Capítulo 44 - A Odisseia de Circe Lethê Parte 7
A alta atividade vulcânica e poeira causada pelo deslocamento de terra tornou a vida muito difícil em grande parte do planeta. Gelo, tsunamis, maremotos, terremotos intermitentes e tornados assustadores cobriam boa parte do mundo.
Enquanto a vegetação morria e o restante da realidade entrava em caos, Rotsala e Circe estavam deitados em cadeiras de praia. Flutuavam no lago, em um novo galeão do excêntrico jornalista. Aproveitando a área protegida pelo efeito dos jornais, viam o céu azul cercado por cinzas obscuras que não avançavam rumo aos povoados locais.
— …Exagerei, né? — indagou Circe, uma leve vergonha na voz, como de uma criança que derrubou o jarro de porcelana preferido da mãe.
— Você disse que não te deram opções! Tá mais do que certa de explodir esses histéricos chatos… — Escapou-lhe um longo grunhido enquanto pensava, até dizer: — Mas é, cê se passou nessa aí…
“Pelo menos eu sou uma mentirosa convincente… Ainda acha que eles começaram.”
— Em algum tempo isso deve se resolver… — Circe mordiscou o lábio inferior. — Pelo menos acho que sim.
Aos poucos, Rotsala levantou-se da cadeira e se encostou no parapeito da embarcação. Observava os barcos pesqueiros que navegavam pelo lago, enquanto o som sereno das águas preenchia a audição.
— Vai mesmo só ficar por aqui de olho em mim? — perguntou sem aparentar preocupação, a voz leve e suave.
Circe levantou e parou ao lado, escorando-se naquele ponto. Da mesma forma que o ruivo fazia, passou a observar o movimento de pescadores.
— Preciso cuidar de um problema criado por um daqueles deuses. Vigiar você agora é menos importante, já que sei que suas intenções são boas — disse no mesmo tom de leveza, abrindo um sorriso no final. — Mas não faz mal continuar de olho, por precaução.
— Precaução, é? Yehehehe! Admita logo que quer ser minha amiga também!
— Ei! — Botou a mão nos volumosos cabelos carmesim que o faziam parecer um leão e os bagunçou. — Admito sim! Está feliz agora?!
— Uhum… — Assentiu e a abraçou de repente, saltitante ao ponto de quase derrubá-la. — Pra comemorar seu retorno, vou mesmo atrás de conquistar o estrogonofe que prometi!
— Calma! Calmaaaa! — A voz soou irritada, porém a expressão feliz permaneceu no rosto da assassina por um bom tempo.
Na noite daquele dia, Rotsala convidou todos os moradores da região protegida para uma comemoração. Em uma máquina de escrever, cobriu manualmente o jornal em branco com a notícia do retorno da deusa Circe. Quando contou aos moradores que os deuses que tanto atormentavam ele agora estavam mortos, o povo glorificou Circe como uma salvadora e libertadora daquela região.
Com o passar dos meses, ela se tornou uma das principais lideranças da região do lago ciano. Circe e Rotsala continuaram conversando e contando histórias um ao outro, conhecendo melhor suas personalidades e desejos. Uma amizade verdadeira floresceu juntamente de uma confiança mútua e concreta.
Dez anos após o aparecimento dela, Rotsala decidiu fazer com que todos os moradores da área do lago fossem imortais enquanto permanecessem lá dentro. Foi uma medida tomada principalmente pensando em seu avô, que já parecia bem doente. Alterou as idades — congelando-as no tempo — e aparências de todos que pediram-no, diminuindo o estranhamento naquela pretensa eternidade. Com os jornais e seus poderes associados, gerou uma verdadeira e deturpada utopia enclausurada.
Muitos logo ficaram desesperados com a mesmice de sempre e o espaço pequeno em que viviam. Incentivado por isso e pelo aumento da taxa populacional, Rotsala iniciou uma lenta expansão da área de efeito para seus poderes.
O azul daquele céu protegido permaneceu cercado pela poeira e vermelhidão externa. Demorou muito tempo até que algo ocorresse, e esse algo foi ocasionado por novas deidades. Diversos problemas foram solucionados ao longo de séculos, trazendo o equilíbrio natural de volta.
