Ao ver toda a destruição causada pelos soldados, Shinro grita do fundo de sua alma. O som ensurdecedor ecoa por todo o ambiente, uma onda de desespero que rasga o ar. Sem sequer pensar, o jovem garoto parte para cima dos soldados em completo descontrole.

    Mas a realidade é dura.

    Ao se aproximar dos soldados, ele é atingido por um chute direto no estômago. O impacto o faz cair no chão, sem ar, engasgando com o próprio fôlego.

    — Seu moleque, o que acha que está fazendo?!

    Ao escutar uma voz misteriosa, Shinro ergue o olhar, pensando que poderia ser um dos soldados. Mas, ao visualizar a figura à sua frente, seus olhos se arregalam em choque.

    Não era um dos soldados, mas sim outro homem.

    Cabelos brancos, pupilas amarelas semelhantes às de um felino. Seu rosto era absurdamente belo, com um maxilar levemente definido. Um rosto de um homem maduro. Vestia um terno completamente vermelho, com uma capa preta sobre os ombros. Um colar dourado pendia em seu pescoço, adornado com um olho enigmático.

    — Ei vocês, por que não mataram esses moleques também?

    “Quem é esse cara…”

    Shinro o encarava fixamente, tentando entender a presença aterradora diante de si.

    — Há, é verdade. Nem adianta falar com eles… Afinal, esses idiotas não passam de meros fantoches. — O homem resmunga para si mesmo, fechando levemente os olhos enquanto passa a mão pela cabeça, soltando um suspiro entediado.

    — Ei… quem são vocês?!

    Mas, antes mesmo de Shinro terminar a frase, o homem desfere um chute violento em seu rosto, fazendo seu nariz sangrar profusamente.

    — Shinro! — grita Sabito.

    Ele tenta correr até o amigo, mas é impedido por Shinjo, que estende o braço bloqueando seu caminho.

    — Se controla, seu idiota. — diz Shinjo, com uma expressão séria.

    — Seu verme miserável! Quem você pensa que é pra falar assim comigo?!

    Caído sobre o chão frio e mórbido, Shinro encara o homem com uma expressão carregada de raiva.

    — Seu merdinha… É por isso que eu odeio primatas como você.

    O homem levanta a perna e a abaixa com brutalidade, tentando pisar em Shinro. Mas, ao olhar para o lado, percebe um ataque vindo em sua direção, uma rajada de vento.

    “De onde veio esse feitiço…? Não importa. Eu só vou bloquear”

    Com facilidade absurda, o homem intercepta o ataque, dissipando o feitiço como se fosse nada. No entanto, ao ver quem o lançou, sorri, surpreso.

    — Então era aqui que você estava… Aquele que vai trazer o apocalipse para este mundo.

    “Apocalipse?” — Shinro não conseguia entender o que estava acontecendo.

    O homem aponta diretamente para Shinjo, o responsável pelo ataque. E agora, Shinjo estava fervendo de raiva, liberando uma quantidade anormal de mana esverdeada que se espalha por cerca de dez metros.

    — Essa mana… Toda essa brutalidade e ódio no olhar… Eu não tenho dúvidas. Você é a criança da profecia. O Senhor do Caos… aquele que vai destruir o mundo!

    — Do que você tá falando? Vê se sai logo de perto do Shinro!

    A fúria crescente dentro de Shin parecia à beira da explosão.

    — Que saco… Parece que você não vai colaborar. Então não tenho escolha a não ser te levar à força.

    Em um piscar de olhos, o homem se move até Shinjo e Sabito. Com velocidade anormal, ele saca uma pequena espada e a lança em direção a Sabito atingindo-o em cheio na garganta.

    A lâmina atravessa a carne com brutalidade.

    Sabito, em desespero, leva as mãos à garganta e retira a espada. Assim que o faz…começa a sair muito mais sangue. Espalhando-se como uma chuva vermelha por todo o ambiente.

    Shin, ao ver a cena, arregala os olhos em puro terror. A expressão de desespero em seu rosto era algo jamais visto antes.

    — Sabito… — ele cai de joelhos, levando as mãos à boca, prestes a vomitar.

    — Hahahahah! Parece que você ainda tá meio sentimental. Mas não se preocupe… Nós, do culto demoníaco, vamos te ensinar a ter o ódio necessário para destruir o mundo.

    — Seu… desgraçado!!!

