Capítulo 30
“— Governador Dom Hobal Cernuno, um polêmico líder político da atualidade. Desde o seu primeiro ano de eleição, já enfrentava um dos maiores problemas governamentais dentro de nosso país, a grande cidade de Maple. Todos sabem que a nossa grande capital tem enfrentado um dilema constante com as máfias nos últimos quinze anos, piorando ano a ano, o que apenas tem gerado uma grande revoltar popular.”
Slezzy e sua equipe ouviam aquelas palavras de um jornalista, de um programa nacional, através da televisão daquela lanchonete que Sanches o havia levado no primeiro dia às ruas, em nome do NCC.
Eles se sentavam em uma das únicas mesas que era cercada por um grande sofá circular e vermelho a sua volta. Slezzy e o Tenente sentavam-se lado a lado, assim como Bryan e Isaim do outro lado. Já Niash se encontrava na ponta. Os agentes assistiam fixamente àquela televisão.
As outras pessoas dali evitavam encarar os homens armados.
“— Nas últimas três semanas, instituições militares da capital tomaram uma atitude inovadora, que foi oficializada pelo governador há pouco mais de cinco dias, nomeada como Operação Caos! Os mesmos começaram a caçar de vez os mafiosos que residiam na parte externa do centro. Embora muitos os critiquem.”
Slezzy terminava de beber um copo de café, enquanto acompanhava o resto das notícias.
“— O caso foi submetido à câmara judiciária, mas o andamento do mesmo está sendo cada vez mais adiado, devido aos recentes casos de tiroteios entre militares e mafiosos nas periferias. Até agora, temos relatos de que apenas dois agentes da Operação Caos sofreram ferimentos nas ruas de Maple, ao contrário das máfias, que vêm ficando enfraquecidas a cada dia. E você? Acha que essa nova medida militar pode ser extrema demais? Estaríamos a caminho de uma ditadura? Vamos para os comerciais!”
— Ainda não acredito que existam pessoas contra nós. Nem parece que nos últimos dez anos, todos eles sofreram com a alta criminalidade desta cidade — afirmou o Tenente Jan, colocando sua espingarda sobre a mesa.
— A mídia sensacionalista nunca esteve do nosso lado. Vai entender qual é a desses jornalistas e diretores de televisão! — falou Niash, com um sorriso irônico.
Todos da mesa já haviam terminado seus lanches; e apenas esperavam alguns minutos para que pudessem retornar ao trabalho.
— Eles sempre aproveitarão qualquer faísca para transformar em algo passível de audiência. É o trabalho sujo deles. Mas eu não os culpo. Se eles entregassem os verdadeiros dados de todos os casos diários e sangrentos de Maple, acabariam talvez… com os sonhos de milhares de pessoas — concluiu Slezzy, mansamente.
— Sonhos!? — indagou Niash, colocando seus dedos sobre a mesa. — E qual é o seu sonho, Slezzy?
Slezzy encarou aquele homem por breves segundos antes de respondê-lo:
— Sonho? … Hum… talvez eu não tenha descoberto o meu maior sonho até o momento…, mas sei que minha maior meta agora é acabar com todos os mafiosos dessa cidade.
— É uma boa resposta — respondeu Niash, se virando para Bryan e Isaim logo depois. — E quanto aos Irmãos Kiland? Também possuem algum “sonho”?
“Irmãos Kiland?” Slezzy perguntou-se.
Ele já havia percebido que Niash apenas tirava sarro da sua cara com aquela pergunta.
— O meu maior sonho é dar um soco bem forte nessa sua careca — respondeu Bryan. Aquilo provocou risadas no resto da equipe.
— E você, Niash? — retrucou Han, seriamente.
O Tenente encarou aquele agente com um olhar preciso. Logo, Niash também retribuiu o olhar, respondendo ao seu superior:
— O meu maior sonho é retirar a minha mãe… daquela velha casa… no extremo da Região Oeste, cercada por mafiosos. Então, quem saiba algum dia… eu possa cedê-la um novo lar — Um clima pesado se formou após aquela resposta. — E quanto a você, Tenente? Ainda lhe resta algum sonho?
