O bandido gritava e esperneava. Seu corpo estava rígido. Suas pupilas dilatadas. O ritmo de sua respiração aumentava gradativamente

       — Ninguém consegue te ouvir daqui. Pode gritar à vontade! — exclamou Roy, enquanto se aproximava em lentos passos do bandido, que rastejava até a borda da cobertura, tentando fugir dos outros.

       — Venha aqui… seu desgraçado! — Roy alcançou o bandido capturado e o segurou pela perna direita, aproveitando da leveza do seu corpo magro.

       — Ei! Me largue! — implorou.

       Roy o arrastou pela sua perna até a borda da cobertura do prédio, enquanto o homem implorava aos berros para que ele o soltasse.

       Os olhos de Yuki já haviam voltado ao normal naquele instante. Mas, ele estava nitidamente um pouco fraco após a tal conjuração.

       Roy suspendeu quase todo o corpo do homem sobre a beirada do prédio. A partir dali, apenas os pés do homem, que eram segurados pelo Capitão, o impediam de cair daquela enorme altura.

       De cabeça para baixo, o bandido berrou:

       — ESPEREM! A GENTE PODE NEGOCIAR! POR FAVOR! NÃO ME JOGUEM DAQUI! ME ESCUTEM!

       — Então agora… você tem medo? — perguntou o Capitão, surpreso.

       — Ei, cara! Não faça isso! Por favor… vamos conversar! Apenas me tire daqui! Eu acho que vou…

       O mafioso começou a vomitar devido ao enjoo daquela vista.

       — Huh! Que pena das pessoas que estão lá embaixo! — falou Yuki. — Além de vômito, daqui a pouco vão receber um corpo daqui de cima!

       — NÃO! — Aquele homem estava completamente surtado. — Meu nome é Enion…! Eu trabalho para a Sociedade Nobre há mais de cinco anos!

       O bandido começou a desembuchar, enquanto olhava para baixo, dominado pelo medo.

       — Eu presenciei tudo! Porém, mesmo que eu tenha trabalhado por todos esses anos, ainda assim… existem muitos na minha frente em termos hierárquicos!

       — Hierarquia? Vocês têm a merda de uma hierarquia? — indagou Roy.

       — Exato! Eu sei de quase todas as coisas… que se vazadas, podem comprometer grandemente toda a máfia!

       — DO QUE EXATAMENTE… VOCÊ SABE? — perguntou Yuki, gritando para que o bandido pudesse ouvir suas palavras em meio aos fortes ventos.

       — Eu sei de onde vem as armas! Sei quem as fornece! Sei a localização exata da principal base da Sociedade Nobre! Sei sobre o medalhão!

       O Capitão se convenceu de que aquele homem iria realmente contribuir.

       — Você sabe algo sobre um “agente duplo” …entre a FMA e alguma das máfias?

       — O que? Não! Eu nunca ouvi falar disso! — exclamou Enion.

       — Certo… jogue ele… — pediu Yuki, friamente, enquanto iniciava seus passos para o centro da cobertura. Ele encarou Shane, sacudindo sua cabeça, passando algum tipo de sinal.

       — O QUE? NÃO! POR QUE? — foram as últimas palavras daquele homem, antes que Roy soltasse suas pernas, sem hesitar.

       O bandido começou a cair, em meio a seus berros.

       Depois de dois segundos, Shane, que havia tomado distância da ponta do prédio anteriormente e jogado sua bainha para longe, correu na direção da onde o Capitão havia largado o mafioso; saltando logo em seguida.

       Durante o salto, Shane sacou sua arma de gancho e atirou na ponta do prédio, fixando o gancho ali; mergulhando nos céus logo depois, em busca do mafioso.

       Não demorou muito para que Shane alcançasse o bandido, que berrava sem parar e com olhos fechados:

       — EU NÃO QUERO MORRER!

       À cerca de setenta metros de altura do chão, Shane resgatou o mafioso, e em seguida apertou novamente o gatilho de sua arma.

       Posteriormente, os dois foram puxados para a cobertura.

       O mafioso se assustou, desacreditado.

       Chegando no topo do prédio, Shane imediatamente largou o mafioso no chão; e recolheu o gancho, que estava fixado no chão, para a sua arma.

       O homem começou a rastejar até Yuki; que estava sentado no centro dali, com Roy ao seu lado.

       — Olhe só pra você… totalmente acabado. Há sangue, lágrimas e até vômito em suas roupas! — falou o pequeno gênio, humilhando-o.

       — Por favor… eu não quero morrer… — sussurrava o homem, já não aguentando toda aquela situação deplorável.

       Roy retirou um pedaço de papel, além de uma caneta, de dentro de seu terno. E depois se aproximou do bandido; jogando aqueles utensílios em sua direção.

       — Eu juro por tudo que me pertence neste exato momento, que se você não colocar a merda da localização da Sociedade Nobre… nesse papel, o nosso querido Shane não vai fazer todo esse teatro novamente… da próxima vez que eu te jogar desse prédio! — falou Roy, calmamente.

