Índice de Capítulo

    O clima na sala era extremamente deprimente.

    No fundo, todos sabiam que recuperar o vídeo das mãos do Dragão de Rosto Oni seria praticamente impossível.

    Primeiro, ele era o líder de uma organização criminosa, e se fosse tão fácil capturá-lo, já teria sido detido mil vezes.

    Segundo, um adaptador do nível dele com certeza possuía uma telegnose extremamente poderosa, capaz de detectar qualquer perigo com antecedência. Para atingi-lo, seria necessário mobilizar vários adaptadores tão fortes quanto ele e, mesmo assim, as chances de sucesso ainda seriam mínimas.

    O congresso do norte talvez nem tivesse adaptadores desse calibre. E, mesmo que tivesse, não havia garantia de que topariam uma missão como essa. E mesmo que topassem, não havia garantia de que teriam sucesso.

    Ou seja, tudo indicava que eles teriam que permanecer na Cidade das Sombras por um tempo muito, muito longo.

    Esse era o consenso ao qual todos haviam chegado e, quanto mais falavam sobre a situação, mais desesperadora ela parecia. No fim, a irritação de Shae falou mais alto.

    — Dane-se, vou tomar banho e dormir. Tô exausta da viagem até aqui, e esse lugar fede a merda!

    Shae jogou a jaqueta de lado, irritada, e saiu da sala. Os outros se entreolharam, e logo também decidiram encerrar a noite, cada um indo para um canto do cômodo.

    A sala era pequena demais para todos dormirem ali, então Adam só pôde sair com uma expressão resignada.

    — Tá apertado demais aqui. Vou dormir lá fora.

    Adam foi até a parte da frente da loja, deu uma olhada ao redor, e no fim só conseguiu encontrar um espaço sob o balcão, onde acabou adormecendo aos poucos sobre um monte de peças espalhadas no chão.

    Ele estava completamente exausto após um dia tão longo.

    Primeiro, virou um fugitivo procurado. Depois, foi trazido para esse paraíso de criminosos, a Área 101 da Cidade de Sandrise, um lugar que ele nem sequer conhecia. Em seguida, presenciou uma batalha entre anomalias artificiais, e por fim, caiu a ficha de que provavelmente teria que ficar ali por um tempo muito, muito longo.

    Todos esses eventos o abalaram profundamente, e, depois de tantos choques seguidos, ele se sentia totalmente esgotado, mesmo sendo um adaptador acostumado à dor.

    Deitado no chão duro, Adam foi lentamente adormecendo enquanto pensava em seu futuro…

    Depois de algum tempo dormindo, de repente sentiu algo cutucando-o.

    — Acorda… Acorda…

    Apesar do cansaço, estava extremamente em alerta, e abriu os olhos num sobressalto, só para descobrir que estava sendo cutucado por um robô.

    Na verdade, o objeto parecia mais um projeto de ciências feito por crianças com sucata do que um robô de verdade.

    Seu corpo principal era um comunicador com algumas portas USB, e havia um chip de circuito colado na testa. Não tinha pernas, apenas um bracinho do tamanho da palma da mão, e estava rastejando para fora de um monte de peças como um mini zumbi mecânico.

    “O que diabos é isso? Será que algum robô quebrado aqui voltou a funcionar do nada?”

    Adam ficou um pouco aliviado ao ver o robô de sucata. Havia tantas peças velhas por ali que não era tão estranho ver um brinquedo quebrado vagando por aí.

    Mas, justamente quando ia se virar para continuar dormindo, ouviu o robô chamar seu nome, o que o deixou em choque e alerta.

    — Adam, ainda se lembra de mim?

    Adam se sentou num pulo, mas rápido demais e acabou batendo a cabeça com um baque surdo na parte de baixo do balcão.

    Um brinquedo quebrado tinha rastejado até ele como um zumbi… e então chamado seu nome.

    A primeira reação de Adam foi achar que alguém o havia arrastado para o mundo psíquico.

    Imediatamente ativou sua telegnose e tentou invocar suas anomalias, mas por mais que tentasse, não adiantava nada.

    Sua telegnose lhe dizia que aquilo era o mundo real, e ele não conseguia estabelecer nenhuma conexão com suas anomalias.

