Índice de Capítulo

    Quatro minutos após o início da luta entre os deuses contra Esra, a seguidora de Aurelius estava caída no chão. Os braços derretiam sob um ácido espesso e quente, lançado contra ela por vinte vermes gigantescos que surgiram na cratera por conta de Zhemo — sua Revelação Apoteótica.

    Estar em contato com o líquido corrosivo trazia um turbilhão de pensamentos ruins, alucinações auditivas, táteis, olfativas, visuais e no paladar. Gritos, formigamentos, odores, cores e sabores… que por vezes eram doces, mas logo se tornavam amargos. Agonizava com um sorriso inconformado no rosto, enquanto sentia a consciência ser diluída nas falsas sensações que tão reais lhe eram.

    Ao redor do corpo, milhares de pequenos rastros cortavam o solo vítreo. Os ventos do Deus da Vingança varreram tudo. Os dragões metálicos permaneciam no céu, rondando a área com suas bocas ainda quentes dos disparos elétricos efetuados.

    — Vamos só deixar essa praga aí largada… — Circe apoiou a foice no ombro e estalou a língua, insatisfeita. — Caso morra, deve voltar a vida mais forte e mais rápida, e isso está acabando com minha paciência.

    — Humm… Vamos logo acabar com isso antes que Benten canse de segurar o pescoço do Aurelius. — Higan correu na direção de onde estava o aprisionado.

    — Aaah… Circe.

    — Oi?

    — Um tanto bobo de minha parte dizer isso, mas fico feliz em poder ter ajudado você de alguma forma — disse Zhemo, a voz tranquila e sincera.

    — Viu só? Não foi um erro eu ter dito que considerava você e o Higan como meus irmãos! — Ela deu um tapinha no ombro dele. — Vamos lá, precisamos acabar com ele.

    Reuniram-se ao redor de Benten, que ainda pressionava violentamente o pescoço do deus que planejava matar todos. Aurelius mantinha um sorriso na face, pálido como gesso pela hemorragia. O sangue que escorria do pescoço evaporava em contato com a eletricidade.

    Um estranho clima erguia-se naquele lugar. Sabiam o que deveriam fazer, mas continuaram encarando o Deus da Fantasia por muito tempo, como se algo estivesse precisando ser repensado.

    — Aurelius… — chamava Benten, olhando profundamente em seus olhos. — Não perguntarei o que você quer, mas perguntarei outra coisa: o que você quer se tornar?

    — Haha… filosofia num momento como esses? — A voz saía fraca e sufocada, quase incompreensível. — Ooh… Mas direi a verdade! Serei um salvador! E para conquistar isso… matarei todos os deuses. Circe sabe muito bem do que estou falando…

    — Podemos acabar com ele de uma vez ou continuaremos esse drama? — Higan ergueu a espada de lâmina serrada, apontando-a na direção do pescoço do loiro.

    Aurelius fechou os olhos, mantendo uma expressão sorridente e escolhendo não falar mais nada. Seus lábios ressecados permaneceram inertes enquanto todos se preparavam para expurgá-lo da existência.

    O campo de batalha perdeu o sobrenatural tom verde, devolvendo as cores originais a tudo. O solo vitrificado se assemelhava a um vitral de uma igreja. Os pequenos reflexos multicoloridos pintavam a cratera com graciosidade.

    Uma escuridão começava a encobrir os céus por conta da poeira e detritos lançados na atmosfera pela grande explosão de pólvora. Em breve o céu tornar-se-ia negro e acinzentado. Entretanto, ainda havia clareza para enxergar, era o momento de finalizar tudo.

    Aurelius estava jogado ao chão, caído como um velho e ignorado trapo. Suas vestes sujas no próprio sangue e o pescoço marcado e queimado profundamente. Respirava dificultosamente, sentindo a pele dos braços tocar os cacos de vidro do chão da cratera. Não o cortavam, mas a sensação era incômoda.

    Circe, Zhemo, Higan e Benten elevaram suas energias, fazendo o solo estremecer. O Roha rasgava tudo, quebrando e rachando o solo ao redor. O barulho interminável de vidro estourando tomou o ambiente.

    — Revelação Apoteótica Completa: Tormento — proferiu Zhemo, fazendo com que um de seus vermes cuspisse um ácido especial contra o alvo.

    Aurelius foi afligido por um sofrimento físico e mental muito além do inexplicável. Algo que poderia ser equiparável às sensações no Coração da Inexistência. A agonia que corria por seu corpo, seus nervos, o fez perder a noção do tempo, como se aquele breve momento fosse eterno. A mente prestes a quebrar em terror.

    — Revelação Apoteótica Completa: Saros! — exclamou Benten, criando uma estranha e lenta esfera brilhante amarelada que se dirigiu ao corpo do inimigo.

