Capítulo 10 - A Capital Obsidiana
Maika acabou desmaiando e John ficou de levá-la à instituição médica local, pois a magia de cura dos irmãos Velgo era incapaz, naquela época, de mitigar o cansaço físico e mental decorrente de Revelações.
Guardaram a bagagem em uma hospedagem próxima. Depois, escolheram a frente de uma madeireira para conversar com mais calma. Faltava decidir uma coisa.
— Pra onde nós vamos agora? — perguntou Verion.
— Se as prioridades estiverem sendo levadas a sério, é agora que vamos atrás de receber nossas categorias, certo? — Yunneh batia o pé, impaciente.
— Na verdade eu deveria ir atrás da Lisbeth saber o motivo de ter sido chamada. Mas… às vezes uma emergência nacional pode esperar, né não? — Ela os encarou, esperando alguma aprovação.
— Eu acho essa uma péssima ideia, a segurança do país deveria ser prioridade — afirmou Verion, com o dedo indicador levantado ao lado do rosto.
Jeremiah e Yunneh concordaram de imediato com a conselheira, fazendo o baixinho apenas desistir de tentar entendê-los. Ele murchou como uma flor ressecada e foi para um cantinho, emburrado e sorrindo de nervoso com as sobrancelhas franzidas.
— A categorização ganhou! Apesar de não vivermos em uma democracia, a democracia acabou de venceeeeer! — comemorou Lorellai, saltitante.
— Ei, acho que não pega legal gritar isso aí na rua…
— Verdade, né? Bem, mas não é problema meu essa não ser uma nação democrática. — Deu de ombros.
Minutos depois, seguiam de carruagem para mais perto do centro da cidade de Sirius. Apesar das ruas serem largas, paravam vez ou outra para esperar que pessoas e outras carruagens passassem.
Em uma das ruas, ouviram uma discussão sendo travada entre um senhor calvo de terno, exageradamente arrumado, e um homem claramente cansado que apenas queria voltar para casa.
— Senhor, eu já disse! Você precisa comprar o pacote de macarrão inteiro, não vamos te vender uma única unidade isolada de massa de macarrão!
— Esse é meu direito pelo código de defesa do consumidor. Eu vou pagar por um único macarrão você querendo ou não! — O homem de terno puxou uma cópia completa da constituição das roupas.
— Uau, o grande comércio é mesmo selvagem… — soltou Verion ao ver o ocorrido.
— Nunca tive esse problema com alguém querendo só uma partezinha da minha comida. Os ursos lá de casa queriam é tudinho — disse Jeremiah de olhos fechados e com uma mão levada ao queixo.
“Pra que ele tá fazendo essa pose toda pra pensar nisso?”
Yunneh desviou seu olhar do loiro e cutucou Lorellai.
— Falta muito para chegarmos nessa zona de testes?
— Um pouquinho, mas pode ficar tranquila. É um lugar muito chamativo, vocês certamente saberão quando estivermos perto.
Jeremiah era o único, fora a conselheira, que sabia dos detalhes de como funcionava o teste de categorização. Teve experiências próximas com pessoas que passaram pelo processo, mesmo nunca tendo participado de um deles por medo de ser reconhecido.
Verion e Yunneh, por outro lado, não sabiam nada sobre a categorização para além de sua mera existência. Elta sempre tentou os afastar da vida mágica. Só depois do adoecimento do Anjo o aprendizado deles acelerou. Por estarem sob os cuidados de alguém tão protetor, ficaram desinformados quanto a uma série de assuntos que eram de conhecimento comum.
— Eitaaaa preula! — berrou Jeremiah, ficando boquiaberto em seguida.
Quando a carruagem virou na esquina do local, as palavras da conselheira sobre o quão reconhecível o lugar seria foram concretizadas. Uma estrutura esférica enorme flutuava a vários metros acima do chão.
A esfera branca tinha 600 metros de diâmetro e parte dela era de vidro. Através dos pontos transparantes, avistaram árvores e um gramado interno; também alguns indivíduos sendo testados.
— COMO É QUE ESSA COISA VOA? — Yunneh estreitou os olhos para ver melhor.
— Lisbeth, ela meio que controla o magnetismo e faz isso. Tem muita coisa metálica flutuando pela cidade, mas não precisam se preocupar com elas despencarem por aí.
— O que é magnetismo mesmo? — Verion tentou pescar nas memórias, porém nada veio.
— Meeeeelhor termos essa conversa aí mais tarde meu chuchu.
Lorellai pagou pelo serviço prestado pelo dono da carruagem e todos desceram.
