Capítulo 112: Humanos, Autômatos, Feras Selvagens
“Essa é uma habilidade bem útil”, pensou Adam enquanto voltava o olhar para Urso Negro.
Na forma atual, não havia tanta diferença de poder entre ele e Urso Negro, mas essa habilidade lhe permitira incapacitar o oponente quase instantaneamente.
Além disso, essa habilidade só ficaria cada vez mais assustadora conforme Freira se tornasse mais poderosa.
“Então esse esgoto consegue contaminar energia, além do corpo humano. O alvo contaminado não só sofre danos físicos, como também tem a energia corrompida, ficando debilitado de duas formas”, analisou Adam, agachado para inspecionar a condição de Urso Negro.
Dada sua aparência atual, com garras afiadas e olhos demoníacos e aterrorizantes fixos em Urso Negro, era fácil gerar mal-entendidos, especialmente entre os espectadores.
— Parece que ele não é tão fraco assim, afinal.
— É, ele tá com uma aparência meio assustadora.
— O que ele tá fazendo? Tá pensando em matar o oponente?
O homem de bigode apressou-se em cortar a conexão psíquica entre os dois combatentes ao ver aquilo.
A consciência de Urso Negro voltou para seu corpo, ainda mais enfraquecido pelas lesões sofridas por seu corpo psíquico. Felizmente, o trauma psíquico não foi tão grave, então ele não morreu na hora.
De volta ao mundo real, Urso Negro só conseguia mover os olhos e lançou um olhar rancoroso para Adam. Abriu a boca para xingá-lo, mas estava fraco demais e desmaiou antes de conseguir dizer qualquer coisa.
Quanto a Adam, estava completamente bem e, ao retornar ao mundo real, foi declarado vencedor da luta.
Depois disso, vieram os pagamentos.
Assim que todos os vencedores receberam o que lhes era devido, o homem de bigode se aproximou de Adam com um cartão.
— Aqui está sua taxa de participação. São 24.000 no total, tudo nesse cartão. — Enquanto falava, puxou uma máquina e inseriu o cartão nela para exibir as informações da conta.
Era um tipo de cartão ilegal que só podia ser encontrado na Cidade das Sombras. Não havia nome nem conta vinculada, mas todo o dinheiro nele podia ser usado normalmente.
— Isso é incrível! — Hailey se pôs na ponta dos pés ao pegar o cartão da mão do homem de bigode. — Nem em três anos eu ganho tudo isso!
— Está interessada em trabalhar pra mim, senhor Adaptador? Você parece bem forte. Se trabalhar comigo, garanto que vai ganhar mais que isso em cada luta. — O homem de bigode fez mais uma oferta para Adam.
— Talvez da próxima vez — respondeu Adam com um aceno de cabeça, antes que Hailey pudesse dizer qualquer coisa, e a arrastou consigo ao partir. — Se eu precisar, volto a te procurar.
— Tudo bem, minha barraca sempre vai estar aqui.
Depois de sair da barraca, Adam levou Hailey até uma área completamente deserta antes de pegar o cartão das mãos dela.
— O que você tá fazendo? Segundo as regras da indústria, o dinheiro que você ganha deve ser dividido 20:80 entre nós, então você me deve 4.800.
— Certo, vamos acertar isso agora. — Adam lançou um olhar na direção do estádio esportivo e viu que já estava extremamente movimentado, sinal de que as lutas haviam começado.
— Não precisa ter pressa. Quais são seus planos agora, senhor Assassino? — Hailey segurou o impulso de puxar o cartão da mão dele e começou a traçar um plano para o futuro. — Você é bem forte. Que tal participar das lutas classificatórias no estádio?
— Não tenho interesse — respondeu Adam, seguindo em direção ao estádio.
— Então por que está indo pra lá?
— Quero assistir às lutas — respondeu ele, enquanto Hailey o seguia como uma assistente.
Os dois foram até a bilheteria e compraram um passe eletrônico. Quando Adam estava prestes a entrar no estádio, Hailey exclamou:
— Compra um ingresso pra mim também! Parte daquele dinheiro é meu!
— Tá bom. — A luta que Adam acabara de disputar havia sido organizada por Hailey, então era justo que ela recebesse uma parte. Assim, ele comprou outro ingresso e os dois seguiram até a entrada do estádio, onde foram examinados por alguns guardas autômatos modificados antes de serem autorizados a entrar.
Mesmo do lado de fora, os gritos coletivos dos espectadores já eram ensurdecedores, e lá dentro, o barulho era ainda mais intenso.
“Que lugar agitado!”