    — Este é o mundo real. — O robô de sucata voltou a falar. — Não tenha medo. Eu estou aqui para ajudar você.

    — Quem é você? — Adam pegou o robô e o examinou com cuidado, mas era mesmo apenas uma combinação de peças de sucata sem nada de especial.

    — Ainda se lembra do que aconteceu no Pub da Bruxa, no Metaverso?

    — O Pub da Bruxa… — É claro que Adam se lembrava daquele lugar. Foi a primeira vez que ele foi ao Planeta do Sexo, e tinha sido uma experiência inesquecível. O que mais lhe marcava na memória daquela visita era a bruxa gigante que o engolira com o próprio corpo, além das sequências de acontecimentos oníricas e peculiares que vieram em seguida.

    Ele se recordava de ter tido sua primeira vez com uma performer vestida como uma secretária, mas então a mulher se transformou subitamente naquela valquíria gigante do lado de fora, que lhe deu um alerta sobre os mutantes psíquicos.

    Aquela tinha sido a primeira vez que Adam recebera alguma notícia sobre mutantes psíquicos, antes mesmo de o exército da resistência ou a casa de penhores entrarem em contato com ele.

    Até hoje, ele ainda não sabia quem havia enviado aquela mensagem. Mas parecia que a mesma pessoa estava por trás disso agora.

    — Foi você quem me avisou sobre os mutantes psíquicos naquela vez?

    — Isso mesmo, fui eu. — Ficava claro que aquele robô não estava se comunicando por meio de frases programadas. Ele era apenas um porta-voz, transmitindo uma mensagem de alguém do outro lado.

    — Quem é você? — Essa era uma pergunta que atormentava Adam havia muitas noites.

    — Não quero te contar por enquanto — respondeu o robô de sucata de forma direta e objetiva, sem tentar enganar ou apaziguar Adam. — Saber quem eu sou não vai te ajudar em nada.

    — Está aqui pra me ajudar de novo?

    — Exato. Tenho uma informação muito importante que pode te ajudar a resolver o problema atual. — Enquanto falava, sua voz começou a se misturar com chiados elétricos, e parecia que estava prestes a desmoronar.

    — Por que está me ajudando? — Em vez de perguntar qual era a informação, era isso que Adam mais queria saber.

    Ele achava que o robô responderia que estavam do mesmo lado, por interesse mútuo. Já ouvira essa justificativa muitas vezes antes. Tanto Caubói quanto May estavam motivados por interesse próprio.

    No entanto, a resposta do robô pegou Adam de surpresa.

    — Porque o mundo é entediante e deprimente demais. Quero libertar toda a raça humana.

    — …

    Um objetivo tão grandioso lembrava Adam de algumas figuras da União Dataísta. — Certo. Que informação você pode me dar, e o que precisa que eu faça?

    — Aquele vídeo na verdade não está nas mãos do Dragão de Rosto Oni.

    — Se não está com ele, então onde está?

    — Está aqui na Cidade das Sombras. Não sei exatamente onde, então você vai precisar procurar por conta própria. Se não acreditar em mim, pode tentar confirmar. Isso é tudo que posso dizer. Lembre-se de ser mais corajoso!

    Assim que a voz do robô se calou, ele tombou no chão como um amontoado inerte de sucata, desaparecendo tão repentinamente quanto havia surgido.

    Ainda havia muitas perguntas que Adam queria fazer, mas a pessoa do outro lado havia, essencialmente, desligado na cara dele, e o robô permanecia imóvel, não respondendo a nenhuma tentativa de interação.

    Assim, a conversa chegou ao fim, e as últimas palavras do robô foram um incentivo para que Adam fosse mais corajoso, exatamente como da outra vez.

    “O que ser corajoso tem a ver com a situação em que estou? Será que preciso ser mais agressivo na abordagem? Ou será que estou lidando com um prazo apertado?”

    Adam não conseguiu entender o significado por trás daquelas palavras, mas, depois de refletir um pouco sobre a conversa, seu ânimo se elevou um pouco. Pelo menos, agora havia uma centelha de esperança para ele e seus companheiros saírem dali.

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