Capítulo 120: Viva Como se Cada Dia Fosse o Último
Pouco depois, Adam avistou uma jovem desgrenhada, olhando em volta enquanto segurava um comunicador no ouvido.
— Onde você está, senhor?
— Estou à sua esquerda, com o braço levantado.
— Ah, te achei!
Hailey encerrou a chamada antes de correr até Adam, ofegante, dizendo:
— Você… finalmente me chamou, senhor! Eu estava morrendo de preocupação, achei que nunca fosse me ligar! O que vamos fazer? Minha ilustre carreira como assessora vai começar?
— Exatamente — respondeu Adam com um aceno de cabeça. Ele se sentia meio constrangido e culpado. Havia sido frio e distante com ela até então, mas agora precisava de sua ajuda. — Pode ficar com uma porcentagem maior dos lucros, se quiser.
— Não, não, não é pelo dinheiro. Nem faz sentido acumular riqueza demais na Cidade das Sombras, já que a gente nunca sabe quando pode cair morto do nada. Além disso, sou só uma garotinha, ter dinheiro demais só vai me mandar pro túmulo mais cedo. — Hailey não se incomodava nem um pouco com a frieza anterior de Adam. Em vez disso, virou-se para Nie Yiyi antes de perguntar: — Quem é ela?
— Uma amiga minha.
— Ela também é uma adaptadora? Posso ser assessora de vocês dois? — Hailey parecia ainda mais animada agora.
— Queremos participar da batalha de sobrevivência. Como entramos?
— Só dá pra entrar por pontos ou por recomendação de um super time. — Como era de se esperar de alguém cujo sonho era se tornar assessora, Adam achou que haveria muitos detalhes sobre o torneio que ela precisaria pesquisar ou perguntar nos guichês, mas, após algumas perguntas, ele começou a desconfiar.
Para alguém que nem era oficialmente uma assessora, Hailey era profissional demais, e também sabia demais.
— Como se ganha pontos?
— Participando de lutas. As lutas são divididas em diferentes níveis, e quanto maior o nível, mais pontos se ganha. Mas quem tá começando só pode entrar nas lutas de nível mais baixo.
— Se começarmos agora, quanto tempo vai levar pra acumular pontos suficientes?
— Depende dos oponentes que vocês escolherem e da taxa de vitórias.
— E se a gente tiver 100% de vitórias?
— Nesse caso, vocês conseguem os pontos rapidinho, mas isso é bem difícil — respondeu Hailey de maneira muito profissional. — Pra ser sincera, você parece forte, mas eu classificaria você como nível B. Alguém desse nível praticamente não consegue manter uma taxa de 100% por muito tempo. Confia em mim, eu tenho um olho clínico pra essas coisas. E, a menos que esteja escondendo alguma carta na manga, eu diria pra não participar da batalha de sobrevivência.
— E como tem tanta certeza?
— A taxa de mortalidade é alta demais. No seu nível, suas chances de sobreviver são quase nulas.
Naquele dia, Adam conversou bastante com Hailey. Ela era direta e sincera em suas palavras, e Adam não se explicou em momento algum. Só assinou um contrato de assessoria com ela e pediu que arranjasse uma luta o quanto antes.
Hailey aceitou prontamente, disse que ia registrá-lo no mesmo dia e que conseguiria uma luta de nível F já pro dia seguinte.
Depois que o registro foi concluído e todos terminaram de assistir às lutas no estádio, saíram do local junto com a multidão. Shae e os outros estavam completamente abalados com o que haviam presenciado. Jamais imaginaram que existiriam ‘eventos esportivos’ como aqueles naquele mundo.
— Mesmo sendo lutas extremamente brutais, se fossem postadas na internet, tenho certeza de que teriam milhões de visualizações — foi a análise de Shota Sato. Ele foi o mais afetado pelo que viu e passou um bom tempo sem conseguir tirar aquelas imagens brutais da cabeça.
Para alguém como ele, que sempre viveu em uma torre de marfim, ser arrastado de repente para o inferno representava um choque absurdo.
Já Gancho, em contraste, parecia pronto para desistir.
— Acabei de ouvir que vão também ter anomalias artificiais na batalha de sobrevivência. Isso é perigoso demais! Posso ficar fora dessa? — A covardia de Gancho veio à tona assim que testemunhou a brutalidade daquelas anomalias. — Cada time só pode ter quatro pessoas, e eu não sirvo pra combate mesmo. Então, vocês quatro entram e eu fico de fora. Não é melhor assim?
— Vamos ver — respondeu Adam de forma vaga.
Na visão dele, Gancho era o candidato mais adequado para ocupar a quarta vaga do time.