       — Ah! Claro! Claro! — disse Enion, desesperado.

       Ele começou a traçar um mapa, como solicitado, naquele papel, utilizando da caneta que Roy o havia emprestado.

       — Aliás, como você conseguiu carregar um cara desse tamanho até a cobertura, Shane? — perguntou Yuki, distorcendo o clima tenso.

       Shane, que colocava a bainha de volta a sua cintura, o respondeu:

       — Até um bebê consegue carregar um fracote desses!

       Yuki o encarou por algum tempo.

       — Aqui está! Esse é o lugar onde fica a base principal da Sociedade Nobre! — O bandido mostrou o papel e logo o entregou para Roy.

       O Capitão e Yuki analisaram previamente o mapa, enquanto ouviam o resto das confissões do bandido capturado:

       — As armas que Barão sempre comprava, eram transportadas ilegalmente… através de um contato internacional. Geralmente, eles levam de trinta e cinco até quarenta e cinco dias… para realizarem a entrega a partir da data de solicitação; em baixas levas para diminuírem os riscos.

       — Contato internacional? — perguntou Roy.

       — Como eu disse, ainda existem muitos na minha frente na hierarquia da máfia; então não sei das informações completas!

       — O que o Corvo e o Barão II estavam negociando no dia em que invadimos a prisão antiga? — perguntou novamente Yuki.

       O bandido desembuchou, sem hesitar:

       — Após a morte do Barão, muitas coisas mudaram. A gerência de seu filho era claramente inferior. Começamos a sofrer até mesmo… alguns ataques de outras pequenas gangues. Depois disso, o Corvo realizou o grande assalto ao Banco Centra; o maior feito criminal até então. Isso foi algo fatal para o futuro das máfias.

       — Por causa do Medalhão Lunar, não é?

       — Exatamente. Aquele milhão de dólares… roubado pela Asa Negra, nem se compara ao valor daquele objeto. Porém, pelo que fiquei sabendo, o Medalhão é algo inutilizável para o Corvo. Por isso… ele estava disposto a negociá-lo em troca de territórios da Sociedade Nobre; também armas e alguns voluntários.

       — Algo inutilizável? O Medalhão Lunar? — sussurrou Yuki, se levantando e partindo para longe do centro.

       Ele chamou Shane e o Capitão em seguida, para que se reunissem.

       Após se juntarem em uma parte distante de Enion, começaram a discutir:

       — Isso só pode indicar uma possibilidade… — disse Yuki. — Que o corvo é um mentoreado, mas da classe legendária!

       — Hum? — retrucou Roy, confuso.

       Yuki logo explicou:

       — A única forma para se dispor tão facilmente assim do Medalhão Lunar, é por que o Corvo não consegue utilizá-lo, pois não possui um demônio para realizar o ritual.

       Roy ficou pensativo.

       — Levando isso em conta, ele não confia em nenhum de seus capangas, nem mesmo no próprio Salvador. Caso contrário, já teria cedido a posse do Medalhão e realizado o ritual com algum deles — concluiu Roy.

       — Exatamente! O corvo sabe que se o Medalhão cair nas mãos do Barão II, não vai causar nenhuma diferença, já que o demônio do mentoreado que tentar realizar o ritual… digamos que… deve estar altamente preparado… juntamente com seu mentoreado. Coisa que o Barão II não vai conseguir tão cedo — explicou Yuki.

       — Devemos nos preparar a partir dessa semana — falou Shane. — Caso todas as informações de Enion sejam verdadeiras, poderemos investigar os arredores da base com cautela e calcular uma possível operação. Devido à possibilidade da existência de um agente duplo, não revelaremos a todos sobre isso.

       — Você tem razão, Shane — falou o Capitão. — Vamos planejar com calma essa nova operação. E quando chegar a hora certa, avisaremos todos os militares disponíveis como se fosse uma denúncia de rotina, mas grave. Assim, poderemos reduzir as chances desse suposto agente duplo entregar todo o nosso plano.

       — Na verdade… tenho um plano melhor — concluiu o garoto mais novo.

       — Mas… e quanto à Enion? — indagou Roy. — Apesar de que ele não tenha entendido, ele presenciou os seus poderes de mentoreado, Yuki.

       Yuki, Shane e Roy encararam Enion a partir daquele momento.

       O bandido estava assentado, olhando para o outro lado.

       O sol estava começando a se por.

       — Ele está com a cabeça tão ferrada… que isso não vai ser um problema. Vá por mim — respondeu.

       — E o que faremos com ele? — perguntou Shane. — O matamos?

       — Por enquanto… não. Vamos deixá-lo preso naquela mesma sala do nono andar; até que confirmemos se a informação sobre o endereço é real. E se caso for, tenho uma ideia… — concluiu Yuki, sorrindo.

       Os três caminharam na direção de Enion, que ainda observava os céus.

       As pupilas de Yuki começaram a se embranquecer novamente.    O vento ao redor do local começou a se agitar gradualmente, de acordo com os passos do pequeno gênio.

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