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    Yunneh não tinha certeza do quão forte ficou após o estranho evento de ressurreição. Qualquer coisa que fazia parecia muito mais poderosa. Sua nova espada, coberta pelo Roha, era verdadeiramente mais ameaçadora que as anteriores.

    Sentia o suor escorrendo por seu rosto, as pernas trêmulas e uma tensão por todas as coisas que vivenciou naquele salão em menos de 10 minutos. Era uma confusão de emoções e um fluxo perturbador de informações para ter que lidar.

    — Eu não faço ideia de como controlar essa força que ganhei, então vou tomar a decisão que mais combina comigo. — Apoiou a espada no ombro, respirando fundo para tentar dissipar sua confusão. — Não vou controlar porra nenhuma, vou deixar essa coisa explodir!

    — Por favor, dá um jeito de acabar com tudo e tirar a gente daqui! — gritou Darian, desesperado.

    — Fica quietinho aí, querido. — Bel deu dois tapinhas na cabeça dele, tratando-o como uma criança carente.

    — Ae, Nerose!

    — Que fabuloso! Me chamando pelo sobrenome! É minha fã, né, né, nééééé?! — Ficou saltitante.

    Yunneh reagiu com nojo ao comentário dele e resmungou: — Dá pra parar de ser esquisito, seu cachorro?!

    — Andorinha!

    — Tanto faz, periquito! — Apontou a espada para os inimigos. — Se eu ainda posso voltar a vida outra vez, e meu corpo foi recuperado, tá na hora de abusar dos meus limites.

    O ar esfriou bruscamente antes mesmo dela gritar: — Revelação: Despina! Revelação: Despina! Revelação: Despina! Revelação: Despina!

    Quatro focos luminosos azulados surgiram no ar e congelaram tudo instantaneamente no salão. Camadas e mais camadas de gelo dominaram completamente as paredes e o chão. O gelo havia ganhado um tom azul profundo, idêntico ao da mãe de Yunneh.

    Os focos de luz, as Revelações, uniram-se e dilataram-se para formar uma espada duas vezes maior que a própria portadora. A lâmina, azul profundo, que segurava com as duas mãos cintilava. O frio proveniente dela era cruel e intenso. A temperatura do ar havia caído para 130 graus negativos por toda a área.

    Um forte gosto de sangue tomou sua boca pelos usos sucessivos, mas pouco importava, tinha apenas olhos para seu objetivo.

    Com uma investida, empalou uma das criaturas e a ergueu para cima na ponta da lâmina. Converteu o frio, o Elemento Gelo, gerado pelas Revelações em energia pura, gerando uma explosão.

    O inimigo atingido voou contra o teto, com um buraco enorme no torso, e caiu de volta. Foi interceptado antes de tocar o chão com uma série furiosa de cortes energéticos que o despedaçou sem qualquer margem para reação.

    Um sorriso tomou o rosto de Yunneh.

    “Que inferno! Eu penando pra fazer alguma coisa contra aquele primeiro e depois de morrer eu mando uma dessas?”

    — Hahahaha! — Iniciou outra investida, saltando inconsequentemente entre os alvos.

    O grupo inimigo tentou a atingir diversas vezes. Todos eram tão rápidos quanto o primeiro, mas agora ela estava em pé de igualdade. Abaixava, rolava pelo chão, saltava, pulava na parede para mudar de trajetória, fazia de tudo.

    A confiança que sentia era prazerosa em comparação às decepções do passado. Seus belos cabelos balançado durante a corrida a trouxeram um ótimo sentimento. A sensação de liberdade por finalmente conseguir contra-atacar dominou todo seu corpo e alma.

    “É isso!”

    “Sei que vou perder minhas memórias disso tudo, mas que se foda! Isso tá divertido pra cacete!”

    Formou dezenas de milhares de espadas e as fez chover sobre os alvos, prendendo-os no chão. Arrepiada e concentrada, realizou um corte horizontal, destruindo uma das esferas luminosas por inteiro para criar uma nova explosão energética.