A principal deidade responsável por curar a natureza foi Vegarten, uma entidade benevolente de características femininas. Podiam avistá-la curando humanos doentes e a própria natureza quase diariamente. Era de fácil identificação, pois, além de uma pele pálida e mãos de madeira, grandes anéis de trigo retorcido voavam ao seu redor.
Conforme o mundo era curado, Rotsala e Circe planejaram sair da região para viajar e conhecer os diferentes povoados daquela realidade. Começaram curiosos e entusiasmados, mas logo notaram uma problemática: muitos humanos odiavam o jornalista e ela, mesmo que nunca tivessem os visto antes.
Ni, o único sobrevivente do massacre da catedral, espalhou mentiras e boatos sobre ambos. O entusiasmo que deu início naquela jornada minguou rapidamente e chegou ao seu menor patamar quando tudo se repetiu. Novos deuses sentiam a mesma terrível sensação de Rotsala e não queriam qualquer contato com ele.
Muitos tentaram matá-lo novamente, e Circe realizou uma verdadeira chacina ao longo dos milênios seguintes. Foram dezenas de apagados da existência, e, no fim, o jornalista afundou-se em uma tristeza imensurável. Aqueles que o aceitavam eram da civilização que forjou; o restante temia-o como um demônio.
Dias de sentimentos horríveis tornaram-se em mais milênios de agonia. Tudo que almejava era mudar a vida de todos os humanos para melhor com seus jornais, mas não poderia fazer isso por um fator fora de seu controle. A energia corrompida que apenas os deuses daquele mundo podiam sentir era como uma maldição que não deixava seus ombros.
Enquanto outros deuses criavam suas próprias nações e eram adorados, Rotsala continuava no ostracismo ao lado de Circe, que era a única capaz de fazê-lo sorrir. Insatisfeito, continuou a expansão do território de efeito dos jornais até cobrir uma grande região, onde já existiam milhões de seus moradores imortais.
Os estudos sobre a Lua Negra aumentavam.
14 Milênios Atrás, Era da Prosperidade.
Novas civilizações, países, culturas e mais deuses ainda. O mundo borbulhava em novidades e otimismo, diferentemente de Rotsala. O Jornalista Carmesim, como fora conhecido mundialmente, permanecia em um dilema emocional.
Sentia-se culpado em não se dar por satisfeito em ver o próprio povo feliz com ele. Era amado pelos seus, mas hostilizado como um demônio pelo resto do mundo. Deuses vez ou outra ameaçavam uma invasão, prometendo que matariam tanto ele e Circe, como seu povo por seguir alguém como ele.
Mesmo com sua civilização eternamente marcada e jurada de alvo para um extermínio, a mesma questão martelava em sua mente: “Por que não posso simplesmente viver tranquilo com o resto do mundo? Não queria ter morrido, e nem sei se queria estar aqui nessa realidade… Seria tudo mais fácil se essa energia corrompida não estivesse em mim… Talvez se eu morrer… Não… Não… Meu povo ainda precisa de mim. Sei que todos morrerão se eu falhar uma única vez que seja contra todo esse ódio irracional que cai sobre essa terra e meu nome.”
Outros pensamentos vinham-lhe à mente: “Cada pessoa daqui de dentro acredita em mim… Sou responsável por todos… Mas será que realmente são felizes presos nessa fração do mundo, sem liberdade de entenderem o que há lá fora? Preciso… preciso continuar parecendo confiante. Se eu fizer parecer que está tudo bem, talvez também sintam isso…”
Circe notava a falsidade em seus sorrisos e discursos, sabendo que ele temia perder o amor dos únicos que ainda o admiravam naquele mundo, caso ficassem infelizes ou cansados daquilo. Circe acompanhava tudo isso de coração partido, amargando uma tristeza inescapável.
Ao longo do tempo, desenvolveu uma empatia e um senso de humanidade tão profundos que conseguia entender perfeitamente aquela dor. A deusa havia se tornado tão humana quanto Rotsala. No entanto, seus traços sombrios, que beiravam a psicopatia, nunca a abandonaram.