    O Deus da Fantasia se viu repentinamente em uma praia de areias pálidas. Seu corpo ainda trêmulo com agonia do Tormento deu um passo desnorteado. Diante dele, um lindo horizonte sendo iluminado pelo sol. As águas serenas, límpidas, e o som suave dos ventos, quase como sussurros ao pé do ouvido.

    — …?!

    Seu coração acelerou quando percebeu. O sol movia-se rápido demais, escorregando pelo céu. O dia acabou em questão de segundos. Surgia o crepúsculo pintando o céu em púrpura e âmbar, e a lua já subia, antes que ele pudesse piscar.
    Mas a noite não durou.

    Mal teve tempo de aspirar o ar salgado, e o sol já renascia, intimidante e dourado, só para ser engolido novamente pela escuridão em um piscar de olhos. O céu era frenético, dia e noite se sobrepondo em uma dança de luz e sombras.

    Quis fechar os olhos, mas suas pálpebras estavam travadas como engrenagens enferrujadas de uma antiga máquina. Algo o forçava a ver, a testemunhar a aceleração do tempo. Milhares de dias passados em instantes, queimando-lhe as retinas.

    Enquanto sentia seu Roha ser lentamente despedaçado, desatado de sua alma como uma roupa esfarrapada tendo um fio puxado, veio a certeza mais terrível: o tempo estava distorcido. Sabia que na realidade não havia se passado um único segundo, mas aquilo parecia durar para sempre.

    O inferno não tinha pressa de acabar. Dezoito anos de noites e dias intermináveis contidos em um único segundo. Quando abriu os olhos fora daquela visão, avistou Higan.

    — Revelação Apoteótica: Abram-se os Portões dos Quatro Ventos; Norte, Sul, Leste e Oeste! — proclamou o Deus da Vingança.

    O rumo dos ventos agora era completamente controlado por ele, moldava o curso e a intensidade. O Roha esverdeado pelo Elemento Vento foi focalizado em um único lugar na ponta da espada, e lançado. Parte do torso de Aurelius quase foi arrancado, juntamente das pernas. A resistência dele era surpreendente.

    Mas…

    — Chegou o momento do divórcio do casamento que nunca aceitei de verdade — declarou Circe, levantando a foice acima da cabeça. — Revelação Apoteótica Completa: Elipse.

    “Ser apagado da existência não passa de ser como uma palavra omitida em um texto, ainda está em algum lugar, mas não visível. Passará a existir no vazio que é o destino de todos os mortos.”

    Uma explosão negra surgiu, destruindo tudo em seu caminho e apagando qualquer vestígio de vida.

    Aurelius foi banido da existência.

    O som da terra estremecendo pela falta dos espaços apagados da existência era ensurdecedor. Tudo desabava e deslizava para preencher o vazio gerado. O ar esfriava rapidamente com os detritos e poeira, levantados pela explosão, bloqueando a luz solar na altura atmosfera.

    — Acabou? — a pergunta escapou dos lábios de Benten.

    — Aahh, resolvemos o problema! — comemorou Higan, balançando a espada para o céu.

    “O divórcio está concluído.”

    “Agora posso procurar o Rotsala…”

    Hahaha.

    Haha.

    Ha…

    Uma mão pesando no ombro, alguém logo atrás. A deusa virou a cabeça lentamente, com os olhos arregalados. Na visão periférica percebia a cor…

    Dourado.

    — Sentiram saudades? — O sorriso cínico dele abaixo daquele céu escuro, cinzento e alaranjado era desconcertante.

    Circe moveu sua mão trêmula e o agarrou pelo pulso para afastá-lo. Aurelius deu dois passos para trás e cruzou os braços.

    — C-como você está vivo?! — O dharma que girava acima da cabeça de Benten cintilou, demonstrando suas intenções de prendê-lo novamente.

    Pólvora.

    Sorriso.

    O erguer das mãos.

    — Sou o Deus da Fantasia, das histórias de fantasia… E estou do lado mais baixo e preguiçoso disso tudo, dessa narrativa que chamamos de vida e realidade. Minha Definição Divina é inteiramente baseada em muletas narrativas! — Fechou os olhos. — O motivo de tantos gostarem de mim? Certos personagens em histórias ganham a afeição dos outros mesmo sem terem feito algo para isso. Como alterei as cores da realidade? Uma pequena alteração numa situação para simplificar as coisas é algo recorrente em histórias… Como ainda estou vivo, Benten? Deus Ex-Machina! Não faz sentido que eu ainda esteja aqui, mas é uma solução inexplicada e conveniente aos meus planos, o enredo que quero montar para minha vida!

    Mais pólvora caía do céu.

    — Essa merda é tão idiota… — Zhemo apenas lacrimejou e balançou a cabeça em negação.