Shota Sato era muito mais forte que Gancho em combate, mas suas habilidades eram pouco versáteis. Além disso, seu poder de combate individual não era suficiente para fazer diferença real no time. Por isso, estava em uma posição complicada, sem nenhuma habilidade especial, e mesmo como suporte, era inferior tanto a Gancho quanto a Shi Feng.
No entanto, Gancho estava completamente apavorado naquele momento, então Adam não insistiu no assunto.
— Vou lutar em algumas partidas primeiro, só pra testar o terreno. E tem outro problema. — Adam se virou para Hailey enquanto dizia: — Todos os meus amigos têm inimigos, então seria muito arriscado pra eles revelarem seus corpos psíquicos. Tem como eu levar o time inteiro pra batalha de sobrevivência só com meu próprio esforço?
— Com certeza. Quem conseguir alcançar o grupo de elite pode escolher seus companheiros de equipe. Alguns dos combatentes mais fortes fazem isso de propósito, justamente pra esconder os poderes dos colegas. Mas tenho que repetir: com seu nível de poder, vai ser difícil chegar sequer ao grupo B, e praticamente impossível ir além disso.
— E quão fortes são os combatentes do nível mais alto?
— Estão no mesmo nível, ou até acima, das anomalias artificiais.
— Isso é realmente forte. Vamos focar em arranjar a luta de amanhã primeiro.
— Beleza.
No caminho de volta, Adam e os outros discutiam seus planos.
— Minha proposta é que eu lute nessas partidas sozinho primeiro. Só se eu empacar e não conseguir mais avançar, a gente pensa em expor os corpos psíquicos de vocês. O que acham?
— Eu também quero lutar. — Nie Yiyi estava obcecada com a ideia de aumentar seu poder. — Nos próximos dias, vou entrar em contato com a Gangue Verde e ver se consigo uma atualização da situação. Se as circunstâncias permitirem, também quero participar das lutas.
— Você não tem como disfarçar seu corpo psíquico. É melhor evitar.
— Você não decide por mim, mas vou considerar o seu conselho. — Nie Yiyi se separou do grupo e partiu enquanto falava.
Como uma força de moralidade duvidosa no leste, a Gangue Verde tinha negócios e conexões em todos os lugares, atuando principalmente nos ramos de varejo e inteligência. A organização tinha lojas de conveniência e filiais de supermercados espalhadas por diversas partes do mundo e, claro, sua influência também alcançava a Cidade das Sombras.
O grupo de Adam não era grande, mas tinha uma variedade enorme de vínculos com outras facções. O único que não tinha nenhum tipo de conexão poderosa era Gancho.
Durante o caminho de volta, todos caminhavam em silêncio, imersos em seus próprios pensamentos. Adam não se importava com o que os outros estavam pensando. Ele refletia sobre maneiras de elevar seu poder rapidamente.
O melhor caminho, claro, ainda era encontrar os ‘pacientes’ certos.
Ele teria que ser um completo idiota pra não usar um atalho tão absurdo. Até hoje, Adam não sabia de onde vinham seus vasos de plantas nem sua habilidade de absorver energia anômala, mas já havia tirado proveito dessas ferramentas várias vezes, sem nenhum efeito colateral.
Na verdade, não apenas não houve efeitos negativos, como ele também havia aprendido bastante sobre a melhor forma de aproveitar esse recurso.
Por exemplo, era melhor evitar desafiar anomalias muito mais poderosas que ele. Além de ser perigoso, a quantidade de energia anômala residual era grande demais para ser absorvida, e a maior parte acabava sendo desperdiçada. A anomalia mais poderosa que tinha em seus vasos era completamente incontrolável, o que resultava numa enorme perda.
Por outro lado, também não valia a pena enfrentar anomalias de nível similar ou mais fracas, pois a energia obtida era insuficiente para causar impacto.
Ou seja, se ele conseguisse escolher os adversários certos, poderia acumular pontos e elevar seu poder o mais rápido possível, evitando desperdícios desnecessários.
Adam lançou um olhar ao redor. Inicialmente, achou que seria fácil encontrar pessoas com sinais claros de transtornos mentais numa cidade como aquela, mas mesmo que muitos nas ruas parecessem ameaçadores e perturbados, também aparentavam estar bastante relaxados.
Viviam como se cada dia fosse o último, sem estresse, sem pensar no futuro.
Aquelas pessoas não tinham metas nem planos, nem estavam se matando de trabalhar em busca de uma suposta ‘imortalidade’ após a morte. Ninguém ali sabia se seria morto de forma repentina e sem motivo algum no dia seguinte, por isso, viviam com total despreocupação.
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