A raiva que cresceu por Ni, o Deus do Enigma, era uma impulso assassino incontrolável. Apesar de ainda não saber onde havia se escondido, queria destruí-lo da mais cruel das formas. Ter manchado o nome deles naquele nível era imperdoável.
Enquanto o jornalista definhava em seus medos e descontentamentos, Circe continuava estudando aquele mundo. Novas aparições de humanos vindos do mundo de Rotsala começaram a surgir e se alastrar por aquela realidade. Um fato que ainda fugia de sua compreensão.
Nessa época, próxima da virada do milênio, ela ouviu boatos de um humano comum que se tornou uma deidade sem explicações aparentes. Não pôde investigar isso, pois temia piorar a situação com o mundo caso fosse vista fora da região mais temida de todas.
13 Milênios Atrás, Antes da Guerra das Deidades.
Tão rápido quanto chegou na vida de Circe, Rotsala a deixou. Da noite para o dia, ele desapareceu sem deixar qualquer vestígio. Ninguém mais sentia sua energia e, por consequência imediata, vários deuses se aproximaram da civilização, formando um grande cerco.
Não houve tempo para que ela entrasse em pânico. Prontamente pegou sua foice e fez um anúncio, clamando ao povo que lutaria na ausência de seu principal líder para protegê-los das forças invasoras. Os habitantes, que agora envelheciam naturalmente, confiaram nela naquele momento, uma última esperança.
Na ausência de Circe, que havia partido para as fronteiras, o avô de Rotsala, Miguel Palhano de Lima, assumiu o controle nacional. Portando sua lâmina destrutiva, avançou em velocidades supersônicas pelo território para interceptar os deuses na fronteira.
— Não posso deixar que matem todos esses inocentes a troco de nada! — gritava sozinha no percurso, a voz se perdendo na velocidade extrema.
Na área que chegou, encontrou-se com uma dupla de deuses desarmados. Um se chamava Higan e o outro Zhemo; respectivamente Deus da Vingança e Deus do Tormento. Circe pediu para que avisassem a todos os outros que ela iria destruir o mundo inteiro com as próprias mãos caso matassem um único civil daquele povo.
Aquela dupla, ao contrário do que ela imaginava, aceitou cooperar. Aderiram ao pedido dela justamente por saberem das chacinas que ela havia cometido contra as deidades anteriormente; era de fato cabível que ela levasse aquelas palavras até as últimas consequências.
Por semanas, Circe afastou pessoas e deidades das fronteiras, repetindo uma mesma ameaça sobre trazer o fim dos tempos caso tocassem nos moradores. Chorava nas noites, pedindo para que Rotsala voltasse de onde quer que estivesse.
Os pensamentos sobre talvez nunca descobrir o que havia ocorrido com ele vieram. A tristeza oculta dele e o amargor que se incrustou naquele coração, tudo coisas que ela não poderia mais sequer tentar ajudar a solucionar.
Não estava mais lá.
Após dias mentalmente desgastantes, aqueles mesmos deuses retornaram. Higan e Zhemo pediram para ter uma conversa.
Era manhã na região norte da Nação de Rotsala. Enquanto terras congelantes dominavam parte do território, outras áreas tinham climas mais amenos. Em uma área montanhosa, uma escadaria de pedra polida estendia-se até o topo, onde os convidados subiam em silêncio.
O Deus da Vingança, com seus cabelos negros como piche e olhos de um escarlate sangrento, vestia um hanfu preto, adornado com detalhes carmesim. Ao seu lado, o Deus do Tormento observava o alto da escadaria, seus olhos heterocromáticos — um azul como o céu, outro roxo como o crepúsculo — caçando qualquer movimentação. Vestia-se igual o companheiro.
As duas figuras altas e esguias avançaram pelos degraus. No topo, avistaram uma cena tranquila que contrastava com a figura perigosa que tinham em mente. Rodeando uma mesa de madeira, Circe e Miguel, avô de Rotsala, bebiam chá em xícaras brancas com pequenos desenhos que lembravam jornais; coisas da época em que ele ainda estava lá.
