Restando apenas quatro horas para a meia noite, no quinto dia de novembro daquele ano, Harvim e Emmeline seguravam as mãos de Rainn, que acabara de acordar de seu coma; coincidentemente, no dia de seu aniversário.

       Os três trocavam ideias sobre tudo que havia acontecido em todo aquele tempo.

       Um médico e alguns enfermeiros também estavam por volta da cama, fazendo uma espécie de avaliação no garoto deitado, analisando os possíveis danos que teriam sido causados ao seu cérebro durante todo aquele processo.

       Na varanda, separada do quarto por apenas uma fina porta de vidro, lado a lado, Slezzy e Diana observavam aquela cena. Ambos encostavam suas costas sobre o guarda-corpo de ferro que cercava aquele pequeno espaço ao ar livre.

       — Segundo o doutor, as condições psicológicas de Rainn estão estáveis. Porém, o garoto não se lembra de absolutamente nada sobre o dia do atentado…

       O jovem ao lado daquela senhora preferiu não render o assunto.

       No entanto, Diana respirou profundamente; e logo o indagou:

       — Filho… O que realmente aconteceu no dia do atentado terrorista? Você sabe bem… que eu nunca fui de acreditar nessas reportagens e…

       Slezzy cruzou seus braços, desencostou suas costas do cercado e interrompeu a fala da mulher de cabelos brancos logo depois, provocando-a:

       — Você quer mesmo bancar a “santa” a essa altura? Diana Cagliari… — Slezzy manteve seus olhares firmes em Rainn, que ainda recebia a atenção dos médicos, do outro lado da porta. — Sabe… depois de entrar para o mundo daquelas criaturas e descobrir o mais sombrio segredo dessa cidade… pude repensar sobre as atitudes de Adam… e agora tudo faz sentido! Todas aquelas decisões que ele havia tomado nas últimas semanas, antes de sua misteriosa morte. Você sempre soube de algo, “mãe”; então… por favor, não tente omitir isso… não agora!

       Mesmo se surpreendendo, Diana não se tomou pela vergonha, e logo revidou:

       — Então… você assinou mesmo… um daqueles malditos contratos.

       — De qualquer forma, eu não a culpo. Isso não é algo que se deva sair por aí falando sobre. Além disso, foram as ações de Adam que colocaram esse fardo enorme sobre você. Pode ficar tranquila.

       — “Ficar tranquila”? E quanto a Harvim? — replicou Diana. — Ele presenciou assassinatos violentos e poderes concedidos por essas malditas criaturas… naquele dia. Como posso ficar tranquila… sabendo que meu único filho biológico acabou de descobrir esse novo lado assustador…?

       Diana decidiu economizar suas palavras, enquanto enxugava algumas lágrimas.

       — Como ele lidou com isso? Sabe… nesses últimos meses…

       Em meio a algumas fungadas, Diana lhe respondeu:

       — Tudo ficou tão estranho de repente… durante todo esse tempo, não trocamos nenhuma palavra, naquela gigante casa. Harvim se trancou em seu quarto, e nunca emitiu qualquer ruído; nenhum grito, choro ou qualquer palavra. Mas, quando ele soube que Rainn havia acordado, pude finalmente ver um sorriso em seu rosto.

       Slezzy esperou alguns segundos, para que Diana se recuperasse daquele assunto tão pesado. Adiante, o jovem a alertou:

       — Sabemos que Harvim é um garoto prodígio. Sua inteligência é algo de outro mundo. E o garoto já deve ter ligado os fatos, desde as decisões de Adam durante sua infância… com a descoberta desse novo mundo.

       — O que você está querendo dizer com isso?

       — Estou querendo dizer, Diana… que mais cedo ou mais tarde… Harvim terá de lidar com tudo isso. E ele precisará de ajuda, além de respostas. A questão é: você está disposta a reconhecer isso?

       Os dois se encararam.

       Dentro do quarto hospitalar, Emmeline se aproximou de Harvim, se agachou e sussurrou:

       — Ei, pequeno Harvim, você pode comprar um refrigerante em uma daquelas máquinas de bebidas que ficam no corredor aqui ao lado? Você sabe que Rainn é apaixonado por isso! — Ela estendeu seu braço esquerdo, oferecendo-lhe uma nota de dez dólares.

       — Mas é claro, Emmy! — respondeu ele, aparentemente alegre, pegando a nota da mão da garota de cabelos pretos e arroxeados.

       Harvim caminhou lentamente até a porta de saída do quarto.

       No trajeto, antes que saísse do quarto, Harvim percebeu de relance que sua mãe e Slezzy cochichavam algo na varanda. Ele desviou seu olhar rapidamente logo depois, para que os dois não o percebessem.

       Ao sair do quarto, o menino caminhou por um grande corredor, cercado por outras pessoas.

       Porém, estranhamente, ao cruzar o final daquele caminho, todas as pessoas de repente desapareceram. Todo o barulho de passos e conversas paralelas se cessou.

       O menino olhou para trás antes de entrar no corredor lateral em que ficava aquelas máquinas de bebidas. Ele percebeu aquele fator, mas apenas o ignorou.

       Em seguida, se virou e adentrou o novo corredor. Um verdadeiro clima de terror se construía ali.

       Se aproximando das máquinas, Harvim foi surpreendido por palavras emitidas assustadoramente, vindas de trás de si:

       — Harvim Cagliari…

       Após cessar seus passos, o garoto se virou lentamente; encarando o dono de tais palavras.

       Um homem com roupas trajadas de vermelho e com detalhes sombrios, cuja a face se destacava por seus longos cabelos lisos e brancos, lhe observava.

       A seguir, corpos seminus e ensanguentados começaram a surgir de repente das portas laterais, paredes e até mesmo do chão daquele corredor. Os olhos daquelas pessoas estavam completamente avermelhados.

       O homem misterioso se aproximou; confrontando o garoto:

       — Você achou mesmo… que simplesmente escaparia com a Espada de Heméra, sem qualquer consequência!? — riu maleficamente, logo depois.

       Harvim observou ao seu redor, em pavor, sem emitir qualquer grito. Percebendo que estava completamente cercado, só lhe restava encarar aquele homem, frente a frente, que prosseguiu com suas palavras:

       — Meu nome é Lyon. Também conhecido como Lorde Demônio Lyon. E creio que depois de presenciar tudo aquilo… e também tomar uma arma lendária para si, você esteja morrendo de curiosidade…

       As mãos do garoto tremiam continuamente.    — Pois bem, jovem; você estaria interessado em continuar conhecendo os mais profundos segredos do Mundo dos Demônios? — propôs o Lorde.


    Uma obra do Universo Chris Henry Creat.

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