    — Para mim, a vida é como uma ficção… e se tudo que me tange é fictício… Serei eu o protagonista perfeito que salvará todos! — Aurelius, com as mãos tremendo intensamente, olhou para Circe. — Humm… querida, acho que é nosso adeus. Agora você não consegue usar seu ataque mais poderoso para apagar a explosão, chegou ao seu limite mensal…

    Benten avançou em extrema velocidade para tentar agarrá-lo novamente, mas… ele desviou. Seu poder mais forte levava tudo a dar certo para si, tudo era moldado para tal. A realidade o beneficiava, mesmo que sem sentido por trás disso.

    Aurelius inesperadamente avançou até Esra e pisou em sua cabeça, a matando instantaneamente. Ela reviveu, e bolhas de sabão borbulharam ao seu redor. O branco havia se tornado ainda mais intenso nos cabelos e o sorriso que dava parecia forçar a boca de tão firme.

    — Por que contou? Agora sabem o que você faz… — resmungou a seguidora, levantando-se do chão.

    — Eu quis fazer um diálogo expositivo, é meu estilo. Só preciso matar esses quatro nos próximos 30 minutos, enquanto minha Revelação Apoteótica Completa está ativa… — Ele recriou a rapieira e curvou-se, como se agradecendo a uma plateia de teatro por ter acompanhado uma peça.

    Antes que Circe ou qualquer outro pudesse agir houve um estrondo gigante.

    Não da explosão.

    Era outra coisa.

    — Um terremoto?

    Ele se aproximou mais, rastejando para fora do manto terrestre. Erguia pedras, colinas e cadeias de montanhas com suas costas e cauda. O horizonte tornou-se ainda mais avermelhado, magma subia para a superfície e iluminava tudo.

    A mera respiração daquilo causava ventos que poderiam desmoronar casas inteiras como castelos de cartas. Mais do que colossal, tão monstruoso que somente sua cabeça era visível. O resto do corpo para muito além do horizonte.

    Escamas rochosas vermelhas tão duras quanto diamantes, e um olhar sanguinário embebido na pura sede de morte. Era o Deus da Aniquilação. O dragão de rocha vulcânica e pedaços de placas tectônicas encarou a cratera ao longe, deixando seu Roha flamejante fluir para todos os lados.

    — Quilionodora… Estava esperando por isso, mas não agora — Aurelius disse em tom casual, inclinando a cabeça levemente.

    — Quem começou isso? — A voz do dragão colossal reverberou como um trovão.

    — Acho que o cérebro dele é de pedra mesmo… Ele acha de verdade que vai nos ouvir se falarmos daqui? — apontou Esra, exibindo descontentamento na feição.

    Circe avançou e tentou atingir Aurelius com sua foice, mas ela errou o ataque por pouco. Só iria acertá-lo se fosse fisicamente impossível que desviasse. Tudo estaria dando certo para ele naqueles próximos minutos.

    — Morre seu desgraçado! — Tentou acertar a foice outra vez, apenas cortando-lhe alguns fios de cabelo.

    — Seja menos problemática… — Aurelius estalou os dedos. — Que comece a minha guerra!

    A Deusa da Inexistência mal teve tempo de piscar. Outra explosão tão forte quanto a anterior veio e, dessa vez, nada poderia a salvar daquilo.

    “Eu…”

    Tudo pareceu ter congelado naquele instante. Não havia som algum e o brilho da explosão tocava a ponta de seu nariz, como se o tempo tivesse parado milésimos antes de sua morte.

    “O que está acontecendo?”

    O estranho olho roxo que a acompanhava e censurava as palavras de Aurelius sobre a verdade ressurgiu. Pairava logo à frente, piscando.

    — Fundador…

    — Circe, nunca imaginei que isso aconteceria com você. — A voz soava distante e cheia de distorções, como um rádio afundado em água que ainda sussurrava suas últimas palavras. — Sua hora chegou…

    — Vou morrer agora?

    — Nem eu sei se você realmente morrerá. Você não tem raízes em nenhum mundo, veio do vazio que eu gerei. Isso só aumenta o mistério. Sei que seu corpo não será engolido pelo Coração da Inexistência, mas sua mente… quem pode dizer onde ela irá parar? — O olho roxo se aproximou.

    — Eu vou resistir, não importa como! Preciso matar esse desgraçado por ter me feito amá-lo à força… Isso é imperdoável! — Os dedos moviam-se vagarosamente, relutando contra o tempo estático. — E ainda preciso matar Ni e encontrar Rotsala… NADA VAI ME IMPEDIR DE FAZER ISSO!

    “Esse mundo é belo e quero protegê-lo de tudo enquanto não chega o momento final… A Lua Negra e o Coração da Inexistência são inevitáveis, mas todos merecem viver uma boa vida até lá.”

