Capítulo 122: O Alvo
Onde poderiam encontrar o maior número de forasteiros na Cidade das Sombras? O primeiro lugar que veio à mente de Adam foi a estação de metrô.
Ele próprio havia chegado à cidade usando aquele meio de transporte, e as entradas e saídas das estações eram também os maiores pontos de conexão entre a Cidade das Sombras e o mundo exterior, logo, certamente haveria uma boa concentração de forasteiros por lá.
Assim, Adam e Shae agiram de imediato. Pegaram um cavalo de bronze, um meio de transporte exclusivo da Cidade das Sombras, até a estação de metrô, e então se posicionaram discretamente em uma parte pouco movimentada da praça.
Durante a exploração da cidade nos dois dias anteriores, haviam aprendido que passava um trem pela estação a cada 20 a 30 minutos.
E, de fato, poucos minutos depois, o primeiro trem chegou, mas, infelizmente, estava carregando apenas milho.
O segundo trem era um vagão aberto, parecido com um carrinho de mina, e quase metade dos passageiros eram forasteiros, identificáveis pelo olhar inquieto e pela expressão nervosa.
— Atacamos agora?
Todos os forasteiros que saíam do trem pareciam tensos e em alerta.
— Como? Não podemos simplesmente usar os transmissores sinápticos. Isso causaria um caos enorme e poderia sair tudo pela culatra!
Abduzir alguém já era um trabalho difícil. Fazer isso sem provocar retaliações exigia técnica e cuidado.
— Eles estão descendo agora. Vamos observar primeiro…
Adam e Shae continuaram observando enquanto a maioria dos passageiros deixava o trem.
Assim como Adam e seu grupo no passado, muitos pareciam estar chegando pela primeira vez. A maioria vinha acompanhada de guias. Aqueles que não tinham guias, mas ainda assim andavam com calma e confiança, claramente já tinham estado na cidade antes.
No meio desse grupo, alguns chamaram a atenção de Adam. Estava claro que eram novatos na cidade, não tinham guias, e seus olhos eram afiados como os de um falcão. Mais importante ainda: Adam sentia algo familiar neles.
— Olha ali!
— É, também reparei neles.
Shae observava o mesmo grupo discretamente. Suas roupas eram simples, mas todos mantinham a postura ereta e andavam com passos firmes e decididos. Não eram altos nem pareciam fisicamente imponentes, mas transmitiam uma sensação de perigo.
Talvez a maioria das pessoas nem percebesse essa aura, mas como um adaptador que já havia passado por incontáveis situações de vida ou morte, Adam sentia claramente que não era um grupo qualquer.
— Você não acha que eles são familiares?
— Acho. Não lembro de ter visto nenhum deles antes, mas é como se já tivesse.
— Será que os vimos no mundo psíquico? — teorizou Adam. — São cinco homens e uma mulher… Será que são Oni no Hanzou, Oni no Miko e seus aliados?
— Seria coincidência demais cruzar com eles justo aqui.
— Vai saber. Não faça contato visual! Estão olhando pra cá.
Se fosse coincidência ou não, Adam não queria arriscar. Baixou a cabeça imediatamente quando viu o grupo virar na direção em que estavam.
Por sorte, ele e Shae estavam escondidos num canto da praça, e o local era grande e cheio de gente, então não chamaram a atenção do grupo.
De repente, a mulher do grupo parou, abriu as mãos e mexeu o nariz levemente, como se estivesse farejando algo através de sua telegnose.
— Estou sentindo uma presença familiar. Vocês sentem isso?
— Aqui o perigo tá em todo canto. Sentir isso é o normal. Esse território é daquele cara, então anda na miúda.
— Entendido. — A mulher abriu os olhos e seguiu em frente.
Só depois que o grupo passou é que Adam levantou a cabeça.
— Acho que eram eles.
— Se estão aqui, fico ainda mais convencida sobre as gravações dessa cidade. — A chegada dos assassinos da Organização Oni causou em Shae uma mistura de medo e excitação. — De qualquer forma, agora temos uma chance.
“Não podemos perder de novo.”
O olhar de Adam se encheu de determinação enquanto voltava os olhos para os passageiros.
Depois de um tempo, seu olhar finalmente se fixou num sujeito desorientado.
