Capítulo 55
No amanhecer do dia da invasão à base da Sociedade Nobre, Slezzy estava acordado, observando os primeiros feixes de luz solar vindos do leste da cidade.
A sacada de seu apartamento era relativamente grande.
Emmeline organizava algumas bolsas no quarto ao lado.
A porta do quarto de Rainn emitiu um pequeno ruído. O pequeno garoto havia acabado de acordar, extraordinariamente, naquele horário.
— Emmy? O que você está fazendo? — perguntou o garoto, se aproximando da porta do quarto da garota.
— Ah! — Emmeline parou por alguns segundos o que estava fazendo para se aproximar do menino. — Eu me esqueci completamente de te avisar sobre o que faríamos hoje, Rainn!
— Deixe-me adivinhar… eu não vou precisar ir à escola?
Emmeline deu uma leve risada antes de respondê-lo:
— Como você é um espertinho!
Rainn comemorou brevemente.
— Nós iremos para a casa de Diana! E ficaremos lá por alguns dias! Então, por que você não vai se arrumar? Podemos pedir para que Harvim não vá à escola, para te fazer companhia!
— Claro! — Rainn estava muito animado.
Na sacada, um daqueles raios solares cobriu o olho direito de Slezzy, de repente, forçando-o a desviar seu olhar do centro da cidade.
Alguns pensamentos dominaram sua mente:
“Todos aqueles demônios… desde quando estão presentes entre nós? Desde o início dos tempos? Hum… então por que somente há quinze anos atrás, surgiria o dito estopim da criminalidade em Maple? Isso tudo é tão confuso… mesmo tendo assinado aquele contrato, ainda não posso confiar nessas criaturas…”
Os Irmãos Sam, lado a lado com o rapaz, o encaravam.
Emmeline e Rainn estavam terminando de se arrumar para partir.
Slezzy voltou a observar o centro da cidade, composto pelos mais altos prédios, estruturados entre concreto e vidro.
“Salvador… Corvo… Quem são vocês? Por que… vocês fazem isso? Liderar as máfias que mais atormentam a cidade, sem motivo? Não…”
“Dinheiro? Ódio? Ego? Eu não consigo entender…”
“De qualquer forma, após esse intenso treinamento… não fracassarei quando te reencontrar, Salvador! Eu juro que você vai se arrepender de cada palavra dita no dia de nossa última batalha… você vai desejar… nunca ter desperdiçado a chance de ter me matado o quanto antes…”
— Querido? — falou Emmeline, chamando a atenção do garoto.
Slezzy, que estava distraído, se virou rapidamente.
Emmeline carregava duas bolsas consigo. Ela estava com uma grande jaqueta preta. Rainn estava ao seu lado, sorridente, teclando em seu pequeno celular.
— Nós… estamos partindo! — avisou ela.
— Você… não vai? — perguntou Rainn com um tom desanimado, depois de desafixar seus olhares do celular, encarando Slezzy em seguida.
— Hoje… seu irmão vai ter um dia muito cheio!
Slezzy caminhou lentamente até o seu irmão, se agachando e colocando a mão sobre seus cabelos.
— Escute, Rainn… eu realmente gostaria de abrir todo o jogo do que está prestes a acontecer; porém, antes de tudo, preciso prezar pela segurança de vocês. Olha, prometo que quando tudo estiver tranquilo, poderemos conversar abertamente. Eu sei que você está crescendo rápido e está se tornando um garoto esperto!
Rainn sorriu.
— Você sabe que a mamãe adora a sua companhia, não sabe? Principalmente o pequeno Harvim! — Slezzy se levantou. — Então, se divirta! Mas não se esqueça de que depois de mim, você é a única pessoa em que posso confiar para proteger essa garota do seu lado!
Emmeline abriu um pequeno e tímido sorriso em seu rosto.
Rainn, confiante e alegre desta vez, partiu para a porta principal da casa.
— Há alguns minutos atrás, liguei para Diana. Ela já sabe que estamos partindo! Ei… se cuide, querido — disse Emmeline, dando alguns passos à frente; abraçando Slezzy, beijando-o em seguida.
