Slezzy abria seus olhos lentamente.

    O garoto estava deitado numa cama, sobre um cobertor de algodão, em uma sala cercada por paredes claras, do que parecia ser uma ala médica; e havia acabado de despertar daquele sonho.

    Ainda com as vistas embaçadas, ele conseguia ver o esboço de algumas pessoas ao seu redor.

    — Ele está acordando! — avisou Kine, feliz e aliviada.

    Logo, todas aquelas se aproximaram da cama.

    As vestes do garoto estavam rasgadas e ainda com algumas manchas de sangue.

    Havia outras camas ao longo daquela ala, mas todas estavam vazias. O lugar era úmido e bem iluminado.

    Aos arredores da cama estavam Roy, Jean, Kine, Helena e Shane. Todos trajados com roupas especiais.

    — Onde… estou? — perguntou Slezzy, enquanto observava os detalhes daquela grande sala. Ele ainda se sentia um pouco desnorteado.

    — Estamos no prédio da FMA, na ala médica! — respondeu a garota.

    — O que? Por que… me trouxeram para cá?

    — Depois que você desmaiou na operação de ontem, tivemos que trazê-lo aqui, para que quando acordasse, estivéssemos por perto; só para o caso de termos que conter qualquer burrice sua. Então… aqui estamos! — respondeu o Capitão.

    — Han!? Que tipo de burrice? Você está louco? Aliás… já se passou um dia? — Slezzy começou a se levantar daquela cama, mas foi impedido instantaneamente por Roy, que o empurrou de volta ao travesseiro.

    — Esse tipo de burrice!

    — Você sabe do que estamos falando, Slezzy… — afirmou Shane, seriamente, enquanto encarava o rosto de Slezzy.

    As memórias de Slezzy, sobre o dia anterior, voltavam aos poucos.

    — Sabemos que você é um mentoreado, rapaz, assim como agora, você sabe que uma parte de nós também é. Já que ontem… tivemos que utilizar dos poderes do Arché Superior… para conter o homem mascarado — explicou Roy.

    Slezzy abaixou a cabeça. A partir de agora, suas memórias já estavam frescas:

    — O nome dele… É Salvador! Salvador das Sombras!

    — Que nome artístico, não? — perguntou Kine, friamente. — Ele te contou isso durante o combate? Ou só… quando você estava prestes a morrer!?

    Slezzy a encarou, raivosamente.

    — Não tem motivo para se enraivar, rapaz. O nível de poder daquele homem, ou como você disse, Salvador, está mil vezes à sua frente. E mesmo que você conte com a assinatura de qualquer contrato, isso não significa que você tenha se tornado um deus ou algo do tipo! — O Capitão tornou a confrontá-lo.

    — O que?

    — É exatamente isso que você ouviu! Você foi extremamente arrogante a partir do momento que ignorou as ordens de seus superiores! A ordem era bem simples: avançar aos poucos… no interior daquele local. Mas… você… preferiu contornar a maldita prisão, iniciando um combate desnecessário contra Salvador e o resto dos capangas. E isso resultou… na morte do pobre Niash.

    A cena do raio negro, que atingira o peito de Niash, veio à tona, de repente, na mente do garoto. Sua mão começou a ficar trêmula.

    — ISSO NÃO É VERDADE! — gritou ele, quase chorando. — Salvador estava fugindo com o medalhão… e alguém precisava contê-lo!

    — Isso não importa agora! Ele fugiu com o medalhão de qualquer maneira! — refutou Roy, friamente. — E isso custou a vida de um dos nossos… graças a sua atitude…

    Slezzy começou a enxugar algumas lágrimas, enquanto os outros o observavam.

    — Os outros militares e até mesmo as pessoas que viram o corpo de Niash, não são como nós. Eles não conhecem esse mundo sombrio do qual fazemos parte! Tanto é que a autópsia do corpo daquele agente… foi dada como morte causada por uma explosão de granada, erroneamente! Você tem noção disso? Eles não sabem explicar nem qual foi o verdadeiro motivo!

