Capítulo 73
— CAPITÃO! CAPITÃO…! — gritava um dos soldados daquela operação. Ele corria de maneira ofegante, na direção de Roy.
Havia ao todo, pouco mais de cinco barricadas militares em torno do colégio, que foram armadas de última hora, com total improvisação, através da posição de carros-fortes e outros equipamentos, afim de oferecer o máximo de proteção possível para o avanço dos agentes até a área estudantil; que naquele momento, sofriam grande dificuldade devido à cobertura dos franco atiradores inimigos, presentes em diferentes posições dos prédios ao redor.
— Bryan?
O soldado carregava um rádio em sua mão direita. Ao finalmente alcançar a posição do Capitão, ele o entregou aquele equipamento:
— Como você pode lembrar o meu nome, Capitão!? — perguntou Bryan, com uma voz muito ofegante, mas também recheada de felicidade.
— Isso não importa agora! — respondeu Roy, com um pequeno sorriso.
O Capitão se virou para o colégio novamente, enquanto posicionava o rádio em seu ouvido direito. Lado a lado com Helena e Jean, os três observavam os últimos resquícios presentes nos céus, daquele enorme poder reluzente que fora conjurado a menos de um minuto atrás, bem no fundo do colégio.
“— Roy!? Está na escuta?” — era a voz de Yuki, vinda do rádio. Jean e Helena conseguiam o escutar, devido ao volume relativamente alto do equipamento.
— Positivo! Eu preciso saber em quanto tempo… conseguiremos chegar até o maldito colégio! — disse o Capitão.
Alguns soldados em volta, também armados com fuzis, estavam ansiosos pela próxima ordem a ser decidida.
“— Em uma hora, talvez… Nós ainda não temos a localização exata da maioria dos franco-atiradores, então teremos que lidar com esse atraso”.
— Não. Precisamos estar lá… em até meia hora!
“— Roy, isso é impossível…”
— Escute, Yuki… — O Capitão baixou o seu tom de voz, para que os soldados ao redor não o escutassem. — Está havendo uma luta de Arché Superior, bem ali, e provavelmente resultará em alguma morte. Então, preciso que as atitudes mais severas sejam tomadas!
“— O que está sugerindo!?”
Roy demorou alguns segundos para respondê-lo, ainda em baixo tom:
— Diga a Saith… que por minha ordem… ele está autorizado a rastrear e matar todos os franco-atiradores presentes nesses prédios, utilizando de qualquer poder cedido por seu demônio.
“— Ok…” — respondeu o pequeno gênio, friamente.
*
Slezzy estava a cerca de vinte metros de distância de seu oponente. As vestes negras que cobriam seu corpo já estavam rasgadas e sujas de sangue. Seu rosto, antes camuflado, agora já era facilmente reconhecível.
Salvador não se encontrava em um estado muito diferente do jovem. Por outro lado, seu corpo estava com ferimentos menos graves.
Ambos se encaravam diante do gramado do campo de futebol americano, que naquele ponto, já não era mais o mesmo.
Um cenário de guerra havia dominado toda a área.
As arquibancadas estavam destruídas. As marcações e delimitações do campo estavam em sua maioria apagadas. Grande parte do gramado verde e repleto de cor já havia se transformado em uma grande porção de apenas terra.
Tudo estava irreconhecível.
— É impressionante… o quanto você realmente evoluiu… Slezzy… — comentou Salvador, após enxugar um pouco de sangue que pingava de seu queixo. — Ao menos… isso está me proporcionando alguma diversão…!
O homem mafioso sorriu.
Já o outro jovem não esboçou nenhuma reação àquela fala.
Slezzy aproveitou daquele momento para avaliar suas opções e estratégias.
Seus próximos movimentos naquela batalha, seriam decisivos.
“Eu sei que tenho várias vantagens em relação a você… Porém… Esse não é o local apropriado…”
O jovem rotacionava sua cabeça, observando os arredores e outras construções do local, enquanto pensava.
“A minha arma de gancho se tornou praticamente ineficaz nesse tipo de terreno, sem qualquer construção rígida ao redor… O ataque surpresa de minha espada já não é mais uma carta na manga… A não ser essa última granada de fumaça…”
Salvador assumiu uma posição de ataque, de repente. Impressionantemente, seu corpo se encontrava em uma forma descansada, apesar dos nítidos arranhões.
“Não importa. Eu preciso levar a batalha para fora desse campo…, mas como!? Não… Ele não seria tolo de ceder toda a sua vantagem… A não ser que…”
— Não se preocupe, Slezzy! Eu terei bastante tempo para cuidar de toda a sua pequenina família, após a sua dolorosa morte! — provocou Salvador, rindo mais uma vez, enquanto estralava seus dedos.
— Não!
— Han?
— O tempo não está ao seu favor, Salvador! — comentou friamente. — Agora, eu entendi… todo aquele papo de escolher entre a população de Maple ou minha família… era apenas uma distração para que tivéssemos uma última batalha… para que você concretizasse a sua tal “vingança”.
Salvador demonstrou uma expressão de receio.
— Do lado de fora dessa área, todos os seus franco-atiradores estão sofrendo grande pressão das tropas militares, que ganharão reforços, e logo exterminarão todos eles. No colégio, não tenho dúvidas de que Kayber e os seus outros capangas não obtiveram sucesso ao exterminar Sanches, já que não possuem o auxílio de seu comando… isso… se já não estiverem mortos. Você mesmo se cercou.
— Droga… — murmurou Salvador.
