Capítulo 125: Kant
Assim que abriu os olhos, Adam se deparou com Shae em um tenso impasse com Crocodilo e Tartaruga Vermelha. Crocodilo claramente tinha o pavio mais curto dos dois e já estava à beira de perder a paciência.
Ainda assim, naquele ponto, ele já havia presumido que Adam e Shae eram adaptadores, então continuava segurando sua agressividade.
— Quanto tempo mais ele vai demorar? Se mais gente aparecer, vamos ter que dividir ele com ainda mais pessoas! Anda logo! — pressionou Crocodilo.
— Tudo pronto — declarou Adam assim que abriu os olhos.
— Pronto? Finalmente! Vamos levá-lo. — Crocodilo e Tartaruga Vermelha já tinham perdido a paciência há tempos. Se não fosse pelo fato de Adam e Shae serem adaptadores supostamente ligados à Gangue Verde, já teriam levado Samit à força.
— Esperem um segundo! — chamou Adam para detê-los.
— Qual é o seu problema, cara? Acha que pode pisar na gente como quiser? — A essa altura, Crocodilo e Tartaruga Vermelha já haviam se unido contra o que percebiam como um inimigo comum, e cada um deles sacou sua arma. — Se eu detonar essa bomba aqui nesse beco apertado, vocês dois vão morrer mesmo sendo adaptadores! Quer pagar pra ver?
— Não quero confusão. Estamos todos aqui pelo dinheiro, e tenho uma ideia melhor de como a gente pode ganhar mais e mais rápido.
Ao perceber que Adam não demonstrava má intenção, os dois brutamontes ficaram bem mais receptivos.
— É mesmo? Manda ver.
— Já descobri a identidade dele. Ele é supervisor de um departamento pequeno da Administração Nacional de Produtos Médicos, e fugiu para a Cidade das Sombras porque está envolvido em corrupção e aceitação de subornos. Não tem nenhum figurão protegendo ele, então eliminá-lo não vai gerar repercussão nenhuma. O mais importante: ele tem muito dinheiro. — Adam apontou para o bolso de Samit enquanto falava. — Comparado a arrancar os órgãos dele, não seria melhor esvaziar os bolsos primeiro?
— Você tem razão, mas poderíamos ter arrancado essa informação dele sem sua ajuda — respondeu Crocodilo, dando de ombros, sem se impressionar.
— Pode até ser, mas nunca dá pra saber se ele está dizendo a verdade ou não. Se vocês não souberem as perguntas certas pra fazer e a direção certa pra seguir, os benefícios que vão tirar dos alvos serão bem limitados. Por exemplo, esse cara talvez nunca revelasse a identidade verdadeira. No fim das contas, ele está morto de qualquer jeito, certo?
— Hmm…
— O que você disse faz sentido — Tartaruga Vermelha foi o primeiro a ceder. — Como quer fazer isso?
— Tragam todas as pessoas que capturarem pra mim. Nossa Gangue Verde só quer informação deles, e se descobrirmos algo útil, tipo a profissão do alvo e quanto dinheiro ele tem, passamos isso pra vocês.
— Por mim tudo bem. E você? — perguntou Tartaruga Vermelha, se virando para Crocodilo.
— Também estou de acordo. Mas o que você ganha com isso? Vai nos dar os alvos e as informações sem cobrar nada?
— Temos uma fonte de renda superior. — Adam sabia que, se não convencesse os dois de que a parceria era lógica, havia grandes chances da confiança entre eles ruir. — Tudo que precisamos fazer é desenterrar os podres dessas pessoas e então extorquir os superiores corruptos delas. Assim vamos lucrar ainda mais que vocês.
— Isso faz sentido. — Os dois aceitaram o raciocínio sem resistência. — Certo, vamos levá-lo então. Deixa seu contato com a gente e traremos os capturados até você.
— Fechado.
Depois de selarem um acordo verbal, os dois capangas partiram com Samit e seus comparsas, e Adam e Shae também foram embora.
— Conseguiu alguma coisa com isso?
— Sim. Foi uma experiência bastante proveitosa.
Adam fez uma breve pausa após responder, entrando em seu próprio mundo psíquico para uma rápida inspeção, e lá estava: a anomalia da câmera já havia sido plantada em seu vaso.
— Por que quer trabalhar com eles?
Adam abriu os olhos bem a tempo de ouvir a pergunta de Shae.
