Capítulo 3: Sombras que te consomem
Enquanto corre a toda velocidade, o Caçador retira sua espada da bainha. A lâmina desliza suavemente, emitindo um som metálico cortante que ecoa pelo campo silencioso. À sua retaguarda, o elfo negro se aproxima cada vez mais, seus passos ferozes ressoam como os de uma besta selvagem. Seus olhos brilham com fúria, e sua forma de correr lembra a de um predador à espreita de sua presa.
“Droga… esse cara tá muito perto de mim… espera… já sei!”
Em um movimento súbito, o Caçador ergue a espada acima da cabeça. Suas mãos a seguram com firmeza, e, com força total, ele a lança contra o solo. O impacto é brutal. O chão treme, cede e se parte em rachaduras profundas. Uma cortina espessa de poeira e fumaça sobe rapidamente, encobrindo tudo ao redor.
— Droga… ele destruiu o chão de propósito… — o elfo murmura, franzindo a testa.
“Então era isso… esse moleque queria criar uma cortina de fumaça pra se esconder… mas eu não sou idiota. Nunca que vou cair numa armadilha tão simples…”
Mas, antes mesmo que termine a frase, algo o faz estremecer. Um mal pressentimento toma conta de seu corpo. Seus olhos se arregalam, e um suor frio escorre pela têmpora. Ele sente… perigo. Um perigo real e mortal.
— Melhor ficar atento… seu idiota… — diz uma voz atrás dele, vinda de dentro da fumaça.
O elfo vira o pescoço abruptamente. Lá está o Caçador, saindo das sombras como um fantasma silencioso, espada em mãos e olhos fixos.
“Esse bastardo… ele me enganou…”
O Caçador se posiciona. Ergue a espada até o nível do rosto, os olhos cheios de convicção. Sua perna esquerda avança, enquanto a direita recua ligeiramente.
— Essa postura foi ensinada pelo meu mestre e é com ela que eu vou te destruir! — diz ele, sua voz firme.
Essa postura canaliza a força total dos músculos principais do corpo, tensionando-os ao limite para realizar um golpe perfeito — uma técnica lendária conhecida como “Postura do Guerreiro de Ferro”.
O Caçador inspira profundamente. Seus braços tremem e pulsam com energia. Uma aura branca começa a emanar de seu corpo, dançando ao redor de seus membros. Num movimento explosivo, ele desfere um golpe horizontal com a espada, com os dois braços posicionados de forma impecável, buscando a máxima eficiência e velocidade.
O impacto é brutal.
A lâmina acerta em cheio as costas do elfo. Uma onda de choque percorre o ar como uma explosão invisível. A força do golpe lança o elfo para longe, seu corpo atravessando violentamente diversas árvores antes de finalmente se chocar contra o chão, com um baque seco e devastador.
“Esse garoto… é um monstro… de onde ele tirou tanta força?” — pensa o elfo, ofegante, estirado no solo, sentindo a dor latejar pelas costas.
O Caçador, por sua vez, cai de joelhos. Seu corpo está suado e cansado, os músculos exaustos, e ele se apoia na espada cravada no chão.
“Merda… essa técnica consome muita energia… para usá-la, eu tive que liberar uma quantidade absurda de Shi” —
Shi é uma forma de energia que o usuário libera ao concentrar ar nos pulmões. Com ela, é possível reforçar o corpo, envolver-se em uma aura protetora e desferir golpes devastadores. Mas o controle é delicado: é preciso respirar de uma forma específica para manter o fluxo de ar e evitar o esgotamento.
“Mas… pelo menos consegui derrotar aquele elfo negro…”
No entanto, o alívio é passageiro.
O ambiente, antes tomado pelo silêncio após abatalha, muda de novo. A presença que parecia ter sido derrotada começa a se mover. Aos poucos, o elfo negro se ergue do chão, envolto por uma aura sombria.
— I-impossível… — murmura o Caçador, seus olhos arregalados, incrédulo diante do que vê.
— Seu ataque foi forte, admito. Mas não vai ser o suficiente pra me derrubar, se quiser mesmo vencer… vai ter que se esforçar mais. Que tal me mostrar aquela sua magia?
— Nem pensar! Eu não vou usá-la!
— Pode me dizer o motivo?
— Mesmo sem ela… eu consigo te derrotar. Se usasse, não seria nada divertido.
Na verdade, havia um outro motivo. Um motivo que ele mantinha guardado no fundo de sua alma.
Se eu usar minha magia por muito tempo… posso perder o controle. E até machucar pessoas inocentes…— pensa ele, angustiado.
— Então… — o elfo sorri — é porque você não tem controle sobre ela, certo?
Droga… ele acertou… mas não posso admitir isso. Tenho que manter a pose.
O Caçador se levanta, espada em mãos.
— Chega de conversa. Vamos lutar.
— Como quiser, mas eu vou te forçar a usá-la… custe o que custar.
