Capítulo 51: Operação Simultânea

Ao longo da história, inúmeros eventos transformadores remodelaram o mundo, mas nenhum foi tão significativo quanto a ‘Grande Aniquilação’. Este cataclismo alterou não apenas as estruturas sociais, mas as próprias leis que regiam a existência. O período antes deste evento é conhecido como a Era da Ordem — um tempo tão drasticamente diferente do presente que parecia quase alienígena.

Os documentos da Era da Ordem estão fragmentados e incompletos, tornando incrivelmente desafiador reconstruir uma imagem clara e abrangente daquela era. Apesar dos esforços extensivos dos estudiosos, os registros sobreviventes estão tão entrelaçados em caos que distinguir fatos históricos de mitos é quase impossível. Como resultado, o entendimento do mundo durante a Era da Ordem continua vago e elusivo.

No entanto, uma quantidade significativa de conhecimento histórico foi preservada, particularmente do antigo Reino de Creta. Os registros deste reino sobreviveram relativamente intactos, oferecendo informações inestimáveis sobre o seu passado. As civilizações duradouras, que variam de pequenas cidades-estado a vastos impérios, destacam a resiliência e a adaptabilidade humanas. Os estudiosos atribuem essa continuidade a um evento miraculoso: o aparecimento do Fenômeno 001 – Sol.

O Fenômeno 001 influenciou profundamente a humanidade. Sua presença constante e tamanho impressionante geraram debates entre os intelectuais sobre sua natureza — se era uma visão passageira ou um corpo celestial real. O povo do Reino de Creta o nomeou Fenômeno 001, e o nome perdura até hoje.

Curiosamente, nem todos os fenômenos eram prejudiciais. O Fenômeno 001 era benéfico, sua luz dissipando os perigos do mar por metade de cada dia, levando a um tempo de prosperidade para as civilizações.

Os textos antigos do Reino de Creta descrevem as condições antes do aparecimento do Fenômeno 001 e o início da Era do Mar Profundo. Esses escritos retratam um mundo envolto em escuridão perpétua, iluminado apenas por um fraco brilho vindo do céu, pela fissura conhecida como ‘Criação do Mundo’. Devido a essa noite eterna, o antigo Reino de Creta também era conhecido como o Reino da Noite Eterna, refletindo as severas condições enfrentadas por seu povo.

Atualmente, Duncan, um homem curioso, estava diante de uma janela estreita, olhando para um mundo banhado pela luz do sol, imerso em pensamentos sobre o passado.

Ele refletia sobre a natureza do mundo antes da cataclísmica Grande Aniquilação. Será que o sol brilhava intensamente sobre o mundo durante a Era da Ordem? Apesar das inconsistências nos registros históricos de várias cidades-estado antigas, havia um consenso de que a Era da Ordem era caracterizada por segurança, prosperidade e abundante luz solar. No entanto, essa era de luz ilimitada já passou. Hoje, o Fenômeno 001 serve como a principal fonte de luz, iluminando o vasto oceano durante o dia e atuando efetivamente como o sol do mundo.

Isso levou ao desprezo generalizado dos seguidores do culto do Sol Negro, que blasfemamente consideram este ‘falso sol’ como profano. A rejeição deles à única fonte de luz da humanidade é vista como uma ameaça direta à civilização, levando ao ostracismo social.

Os seguidores do Sol Negro são, em muitos aspectos, vítimas da implacável passagem do tempo. Sob circunstâncias diferentes, suas crenças e ações poderiam ser vistas de forma mais simpática.

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Apesar de sentir uma ponta de simpatia, Duncan acreditava que seus objetivos eram fundamentalmente inatingíveis. Ele estava convencido de que nenhum sacrifício poderia criar uma estrela de fusão neste mundo, uma crença reforçada pelo fato de que ele nunca tinha visto uma estrela no céu noturno, sugerindo que seu mundo estava isolado do que ele conhecia como o espaço exterior.

Com esses pensamentos, Duncan retornou à privacidade de seu quarto. Ao entrar, fechou a porta e chamou sua companheira, uma pomba de seu poleiro. Ai rapidamente pousou em seu ombro e piou: “Quem está convocando a frota?”