    A onda de energia abriu uma cratera na parede do salão e dizimou outros 5 monstros. A alegria no semblante de Yunneh ficava cada segundo mais forte. O gosto de sangue em sua boca também se intensificava a cada instante.

    Em meio ao caos de detritos e a nuvem de poeira, ela agarrou uma das criaturas pelo pescoço e deu uma cabeçada nela, rindo freneticamente. A criatura foi lançada para longe e cravejada de espadas até ficar irreconhecível.

    — Qual o problema?! Não conseguem me pegar agora?!

    Bel assistia à batalha de trás de uma barreira brilhante, feita para não serem afetados. Darian, embasbacado, apenas olhava os movimentos com os olhos brilhando. Era tão impressionante que esqueceu, naquele momento, que poderia morrer.

    — Avicés, permissão para se mesclarem! Revidem com tudo! — Coçou o queixo, um sorriso tranquilo estampado no rosto, lembrando da mãe dela.

    Todos os 18 restantes se juntaram numa grande massa de bolhas cinzentas, assumindo uma forma quadrúpede, semelhante a um grande lobo deformado. A coisa de 25 metros de comprimento gritou, fazendo o salão estremecer.

    — Dá a patinha aqui! — Caçoou, preparando o próximo ataque.

    O chão vibrou com os passos velozes do inimigo. Tendo iniciado uma investida furiosa contra Yunneh, concentrou uma quantidade massiva de Roha nos dentes tortos e macabros.

    A resposta da Velgo foi correr na direção do alvo, indo cara a cara. Antecipou a mordida e deslizou pelo gelo do chão, sendo mais rápida que a abocanhada que quase recebeu. O bater dos dentes gerou um estrondo que fez seus ouvidos zunirem de imediato.

    Ainda deslizando por baixo do falso lobo, apontou a espada para cima, explodindo duas esferas luminosas da Revelação de uma vez. O impacto gerado pela explosão energética arremessou o alvo contra o teto. Pedaços inteiros da pedra branca começaram a cair pelo salão.

    Yunneh moldou o gelo adiante como uma rampa para se jogar para cima. Agarrou-se em um dos destroços ainda em queda e o usou para correr e saltar na direção da aberração.

    — Tu não vai tocar nesse chão uma segunda vez!

    Pôde ver o buraco que deixou pela barriga dele, dava nas costas, atravessou. Sentindo o gosto de sangue e poeira na boca, cravou a espada na cabeça dele até só sobrar o cabo para fora, prendendo-se.

    Inesperadamente, sentiu como se seu corpo tivesse sido atingido por um raio.

    A enorme carga elétrica confundiu todo seu sistema nervoso e ela acabou se soltando da espada por perder o controle do corpo. Não conseguia respirar direito, seu sistema respiratório havia sido afetado. Sentia a sensação de queda, impossibilitada de se mover.

    O inimigo conseguiu chegar ao chão primeiro, por conta do peso, e a atingiu com uma das patas em cheio. Yunneh foi arremessada na cratera que abriu na parede. Bateu contra as pedras e fraturou alguns ossos.

    Do lado de fora do buraco, o teto desabou inteiro sobre a criatura. O grunhido bizarro ecoou por toda parte.

    — V-Vegarten… — A luminosidade dourada resolveu rapidamente todas as avarias neurológicas e físicas que sofreu.

    “Essa… essa porcaria além de não congelar nesse frio também faz isso?!”

    “Fiquei forte mesmo, puta merda… Uma pancada dessas antes teria me desmanchado igual um papel molhado.”

    Alongou-se e sentiu um incômodo nos ombros. Lambeu os lábios, sentindo o gosto ferroso.