Ele começa a liberar uma quantidade colossal de mana. Seus olhos brilham, e ele encara o Caçador com foco total. Em seguida, começa a conjurar feitiços de luz.
Então ele vai usar Luz Negra? Isso não importa. Eu só preciso desviar dos ataques.
— Melhor se preparar — diz o elfo, conjurando três feitiços de luz ao mesmo tempo. Espinhos, lanças e espirais surgem ao seu redor.
“Feitiços não nomeados… sério? Ele quer me forçar a usar minha magia com isso?” — o Caçador permanece firme, confiante.
Feitiços não nomeados são lançados sem necessidade de encantamento verbal, o que os torna mais rápidos, porém mais fracos que os nomeados. Ainda assim, o elfo lança uma enxurrada deles.
O Caçador bloqueia, desvia e resiste sem dificuldades. Mas então, num instante, o elfo desaparece do campo de visão.
“Espera… ele sumiu?!”
Antes que possa reagir, uma figura sombria surge atrás dele.
Com um movimento ágil, como o estalo de um chicote, o elfo desfere um golpe com suas garras. Elas perfuram a pele do Caçador, rasgando a carne.
No silêncio do ambiente, um grito dilacerante ecoa. Não um simples grito de dor… mas um lamento vindo da alma.
— O que foi? Doeu? — debocha o elfo. — Até o grande Caçador Negro sente dor, não é mesmo?
“Preciso sair daqui… mas essas garras… estão cravadas muito fundo… Não importa. Eu só preciso de espaço!”
Com muito esforço, o Caçador se solta, recua num salto e se afasta.
— Tá em desvantagem, moleque… Mas correr não vai adiantar. Eu posso te alcançar de qualquer forma.
Sem dar tempo para respirar, o elfo começa a conjurar algo novo. Ele recita palavras arcanas, quase como um cântico cerimonial.
— Ó senhores que governam a luz e a escuridão… emprestem-me sua força… para aniquilar quem atravessar meu caminho… Magia de Luz: Prisão do Reino Sombrio!
“Merda… eu preciso sair daqui!”
Ao redor do Caçador, esferas de luz surgem, cercando-o por todos os lados. Quando o elfo dá a ordem, espinhos emergem das esferas e cravam-se no corpo do Caçador. Em seguida, as esferas se fundem, formando uma gigantesca esfera de Luz Negra que o engole por completo.
Silêncio.
— Não pode ser… ele perdeu… — diz Nina, com lágrimas escorrendo pelo rosto.
Dentro da escuridão, o Caçador permanece imóvel, encolhido, olhos fechados. Seus pensamentos ecoam na vastidão sombria.
“Aqui é escuro… frio… é como se essa escuridão me abraçasse… Me lembra de quando eu era criança… Depois de tudo aquilo… nunca mais fui o mesmo.”
“Mas… estou ouvindo algo… alguém chorando… será ela? Se for… eu prometi que protegeria… eu… preciso salvá-la…”
Ele abre os olhos dentro da escuridão.
“Sensei… me desculpe… mas vou ter que quebrar a promessa… Espero poder me desculpar quando nos encontrarmos no pós-vida.”
— Finalmente! Eu derrotei o Caçador Negro! — o elfo brada em triunfo.
Mas sua euforia dura pouco.
Uma pequena rachadura surge na superfície da esfera.
— O quê?! Isso não… não deveria acontecer!
Uma pressão colossal emerge de dentro da esfera. O solo treme. Golpes ecoam de dentro, como se alguém estivesse esmurrando a prisão mágica.
— Não… isso é impossível…
As rachaduras se espalham, crescendo, até que, com uma explosão, a esfera se desfaz.
Do interior, emerge uma figura completamente diferente.
Ele veste uma máscara de demônio negra, com detalhes brancos. Uma aura sombria e densa envolve seu corpo.
— Seu verme… chegou sua hora. — A voz é fria como a morte.
Num piscar de olhos, ele desaparece… e ressurge diante do elfo.
Um soco devastador atinge o rosto do inimigo, lançando-o como um boneco desgovernado contra o chão. O elfo, sangrando e trêmulo, olha com terror absoluto para aquele ser.
“E-ele é… aquele mesmo garoto?! Não… impossível. Isso… Não pode ser ele…”
O homem caminha lentamente em sua direção. Silencioso. Imponente.
— N-NÃO… NÃO CHEGUE PERTO DE MIM! NÃO SE APROXIME! — o elfo rasteja, tomado pelo medo, tentando fugir.
— Você não passa de um inseto… patético… — diz o Caçador, agora tomado pelas sombras.
Pela primeira vez, o elfo sente o verdadeiro desespero. A verdadeira agonia. O medo puro e absoluto.
“Eu sei… que posso perder o controle… mas… eu tenho uma promessa a cumprir. Mesmo que eu tenha que deixar essas sombras me consumirem por completo…”
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