    Slezzy, com os olhos avermelhados após o seu choro, escutava aquelas palavras atentamente.

    — Bem como no nosso combate… na segunda ala da prisão… tivemos que dar uma versão diferente da verdadeira, relatando que o mascarado bombardeou todo o local, fugindo em seguida, quando na verdade… todos aqueles estragos foram causados pelos nossos poderes…

    Slezzy ajeitou seu cabelo, respondendo o Capitão:

    — Desde o dia que assinei o tal Contrato Preambular, sempre tive essa noção, e também fiz questão de tomar todas as precauções possíveis, em todos os meus conflitos contra os criminosos que também eram mentoreados. Eu sempre soube dos riscos de utilizar o Arché Superior em público!

    Após alguns segundos de silêncio, Slezzy passou a encarar Kine:

    — Então… eu sempre estive certo — riu em seguida.

    — Hum!?

    — Desde o dia em que Kine colocou suas mãos geladas… tanto em minhas costas quanto nas de Clay, naquela corrida… você já tinha assinado um contrato com algum desses demônios! Não só você, como também o Capitão e Jean! Vocês três sabiam de tudo isso… desde o início…

    — Não demora muito para que você perceba quando outra pessoa é também um mentoreado, sabe? — falou Roy.

    — Não! Definitivamente eu não sei! — respondeu Slezzy, encarando os garotos espadachins dessa vez. — E quanto a vocês!? Shane e Helena… por acaso… vocês também são mentoreados?

    Helena riu um pouco alto após aquele comentário, respondendo-o logo depois:

    — Que bobinho! Você acha que em quatro anos de serviço militar, saindo por essas ruas e armando emboscadas contra os bandidos mais perigosos da cidade, nunca iríamos descobrir esse tal mundo sombrio?

    — Bom… muitos militares, até com cargo elevado, ainda não descobriram! — disse Jean.

    — Nem presenciaram a existência desses poderes… — complementou Roy.

    — Espera, os seus demônios também… estão nesta…

    Roy colocou a mão sobre a boca de Slezzy, impedindo-o de falar.

    — Chega desse assunto! — exclamou.

    Slezzy concordou, sacudindo sua cabeça.

    Roy suspirou, e logo concluiu:

    — Que bom que você… está pelo menos lidando bem com essa situação, porquê tivemos que matar o último que queria contar sobre tudo isso ao General.

    — O que? — replicou Slezzy, assustado.

    — É brincadeira! — falou Roy, rindo em seguida.

    Todos ao redor gargalharam; exceto Shane.

    — Sendo sincero, tudo isso meu de um grande alívio; pensávamos que você iria entrar em coma ou algo pior!

    — Na verdade… só você pensou nisso! — retrucou Helena, indignada.

    — Tanto faz! A voz do Capitão é a voz do esquadrão! — refutou ele.

    Slezzy encerrou aquele clima descontraído, encarando o Capitão em seguida:

    — Capitão Roy, de alguma maneira, o Salvador sabia o meu nome completo…, mas… como?

    — Isso também me chamou a atenção… E as possibilidades são variadas. Pode ser que ele simplesmente tenha conseguido os seus dados, de alguma forma, ou… até mesmo… seja uma pessoa conhecida…

    Slezzy ficou pensativo.

    Logo depois, o grupo escutou alguns passos sorrateiros, que vinham da porta principal da ala médica.

    Porém, antes que aquelas pessoas pudessem se aproximar, Roy alertou o garoto que estava deitado sobre a cama, sussurrando desta vez:

    — Ainda poderemos conversar sobre tudo isso…, mas não se esqueça, se você mencionar qualquer coisa sobre a Ruína… ou sobre aqueles poderes…

    — Eu já entendi, Capitão! — respondeu Slezzy, com firmeza.

    Roy o encarou por alguns segundos, e depois se virou para as duas pessoas que caminhavam na sua direção.

    Eram o Tenente Jan e o General Santos.

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