    “Foi o que eu achei que ia acontecer. A Vitalidade não tá curando os efeitos colaterais de usar tanta Revelação…”

    — Arrgh… pelo menos meu sangue não tem um gosto tão ruim — balbuciou enquanto levantava na escuridão do buraco.

    A visão de dentro para fora da cratera, que tinha um formato horizontal, era de uma pilha de destroços e muita poeira no ar; quase incompreensível o que estava adiante. A luz dourada que banhava o local desde a chegada de Bel ainda permanecia lá.

    Antes de conseguir pensar em uma estratégia, viu o pequeno brilho azul da própria arma surgindo dentre os destroços. De um segundo para o outro, a criatura invadiu a cratera, rastejando insanamente em seu interior estreito. Cravava as garras na pedra a cada movimento, causando um barulho ensurdecedor.

    — Ô babaca, devolve minha espada! — Correu lateralmente para tentar flanqueá-lo naquele espaço apertado.

    Tentar usar o Roha para puxar a espada para fora à distância não estava funcionado, precisaria de força bruta.

    Criou milhares de lâminas gélidas e as cravou no lado esquerdo do corpo, fazendo-as explodir ao converter em Roha puro novamente. Repetia o processo muitas vezes enquanto tentava chegar atrás dele.

    O estreitamento do espaço dificultou que o falso lobo acompanhasse o movimento lateral. Ela subiu pelas pernas traseiras e deu um salto para as costas. Avançou visando a cabeça.

    “Devolve, devolve!”

    Como reflexo, a criatura se ergueu na ponta das patas e bateu com as costas no topo do espaço. Yunneh bateu a cabeça, mas isso não foi o suficiente para impedi-la. Curou-se e seguiu até o pescoço. Saltou adiante e pôs as mãos na empunhadura.

    Forçou as pernas contra aquela monstruosidade deformada para puxar a espada para fora. De repente, sentiu uma dor violenta, outra carga elétrica, mas já era tarde para a criatura. Ela caiu rolando pelo chão irregular com a arma em mãos.

    Curou-se outra vez dos danos neurológicos causados pela eletricidade e levantou, entrando em pose de corrida.

    “Ainda tenho uma opção.”

    Se mero poder destrutivo não trazia resultados, tendo em vista que atingi-lo em cheio com uma explosão dupla não foi o suficiente, precisava tomar outras medidas. Com um grande impulso usando a força das pernas, disparou contra o adversário.

    Explodiu metade da Revelação restante na espada contra a perna dianteira direita, focando todo o poder destrutivo naquele único ponto. A estranha e cinzenta matéria foi destroçada. Ela conseguiu arrancar.

    Explodiu a outra metade contra a esquerda e fez a criatura tombar para frente. A espada voltou ao normal, retornando ao seu aspecto transparente, perdendo o azul profundo.

    “Entendi… ataques focados aproveitam melhor o potencial.”

    Sentiu que sua energia havia chegado na metade naquele ponto, o que era surpreendente até para ela. Depois de utilizar 4 vezes seguidas aquele poder, ainda ter tanto Roha guardado era impressionante.

    — Agora vai ficar paradinho aí enquanto eu te estraçalho, aglomerado idiota! — Começou a lançar e explodir várias de suas espadas comuns de forma inunterrupta contra a cabeça.

    A cratera horizontal começava a ruir aos poucos, porém, tranquilamente, ela continuava lá encarando ele com um sorriso sádico no rosto. Foram dois minutos inteiros daquela tortura, incapaz de fugir, até se transformar totalmente em pó.

    Yunneh saiu do buraco na lateral do devastado e vasto salão branco, limpando a poeira de seu vestido como se não tivesse feito nada de mais. Fitou Bel com seus frios olhos azuis.

    — Desembucha, periquita! O que era mentira no final do diário do meu pai?!

    — Ótimo desempenho, garota picolé! — O imortal desfez a barreira que utilizou para se separar do caos com Darian.

    A luta teve fim e uma importante verdade parcialmente inalcançável se aproximava.

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