Era um homem baixo e rechonchudo, com roupas caras, mas um pouco sujas e esfarrapadas. Parecia ter fugido para a Cidade das Sombras às pressas, e nem sequer tinha um guia.
Depois de sair da estação de metrô, o homem olhou em volta e ficou horrorizado ao perceber que toda a praça estava cheia de bandidos com tatuagens no rosto. Entrou em pânico e fugiu às pressas, sem saber que não era apenas Adam quem estava em seu encalço, outros dois grupos de marginais também haviam posto os olhos nele.
Na Cidade das Sombras, nunca faltavam criminosos.
Após seguir o homem até um beco sem saída, Adam finalmente deu de cara com os outros dois grupos. Naquele ponto, o alvo já estava completamente encurralado.
— O que tá acontecendo aqui? A gente viu ele primeiro — disse um sujeito com uma tatuagem de crocodilo verde no rosto, saindo de um dos grupos. Ao avançar, seu rabo de crocodilo também começou a se mover de um lado para o outro.
Aquele rabo era uma prótese, e estava cheio de armas.
As armas eram chamativas e intimidavam só de olhar, mas a maioria não era tão perigosa quanto parecia. Mesmo assim, Adam com certeza não era páreo para ele em uma briga direta.
Enquanto ainda hesitava sobre disparar ou não seu transmissor, um integrante do outro grupo se adiantou, ele tinha uma tatuagem de tartaruga vermelha no rosto.
— E daí se vocês viram ele primeiro? As coisas não funcionam assim nessa cidade. Quem tem o punho maior é quem dita as regras. Se quiserem ele, podem pagar 20 mil, ou então nos dão os rins e a gente divide. Quanto a vocês dois… — Tartaruga Vermelha virou-se para Adam e Shae. — De onde vocês são?
— Nós…
Adam ficou momentaneamente sem resposta.
Mas bastaram aquelas poucas falas para que ele entendesse, em linhas gerais, como as coisas funcionavam ali.
Os dois lados temiam represálias, por isso os moradores locais costumavam ser mais comedidos e civilizados entre si, só partiam pra violência quando a negociação falhava. No fim, mesmo no caos, havia regras a seguir.
Tendo vindo de um mundo mais civilizado, Adam sabia que quebrar certas regras podia ter consequências catastróficas, e tornaria quase impossível agir naquela cidade.
Após pensar por um momento, respondeu:
— Sou da Gangue Verde.
— Da Gangue Verde? Vocês não mexem só com lojas de conveniência e venda de informação? Desde quando começaram a traficar gente?
— Esse não é o nosso objetivo. Só queremos algumas informações.
— Entendi…
Crocodilo e Tartaruga Vermelha ficaram em silêncio por um instante, ponderando a situação.
— E o que você quer fazer?
— Só quero fazer umas perguntas. Vai ser rápido. Quando eu terminar, ele é de vocês.
Como não tinham nada a perder, os dois concordaram com um aceno de cabeça, dizendo pra Adam se apressar.
— Fica de olho neles pra mim. Se mostrarem qualquer sinal de agressividade, não hesita: puxa eles pro mundo psíquico. — Adam falou em voz baixa enquanto conduzia Shae até o beco, então se agachou diante do alvo.
O homem era baixo, gorducho, aparentava ter meia-idade, e usava roupas formais, embora um tanto antiquadas. Seu cabelo estava um pouco bagunçado, mas dava pra notar que originalmente fora bem penteado e arrumado.
Pela aparência, parecia um funcionário público.
— O que você quer? — perguntou o homem, tremendo levemente ao encarar Adam com medo.
— Quero descobrir algumas coisas sobre você.
Adam não perdeu tempo com conversa. Invadiu o mundo psíquico do homem imediatamente.
Quando abriu os olhos de novo, viu que o cenário ao redor havia mudado de um beco sujo e úmido para uma sala espaçosa e bem iluminada dentro de um prédio de escritórios. O homem gorducho executava tarefas administrativas bem diante de Adam e, assim que notou sua presença, fechou imediatamente o documento que estava prestes a assinar.
Nesse breve instante, Adam conseguiu ver o que estava escrito na capa.
“Pelo visto, ele trabalhava para a Administração Nacional de Produtos Médicos.”

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