu a porta de seu escritório. Slezzy havia aproveitado todo aquele tempo para ler e reler o Contrato Preambular, em um canto escondido e mal iluminado do corredor daquele andar; com mais atenção desta vez, refletindo bastante sobre todos aqueles tópicos.

    Disfarçadamente, o jovem guardou o contrato negro em um de seus bolsos, antes que o Tenente o flagrasse, enquanto passava as mãos sobre as partes amarrotadas de suas vestes.

    — Está tudo pronto! — disse Jan, sorridente. — Eu consegui a confirmação de Edward; e selecionei os melhores policiais disponíveis!

    — Precisamos de uma autorização governamental para simplesmente… montar uma operação policial? — retrucou Slezzy.

    — Você não conhece mesmo a palavra “burocratização” — disse Jan, andando para o final do corredor.

    Chegando lá, Jan puxou de seu bolso uma chave de tom dourado, que parecia ser muito especial para guardá-la consigo o tempo todo.

    Slezzy o acompanhou, e logo os dois adentraram uma pequena sala.

    Diversos tipos de armas estavam suspensos entre as paredes personalizadas dali, dentre fuzis, escopetas e outros armamentos extremamente pesados.

    Em outra parede ao lado, havia coletes e diferentes tipos de granadas, como as de fumaça e incendiária.

    Também havia um armário com roupas pretas de diferentes tamanhos, com um tecido aparentemente apertado. Porém, aquele traje não era tão elegante quanto os das equipes especiais da FMA.

    — É melhor se apressar! Os outros policiais estão chegando!

    Jan e Slezzy se vestiram com aquelas roupas pretas e apertadas; se armando em seguida com uma pistola e um rifle pesado, cada. Também colocaram algumas granadas na cintura.

    Depois de minutos, três policiais entraram por aquela porta, que estava aberta. Eles já estavam com a mesma roupa preta, além de armados.

    O Tenente colocava as últimas balas de espingarda nos compartimentos do seu colete especial, discursando e apontando o dedo para cada policial em ordem:

    — Slezzy, estes são os melhores policiais que pude reunir. Niash, Bryan e Isaim!

    Niash era alto, careca e tinha a aparência mais velha dentre os três.

    Já Bryan era jovem; seu tom de pele era muito claro, o que chamava bastante a atenção, além da sua musculatura invejável. Os fios de seu cabelo eram loiros, curtos e espetados; porém, a parte traseira e lateral de sua cabeça eram raspadas. Sua bochecha continha uma sutil cicatriz.

    Por fim, Isaim era o mais novo dentre os três, com cabelos espetados e negros, além de possuir uma estatura magra e um estilo gótico chamativo; caracterizado por sua aparência sombria, com um rosto pálido e unhas pintadas de preto.

    Slezzy percebeu que Bryan e Isaim, além de suas afeições semelhantes, também possuíam a mesma cor de olhos: castanho claro.

    Jan recarregou sua arma potente e indiciou algumas palavras para o grupo, antes que entrassem no carro-forte, estacionado na porta daquele prédio.

    — Se preparem… pois hoje, começaremos a varrer essa cidade! — concluiu com um grande sorriso em seu rosto.

    Os Irmãos Sam gargalharam sem parar, cheios de animação.

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