— Podem vir para cá, por favor… — Circe chamou, sentindo o rosto esquentar com o vapor suave do chá.
Higan foi o primeiro a atender o pedido. Sentou-se à mesa, escolhendo uma cadeira para si. De braços cruzados, observava a dupla, à espera de uma oportunidade para falar. Zhemo não o acompanhou de imediato, mas logo acomodou-se no último espaço disponível.
Um longo silêncio decorreu, uma quietude assustadora e que parecia por-lhes um nó na garganta. Estarem diante de uma mulher que poderia os apagar da existência em questão de segundos era uma experiência angustiante. Contudo, acreditavam que poderia resolver o conflito de uma vez por todas.
Circe estava aberta a diálogo, e alguém precisava iniciá-lo. Zhemo, reunindo coragem, levantou suavemente a mão.
— Podemos começar fazendo algumas perguntas? Sei que é a anfitriã e que o correto seria deixá-la começar… Porém… — dizia com firmeza, mas logo a voz abaixou por receio.
— Humm… Não tem problema. — Ela deixou a xícara de lado e voltou o olhar para o deus diante de si. — Mas quero fazer uma pergunta primeiro: por qual razão vocês em específico vieram para cá? Existe quase uma centena de deuses nessa era, alguns mais conhecidos… Pensei que alguém do nível de importância de Vegarten ou Benten apareceria.
— Honestamente, ninguém queria vir até aqui. Muitos acham que pisar nessa nação é um erro terrível. — Higan apoiou a cabeça na mão, soltando um suspiro. — Não acreditavam que poderiam te convencer ou convencer o tal Rotsala. Praticamente todos acham que vamos morrer, mas ao menos nos deixaram tentar.
O olhar de Circe se estreitou, baixo, enquanto batia suavemente os dedos na mesa. Uma raiva que parecia subir dos pés à cabeça a fez gesticular com uma mão no ar, repetindo inconscientemente o mesmo movimento de pegar a foice.
“Eles realmente nos enxergam como demônios…”
O avô de Rotsala questionou: — Se estão aqui, vocês dois, é por acreditarem de alguma forma que esse povo merece viver, certo?
Higan assentiu e explicou: — A grande maioria acredita de fato que vocês e a população inteira devem morrer por terem envolvimento com o Jornalista Carmesim. Mas nós achamos isso um exagero, e particularmente nunca acreditamos em tudo que falavam sobre esse lugar.
— …Zhemo e Higan, podem fazer suas perguntas. — Circe levantou o olhar novamente e pareceu um pouco mais calma.
Entreolharam-se, decidindo quem tomaria a deixa. O Deus da Vingança escolheu ser o primeiro, parando de apoiar a cabeça na mão para assumir uma postura mais séria.
— Onde está Rotsala? Embora não consigamos sentir a energia dele, é muito difícil crer que alguém o derrotou. É mais fácil imaginar que ele está escondido em algum lugar.
— …Também não sei o paradeiro dele. — Fechou o punho, tentando caçar uma possibilidade em sua mente. — Uma amostra de que ele realmente está fora de ação são os populares da nação: voltaram a envelhecer naturalmente.
Outra pergunta veio, agora de Zhemo: — Qual sua motivação para ter passado tanto tempo ao lado dele? Até mesmo matou outras deidades para protegê-lo…
— Ahff… Não conseguia sentir essa tal sensação horrível que todos os deuses falavam. Conheci ele de perto, não fui tomada por esse medo alucinado que afligiu os outros por mera boataria e histeria. Sei que Ni, o Deus do Enigma, espalhou muitas inverdades sobre nós por ódio. Mas afirmo sem qualquer dúvida: Rotsala é a melhor pessoa que conheci.
O avô complementou: — Meu neto passou os últimos milênios durante os quais construiu essa nação temeroso pelo futuro desse povo. Ninguém aqui merece morrer por um fator que estava fora do controle dele. Rotsala nunca quis ser temido ou escolheu ter essa energia assustadora.