— Acho que… no final das contas… você apenas facilitou o meu caminho a partir das suas péssimas decisões… — Slezzy encarou o vilão, com olhares demoníacos. — Então… CORRA! CORRA, SALVADOR!
A testa do oponente de Slezzy começou a ser dominada por respingos de suor.
— CORRA CONTRA O TEMPO! PEQUENO SALVADOR! — berrava Slezzy.
Por fim, o garoto iniciou uma rápida corrida em direção ao colégio. No mesmo instante, Salvador começou a perseguir o jovem, disparando poderes roxeados em direção a suas costas.
Slezzy berrava debochadamente, enquanto desviava facilmente de todos aqueles poderes:
— PARECE QUE NÃO HÁ SAÍDA PARA VOCÊ, NÃO É MESMO!? PEQUENO SALVADOR! SÓ LHE RESTA CORRER CONTRA O MALDITO TEMPO! SEU DESGRAÇADO!
Ao alcançar o grande mural de tijolo que delimitava o fim da área do campo, até o resto do colégio, Slezzy se posicionou, com auxílio de sua arma de gancho, no topo de uma grande construção de paredes brancas, cercadas de janelas circulares.
Havia um grande portão de ferro que dava acesso àquele local, porém, Slezzy percebeu que ele estava fortemente trancado pelo lado de fora, com correntes de aço e um grande cadeado. Através de um pequeno buraco do telhado, o jovem visualizou alguns carros velhos dentro dali. Era uma área abandonada do colégio.
Slezzy foi surpreendido com a aparição repentina de Salvador, logo a sua frente. O homem não mais mascarado escalou a grande parede daquela construção, com auxílio de suas manipulações.
Salvador o confrontou com olhares raivosos; com sede de sangue.
Mais uma vez, ambos, apesar de extremamente exaustos, começaram a conjurar seus respectivos poderes.
Salvador partiu para cima de seu oponente, de maneira brusca e numa rápida velocidade, aos berros.
Como Slezzy estava muito mais cansado e ferido do que seu rival, ele optou por uma posição defensiva, apesar de não ser o seu forte.
Após o avanço avassalador de Salvador, ambos os poderes se chocaram, fazendo com que a estrutura do telhado não suportasse tal feito.
Assim, os dois caíram num chão emborrachado de um enorme cômodo sujo que compunha o interior da construção.
Salvador e Slezzy gemiam de dor devido aos ferimentos da queda. Inicialmente, uma pequena tempestade de poeira, causada pelo choque dos poderes, impediu com que os dois pudessem ter uma visualização completa do local.
Uma pequena conversa com os Irmãos Sam, começou a vir à tona na mente do jovem militar, enquanto ainda se encontrava em péssimo estado.
Seu corpo já não respondia todos os seus comandos.
“Você pode ter uma carta na manga no seu possível combate contra Salvador.”
As palavras daqueles demônios, naquela exata conversa, começaram a dominar a cabeça do jovem.
Os rivais se levantaram, lentamente; e logo observaram os arredores do local.
Havia carros velhos, armários enferrujados e até uma extensa vegetação morta espalhada ao longo das paredes.
— Sabe… qual é a nossa grande diferença… quando se trata de Arché Superior, Slezzy? — disse Salvador, enquanto retirava um pouco da poeira de suas vestes rasgadas. — Eu sou o mais resistente… O mais experiente… E logo… sou o mais forte!
Após se reerguer, Slezzy caminhou rapidamente até um armário lateral e se apoiou no mesmo. Seu corpo estava extremamente fraco.
— Você só sobreviveu até agora… por causa dos seus truques baratos. Mas, você não os tinha na nossa primeira batalha, lembra!? Foi por isso que eu lhe espanquei como uma batatinha naquele dia. Porém, hoje, aqui e agora… tudo isso vai ser diferente. Você vai morrer! Você vai pagar por tudo…!
Enquanto Salvador assumia uma posição de ataque, Haram resolveu alertar o seu mentoreado:
— Você precisa se decidir, Slezzy.
Hiram complementou:
— É simples. Viver ou morrer!
Os demônios estavam diagonalmente à frente do mentoreado.
Slezzy foi dominado pela dúvida, enquanto apenas observava o seu inimigo.
De repente, Salvador avançou, aos gritos, em direção à posição do jovem, que estava a apenas oito metros de distância de si.
Porém, durante aquele pequeno intervalo de tempo, Slezzy aproveitou para utilizar a última granada de fumaça que lhe restava em seu cinturão.
Sorrateiramente, o jovem retirou o pino daquela bomba e a jogou em seus pés, num rápido movimento.
A apenas um metro de acertar seu soco no meio da face de Slezzy, Salvador foi surpreendido pelo barulho do choque da bomba com o chão.
Logo, a granada foi ativada; e Slezzy se camuflou novamente.
O inimigo do jovem berrou:
— DROGA! DROGA! DROGA! CHEGA DE TRUQUES, SEU DESGRAÇADO!
A fumaça dominou quase toda a área interna do local.
Salvador, dominado pela raiva, conjurou seus poderes às escuras, em diferentes direções. No entanto, não obteve nenhum êxito.
Ele berrava muito. O ódio e extrema ansiedade já haviam o dominado.
Logo depois, a fumaça começou a se esvair, e o rival de Slezzy soltou algumas gargalhadas antes de provocá-lo:
— Se esse foi o seu último truque barato… eu realmente lhe desejo boa sorte… além de uma boa morte… Slezzy.
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