— Eles são mais eficientes e menos chamativos que a gente. Não vamos ter a mesma sorte sempre de encontrar alvos adequados.
— Mas eles são criminosos.
— Não tenho tempo pra me importar com isso.
Depois de voltarem à loja do Careca Lin, uma noite tranquila se passou.
Enquanto isso.
Ao chegarem na Cidade das Sombras, Oni no Hanzou e seu grupo guardaram a bagagem e os equipamentos, e seguiram até um castelo estranho com uma carta manuscrita enviada pelo Dragão de Rosto Oni.
— É aqui? — perguntou um homem com partes mecânicas enxertadas por todo o corpo enquanto conferia o mapa eletrônico.
— É o que diz o mapa. Também nunca estive aqui. — No mundo real, Oni no Hanzou era um velho homem baixo e de meia-idade.
A expressão ‘homem velho de meia-idade’ parecia um paradoxo, mas era uma descrição bem adequada. Seu rosto era o de um ancião enrugado, mas seu corpo tinha o vigor e a força de um homem na meia-idade.
Ao chegarem diante do castelo, ele estava prestes a perguntar onde ficava a entrada quando vários canhões eletrônicos pesados surgiram sobre os altos muros.
— Viemos fazer uma visita ao diretor. Ouvimos dizer que o senhor diretor é um ávido filósofo, então trouxemos um manuscrito original de Immanuel Kant como presente.
Assim que a voz de Oni no Hanzou se calou, a muralha do castelo à frente se abriu lentamente, e um emissário saiu de dentro. O homem vestia um manto preto, e seu rosto era coberto de cicatrizes, com feições tão distorcidas que se assemelhavam às de um hospedeiro de anomalia artificial.
No entanto, diferente daqueles cascos vazios de seres humanos, ele estava plenamente consciente e demonstrava modos impecáveis.
— Por favor, entrem, senhores.
Adam, naturalmente, não fazia ideia do que Oni no Hanzou estava tramando. Depois de uma noite de descanso na loja do Careca Lin, recebeu uma ligação logo após as luzes da cidade subterrânea se acenderem na manhã seguinte, informando que sua primeira luta já havia sido marcada.
— Certo, já estou indo. — Adam vestiu-se e se preparou para sair.
— Eu vou com você.
— Eu também.
— Me inclua nessa.
— Vou ficar de fora dessa.
Como de costume, todos, exceto Gancho, estavam animados para acompanhar Adam.
O melhor da Cidade das Sombras era que ela não era muito grande, apenas comparável em tamanho a uma das 100 regiões de Cidade Sandrise, então bastava pouco tempo para chegarem ao estádio de esportes usando um cavalo de bronze.
O estádio era uma construção colossal, erguida seguindo os moldes dos antigos coliseus romanos. Porém, a área sob as arquibancadas, onde ficavam as fundações de concreto e vigas de aço, era oca, abrigando uma série de pequenas arenas secundárias.
As lutas de morte na Cidade das Sombras eram divididas em três níveis. As lutas nas barracas do lado de fora eram lutas paralelas, as que ocorriam dentro do estádio eram lutas oficiais de torneio, e apenas as mais espetaculares eram exibidas no grande palco central da arena principal.
— Aqui, senhor! — Hailey avistou Adam assim que ele e seu grupo chegaram, correndo até eles animada. — Venham comigo. Já está tudo certo. Veja as informações sobre seu oponente na primeira luta.
— Meu oponente deve ser bem fraco, considerando que essa é uma luta de Rank F, certo?
Adam pegou o dossiê entregue por Hailey, e de fato, seu oponente era um adaptador artificial atrofiado e extremamente magro. O arquivo continha poucas informações, apenas um breve relato sobre seu corpo psíquico e os resultados de lutas passadas.
— Nem sempre. Na verdade, os mais fracos costumam ser os competidores que ficam presos nos Ranks C e D — explicou Hailey, cumprindo bem seu papel de assessora profissional. — As lutas de Rank F são o primeiro obstáculo que todos os participantes precisam superar. Por isso, às vezes surgem lutadores poderosos entre eles, como você.
— Faz sentido. — Adam assentiu.
As lutas de Rank F eram basicamente uma triagem inicial, então havia a chance de encontrar um adversário forte ali, mas no geral, as chances eram teoricamente baixas. Além disso, Adam sentia um desprezo instintivo por adaptadores artificiais, então deu apenas uma olhada rápida no dossiê antes de entrar no estádio com Hailey.
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