    “Rotsala odiaria saber que Aurelius simplesmente vai matar todo o povo pelo qual ele zelou por tanto tempo. Eu preciso impedir isso! Em nome da nossa amizade, em nome de tudo que ele me ensinou.”

    “Vou dar algum jeito de matá-lo… não importa o que eu precise fazer, Aurelius não acabará com esse mundo antes da hora!”

    “Ficção? Não… Tudo isso é bem real, Aurelius… E quero te fazer sentir o desespero mais real de todos.”

    O coração célere batia no peito, forte como uma explosão. Os cabelos brancos e rosas moveram-se e, com esse movimento, o tempo voltou a correr. A sensação de ter um corpo se esvaiu, pois nada sobrou.

    Circe teve seu corpo completamente desintegrado. Havia gastado muita energia naquele ponto, não importaria se tentasse focar o resto de Roha para defesa, era inútil. O céu se incandesceu uma outra vez, uma outra onda de choque e mais calor infernal.

    “…”

    Havia gosto de sangue, mesmo não tendo paladar para sentir.

    “O que é isso?”

    Conseguia ver os arredores, porém estava tudo opaco e borrado, como tinta escorrendo em um quadro sendo molhado por água corrente. Sua percepção estava presa ao chão daquela cratera. Circe logo percebeu que não poderia sair daquele estado por vontade própria.

    À frente, viu que Zhemo, Higan e Benten ainda permaneciam vivos. Colossais correntes negras e brancas protegeram todos da explosão, menos ela. Quilionodora poderia tê-la salvado com suas correntes mágicas, porém optou por deixá-la partir. Ainda a odiava pelo passado, pelos deuses mortos em nome de Rotsala.

    “Eu não posso fazer nada?”

    O caos continuava se desenrolando e tudo que ela podia fazer era ser uma mera espectadora.

    Dias se passaram e ninguém mais estava lá.

    “O que está acontecendo com os outros deuses?”

    Meses vieram e passaram como água seguindo o curso de um rio…

    “Esses tremores na terra…”

    O tempo fluía, lento e agonizante, até que o mundo se acalmou, indicando que a Guerra das Deidades teve fim. Não dava para saber como tudo havia terminado, era um mistério para aquela consciência aprisionada ao chão da cratera, que tudo que podia fazer era observar o céu. Com o passar do tempo, o cinzento e vermelho se esvaiu, trazendo de volta o azul celeste acima.

    “Acabou…?”

    “Eu quero sair da daqui…”

    “Chega…”

    Um milênio se arrastou, lento. Para a deusa aprisionada, só restou a angústia da espera. Apenas seus pensamentos, sombrios e incessantes, a acompanhavam. O céu estrelado ainda assim parecia belo. Cada noite era igual a anterior: o mesmo vazio, a mesma solidão, o mesmo peso de que aquilo talvez não acabasse.

    “Rotsala… me tira daqui…”

    “Por favor… Por favor…”

    Mais um milênio escapou entre seus dedos imateriais.

    De vez em quando, algumas pessoas ousavam descer até a cratera, curiosas para conhecer seu interior. Quando isso acontecia, ela tentava falar e tocar… Mas sua voz se perdia no vazio. Eles partiam, sempre partiam, sem saber de sua existência.

    “Alguém…”

    Mais tempo.

    “Não…”

    Mais tempo.

    “Alguém me mata de verdade… eu só quero sumir… Só preciso sumir!”

    Mais tempo.

    “Aurelius, seu imundo, espero que tenha morrido sofrendo da pior forma possível!”

    Mais.

    “…”

    Tempo.

    “Circe… você nunca deveria ter vindo para esse mundo… Talvez tudo se resolvesse sozinho.”

    “Eu… só queria conseguir chorar.”


    Foram 13 milênios de nada, um vazio que a triturou até parte de seu senso de humanidade conquistado através da convivência com Rotsala se esvair. Sua percepção estava instável, violenta. Longos e intermináveis 4.680.000 dias de espera.

    “Outras pessoas entrando na cratera…”

    “Não vão me ouvir como todas as outras… Podiam morrer.”

    — É aqui, Lya, consigo sentir. — Tsukumo Haruta, a Semideusa do Amor, ergueu seus óculos de sol com a ponta dos dedos para observar bem a localidade com seus olhos púrpura.

    — V-você consegue mesmo remover a alma dela daqui? — A escritora de cabelos laranja acompanhava logo atrás, segurando o livro como sempre fazia.

    — Bem… se eu não fosse capaz, não teria aceitado seu plano. — Ela se agachou, olhando diretamente para onde Circe estava. — Vamos, Deusa da Inexistência, é hora de voltar!

    “Você me vê?”

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