    A energia de Shin explode. Uma quantidade surreal de mana se libera de seu corpo. Seus olhos brilham em um verde intenso, e, gritando de forma descontrolada, ele começa a disparar feitiços de lâminas de vento cortantes em todas as direções.

    — Incrível! Você é mesmo a pessoa da profecia! Mas eu não posso deixar você se descontrolar agora. Precisamos voltar para o esconderijo.

    — Shin!

    Shinro corre em direção ao amigo, determinado a salvá-lo. No entanto, o homem rapidamente percebe sua intenção.

    — Verme irritante… Vocês aí, segurem esse fedelho!

    Ao comando, os três soldados seguram Shinro, impedindo-o de se aproximar.

    — Me solta!

    — Nem adianta gritar. Eles não vão te soltar. Eu lancei um feitiço neles. Esses caras vão seguir todas as minhas ordens. — o homem sorri com deboche, encarando Shinjo.

    Com um soco direto no estômago, o homem faz Shin desmaiar. Em seguida, segura-o nos braços e abre um portal à sua frente, preparando-se para atravessá-lo.

    — Ei! Quem é você e o que quer com o Shin?! Me fala agora!

    — Eu não tenho por que te revelar minha identidade… Mas, de certa forma, isso pode ser divertido.

    O homem olha diretamente para Shinro. Seu olhar perverso e o sorriso estampado no rosto não escondem a satisfação cruel.

    — Eu me chamo Azrael Nocturnis. Sou um dos líderes do culto chamada “Olhos de Deus”. Se por acaso você continuar vivo, me procure. Eu gostaria muito de te ver de novo. Esses seus olhos cheios de ódio chamaram muito a minha atenção.

    Fazendo um movimento estranho com a mão, Azrael lança algo sobre Shinro.

    — O que… você fez comigo…?

    — Eu só coloquei uma maldição em você. Mas não tire conclusões agora. Com certeza, você vai me agradecer futuramente.

    Azrael começa a caminhar até o portal.

    — Espera…

    Azrael acena para Shinro e logo em seguida entra no portal.

    — Tchau~

    Antes de desmaiar por completo, Shinro vê um homem se aproximar. Esse homem luta contra os soldados, matando os três com habilidade brutal. Quando ele se aproxima de Shinro, a consciência do garoto se apaga. Sua visão fica completamente escura.

    — No final o homem que apareceu era meu mestre, ele me alimentou, cuidou de mim e por fim me ensinou a lutar, eu devo tudo a ele.

    Ao olhar para Nina, Shinro se surpreende. Ela está chorando muito.

    As lágrimas escorriam sobre seu rosto. Ela tentava enxugá-las, mas elas insistiam em continuar descendo.

    — O que foi?!

    — Não… não é nada. É só que… fiquei muito triste. Não sabia que você tinha sofrido tanto assim… Eu não consigo imaginar alguém que, quando criança, tenha passado por isso…

    “Eu não sei o que é, mas…”

    Shinro coloca a mão sobre a cabeça de Nina e, com um sorriso gentil, tenta confortá-la.

    “De alguma forma… essa garota mexe com meu coração de um jeito que não consigo explicar.”

    — Então você está aqui para caçar o culto?

    — Sim. Soube que, nesta floresta, há um grupo de elfos negros que possivelmente fazem parte do culto. E pelo visto, isso é verdade… já que eles querem te capturar para servir como sacrifício.

    O rosto de Nina se contorce com preocupação. Uma angústia silenciosa parece consumi-la por dentro.

    — Nina!

    Ela se assusta, virando-se rapidamente em sua direção, com uma expressão de espanto.

    — Eu prometo que não vou deixar nem esses elfos, nem nenhum outro membro do culto demoníaco, te machucar!

    O caçador olha fixamente para Nina. Seu semblante sério e os punhos cerrados deixam claro que falava com o coração.

    — Sim… Eu sei que você vai. — responde Nina, sorrindo enquanto lágrimas caem sobre seu rosto, irradiando uma felicidade pura e singela.

    “Eu não posso deixar o culto capturar essa garota… Ainda mais com a irmã dela tendo sido levada por eles. Eu não posso falar isso para Nina, mas… há grandes chances de que Maria esteja morta.”

    Em outra parte da floresta, envolta por névoa espessa, um grupo de cavaleiros patrulha uma área isolada. Entre eles, um se destaca, o homem possui uma aura imponente e usava uma armadura dourada, era Arthur Pendragon.

    — Senhor Arthur, acho que está na hora de fazermos uma pausa.

    — Ainda não. Sinto uma presença vindo do fundo dessa névoa.