— Ei! Vocês não precisam fazer isso na minha frente! — reclamou Rainn.
Emmeline e Slezzy riram diante do pequeno menino.
Rainn e a garota terminaram sua despedida, partindo para fora do apartamento.
Depois de alguns segundos, Slezzy, que ainda observava a porta principal, foi interceptado pela voz de Haram, com um tom debochado:
— Você vai precisar de um contrato superior para uma possível batalha de hoje à noite, não acha?
O jovem caminhou rapidamente até aquela porta e a fechou, trancando-a. Logo depois, respondeu à pergunta, calmamente:
— Por que você diz isso, demônio?
— Talvez… pelo fato de que você foi humilhado na sua última batalha contra um mentoreado que realmente sabia manipular os maiores poderes do Arché Superior! Já parou para pensar, que naquele dia, você chegou ao ponto de quase morrer… arriscando nunca mais ter a chance de ver sua família novamente!?
Slezzy se enfureceu:
— Você acha mesmo que eu vou cair nesse seu truque barato? É só observar as últimas semanas! …eu estive treinando muito… com uma grande ansiedade para o meu encontro com qualquer um que apoie qualquer uma daquelas máfias. Mas é claro, vocês demônios precisam de algo para camuflar o seu desejo insaciável e puro interesse pela quantidade de vida de seus mentoreados. Por isso… vocês são trapaceiros e enganosos!
— O que? Trapaceiros? — replicou Haram, rindo.
Hiram apenas observava a discussão. Seu irmão continuou:
— Se realmente fôssemos trapaceiros, por que não fizemos você assinar um contrato de Enatus, por exemplo, no dia em que você estava prestes a morrer, batalhando contra Salvador? Poderíamos ter arrancado facilmente dez anos da sua expectativa de vida!
— Isso é apenas mais uma tática de manipulação, não é? — respondeu Slezzy, indignado. — Então me diga, Haram… por que você omitiu durante todo aquele tempo… sobre a sua classe de espadachim, além dos seus contratos?
Haram assumiu uma expressão séria em sua face, se aproximando do jovem. O demônio de cabelos longos, totalmente concentrado, apontou sua mão direita para baixo, canalizando um tipo de energia azulada.
Aquela energia se condensou, formando uma grande estrutura afiada.
No final de todo aquele processo mágico, Slezzy percebeu do que aquilo se tratava: era a espada de Haram.
— Todos os nossos últimos nove mentoreados… nenhum deles… chegou ao ponto de… no mínimo, presenciar esse artefato. De fato, devido à nossa condição rara, eu e meu irmão, possuímos no total doze contratos: seis que favorecem suas conjurações e manipulações do Arché Superior… e outros seis que o auxiliam no manuseio de quaisquer espadas entre todas as seis artes dos espadachins.
— O que? Seis artes dos espadachins? — perguntou Slezzy, confuso.
— São os seis estilos de espadas… reconhecidos oficialmente pelo livro dos demônios, o Coração das Sombras. — respondeu Hiram.
— Hum… eu me lembro de ouvir sobre isso…
— Para ser sincero, e ainda assim não sei por que estou falando isso para um mero ser humano… não tenho nenhum interesse em oferecer qualquer poder vindo dos meus contratos. Mas, agora que você tem o conhecimento da minha classe, graças ao Agente Sanches, não poderei negar qualquer assinatura devido às regras do livro que rege o nosso mundo.
Um silêncio dominou o apartamento de Slezzy por alguns instantes.
O jovem se virou e caminhou em direção ao seu quarto. Porém, ele concluiu toda aquela discussão com um comentário, antes de abandonar a presença de seus demônios: — Respondendo à pergunta inicial, eu recuso a sua proposta, Haram. Eu acredito que posso lutar contra aqueles mentoreados sem recorrer a mais contratos. Além disso, obrigado pela sinceridade. Agora, preciso me preparar. Tenho certeza de que essa noite será longa… e sangrenta.
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