Em vez de desconsiderar a pergunta da ave, Duncan caminhou até sua cama, onde havia escondido um amuleto do sol. Após um momento de reflexão, ele abriu uma gaveta cheia de diversas bebidas. Selecionou duas garrafas, cada uma com uma nota na parte inferior.

Uma nota, na familiar caligrafia de Nina, dizia simplesmente: “Beba menos”. Era um velho aviso afetuoso que não havia parado os hábitos de bebida do verdadeiro Ron e provavelmente não influenciaria Duncan também. Duncan sorriu suavemente ao relembrar.

Ele então se dirigiu novamente a Ai, apresentando os itens que havia recolhido. 

“Se possível, tente entregar isso ao Banido”, ele instruiu.

Ai respondeu com um bater de asas e um piado alegre: “Envio grátis Fedex!”

Após reconhecer a resposta animada de Ai com um aceno de cabeça, Duncan se preparou mentalmente para sua próxima aventura. Ele estava afastado do Banido há algum tempo, e embora não esperasse problemas durante sua ausência, como capitão do navio, sabia que não podia continuar se isolando em seu quarto.

Além disso, seus compromissos na cidade eram mínimos no momento. Nina estava na escola durante o dia e planejava passar a noite em seu dormitório novamente, proporcionando a Duncan a oportunidade perfeita para testar suas teorias sobre o transporte de itens através do reino espiritual e gerenciar suas existências duplas simultaneamente — ideias nascidas de suas experiências únicas.

Decidido a prosseguir, Duncan respirou fundo. Chamas verdes etéreas brilharam ao redor de seu ombro enquanto Ai se transformava em sua forma espectral de pássaro e abria a tampa da bússola ao redor de seu pescoço.

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Duncan foi imediatamente envolvido por uma luz cintilante, despertando sensações familiares dentro de si. Sentia como se estivesse viajando através de um túnel formado dentro de sua própria mente, com seus pensamentos o impulsionando em direção ao destino pretendido. Quase instantaneamente, sua consciência foi transferida para o Banido, especificamente para os aposentos do capitão.

Ao se reconectar parcialmente com seu corpo a bordo do Banido, Duncan usou de maneira engenhosa seu fogo espectral como uma ‘barragem’ metafórica, deixando intencionalmente um fragmento de sua consciência em seu corpo físico presente na loja de antiguidades.

Enquanto isso, a bordo do Banido, a forma física de Duncan começou a se mover dentro do quarto do capitão. Seus olhos se abriram lentamente, absorvendo os arredores familiares. A decoração habitual do navio e o som rítmico das ondas batendo contra o casco o cercavam.

Sentindo-se reconectado com sua outra forma física, Duncan percebeu que estava experimentando as sensações de dois corpos distintos simultaneamente!

Um sorriso de triunfo se espalhou por seu rosto ao confirmar sua hipótese. Ele realmente poderia dividir seu foco e controlar remotamente seu segundo corpo com apenas um fluxo de consciência.

Ansioso para testar ainda mais essa nova habilidade, não perdeu tempo em experimentar.

De volta à cidade-estado de Pland, dentro de sua loja de antiguidades, o corpo que antes estava imóvel de repente se mexeu. O rosto de Duncan, embora rígido e com aparência de zumbi, conseguiu controlar seus membros, embora de maneira desajeitada, assemelhando-se aos movimentos de um autômato enferrujado.

Se algum observador visse essa cena bizarra, ficaria aterrorizado, provavelmente correndo para chamar o departamento do xerife da cidade para relatar um homem aparentemente possuído por forças sombrias. E suas suspeitas não seriam totalmente infundadas.

Navegar com seu corpo controlado remotamente pela loja provou ser um desafio para Duncan. No entanto, após várias tentativas, ele conseguiu posicionar seu outro corpo ao lado da cama.

Mas assim que ele se ajustou à entrada visual de sua localização remota, a imagem mental de repente saiu de controle, indicando que seu corpo remoto havia caído no chão…

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Com um suspiro de resignação, Duncan reconheceu que dominar essa habilidade recém-descoberta exigiria consideravelmente mais prática.