    — O que? São inimigos?!

    — Calado. Assim eles vão te escutar.

    “Na verdade… não é só uma presença. São várias. Mas tem uma, em específico… É como se esse cara estivesse tentando ocultar sua própria mana. Mas de uma coisa eu sei… ele é forte.”

    Arthur olha para um ponto específico na neblina, fixando seu olhar.

    — Mas que olhar é esse, senhor Arthur Pendragon? — ecoa uma voz misteriosa.

    De repente, sombras começam a surgir em volta dos cavaleiros, colocando todos em posição de alerta — todos, menos Arthur, que permanece inabalável.

    — Pelo visto, nem adianta ocultar minha presença… já que você conseguiu detectá-la tão facilmente. Estou impressionado.

    — Você chama isso de ocultar presença? Foi mais fácil te achar do que tirar doce de criança.

    — Hahahahah! Você é muito divertido. Vou te usar como meu experimento.

    A figura oculta se revela lentamente através da névoa, deixando os cavaleiros aflitos. Arthur, no entanto, continua calmo.

    — Pode me dizer seu nome?

    — Você não precisa saber meu nome ainda. Só irei te contar depois que me divertir… pelo menos um pouco.

    O elfo sai completamente da névoa, revelando-se: olhos vermelhos, cabelos brancos, pele avermelhada, orelhas grandes e pontudas. Usava uma bandana na cabeça e outra cobrindo um dos olhos. Vestia um quimono e chinelos de madeira, um visual nitidamente oriental.

    — Tudo que você precisa saber é que sou um dos mais novos membros do culto demoníaco.

    — Que visual diferente o seu.

    — Há, isso é só um quimono. Adoro me vestir como os humanos… É uma forma de me conectar com eles… antes de os dissecar.

    — Dissecar? Você tá parecendo um cientista maluco falando assim.

    — E… pode-se dizer que eu sou isso mesmo. Um cientista maluco. Mas chega de conversa… vamos lutar logo.

    O elfo libera uma quantidade absurda de mana, cobrindo todo o ambiente com sua aura opressora.

    “Mas que aura insana é essa?! Tô começando a ficar animado!”

    Arthur estende o braço. Um dos cavaleiros lhe entrega uma espada de design incomum, lâmina negra, e o cabo possui a forma de um dragão vermelho.

    — Vamos começar a brincadeira~ — diz Arthur, com um sorriso macabro.

    — Agora você não está mais parecendo um nobre cavaleiro…

    Mas, antes que o elfo perceba, Arthur já está em sua frente, desferindo um golpe devastador com sua espada. O elfo, surpreso, consegue se esquivar por pouco, inclinando-se para trás.

    O ataque erra o alvo e atinge as árvores à frente. A devastação é imediata, várias árvores são derrubadas em sequência.

    Sem perder tempo, o elfo contra-ataca, lançando uma pedra com força brutal contra Arthur, forçando-o a desviar.

    “Magia de telecinese?! Como um mero elfo negro consegue usar um atributo mágico tão raro como esse?!”

    — Não fique tão surpreso com isso. Afinal, eu sou um elfo negro verdadeiro.

    “Espera… elfo negro verdadeiro… Lembrei! Meu mordomo me contou histórias sobre eles. São elfos de classe alta… elfos da realeza, com pele avermelhada e mais afinidade com a mana.”

    — Entendi… Então você é um elfo da realeza. E qual foi o motivo que te levou a se juntar ao culto demoníaco?

    — Tédio. Ficar naquele palácio, sem poder fazer meus experimentos, me dava um tédio absoluto… Depois que saí de lá, me senti livre. Como um pássaro que voa pelos céus.

    “Entendi… Então nós dois somos iguais.”

    Arthur olha diretamente para o elfo com uma expressão seria no rosto.

    — Eu sei como é ter tudo de mão beijada… e não poder sentir o prazer de ser livre. Elfo, agora você me deixou ainda mais motivado para lutar.

    — Eu digo o mesmo, Arthur Pendragon. Vamos acabar logo com isso.

    Com um desejo em comum de serem livres, os dois, mesmo sendo inimigos, lutam como rivais.

    Regras dos Comentários:

    • ‣ Seja respeitoso e gentil com os outros leitores.
    • ‣ Evite spoilers do capítulo ou da história.
    • ‣ Comentários ofensivos serão removidos.
    AVALIE ESTE CONTEÚDO
    Avaliação: 0% (0 votos)

    Nota