— Sair daqui e retornar ao trabalho! — respondeu ele, friamente, seguido de um sorriso que descontruiu toda a atmosfera pesada.
O Tenente se retirou da mesa, ficando de pé e caminhando para a saída depois. Slezzy e os outros fizeram o mesmo.
Antes que saíssem da lanchonete, aquela mulher cujo Sanches havia chamado carinhosamente de “Velinha”, berrava para Slezzy, que era o último da equipe a cruzar a porta da saída:
— Ei, você! Eu me recordo muito bem de você! Espero que não faça igual Sanches, garoto! É melhor pagar por toda essa refeição!
Slezzy sorriu e a respondeu diretamente:
— Então, por que não seguimos a rotina? Coloque na conta do Sanches!
Slezzy saiu logo depois, ainda escutando alguns xingamentos daquela mulher.
Os olhares que Slezzy teve de enfrentar na primeira vez que pisara na rua da mesma lanchonete, acompanhado de Sanches; já não estavam mais presentes ali.
— Ei! Slezzy! Venha cá! — era a voz do Tenente, gritando para o jovem do outro lado da rua. — Veja só que surpresa!
Slezzy esperou que alguns carros atravessassem aquela rua, para que finalmente fosse ao encontro do Tenente e outros rostos camuflados, em uma sombra de outro estabelecimento.
O jovem se aproximou e de repente ouviu as seguintes palavras:
— Ei! Vejam só! Se não é o nosso querido “renegado”!
Slezzy estranhou aquela voz inicialmente, mas logo a reconheceu: eram palavras de Saith.
Logo atrás daquele homem estavam Shane, Helena e outros dois militares, que Slezzy já havia visto durante o treinamento na FMA.
— O que você faz aqui? — perguntou Slezzy, sorrindo.
— O que? Você deve estar de brincadeira! A porção de peixe cru que a Velinha prepara é a melhor da região!
— Ainda não sei… como você consegue gostar disso! — sussurrou Helena, enquanto teclava rapidamente em um telefone.
Shane estava com a mesma expressão séria de sempre. Os outros dois militares observavam a região em volta, um pouco longe do grupo.
— Por que diabos, assim como o Agente Sanches, você gosta tanto desse prato? E outra, não existem outras lanchonetes que servem isso? — indagou o Tenente.
— Parando para pensar agora, só a Velinha faz esse prato aqui na cidade, mas… sabe onde está o verdadeiro segredo…? — Saith murmurou, de modo que apenas Slezzy e o Tenente pudessem o ouvir. — Está naquele bendito molho! Ninguém nunca descobriu qual é a sua fórmula!
O Tenente abriu um sorriso.
— Bom, temos que partir. Apesar da coincidência, ou não… foi bom encontrar vocês! — concluiu Jan.
Antes que ele pudesse se virar para caminhar em direção ao carro-forte, o rádio preso ao seu peitoral emitiu um som barulhento.
O rádio de Saith também emitiu o mesmo barulho:
— Atenção! Todos os líderes! Prestem muita atenção nas minhas seguintes palavras! — era a voz de Yuki, transmitida diretamente daqueles aparelhos.
Os dois esquadrões se observavam, ansiosos pela próxima fala daquele menino.
— Preparem todos os seus esquadrões! Acabamos de receber uma denúncia anônima sobre o local em que o Corvo está se escondendo, neste exato momento! Segundo a denúncia… ele foi visto adentrando um prédio da máfia rival na Região Norte! Vamos enviar a localização exata para o GPS de todos que se encontram o mais perto desse lugar atualmente! E claro… não excluam a possibilidade de ser uma armadilha!
Após a fala de Yuki no rádio, Jan e Saith receberam uma notificação em seus respectivos celulares, obtendo a suposta localização.
Quando Slezzy se virou para entrar no carro-forte; conseguiu ver o rosto dos Irmãos Sam, com um relance, que estavam sorridentes e aparentemente muito esperançosos de que aquela denúncia fosse verdadeira.
Eles estavam, finalmente, prestes a presenciar um possível combate entre Slezzy e outro forte mentoreado.
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