Higan entrelaçou os dedos lentamente, as pontas pressionando as costas de cada mão enquanto seus olhos fitavam o horizonte, perdidos em questionamentos. Não existiu hesitação, nenhum traço de incerteza que fizesse soar como mentira ou exagero aquilo que ouviu. O relato, dado com tamanha confiança, parecia tão sólido quanto o chão que tocava.
Ele e Zhemo já não queriam acreditar em todos os absurdos que ouviam sobre aquelas terras. A possibilidade de que quase tudo fosse uma farsa trazia uma mistura de alívio e descontentamento. Era um alívio pensar que os líderes talvez não fossem as figuras desalmadas que todos diziam. No entanto, era desconcertante imaginar que, aparentemente, haviam sido hostilizados por tanto tempo erroneamente.
— Devem estar pensando no que nós vamos propor agora, não é? Uma ideia capaz de convencer o resto do mundo de que esse povo merece viver. — A voz de Higan soava compreensiva, como se quisesse trazer confiança à proposta que faria.
Gesticulando, Circe pediu para que ele continuasse.
— Creio que ouviu tempos atrás sobre a aparição de um humano que se tornou um deus da noite para o dia…
— Esse ocorrido é verdadeiro?
— Com certeza é… Ele é a chave para solucionar essa questão: Aurelius Daath, o humano que se tornou divino. Todas as deidades o amam, é alguém extremamente popular. Caso ele diga que seu povo merece viver, todos aceitarão! — Higan declarou, confiante.
Zhemo complementou: — Mas há uma condição para isso: você precisará permitir que ele investigue cada canto desse país para ter certeza de que Rotsala não está escondido aqui.
— Esse A-Aurelius quer cooperar comigo?!
— Foi um dos poucos que aceitou pensar em qualquer acordo. Caso Rotsala não esteja escondido, ele usará a própria reputação para salvar esse lugar da destruição. Foi essa a troca oferecida por ele.
“Entendi… para esse tal Daath, o sumiço de Rotsala já acaba com todos os problemas. Usar a própria reputação num conflito desses é loucura, mas não serei eu a reclamar dessa coragem. Se ele aceita se usar assim para salvar nossa gente, preciso abraçar essa oportunidade.”
— Aceito!
“Todos precisam viver uma vida digna antes da morte.”
Um trio vestido de branco caminhava pela capital, rumo à construção administrativa principal, localizada no centro do grande lago ciano. O ar gélido não incomodava nenhum deles; pareciam tranquilos, como num clima ameno e confortável.
No meio estava Aurelius Daath, um homem alto de longos cabelos dourados e olhos verdes como esmeraldas. Sua expressão sorridente lhe dava um ar quase infantil, como uma criança de coração puro se divertindo. Atraía olhares inevitavelmente por tamanha alegria no semblante.
À direita caminhava Belphegor Nerose, mexendo casualmente em seus cabelos tão brancos quanto a neve, bagunçados. Ele parecia não prestar atenção em nada, como se estivesse perdido nos próprios pensamentos
À esquerda marchava Esra Vortiger, a mão próxima da bainha de uma grande espada. O olhar carregava um peso monstruoso, preparado para perceber qualquer movimentação hostil. O contraste que tinha com os outros dois era enorme, pareciam cachorros distraídos e ela um tigre sanguinolento. Esvoaçava com o vento os cabelos laranjas e pretos.
— É uma ideia bem divertido ter um prédio no meio de um lago! — A voz de Aurelius era grave, mas ao mesmo tempo leve como uma folha.
— Tem lago, é? Ah… AAAAAHHHH! — Despencou nas águas à margem por não prestar atenção em nada.
— Bel, morra — balbuciou Esra, desviando o olhar e dando alguns passos para o lado por não querer ser associada com ele.
Circe olhava pela janela, dentro da construção, analisando cada detalhe deles com uma luneta. Eram aqueles que andariam por sua nação investigando cada mísero canto. Embora quisesse acreditar que tudo sairia bem, optou por manter em mente a possibilidade de precisar matar os três.

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