Abaixo da estrutura, um grupo armado com espadas e alabardas conversava com algumas pessoas. Prosseguiam, em grupos de dez, aqueles que recebiam permissão para subir na plataforma que os carregava ao interior esférico.
“Ah não, burocracia… Será que a Lore ia se incomodar caso eu congelasse todo mundo?”
O irmão percebeu o olhar característico dela.
— Não.
— Nem falei nada! — Yunneh cruzou os braços, sorrindo de canto de boca por ter sido lida com tanta facilidade.
A ruiva usou seu cargo e importância para passar por cima das regras chatas — que ela mesma havia criado —, e ir direto com seu grupinho até o espaço de testes. Olharam bem a área ao redor enquanto a plataforma realizava seu trajeto.
A área inicial, sua entrada, era uma sala cinzenta com algumas mesas e cadeiras de obsidiana. Um conjunto de portas pretas podiam ser vistas na parede à esquerda do ambiente, perto de um quadro de avisos.
De trás de um balcão repleto de documentos, um homem sonolento e uniformizado atendia uma jovem de longos cabelos laranjas e olhos esmeralda. A figura de armadura leve segurava uma lâmina brilhante presa a uma corrente enferrujada.
— Agiliza minha vida, engomadinho. Preciso voltar pra minha vila antes do fim de semana. — Cravou a arma profundamente no balcão, justamente para dar prejuízo, e semicerrou os olhos, insatisfeita.
— Senhorita Madallen, eu já disse que você não pode realizar o teste duas vezes no mesmo semestre. Pare de insistir, pelo amor de Quilionodora!
— Mas eu tô te falando, velho molenga, eu só me saí mal por não estar com minha lâmina!
— Some de uma vez, não abrirei exceção por ninguém! — Ele bateu a mão, fazendo a papelada voar do balcão.
O atendente a encarou, o estresse a flor da pele, enquanto os documentos caíam pelo chão. Cruzou os braços e esperou.
— Que foi meu filho? Se tá achando que vou pegar isso, você também deve acreditar que a lua é feita de queijo, né? — Ela se debruçou no balcão e deu um tapa no ombro dele.
Yunneh simpatizou muito rápido com a garota e pediu para Lorellai fazer alguma coisa a respeito. A mulher aceitou o pedido, indo diretamente até eles.
— Seu nome é Madallen, certo?
— Isso aí! — Sorridente, apontou para o próprio rosto.
— Se recolher os papéis, eu te dou permissão de refazer o teste agora.
— Opaa! — exclamou e se arremessou no chão com tudo, pegando a documentação como se sua vida dependesse disso.
Retornou os itens ao seu devido lugar e ainda posou de prestativa, sorrindo orgulhosa com as mãos na cintura. O recepcionista apenas ignorou e voltou seu olhar para a figura importante.
— Finalmente deu as caras, hein?
— Victor, por mim você morria largado na rua e eu não parava a merda das minhas férias.
— Calma aí, não precisa ser tão honesta!
— Foco no que importa: eu trouxe os filhos do antigo Anjo e um amigo deles para fazerem o teste. Disponibiliza um setor, agora.
Os olhos dele se arregalaram ao saber que se tratava da família Velgo. Logo levantou de sua cadeira e correu para uma das portas do local.
— Só um minutinho! — Fechou a porta e seguiu por um corredor pouco iluminado.
A zona de testes era composta por um gramado artificial, algumas árvores e enormes rochas. Existiam várias zonas de testes dentro do objeto, mas eles ficaram com uma parte que foi anteriormente desativada.
— O resto dos professores já estão ocupados lidando com os outros visitantes, então vou me encarregar de conduzi-los — disse Victor.
A conselheira deu a eles uma explicação completa sobre as bases do teste. O primeiro ponto avaliado era a quantidade bruta de Roha, o acúmulo máximo de energia que podiam manter em seus corpos. O segundo quesito era a conversão de Roha para um dos Elementos.
Transformar energia pura em algo como fogo ou gelo, normalmente, ocasionava na perda de um grande valor durante a conversão. O segundo assunto se referia a isso, ao quão bons seriam em reduzir a perda de energia mágica durante essa transmutação.
Outras capacidades gerais também entravam no cálculo, mas ela disse que era simplesmente para mostrarem o máximo de suas forças destrutivas.
— Quem quer começar? — perguntou Lorellai, ao lado de Victor.
Madallen deu um passo à frente, girando sua corrente com enorme violência. O som da lâmina cortando o ar reverberava no espaço e se intensificava a cada segundo.
— Vou euzinha aqui! — gritou antes de qualquer um falar.
O processo de categorização havia se iniciado.
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