Adam já havia estado em muitos locais movimentados, tanto online quanto offline.
Afinal, a Cidade Sandrise tinha uma população imensa, e o Metaverso também era sempre cheio de gente.
Mas nunca tinha ido a um lugar tão insano quanto aquele. Não era a maior multidão que já tinha visto, mas a atmosfera era extremamente frenética. Todos pareciam estar sob efeito de drogas, berrando como se tivessem enlouquecido.
Alguns dos espectadores torciam pelos combatentes em quem haviam apostado, enquanto outros apenas gritavam por gritar, soltando absurdos sem sentido algum.
Ao entrar no estádio, Adam chegou a ver alguém jogar gasolina em um companheiro e depois colocá-lo em chamas.
— Que porra de lugar é esse? — Após presenciar essa cena caótica, Adam ativou sua telegnose ao máximo, com medo de morrer por um simples momento de distração.
— É assim que as coisas funcionam aqui. Ordem e razão não são necessárias neste lugar. — Hailey já estava completamente acostumada com aquilo. — Quem precisa de ordem e razão já foi viver na Cidade Sandrise. Aqui não há regras nem vigilância. Você pode matar quem quiser, desde que esteja disposto a lidar com a vingança. Aqui, você pode fazer o que quiser!
Hailey parecia também ter sido contagiada pela atmosfera do lugar e sua voz de repente se transformou num grito agudo.
“Mas que bando de lunáticos!”
Adam desviou a atenção dos espectadores e voltou os olhos para a luta que acontecia mais à frente.
O estádio havia sido construído para se parecer com um antigo coliseu romano, com os espectadores posicionados em arquibancadas altas, enquanto os combatentes lutavam na arena abaixo.
Adam chegou bem no clímax de uma batalha entre dois ciborgues.
Tanto em aparência quanto em massa corporal, esses dois ciborgues eram completamente diferentes das pessoas do lado de fora que tinham apenas membros protéticos. Na prática, não era exagero chamá-los de mechas humanoides. Seus cérebros e nervos ainda eram humanos, mas o restante do corpo, inclusive os ossos, não era mais.
“Será que nervos humanos conseguem mesmo mover corpos tão grandes e pesados?”
Os dois combatentes eram enormes, e um deles, um ciborgue colossal com mais de três metros de altura, saltou sobre o oponente como uma fera, derrubando-o no chão.
Depois de derrubar o oponente, o ciborgue abriu sua grande boca metálica e mordeu com força o pescoço do adversário, tentando cortar todas as linhas de transmissão neural dali.
No entanto, o abdômen do ciborgue que havia sido derrubado se abriu de repente, revelando uma cavidade abdominal repleta de serras elétricas.
Ainda deitado no chão, o ciborgue usou os dentes em forma de serra para morder o oponente como um grande tubarão branco, e as serras elétricas rasparam contra o metal, produzindo um som horrível e uma chuva de faíscas intensas.
“Tenho que admitir, isso é um verdadeiro espetáculo!”
Embora Adam não gostasse da ideia de humanos sendo colocados uns contra os outros como feras, não pôde deixar de se impressionar com o que via.
Em especial, o fato de que os dois combatentes eram humanos vivos adicionava uma camada extra e estranha de empolgação e impacto, muito maior do que assistir dois autômatos brigando.
Mesmo sendo o que estava no chão, o ciborgue das serras logo virou o jogo. Suas lâminas já haviam cortado tão fundo o corpo do ciborgue bestial que uma parte de sua coluna já estava visível. A coluna originalmente era protegida por uma carcaça metálica, mas essa proteção havia sido serrada, revelando várias linhas de transmissão neural.
Conforme essas linhas eram cortadas, o ciborgue bestial foi perdendo a capacidade de mover a parte inferior do corpo.
Ainda assim, continuava mordendo ferozmente o pescoço do oponente, até finalmente conseguir cortar a coluna do ciborgue das serras, fazendo com que as lâminas parassem de funcionar na hora.
“Será que virou o jogo?”
Adam observava surpreso ao ver que, mesmo com o corpo já reduzido a pedaços pelas serras do adversário, o ciborgue bestial ainda conseguia mover a cabeça, apesar de já não conseguir mover o resto do corpo.
Usava a mandíbula inferior como apoio, abrindo e fechando a boca repetidamente para mastigar o crânio do oponente com uma força de mordida absurda.
Sem o suporte energético do restante do corpo, ele estava queimando suas reservas finais de energia. No fim, a carcaça de proteção craniana do ciborgue das serras foi perfurada, e ele caiu morto ali mesmo, enquanto fluidos intracranianos espirravam para todos os lados.
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